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A importância da oratória para os advogados e estudantes de direito

A importância da oratória para os advogados e estudantes de direito

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Pesquisa efetuada nos períodos iniciais das Faculdades Associadas de Ariquemes - FAAr, a fim de trazer dados concretos acerca do ensino da oratória no curso de Direito.

RESUMO

O presente estudo tem o objetivo de mostrar a importância da oratória para o profissional do ramo do direito, trazendo um breve histórico desde a origem da oratória jurídica na Grécia com Córax e Tísias, como também uma breve explanação do pensamento de Aristóteles acerca da retórica, trazendo também um pouco da história da oratória no Brasil, não obstante teve também como foco expor o quão é importante o ensino da oratória nas bases do curso de direito, pois propiciará ao acadêmico, tempo hábil para que possa fazer exercícios práticos no decorrer de todo o curso, possibilitando assim o aperfeiçoamento da sua comunicação oral, e conseqüentemente contribuindo para o engrandecimento do seu futuro como advogado. Trazendo também dados inerentes a pesquisa efetuada nos períodos iniciais das Faculdades Associadas de Ariquemes - FAAr, a fim de trazer dados concretos acerca do ensino da oratória no curso de Direito.

Palavras - chave: Oratória. Retórica. Advogado. Argumentação.

ABSTRACT
 

This study aims to show the importance of speaking to the law professional in the industry, bringing a brief history from the origin of legal oratory in Greece with Corax and Tisias, as well as a brief explanation of Aristotle's thought about the rhetoric, also bringing a bit of oratory of history in Brazil, nevertheless also focused on exposing how important is the teaching of oratory on the basis of the law school, as will provide to the academic, timely so you can make practical exercises during the whole the course, thus enabling the improvement of oral communication, and therefore contributing to the growth of your future as a lawyer. Bringing data also inherent in research conducted in the early periods of the Associated Colleges of Ariquemes - FAAR in order to bring concrete data about the teaching of oratory in the course of law.



Key - words: Oratory. Rhetoric. Lawyer. Argument.

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO. 1 HISTÓRIA DA ORATÓRIA JURÍDICA. 2 A ORATÓRIA JURÍDICA NO BRASIL. 3 REFLEXOS DO CONTEXTO EDUCACIONAL NA ORATÓRIA. 4 A IMPORTÂNCIA DA ORATÓRIA PARA O ADVOGADO. 5 RESULTADOS. CONSIDERAÇÕES FINAIS. REFERÊNCIAS.

INTRODUÇÃO

            Com certeza todos já pararam para refletir a importância da boa comunicação, e que não há alternativa, ou sabe se comunicar ou ninguém vai poder se comunicar por você. Este tema é ainda mais importante para o profissional do ramo do Direito, contudo porque se pensar em aprender somente na hora da prática? Já que é uma matéria de suma importância para a prática do profissional da carreira de Direito, por que não iniciar este estudo no inicio da carreira acadêmica?.

            Com base neste pensamento, esta pesquisa surgiu com o intuito de contribuir para o melhor desenvolvimento acadêmico no decorrer de todo o curso de Direito. Nas salas das faculdades pode-se observar grandes dificuldades por parte dos alunos na apresentação de seus trabalhos acadêmicos, e isto conseqüentemente pode ser melhorado com a utilização das técnicas corretas de Oratória.

            Este trabalho busca elucidar sobre a importância da Oratória na carreira jurídica, a partir de fatos que se desenvolveram no decorrer de toda a História.

           

1 HISTÓRIA DA ORATÓRIA JURÍDICA

A oratória jurídica teve origem por volta do século V a.C. com Córax de Siracusa, que juntamente com seu discípulo chamado Tísias. Criaram o primeiro tratado de Retórica, que fora escrito por ambos, em 465 a.C. que tinha o objetivo de orientar os advogados que escolhiam a defender as causas das pessoas que desejavam reaver seus bens e propriedades tomados pelos tiranos. Era um tratado prático, cuja aplicação de seus ensinamentos estava restrita à aplicação nos tribunais que se notabilizaram na defesa das vítimas dos arbítrios atentados pelo tirano de Siracusa.

