Este texto foi publicado no Jus no endereço https://jus.com.br/artigos/31042
Para ver outras publicações como esta, acesse https://jus.com.br

Reflexão sobre a isonomia, diferença nos poderes, cidadania

Reflexão sobre a isonomia, diferença nos poderes, cidadania

Publicado em . Elaborado em .

Uma paródia de um dia de fome no banquete do saber.

                                                                          O Discurso da Dor


             Ouço um estrondo e incomoda profundamente ela vem de dentro das minhas entranhas, é devastadora e barulhenta e me envergonham na medida em que aumentam, tento manter o foco nas histórias, debates, palestras o aprendizado que está sendo ministrado, um banquete de conhecimento e ideologias oferecidos pelos mais celebres e seletos membros da sociedade estão tentando alimentar meu cérebro pela fome e sede que tenho e de um ideal que posso mudar minha historia e de uma pequena parcela da sociedade que milita comigo, eles dependem diretamente da minha ascensão para não serem excluídos como muitos do banquete do saber. Ouço com atenção os relatos os causos, as teses os pontos de vista, e vejo em cada face à esperança de fazerem multiplicadores e contagiarem a plateia.

Procuro enganar aquele terrível mal que volta a me atormentar vez em outra e me remete a minha dura realidade, mas mesmo assim desprezo tais constatações e me rendo ao confortável ambiente em que me encontro neste momento, o ar, as poltronas o publico e o banquete que me oferecem de conhecimento e de “graça,“ ainda é maravilhoso para meu currículo acadêmico na área de direito, me alegra quando poucos ainda se preocupam em realizar algo pela sociedade em que vivem, buscando fomentar uma discussão de temas variados e importantes. Magnífico é poder socializar conhecimento e todos são convidados a participar com intuito de romper com as algemas e muros levantados pela separação de classes, raça, credo.
Ao decorrer do tempo àquela velha e amiga dor aperta, quase chego a desfalecer, mas me recupero e sigo em frente firme em meu propósito de ir até o fim.

Como compreender o enorme desfalecer da classe, mas desfavorecida que se agrupa e sucumbem pelas calçadas, vielas, favelas, baixadas, morros, os enjeitados pela nobreza, escravismo, colonialismo e subjulgados pela sociedade mais abastada, tornando-se o câncer que corroí os nobres, como entender algo que nunca sentimos na pele? Contar histórias pessoais de superação e mostrar-se como exemplo e acreditando e fazendo com que outros indivíduos acreditem que podem passar pelo funil é muito mais utópico do que se imagina, exceções não são regras, um ponto na curva não vai transformá-la em uma reta.

Enquanto os jovens pobres e de diferentes pensamentos, raça, credo, ideologia, mas de uma única igualdade a dor insuportável que outrora me martiriza, no decorrer do dia, me questiono. Como abastecer seus cérebros, os seus sonhos, suas necessidades que lhes são negados pela sociedade monárquica que ainda teima em coexistir com a democracia, as autoridades que deveriam servir ao povo servem-se do povo com sentimentos de supremacia e de quase deuses, soberanos e intocáveis aceitam apenas honrarias de reis e rainhas, onde a plebe que não tem sapatos nem calças é proibida de adentrar a sua presença.

A igreja como uma enorme fabrica de construção de templos de Salomão, concorrentes entre si, cada um querendo angariar mais fieis com a finalidade maior da manutenção de seus padrões altíssimos de vida, desfilando em seus luxuosos carros, suas vestimentas de grifes a ostentarem com o que não pertencem a eles e sim ao povo que com muito esforço acreditam que sustentam a sua fé e não líderes que as comandam.
Quando olho a sociedade capitalista e consumista que nos tornamos, vejo que nos perdemos na busca pela igualdade, fomentando o ter mais, marcas, glamour, viagem o top, fazemos uma pequena caridade aqui e ali pronta está feito nossa parte, o que sabemos e o poder que temos de socializar dentro de nossa comunidade fica esquecida servir uns aos outros pra quê? Amor ao próximo por quê? Cada um por si Deus por todos, estou gordo e farto, fiz minha parte para pátria amada e mãe gentil que acolhe todos que por aqui passam o Brasil.

