Processo por Negligência: Militar em depressão tenta suicídio.
Sei que o texto é grande, mas preciso muito de ajuda, e a história tem que ser detalhada pra ser BEM compreendida.
No caso, o militar seria eu mesmo. As causas são todas relacionadas ao trabalho. Não consegui me adaptar à localidade, minha família tinha problemas na minha cidade e eu não podia ajudar de muito longe, e aos poucos eu mesmo fui entrando depressão devido à rotina do trabalho. Comecei tendo insônia, dormia de 2 a 3 horas por dia, me alimentava mal, perdi mais de 5 kg. Comecei a ficar desatento no trabalho, sou controlador de tráfego aéreo, não conseguia me concentrar e ficava muito disperso. Pedi por acompanhamento psicológico, e cerca de dois meses depois passei a me tratar com o psiquiatra da Unidade. Comecei tomando um remédio forte pra depressão e ansiedade, Donaren, o médico me receitou duas caixas com 60 comprimidos cada, e me afastou de função. Como o remédio ainda tava fazendo efeito muito forte um mês depois de iniciado o tratamento, o médico me disse pra parar de tomar e me liberou novamente pra trabalhar, como se nada tivesse acontecido.
Cheguei a ficar na escala por 2 meses e meio, e não aguentei novamente. Tive dois ataques de pânico no intervalo de um mês. Achava que ia ficar maluco, ficava totalmente descontrolado. Cheguei a fazer um requerimento pedindo demissão da Força Aérea, mas não me deixaram prosseguir, alegando que eu não tinha cumprido o tempo obrigatório. Em uma nova consulta, o psiquiatra me deu 4 caixas de Paxtrat, um remédio que apresenta na sua bula a seguinte advertência:
"Suicídio/pensamentos suicidas e transtornos psiquiátricos: a possibilidade de uma tentativa de suicídio é um componente inerente ao transtorno depressivo maior e pode persistir até que ocorra remissão significativa. Pode ser que não ocorra melhora durante as primeiras semanas ou mais, pós o início do tratamento. Os pacientes devem ser cuidadosamente monitorados até que ocorra uma melhora. Outras condições psiquiátricas para as quais a paroxetina é prescrita também podem estar associadas a um risco aumentado de comportamento suicida. Além disso, essas condições podem ser fatores de co-morbidade do transtorno depressivo maior. As mesmas precauções necessárias ao tratamento do transtorno depressivo maior devem ser observadas no tratamento de pacientes com outros distúrbios psiquiátricos."
Comecei a fazer uso do remédio e duas semanas depois ingeri mais de 80 comprimidos numa tentativa de suicídio. Tomei todos os comprimidos que ainda tinha de Donaren, mais os comprimidos de Paxtrat, e alguns de Omeprazol, que tinha porque também estava num tratamento de problemas estomacais.
Eu mesmo me arrependi do ato e peguei um táxi até o hospital da Força Aérea, porque não tinha ninguém aqui que me auxiliasse, ninguém com quem pudesse contar, já que minha família toda mora do outro lado do país. No hospital, fiz lavagem e lá fiquei por quase uma semana internado. Não me lembro dos dois primeiros dias, porque me deixaram sedado. Falei com minha mãe e amigos pelo telefone e nem me lembrava depois. Me deram papéis pra assinar, e eu não tenho consciência do que eram. No último dia, quando o responsável pelo setor psiquiátrico apareceu pra me dar alta, tudo o que ele fez foi me receitar mais comprimidos e me mandar de volta pra casa. Isso foi num domingo. Na segunda-feira eu já tive que voltar a trabalhar. Na primeira semana, eu chorava todos os dias, não sabia como me readaptar a vida, eu queria estar mesmo morto. Tive que implorar no trabalho por dois dias de dispensa pra poder ir contar com o apoio da minha família, numa viagem de 4 dias, que só aconteceu 3 semanas depois do ocorrido.
A minha pergunta é: Como um médico, sabendo do estado crítico de seu paciente, receita um remédio que vai agravar mais ainda o quadro dele, sabendo que o mesmo não tem apoio familiar ou quem supervisione, como é estritamente indicado nas advertências da bula do remédio?
Já pedi demissão da Força Aérea novamente, pouco depois de sair do hospital, e até agora não veio resultado. Pedi ajuda pra assistente social da Unidade. Há poucas semanas pedi transferência por interesse particular, e já sei que saiu da minha unidade como DESfavorável. Não sei mais o que fazer. Temo pela minha saúde mental e integridade da própria vida.
Gostaria de saber se cabe um processo por negligência, e se através de tudo isso que aconteceu, consigo voltar pra casa, seja pela FAB ou tendo que sair dela. O que me importa é ficar bem e saudável de novo, mas cabe pedir uma indenização? Não tanto pelo dinheiro, que será bem-vindo se houver, mas mais pelo descaso da Força para comigo, mesmo apelando e mostrando incapacidade pra seguir adiante.
Desculpa pelo texto longo, e agradeço desde já a ajuda.
P.S. Tenho guardadas todas as receitas médicas, atestados de comparecimento ao hospital, prontuário médico... TUDO.