Apesar deste manual não ter chegado aos nossos dias atuais, sua existência é mencionada e confirmada por Aristóteles, confirmando que retórica teve sua origem no âmbito forense:

À instauração de inúmeros processos que mobilizaram grandes júris populares e obrigaram os intervenientes a socorrerem-se das suas faculdades orais e de comunicação. Tal necessidade rapidamente inspirou a criação de uma arte que pudesse ser ensinada nas escolas e habilitasse os cidadãos a defenderem as suas causas e lutarem pelos seus Direitos. E foi assim que surgiram os primeiros professores da que mais tarde viria a se chamar retórica. Foi nesse decisivo momento histórico em que a democracia impôs a tirania, precisamente no tempo em que Atenas conheceu Péricles, que Córax e Tísias de Siracusa conceptualizaram e publicaram o primeiro manual de retórica (ARISTOTELES, 2005, p.19).

Córax era um exímio orador forense, com mais de duzentos discursos proferidos por ele nos tribunais. Sempre com o objetivo de melhor ensinar a arte de falar em público, assim podendo exercer com excelência a sua missão de advogado. Então se pode dizer que Córax de Siracusa é o precursor da oratória jurídica. Também foi Córax que dividiu o discurso em cinco partes distintas, sendo elas as seguintes: o exórdio, a narração, a argumentação, a refutação e o epílogo.

De acordo com Castelo Branco (1976) a linha do discurso jurídico de Córax se desenvolve da seguinte maneira: o exórdio sendo o início do discurso, devendo cumprir a função de atrair a atenção dos ouvintes, pode-se dizer que ele consta de uma introdução, sendo seguido pela a narração dos fatos, que é a expressão do ponto de vista de uma das partes, dando seqüência com a argumentação, que incide sobre os fatos construídos pela narração buscando legitimar as idéias construídas no transcorrer do discurso, que é completada pela refutação das posições adversas. E por fim a peroração ou também chamada de epílogo que vem a ser a conclusão do discurso que consiste na recapitulação dos seus pontos principais. Considerando-se finalizado o discurso.

Na visão de Castelo Branco (1976) outra figura de grande importância para a oratória grega, foi Sócrates, pois foi por meio deste que o ensino da retórica foi inserido nas escolas de Atenas, valorizando seu caráter prático e sua visão educativa, incorporando-a a cultura, sob a égide de que o jovem aprendendo a falar bem e comunicar-se bem tornaria sua vida bem melhor. Contudo, diferentemente de Córax, o discurso para Sócrates tinha um caráter artístico devendo ser como uma obra de arte, fundada de com amor e emoção, supervalorizando o caráter literário do mesmo.

            É impossível falar da oratória grega sem lembrar Aristóteles, figura revolucionária em todo contexto cientifico por conhecer praticamente toda a ciência de seu tempo. Arquitetando novas percepções explicativas para os problemas gerais do mundo, e com tal segurança e saber que as mesmas atravessaram os séculos e ainda influem no pensamento atual da Humanidade. Não obstante ele também deixou grande contribuição para a arte da palavra, para Aristóteles, a oratória advinha da competência de descobrir todas as formas plausíveis, adequadas para convencer a platéia, sobre qualquer matéria, independentemente da dificuldade que esta tarefa advir, o método de oratória de Aristóteles incide em um das principais soluções ou passos a serem trilhados para se produzir à persuasão. O método é composto de três grupos: ethos - o caráter do orador; páthos - a emoção do auditório e logos – a argumentação. Esses meios técnicos referem-se àqueles que o próprio orador cria para incorporar a sua argumentação ou elaborar um discurso.