Aos políticos que estão tão distantes anos luz da sociedade brasileira, nem em seus profundos sonhos de lençol egípcios saberão os nossos maiores anseios, uma massa massacrada que geme e se aglomera nos hospitais públicos, penitenciarias. Enquanto o povo anseia, eles desfrutam a portas fechadas nos seus confortáveis gabinetes o nosso de sabor no qual paga seus luxos e barriga cheia.

Mas a principal missão de nossos políticos a muito já esquecida de garantir, fiscalizar e fazer cumprir o que já temos por escrito em nossa Constituição Federal as primícias para subsistirmos com menos danos e perdas nessa enorme Federação é deixado de lado, o que fazem é guerrear na disputa partidária para poder permanecer no poder, nessa queda de braço em que o único perdedor é o povo, pois a eles todo direito é garantido já que são os mesmos que fazem suas próprias leis e a cada dia mais abarrotam seus bolsos com dinheiro público sem prestar contas aos seus patronos o povo que os levará a um próximo mandato, perpetuando-se assim nas cadeiras vitalícias que passam de pai para filho, parentes, aqueles que são seu legado. Hora amigos é muito melhor ser nobre do que plebeu. Imunidade assim garantida é certeza de impunidade e de elegibilidade. A quem vai prestar contas? O maior saldo positivo estará em suas contas e ao encerrar sua carreira contará com uma vultosa aposentadoria. E o povo, que lucro teve? Seus sonhos, seus anseios de uma vida melhor para família e que legado ele deixará?
Então desfalecido e desacreditado o povo bate a porta do judiciário para obter respostas dos conflitos sociais em que vivem, segue a passos apressados, pois talvez nem de tempo ou a decisão chegue depois do tempo que lhe resta, abarrotado o sistema judiciário acolhe mais está demanda, pois a quem compete mostra-se ineficaz em governar em exercer seu papel dentro da sociedade democrática de direito promover a igualdade uma vida digna para sociedade. Acolhendo as queixas do cidadão contra o Estado o judiciário é rechaçado por muitos políticos que se sentem feridos no mais profundo ego é o poder do Estado contra ele mesmo, esse fenômeno no judiciário vem sendo chamado de desjudiacialização e a reforma judiciária parece até um palavrão, não adianta pesquisar você não encontra ainda no dicionário português, tal fenômeno fortalece o ativismo judicial.

O povo que é o verdadeiro patrono do Estado tem o seu direito negado em quase todas as instancias da esfera do poder que enfraquece a esperança a fé publica, quando precisa brigar pelo direito mais básico o de nascer, onde as maternidades estão em colapso como todo sistema de saúde, o de morrer com dignidade onde até os corredores estão lotados de pacientes que esperam a morte chegarem agonizando, o que dizer daquele que espera por um CTI esse somente um milagre irá nos privilegiar com tal conforto.

Vemos nascer um novo judiciário de homens e mulheres que acreditam tentam fazer com que algo mude nesse país, mas, é apenas uma fagulha no palheiro, não vai atear fogo nesse gigante chamado Brasil, está fagulha já me atiça, parece que tem a luz no fim do túnel, nos dá coragem, pois a muitos já vi que apagou, mas outros que teimam em acreditar que veem o florescer, uma nova primavera e que dias melhores estão por vir, mas aquele temor me vem e dor me assombra e se eles também deixarem sucumbir-se pelo sistema e se acham que apenas enxugam gelo, ou que chovem no molhado!
Temerária está, porque o povo já desacredita quase que totalmente da democracia, do justo do solidário, já ouço o saudosismo da ditadura militar onde não se faltava comida na mesa dos pobres, onde havia organização e cada um tinha seu lugar, pois é assim que alguns do povo veem a história, pois o Estado desfalece quando deixa de exercer o papel na vida dos indivíduos que a ele era confiado tão mais alto poder, quando ele está ausente enfraquece a democracia e instalam-se outras formas de poder totalitárias e devastadoras a mídia enlouquece vendendo programas que incitam o ódio e a violência, que expõem aqueles que se marginalizam como carnes para as piranhas enquanto que os corruptos e aqueles que praticam os crimes mais hediondos a mim já visto é o de roubar descaradamente o erário publico, fazendo com que essas mazelas sejam proliferadas. Abraçando abertamente a pena de morte onde abraçamos a causa da vida é incoerente para um Estado tais atitudes, queremos voltar ao passado onde o individuo tem que morrer para pagar seus pecados. Somos inquisidores agora, bárbaros.

