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O NEFASTO LEGADO DA ESCRAVIDÃO, que o Brasil ainda não se livrou

O NEFASTO LEGADO DA ESCRAVIDÃO, que o Brasil ainda não se livrou

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O presente artigo de opinião, faz um resgate histórico por uma realidade social que perpassou realidades nacionais distintas e podem explicar hoje o que ocorre como convulsão brasileira da violência e atenta seriamente as consolidação dos direitos humanos

Com a liberação do Atlas da Violência de 2018 [1] e a inequívoca prova estatística da guerra travada (ou seria genocídio) dos homens, negros e pobres do Brasil, devo alargar a visão e falar sobre esse mal civilizatório chamado escravatura, foquemos na América, da Idade Moderna até nossa pós-modernidade.

"Estudo com dados do Ministério da Saúde mostra que taxa de homicídios de negros equivale a 2,5 vezes a de não negros. 'Face mais perversa do racismo estrutural é a violência letal', diz pesquisadora." [2]

Essa questão da escravatura pela Diáspora Negra foi tão profunda, que onde ela mais se enraizou, foi preciso grandes convulsões para reequilibrar os parâmetros sociais: Sul dos Estados Unidos, Caribe e Brasil [3].

Nos Estados Unidos, isso gerou a maior guerra civil da modernidade [10], cindiu a potência e deixou sequelas que perduram e atravessaram século XIX e no século XX estourou com as lutas pelos direitos civis, movimento que gerou Luther King e Malcolm X (e vice-versa) [9].

No Caribe, tanto na América Espanhola com na Francesa, foi preciso a sublevação dos negros no Haiti que gerou a primeira onda de receio nas elites americanas; bem como, deixou o terreno pronto, com desigualdade, para a Revolução Cubana, a segunda vez que as elites americanas tremeram na base pelo poder popular (Hum, lembre-se quem segurou as coisas no Haiti, na atualidade? Brasil. E quem chegou depois do terremoto? EUA.)

E o Brasil? Bem, o Brasil não expurgou seus males, ele os absorveu e introjetou a escravidão com a "irreverência" do malandro (muito bem simbolizada pelo Zé Carioca [4]). Mas terá que vomitá-la. Por isso já está fazendo, antes que haja uma sublevação popular, a máquina sistêmica está matando o povo negro pronto para a guerra contra os ricos [3]. Mas essa protelação não vai durar muito tempo. Só é preciso que seja abertamente declarada a guerra civil [6] no eixo Rio-São Paulo para que as coisas se evidenciem (ou será que uma intervenção já não o é essa declaração!?).

Belo Horizonte está sentindo as dores disso [7], o Espírito Santo, o Rio Grande do Norte sentiram recentemente. Tenho certeza que o Rio Grande do Sul, bem como o eixo entre Maceió e João Pessoa terão seus "métodos" próprios de evitar a convulsão. Se aqui ainda não é Porto Príncipe, falta muito pouco! O detalhe é que, numa sublevação, a massa não tem nome e aí não vai sobrar espaço para "coitadinhos", o oprimido vira opressor em dois segundos.

Agravante de nossa época é que chineses, russos e americanos querem nosso território e franceses, ingleses e holandeses estarão dispostos a ajudar quem os garanti a posse de suas "terras" na América do Sul. Esqueçam o Oriente Médio [5], por enquanto, o mundo se volta para o Brasil e parece que apenas os brasileiros não percebem isso!


Referências

1. Ipea e FBSP, Atlas da Violência 2018. Rio de Janeiro, junho de 2018. Disponível em < http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas_da_violencia_2018.pdf >

3. PARRON, Tâmis Peixoto. A política da escravidão na era da liberdade: Estados Unidos, Brasil e Cuba, 1787-1846. Tese (Doutorado de História). USP, 2016.

3a. Como Brasil, EUA e Cuba se uniram para manter a escravidão no século 19. [On-line] Disponível em < http://ciencia.usp.br/index.php/2017/03/10/premio-tese-destaque-usp-ciencias-humanas/ >

2. Por Cíntia Acayaba e Amanda Polato, G1 SP. Brasil chega à taxa de 30 assassinatos por 100 mil habitantes em 2016, 30 vezes a da Europa, diz Atlas da Violência. [On-line]. Disponível em < https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/brasil-chega-a-taxa-de-30-assassinatos-por-100-mil-habitantes-em-2016-30-vezes-a-da-europa-diz-atlas-da-violencia.ghtml >

4. VITORIO, Victor. Zé Carioca e o estereótipo do Brasil. [On-line]. Blog Fantasiar é preciso. Disponível em < https://sonhosdespertos.wordpress.com/2012/12/08/ze-carioca-e-o-estereotipo-do-brasil/ >

5. AZEVEDO, Reinaldo. Guerra não declarada no Brasil mata quase o quádruplo do que mata a guerra civil na Síria. [On-line]. Publicado em 30 out. 2017. Disponível em < http://www3.redetv.uol.com.br/blog/reinaldo/guerra-nao-declarada-no-brasil-mata-quase-o-quadruplo-do-que-mata-a-guerra-civil-na-siria/ >

6. G1-MG. Sete ônibus e um caminhão são queimados no quarto dia de ataques em Minas Gerais. [On-line]. Publicado em 06 jun. 2018. Disponível em < https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/mais-onibus-sao-atacados-e-incendiados-na-regiao-metropolitana-de-belo-horizonte.ghtml >

7. Estadão e R7.  Com crise na segurança, Rio Grande do Norte decreta calamidade. [On-line]. Publicado em 06 jan. 2018. Disponível em< https://noticias.r7.com/cidades/com-crise-na-seguranca-rio-grande-do-norte-decreta-calamidade-06012018 >

8. BAHE, Marco. Por que o Haiti é tão pobre? A História responde. [On-line]. Publicado em 18 jan. 2010. Disponível em < http://acertodecontas.blog.br/economia/por-que-o-haiti-e-tao-pobre-a-historia-responde/ > (Com texto de Miriam Leitão)

9. RTP. Martin Luther King vs Malcolm X. [Audiovisual] Face to Face. Episódio 3 de 16 Duração: 52 min. < https://www.rtp.pt/programa/tv/p33174/e3 >

10. DUCAN, James S. Após a guerra civil: reconstruindo a geografia cultural como heterotopia. In: CORRÊA, Roberto L; ROSENDAHL, Zeny. Geografia Cultural: uma antologia. Vol. 01. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.


Autor

  • Wagner Soares de Lima

    Ecólogo Humano, Administrador e Gestor de Segurança Universitária. Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (2017) pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Especialista em Gestão Pública (2013) e Bacharel em Administração (2012) pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Graduado em Segurança Pública (2003) pela Academia de Polícia Militar Senador Arnon de Mello (PMAL). Servidor Técnico da UFPE, no cargo de Tecnólogo de Segurança, Diretor da Divisão de Projetos de Segurança e Tecnologia da Superintendência de Segurança Institucional da UFPE. Capitão da reserva da Polícia Militar de Alagoas. Foi Docente da UFAL, no Curso de Administração, campus Arapiraca; da UNOPAR, pólo de Arapiraca e da Academia de Polícia Militar de Alagoas. Autor e Fundador do Blog CidadãoSSP

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