Sousa concebe a oratória de Aristóteles como sendo de três gêneros:

 A deliberativa, a forense e a de exibição. A oratória deliberativa é a que tem lugar na assembléia e visa persuadir a que se adote a política que o orador considera mais adequada. É a mais importante, a mais prestigiada, própria de homens públicos e aquela para a qual preferentemente se orientava o ensino de Isócrates e Aristóteles. A oratória forense, como o seu nome indica, é a utilizada perante os juízes ou jurados do tribunal, para os persuadir a pronunciarem-se a favor ou contra o acusado. Embora útil, não é muito valorizada. Finalmente, a oratória de exibição, também chamada de epidíctica, é a que tem lugar na praça ou outro local similar, perante o público em geral, que o orador procura impressionar exibindo os seus dotes de oratória, normalmente fazendo o elogio de alguém ou de algo, ainda que isso seja um mero pretexto para o orador brilhar. (SOUSA, 2000, p. 8)

Outra figura celebre da oratória foi Demóstenes, que teve sua trajetória marcada pelo esforço e pela perseverança, características que o fizeram maior Orador da Grécia antiga. Segundo Plutarco a paixão Demóstenes pela oratória surgiu quando ainda criança teve o privilégio de presenciar um discurso pronunciado por Calístrato, um importante e eloqüente orador de seu tempo, fato este que o deixou tão maravilhado que o mesmo abandonou todos os outros tipos de estudo e dedicar-se exclusivamente ao estudo da oratória, começou seus estudos sobre a oratória junto com o orador Iseu, fato que o capacitou a se tornar Locógrafo, ou seja, Demóstenes preparava discursos para os outros proferirem nos tribunais, visto que segundo as leis atenienses, cabia aos próprios litigantes proferir tanto a acusação quanto a defesa. O Locógrafo podia pedir a palavra para esclarecimentos, contudo, Demóstenes tinha a voz fraca, o nervosismo provocava-lhe gagueira, em suas primeiras apresentações seu estilo foi considerado estranho e deselegante, e também possuía problemas de postura causados pelo nervosismo, gerando movimentos involuntários, fatos que o fizeram ser vaiado e ridicularizado por algumas vezes. Contudo todas estas situações desfavoráveis não conseguiram abater ou desanimá-lo.

 Segundo Plutarco, certo dia após ter sido ridicularizado após proferir um discurso, encontrou com seu amigo Satyrus que era ator, ao qual contou o fato ocorrido, o mesmo pediu declamasse parte de um livro.  Logo após proferiu o mesmo texto, com entonação, firmeza nas palavras, postura e gestos adequados, a diferença foi tão grande e Demóstenes resolveu mudar o foco dos seus estudos. A partir daí Demóstenes começa com um trabalho árduo para atingir seus objetivos, o mesmo devaneava frente ao mar com pedras na boca, buscando fortificar seus pulmões e dominar a gagueira nervosa, para perder o vicio de levantar os ombro enquanto proferia seus discursos ele praticava com a ponta de uma espada sobre seu ombro para que a cada vez que o movimentasse o mesmo fosse ferido, trancava-se em um  porão por dias para que pudesse praticar seus discursos, Satyrus o ensinou a falar em voz alta e a arte da declamação. Após tamanho empenho e perseverança Demóstenes pode se tornar o maior orador da Grécia antiga, mostrando a importância da prática, do estudo e da persistência para alcançar seus objetivos.

2 A ORATÓRIA JURÍDICA NO BRASIL

A oratória jurídica no Brasil teve seu surgimento com a criação das primeiras escolas de jurídicas criadas no ano de 1828, sendo uma localizada no mosteiro de São Francisco em São Paulo, e a outra no mosteiro de São Bento em Olinda, nos estado de Pernambuco.

Segundo Castelo Branco (1976) o ensino jurídico em nosso país é recente com pouco menos de dois séculos, e com o passar do tempo o que começou sendo poucas escolas de Direito, passou por um crescimento exacerbado, atrelado ao modelo de ensino livre predominante no Brasil neste período, que não fazia grandes exigências dos professores, passou-se a uma grande quantidade, e muitas criadas sem o mínimo critério, fato que na década de 50 levou o curso de Direito a ser chamado, pelo o termo “fábrica de bacharéis”.

Não é difícil verificar qual é a principal ferramenta de trabalho de um advogado, quando analisamos que o mesmo faz uso de suas faculdades intelectuais manifestadas por via oral, ou seja, através da fala, e torna-se imprescindível que o mesmo tenha o pleno domínio sobre a boa comunicação e uma boa oratória, pois no decorrer de toda sua trajetória profissional será compelido a fazer uso das mesmas.