Onde a mídia está nas mãos dos políticos que somente irá transmitir aquilo que lhe é favorável, as concessões de TV canal aberta e rádio que são vistas por milhares de brasileiros são manipuladas por eles, pois, desde a época da ditadura é assim os chefes da Federação é que repartem as concessões não há regulamentação e a replica a cada troca de mandato é assim, que democracia é essa em que os políticos podem tudo e o povo não pode nada, é isso que precisam que nós acreditemos que nada podemos. Que fiquemos quietinhos vendo as novelas, os programas de entretenimento, o jornalzinho café com leite, não querem formadores de opinião e sim ter mentes controladas por isso nos oferecem a educação de péssima qualidade e a classe média alta o consumismo desenfreado para te manter feliz e ocupado enquanto eles esvaziam os cofres públicos sorrateiramente. 

Um povo que não discute política, onde fala abertamente todos são corruptos e ladrões e desacredita do seu maior instrumento que é o voto, saiba que está é a arma mais letal que você pode deflagrar no cenário da política brasileira, o poder de sermos uma Republica é que o povo detém o poder, mas quando fechamos os olhos, não discutimos política, não vigiamos a porta que está aberta da democracia qualquer um pode passar por ela e tomar pose do poder. Quando afastamos de nós a responsabilidade e transferimos aos outros sem fiscalizar e saímos por ai fazendo votos de protesto e sendo piada em cenário nacional que somos tão irresponsáveis ao ponto de o voto ter que ser obrigatório se não jamais iremos sair de nosso conforto do amado lar para votar e vai ser o deixa como está, mais ninguém sai ileso, lembrem-se escolhas ruins também irão de uma forma ou outra te atingir, seja em qualquer momento da sua vida. Precisamos saber como sistema político funciona, como a eleição desses partidos, quais suas ideologias e estatutos, os candidatos seus perfis. De certo senhores isto não é simples tão menos o voto, que você pensa; uma cara bonita, um emprego em uma secretaria, uma cesta básica, cuidado isso pode custar a tua liberdade ou a tua vida.

E então como reverter tal situação e dar esperança a quem não tem. Aquele que nem o mínimo tem a dor é tanta e insuportável, para que ele possa acreditar que a cabeça pelo menos pode ficar para fora de tanta bosta, que ele possa respirar um ar e acreditar que ele pode mudar, que a fome, a miséria, atendimento médico de qualidade, dignidade, igualdade, moradia digna, áreas de lazer de qualidade, escolas publicas e didática de ensino de qualidade, saneamento básico, reforma agrária, reforma presidiária, políticas publicas serias e de eficácia a curto, médio e longo prazo, metas reias de controle de natalidade, de desenvolvimento e aceleramento no crescimento de regiões mais pobres, redução de impostos, erradicação da pobreza e analfabetismo.

Como se o único som que ele houve é o que sai de suas entranhas, que o silencia de vez e lhe da sua sentença de morte, ele não terá força, para pular o murro, ser a exceção, aquele que passou pelo funil, quebrou as algemas, que conseguiu enganar a dor por estar em um lugar limpo, arrumado e confortável, clima de montanha, o som que vem de dentro dele o tira a razão as forças e a vontade de lutar ele desmaia e sucumbe à dor se afoga na grande fossa de bosta, a luta acabou e ele morreu no começo, no meio ou no fim, ele não deixa nada de legado, nem de herança, exemplo e aqueles que viram a esperança crescer junto com eles vão seguir seu mesmo ciclo até alguém senhores, educadores, doutores, cidadãos, políticos, companheiros, empresários, intelectuais, magistrados, estudantes, trabalhadores ter a coragem de se manter de pé e não sucumbir e descobrir uma técnica que não seja a de meditar que apenas alguns religiosos praticam na Índia e jejuam por dias sem comer nada, vençam com louvor a mais terrível das dores que o ser humano pode ter nesse planeta a  dor da fome.

 


Autor


Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi.