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A contemporaneidade do mal-estar

A contemporaneidade do mal-estar

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O texto aborda a sociedade contemporânea através de suas características sociológicas, antropológicas e principalmente filosóficas. O mal-estar é peculiar de nossa era e está em toda parte.

O estágio de desenvolvimento contemporâneo do capitalismo caracteriza-se pelo fortalecimento sem precedentes da contratendência da expansão de produção de mercadorias, o próprio motor do desenvolvimento capitalista. É o chamado capitalismo tardio[1].

Num primeiro estágio de desenvolvimento capitalista[2], o assalariamento da força de trabalho, primeiramente incipiente, foi se estendendo, mediante a paulatina eliminação das terras comunais (cercamentos) e sua transformação em propriedade. Por essa razão, é denominado estágio extensivo.

Quando o estágio de desenvolvimento extensivo se esgotou, o capitalismo entrou num estágio extensivo. Quando o estágio extensivo se esgotou, o capitalismo adentrou num estágio intensivo.

Que se peculiarizou pelo aumento da produtividade do trabalho, que por sua vez dependeu do progresso das técnicas de produção e da elevação do nível de substância de força de trabalho, que dependeu do progresso das técnicas de produção e da elevação do nível de subsistência da força do trabalho, necessária para permitir a operação de técnicas cada vez mais complexas.

Nesse estágio o antagonismo à base dialética do Estado e ao mercado se desenvolve com força e tendem à generalização da forma-mercadoria e, é sobrepujada pela contratendência de expansão do Estado.

A crise provoca a reação neoliberal[3] que se assenta numa ideologia repleta de neologismos e pseudoconceitos como a globalização privatização, associada paradoxalmente ao fim da história, pregando a perpetuação do status quo (a sociedade burguesa).

Noutra vertente, há o discurso da desqualificação do Estado enquanto provedor de infraestrutura física e institucional ou como representantes variadas formas e sub-formas de sociedade organizada.

Porém, as políticas neoliberais não conseguiram reconstruir o âmbito do mercado e, redundem no desmonte do Estado Social ou do Bem-Estar, de concentração de capital e de renda e do prolongamento insustentável do endividamento para financiar o consumo, enquanto que o centro gravitacional antes calcado no capital e na renda e, no prolongamento insustentável do endividamento para financiar o consumo, desloca-se da indústria apara os serviços dando origem aos fenômenos chamados como desindustrialização e terceirização[4].

As sociedades contemporâneas são marcadas por um contínuo processo de aceleração onde as matérias de expressão logo se tornam obsoletas e, a transformação do mundo para sujeitar-se a uma sequência aleatória de infinita continuidade.

Configura-se uma pluralidade em grande intensidade porém com pouca densidade. O sujeito vive num profundo estado de letargia restando desestabilizado e acaba absorvido e tragado pela lógica capitalista.

Atravessado por princípios burgueses, o sujeito vive num processo de desterritorialização e despertencimento[5]. O capitalismo contemporâneo as empresas interpelam o sujeito situado na sociedade de consumo recheando-lhe de informações suscetíveis de atrapalhar, embaralhar e, perturbar sua opinião e, assim vendem suas mercadorias.

E logo se tornam obsoletas e inúteis forçando-se uma nova configuração. Assim os objetos nunca se esgotam para que servem e se constituem num ciclo de renovação antes de serem totalmente descartados.

Quanto ao neoliberalismo sob as precisas críticas de Perry Anderson bem como outros autores quando demonstram que não se trata de mera aplicação da doutrina surgida na década de 1940 e, sim, produto de necessidades do capital e são estas que exigem a retomada ideológica bem como misturas próprias da realidade concreta produzida pela organização estatal.

As mudanças da estrutura produtiva, articuladas à regulação neoliberal[6], enquanto estratégia de reorganização da dinâmica capitalista acabara por restabelecer a maior dominação do capital na medida em que a fragmentação produtiva provocou a desvalorização da força do trabalho, principalmente em virtude da reconstrução do exército de reserva industrial[7].

A deletéria praxe foi estruturada a partir de uma enorme desregulamentação dos direitos do trabalho, a grande precarização e terceirização da força de trabalho num cenário de desigualdades salariais e destruição dos sindicatos e associações classistas.

Enfim, as transformações contemporâneas nas relações dentro e fora dos Estados têm suscitados diversos entendimentos e dimensões sobre o papel do Estado.

Para os diversos matizes ideológicos, o Leviatã[8] teria ou estaria por sucumbir-se diante da ordem capitalista. Que teria restringido ou eliminado a soberania dos Estados-nações[9], extinguindo desta forma sua principal prerrogativa histórica.

As visões do apocalipse do Estado não restavam restritas ao campo dos liberais e se espraiaram as diferentes perspectivas desde as modernas heterodoxas até as mais à esquerda.

Alguns sustentam que a internacionalização do capital libertou das correntes o Leviatã[10] e que uma “mão invisível” iria conduzir a uma convergência internacional.