No decorrer de toda a história das carreiras jurídicas pode-se perceber o tamanho da importância da oratória no Meio jurídico no Brasil, Conforme mostra Castelo branco é possível encontrar figuras notáveis em sua oratória,

A retórica é o dote natural de alguns homens predestinados produziram na Itália, na França, na Inglaterra, em Portugal, e mesmo no Brasil, notáveis parlamentares, advogados, sacerdotes pregadores. [...] entre os brasileiros, Rui Barbosa, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Silva Jardim, Luís Gama, Saldanha Marinho, Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão, Campos Sales, Prudente de Morais, Nilo Peçanha, Assis Brasil, Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado, Aristides Lôbo, Rangel Pestana, Brasílio Machado (BRANCO, 1976 p. 30)

Dentre os citados por castelo branco contém alguns que não são do ramo do Direito, contanto merecem ser lembrados, como o ilustre jornalista, José do Patrocínio. Contudo como o foco é a oratória jurídica, impossível não citar Rui Barbosa que as historia destaca como um dos mais importantes oradores jurídicos brasileiros.

Rui Barbosa em toda sua trajetória, exerceu as careiras de Advogado, Jornalista, Diplomata, Jurista, e Político, que após se forma em Direito em são Paulo no ano de 1870, voltou para a Bahia seu estado de origem e ganhou destaque nas tribunas, tornando-se assim o grande orador da história Brasileira conforme nos apresenta Sônia Maria Teixeira da Silva.

Orador imbatível e estudioso da língua portuguesa Rui Barbosa recebeu convite para tornar-se membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Assumiu a cadeira número 10 e escolheu como patrono o político, jornalista e escritor Evaristo da Veiga. Assumiu a presidência da entidade em 3 de outubro de 1908, em substituição ao grande Machado de Assis, nela permanecendo até 1919. (SILVA, 2005)

            Rui Barbosa é com certeza o mais Celebre orador jurídico Brasileiro, o Direito nacional se orgulha de seu ilustre membro.

 Contudo mesmo o Direito Brasileiro tendo uma Figura ilustre como a de  Rui Barbosa para ser seguida como exemplo, com o passar dos anos a oratória jurídica no Brasil acabou sendo esquecida e tendo sido deixada em ultimo plano pelas as instituições, sendo por muitas vezes excluídas da matriz curricular, ou até mesmo sendo deixada como disciplina optativa, e um período impróprio para o seu ensino, sem priorizar a o exercício continuo e a prática constante da mesma, que são fatores de suma importância para o desenvolvimento da oratória.  

No momento atual que o ensino jurídico nacional atravessa não houve grandes mudanças que podem ser percebidas analisando os exames organizados pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, onde mostra claramente índices baixíssimos de aprovação colocando a prova o ensino jurídico em nosso país. 

Podem-se apontar várias deficiências neste curso, contudo, apontarei uma que é o foco deste estudo e está atrelada ao ensino da oratória nas escolas jurídicas. Contudo não é somente o aprendizado das regras de oratória que irá produzir grandes oradores. Como não somente o aprendizado, das regras de gramática ensina a escrever, O mistério do êxito, seja como escritor, seja como orador, está na união do aprendizado das técnicas aliados ao exercício prático.

3 REFLEXOS DO CONTEXTO EDUCACIONAL NA ORATÓRIA

            O contexto educacional do nosso país, comparado com os países de primeiro mundo anda a passos curtíssimos, não se pode afirmar ao certo se isso é reflexo de um ensino, básico deficiente, ou de falta de planejamento educacional, ou falta de investimentos, o que se percebe cada vez mais é uma ausência de preparação dos alunos que chegam às universidades nos dias de hoje.

            Os alunos chegam ao ensino superior como podemos dizer do ponto de vista educacional, com um conhecimento prévio deficiente, fator quem vai refletir de forma muito negativa no desenvolvimento acadêmico deste educando.

            Alunos estes que por varias vezes chegam à universidade sem nunca ter lido um livro ou com dificuldades de vocabulário, dificuldade de comunicação e expressão, dificuldade de interpretação de texto, e conseqüentemente dificuldades de produção de texto, que são matérias de suma importância no contexto acadêmico do curso de direito.

            Com discentes oriundos de um sistema educacional tão deficiente, que não foram preparados na etapa educacional a qual cabia ser feita. Esta tarefa infelizmente caberá a instituição de ensino superior, que de uma forma ou de outra deverá preparar este estudante para que venha a sanar estas deficiências, para que possa vir a obter êxito na carreira acadêmica e conseqüentemente também venha alcançar seu sucesso profissional.

            A oratória é uma matéria pouco difundida no meio acadêmico atual, mas com o passar dos anos vem ganhando muita força. Com o passar dos anos o contexto jurídico atual vem exigindo de todos de todos os operadores do direito um bom nível de comunicação.

             

4 A IMPORTÂNCIA DA ORATÓRIA PARA O ADVOGADO

A oratória é peça fundamental para a capacitação dos profissionais e acadêmicos de Direito, sendo de suma importância para a evolução da qualidade do ensino. Preparando os estudantes que serão os futuros operadores do direito, tornando-os profissionais conscientes e preparados para o atual contexto jurídico que atravessa nossa sociedade, onde cada vez mais se faz necessária a comunicação.

            De início já pode se vislumbrar que a oratória é matéria de grande relevância para o profissional do Direito, no Estatuto da Advocacia e da OAB em seu artigo 7º. Onde trata dos direitos do advogado e estabelece algumas situações em que o profissional deve se manifestar oralmente:

IX – sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo, nas sessões de julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou administrativa, pelo prazo de quinze minutos, salvo se prazo maior for concedido.

X – usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento, bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas;

XI – reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento;

XII – falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da Administração Pública ou do Poder Legislativo. (BRASIL, 1994, p. 3 )

            Também é relevante citar que o advogado é por muitas vezes submetido a exposições onde tem que mostrar segurança em suas afirmações, e transparecer confiança a todo o momento para que possa influenciar as pessoas com as suas idéias, como é o caso do tribunal do júri onde a postura do advogado e sua segurança diante das suas exposições vão ser de suma importância para o veredicto. Brandi se pronuncia neste sentido:

Dominando a “arte da oratória”, podemos informar comunicar idéias, defender, refutar, realizar discursos ou falar com propriedade. São essas oportunidades que fazem da oratória uma arte sempre atual, cujo conhecimento tanto é imprescindível para o triunfo social quanto para promover o próprio trabalho (BRANDI apud CAVALCANTI, 1999, p. 12).

            Estes são alguns exemplos que exprimem de forma clara a importância que a comunicação oral tem para o advogado, e vem a fundamentar o e organizar este estudo.

5 RESULTADOS

             A pesquisa desenvolveu-se nos períodos iniciais do curso de direito das Faculdades associadas de Ariquemes. Através de observação do ambiente escolar durante as apresentações de trabalhos acadêmicos seminários, através de entrevistas com os alunos e com os professores, e também com alguns acadêmicos concluintes do curso de direito a fim de ter material comparativo para que fosse possível apresentar conclusões.

A observação do ambiente acadêmico durante as referidas apresentações foi muito reveladora, pois neste momento foi possível verificar o quão se faz necessário o ensino da oratória nesta etapa acadêmica, pois foi possível verificar grande dificuldade por parte dos acadêmicos em fazer suas exposições, devido a diversos fatores. O primeiro fator que pôde ser analisado foi ausência de preparação destes acadêmicos para se apresentarem oralmente, tanto da parte inerente ao acadêmico quanto da parte cabível a instituição. Cito, por exemplo, ser programado um seminário para ser apresentado sobre um referido tema, onde o mesmo seria avaliado pelo trabalho escrito que seria entregue e pela apresentação oral q o mesmo viria a apresentar, contudo o professor não estabeleceu critérios para esta apresentação, nem tampouco explicou como a mesma deveria desenvolver-se. Chegando o momento das referidas apresentações maior parte dos acadêmicos apenas fizeram a leitura de suas sínteses do trabalho escrito e foram contestados por isso. Por outra ótica analiso também a falta de preparação por meio dos acadêmicos em tentar ao menos conhecer sobre o tema a ser exposto.

Castelo Branco (1976, cita a importância da preparação intelectual para o bom desenvolvimento do discurso.

Quanto mais culto é o advogado, mais fácil lhe é a oratória porque o cérebro humano, funcionando como arquivo, põe ao Seu dispor enorme quantidade de informações e fundamentos, versando sobre os mais diferentes assuntos, desde os concernentes á sua própria profissão como as dos outros campos do saber. A geografia, os diversos blocos de nações com os seus interesses peculiares, os respectivos governos, quase todos diferentes, os problemas que afligem o mundo, as ideologias propagadas nos cinco continentes, à história da humanidade através dos tempos, assim como a política nacional e internacional, as questões econômicas e sociais, o progresso cultural e técnico do povo, as últimas realizações artísticas e literárias, as novas descobertas científicas, enfim, tudo que movimenta e faz palpitar o mundo na sua marcha para o futuro (BRANCO, 1976 p. 37)

A pesquisa também se desenvolveu por meio de entrevistas tanto aos acadêmicos, quanto aos professores, sendo que foram entrevistados 8 (oito)  professores que lecionam nos referidos períodos,  em cadeiras em que a oratória se faz muito importante para a organização do raciocínio e desenvolvimento do conhecimento. Como por exemplo, as cadeiras de sociologia e filosofia, visto que são cadeiras vinculadas ao pensamento filosófico, onde são estudados os pensamentos de vários autores e por muitas vezes essas discussões são feitas por via oral através de seminários e debates, fato que facilitaria a prática da oratória

A pesquisa com os professores desenvolveu-se por meio de questionário, composto por  3 perguntas abertas, onde na primeira pergunta foi abordada qual a relevância que a oratória tem para o advogado e os estudantes das ciências jurídicas, a resposta foi unânime, a oratória e a comunicação é peça fundamental para o desenvolvimento da carreira do profissional da área jurídica, independentemente do ramo do direito que este venha a buscar, sempre se fará necessário que o mesmo tenha uma boa oratória e conseqüentemente uma boa comunicação, pois são prerrogativas que se fazem inerentes ao profissional do ramo do direito.

A segunda questão abordada foi “Você busca inserir de forma contextualizada a oratória em suas aulas?”. E de que forma. 5 (cinco) deles responderam que buscavam na medida das possibilidades, solicitar que o acadêmico durante as apresentações de trabalhos, seminários entre outros eventos escolares, cumpram algumas regras no decorrer das apresentações, como por exemplo: que os alunos evitem apenas a leitura e que leiam e façam comentários,

Os outros 3 responderam que devido suas matérias serem exclusivamente técnica e não ter oportunidades de expressão oral, por via de seminários ou outros trabalhos, contudo os mesmos abrem oportunidades para que os alunos expressem suas opiniões no desenvolver das aulas atuando de forma participativa.

A terceira pergunta realizada foi “Em sua opinião, é relevante o ensino da oratória no início do curso de Direito?” todos os entrevistados responderam que sim, que o ensino da oratória no inicio do curso propiciaria um período maior para o estudo e prática da mesma. Houve porem uma divergência quanto ao momento em que este disciplina deveria ser inserida, onde 4 (quatro) responderam que esta deveria está localizado na grade do 1º período, 2 (dois) responderam que a mesma deveria está no 2º período e 2 (dois) disseram que deveria está no 3º período. Como ficou claro a maioria entende que a oratória deveria está localizada no 1º período do curso, essa importância foi justificada por um dos entrevistados expondo que nesse período e nos subseqüentes, contém  disciplinas como: Filosofia, Ciências Políticas, Sociologia, entre outras onde se estuda o pensamento e as idéias de vários teóricos e comumente, as exposições são feitas por meio oral, através de seminários, palestras entre outros.

Prosseguindo com a verificação foram entrevistados 30 acadêmicos distribuídos nos referidos períodos onde a entrevista também foi aplicada por meios de um questionário contendo 4 (quatro) perguntas sendo  2 (duas) questões fechadas e duas abertas.

A primeira questão abordada foi “Você já estudou Oratória?” 85% dos entrevistados responderam “Não” que nunca tiveram contato como estudo da oratória, 15%  responderam quem “Sim” já estudaram oratória.

A segunda pergunta foi “Você tem facilidade para falar em público” 75% dos entrevistados responderam que não, e apenas 25% disseram quem tem facilidade para se expressar publicamente.

A primeira questão aberta aplicada foi “Você entende que a Oratória é importante para o advogado? Por quê?” as questões fechadas foram aplicadas com duas alternativas de resposta, Sim ou Não. E a resposta obtida de 100% dos entrevistados foi que Sim. Houve um consenso em que a ferramenta de trabalho do advogado é a voz, pois é por meio dela que ele pode se expressar, se comunicar, argumentar, defender, acusar dentre outras prerrogativas a ele inerentes.

 A ultima foi “Qual sua maior dificuldade em apresentações orais”, a resposta predominante 70% acadêmicos. Foi relativa questões de personalidade como, por exemplo, a timidez, nervosismo, são os fatores que mais os prejudicam, e os mesmos exprimem que os professores e a instituição exige uma determinada postura nas apresentações, mas, não busca capacitá-los para que possam desenvolver estes trabalhos de forma satisfatória.

Um fator que pôde ser verificado no decorrer destas entrevistas foi que as apresentações, trazem certo temor aos acadêmicos, os mesmos têm certa barreira com esse tipo de trabalho.

Dentre estes entrevistados e aqueles que foram observados durante a pesquisa foram escolhidos alguns alunos que aparentemente tinham uma boa comunicação oral e perguntado a eles se possuíam algum conhecimento prévio sobre as técnicas de oratória, ou até mesmo experiência em se expressar em público e assim foi possível se verificar que aqueles acadêmicos que tem melhor desenvoltura em suas apresentações são aqueles que estão em contato constante como a mesma, podendo assim exercitar sua prática, foi verificado que alguns têm contato com a oratória por vias religiosas, pois fazem uso da palavra costumeiramente, outros por conseqüência do seu trabalho exigir. Outros por fazer uso da mesma por vias artísticas, e assim foi possível verificar que para que haja um desenvolvimento desta faculdade é necessário o exercício regular, para que a pratica possa vir a gerar um aperfeiçoamento.

Finalizando a investigação foram entrevistados de forma oral 3 (três) acadêmicos concluintes do curso de direito, que acabaram de apresentar seus trabalhos de conclusão de curso afim de verificar, se houve alguma lacuna causada pela ausência da oratória no início do curso de direito, foi apresentado por eles que existe a cadeira de oratória como disciplina optativa no 10º período, contudo a mesma está alocada de forma errada na grade escolar pelo motivo de que uma disciplina que exige uma certa experiência prática para se desenvolver-se não deve ser ensinada no ultimo período do curso, explanaram ainda que os mesmo foram beneficiados pela grade antiga, onde existia uma cadeira no 3º (terceiro) período chamada “Argumentação Jurídica” que foi muito importante para que os mesmos pudessem desenvolver uma melhor comunicação. E comentaram sobre a falta que a ausência essa cadeira fará aos novos acadêmicos do curso de Direito contemplados com a nova grade curricular. Citaram também que no ultimo período o aluno já está tão saturado de preocupações como: o trabalho de conclusão de curso, formatura, exame de ordem, que nem conseguem aferir o devido valor merecido pela oratória.

 Diante de dos dados coletados e das observações feitas no ambiente acadêmico foi possível, perceber claramente que a Oratória caminha lado a lado com os acadêmicos do curso de Direito. Diante de grandes turmas sempre existem aqueles que se destacam com um pouco mais de eloqüência, e facilidade na hora de se expressar oralmente, contudo estes são casos de minoria, o que se pode observar são alunos trêmulos, com dificuldades, para falar, sem postura antes e durante as apresentações, que na maioria das vezes apenas lêem o que copiaram, da internet ou de algum livro. Onde muitas vezes não conseguem organizar as idéias de sua apresentação nem, manter uma ordem da mesma, transparecendo assim um despreparo. Fato que muitas vezes não é condizente com a realidade, pois o aluno até busca estudar e se preparar para suas apresentações, contudo sem conhecimento prévio de como se deve organizar e preparar uma apresentação acaba não atingindo o êxito neste feito.

            Acerca disto Reinaldo Polito (2010) faz considerações sobre a organização das idéias nas apresentações do advogado:

Se o advogado não souber organizar o seu pensamento de forma concatenada, poderá passar a idéia de despreparo, e falta de competência e não atingirá os objetivos a que se dispôs. Infelizmente, é possível observar nos tribunais alguns advogados que até conhecem bem a área do direito em que atuam, mas que não conseguem organizar o raciocínio de maneira lógica e ordenada (p. 141).

            Posso afirmar com propriedade que isto é um reflexo da ausência de preparação para este tipo situação tão comum no ambiente acadêmico, porquanto se este aluno tivesse sido ensinado de forma correta e com certa ênfase em como se organizar as idéias e como organizar uma apresentação seja ela oral ou escrita, este profissional do direito não estaria passando por essas situações de constrangimento.

            Outro ponto que citei e acho que pode causar um pouco de choque já que o foco deste trabalho é a oratória, é sobre a organização de apresentações escritas, e sim afirmo novamente que a oratória é grande aliada para o desenvolvimento da capacidade de produção e desenvolvimento de um trabalho escrito, por que o estudo da arte da oratória traz para o orador, um dinamismo para a organização das idéias e conseqüentemente idéias bem organizadas ficam de certa forma mais fáceis de ser escritas, e concatenadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a oratória é peça fundamental na vida dos profissionais do Direito, e que a expressão oral e a forma mais objetiva para que possa alcançar o sucesso profissional visto que a fala aliada a capacidade intelectual é a maior ferramenta de trabalho do advogado, e que no decorrer de toda a história a oratória tem caminhado de mãos dadas com o direito.

E da mesma maneira é verificada tal importância e devida aos estudantes universitários que em sua grande maioria, abriga um medo de se expressar em público, medo esse que é muito prejudicial na execução das atividades inerentes ao o curso de Direito.

Também ficou claro que as metodologias aplicadas nos planos de ensino, não trabalham com uma abordagem interdisciplinar, buscando facilitar o ensino, e também não observam as exigências do competitivo mercado profissional. Visto que a oratória está presente no dia a dia do advogado, como também nos processos de seleção para cargos como, representantes do ministério público, como também para a magistratura e demais profissões ligadas ao ramo do direito.

            Concluiu-se que o ensino da oratória é necessário para o desenvolvimento da carreira do profissional do ramo do direito e que a mesma deve ser ensinada desde as bases da educação conforme afirmam, começando a princípio na do curso de Direito formando profissionais atualizados e, preparados e conscientes, para que possam ser profissionais que façam a diferença no mercado de trabalho, alcançando assim seus objetivos tanto pessoais quanto profissionais.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Retórica. Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2005. Disponível em <www.scribd.com/doc/55674221/ARISTOTELES-Retorica> acesso em 25∕06∕2011

BRANCO, Vitorino Prata Castelo. O Advogado e a Defesa oral. Academia brasileira de letras, Disponível em < www.scribd.com/doc/6954830/Vitorino-P-Castelo-Branco-O-Advogado-e-a-Defesa-Oral-8> acesso em 25∕05∕2011.

BRASIL. Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil – Lei n. 8.906, de 04 de julho de 1994. Disponível em: <http://www.oab.org.br/arquivos/pdf/LegislacaoOab/estatuto.pdf>. Acesso em: 30/03/2011.

CAVALCANTI, Denise, Atuação Vocal do Advogado-Oratória, Rio de Janeiro: 1999, Disponível em: <http://www.cefac.br/library/teses/d3a52bd39fc943ead47ffe6563b8bebd.pdf.> Acesso em 05/12/2010.

MARTA, várzeas: Plutarco. Vidas Paralelas – Demóstenes e Cícero. Tradução do grego, introdução e notas, Coimbra: CECH, 2010. Disponível em: <https://bdigital.sib.uc.pt/classicadigitalia/bitstream/123456789/47/1/plutarco_vidas_demostenes_cicero.pdf> Acesso em 01/9/2011.

POLITO, Reinaldo, Oratória para Advogados e Estudantes de Direito. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.

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