Outros advogam a tese de que as prerrogativas dos Estados-nações teriam sido transferidas para a esfera supranacional bem representada pela ONU, OMC, BM, FMI quer seja para os mercados financeiros privados (Governo Mundial).

Mas o Leviatã de Hobbes continua vivo e robusto só que mais restrito aos espaços, o que acarretou um exercício de soberania nacional mais frágil.

Por outro lado, alguns teóricos protestam contra o domínio do capital, mas também embarcam nessa “onda” de nova ordem mundial, eivada de negação do Estado-nação, é o caso da obra “Império” de Hardt e Negri[11].

Enfim estaríamos numa espécie de “Império” pós-moderno do não lugar onde a soberania estaria circunscrita ao patamar supranacional. A luta política que se consubstanciava no âmbito Estado-Nação deslocado para o locus digital onde ocorreria o conflito político entre a multidão e o Império, tendo em vista novas configurações produtivas.

Desta forma, a comunicação e a informação passariam a ser os novos elementos centrais do modo de produção e fomentado a vitória das empresas transnacionais sobre os Estados-nações.

O poder na nova arquitetura supranacional se estrutura de forma piramidal, a saber: a) no topo: os organismos internacionais e os organismos nacionais dos EUA; b) no meio: as redes de empresas transnacionais e organismos nacionais principalmente as ONGs[12] que representariam os interesses populares.

É verdade que não existiria uma hierarquia propriamente dita, e nem um equilíbrio funcional de poder, posto que exista uma hibridização entre os poderes, o que possibilita as modificações estruturais através de utas políticas contra o império.

Segundo Hardt e Negri o avanço do trabalho imaterial teria modificado a estrutura de poder conformando uma sociedade biopolítica que se aproxima mais da ideia focaultiana de poder[13]. Desta forma, tal perspectiva teria eliminado as classes e, consequentemente a contradição entre capital versus trabalho.

Cérebros e corpos precisam de outros para produzir valor, mas os outros de que eles necessitam não são fornecidos obrigatoriamente pelo capital e por sua capacidade de orquestrar a produção. ·.

A produtividade, a riqueza e a criação de superávits sociais hoje em dia tomam a forma de interatividade cooperativa mediante linguísticas, de comunicação e afetivas.

A revolução de produção da comunicação e da informação transformou as práticas laborais a tal ponto que todas estas tendem ao modelo das tecnologias de informação e comunicação.

Assim, as máquinas interativas e cibernéticas tornaram-se as novas próteses integradas aos nossos corpos e mentes, sendo uma lente pela qual redefinimos nossos corpos e mentes (Hardt e Negri[14]), as mudanças tecnológicas estriam modificando o ser biológico alçando novos padrões socioeconômicos.

Apesar das transformações no padrão de acumulação de riquezas verificadas nas três últimas décadas, não podemos afirmar que o capital e os mercados financeiros se tornam independentes do poder político.

Lembremos que a mundialização do capital não apagar a existência dos Estados nacionais e nem a relação de dominação e de dependência entre eles. Ao revés, acentuam, ainda mais os fatores de hierarquização de países.

As dimensões do novo imperialismo após os atentados de 11 de setembro de 2001 marcaram a passagem de uma política norte-americana de consenso a uma política externa de coerção.

Realmente existe contemporaneamente a organização imperialista, em grande medida, articulada por meio de instituições globais tais como FMI, Banco Mundial e OMC (Organização Mundial do Comércio) que são dominadas efetivamente tanto administrativamente como politicamente pelos EUA e pelas potências mundiais.

A pós-modernidade parida pelo capitalismo contemporâneo é dominada pelo princípio do desempenho, do rendimento e de performance do trabalhador em seu labor.

Seu precursor é Antístenes[15], um dos discípulos que frequentava o círculo socrático junto a Platão. Onde se encontra a noção moderna de que, na moral, o bem é por natureza de difícil acesso e, que até mesmo o esforço já consiste em vitória sobre si, sendo um critério do bem moral.

Desta forma, concluiu Antístenes que: “O sofrimento é um bem”. E, onde se delineou a primeira figura do trabalhador, que o discípulo mesmo encarnou posto que acrescentara a valorização moral do sofrimento a exaltação do trabalhador como desafiador de limites.

Daí, a sua referência a Hércules[16] considerado como “operário fabuloso” e a realização de seus trabalhos sobrehumanos. (Conforme Carlyle, um dos profetas da religião do trabalho: “Tu deves, tal como Hércules[17], te preencher com ocupações e penar bastante”).

Antístenes era um moralista satisfeito e não tinha senso de cultos religiosos o que, aliás, menosprezava com argumentos, iluministas do tipo racionalista. Também era fechado as Musas e, a poesia só lhe interessava caso venha expor ensinamentos morais.

Assim como Clemente de Alexandria[18] ao responder a Eros, ele poderia dizer: “O amor é um vício da natureza, Afrodite, eu a cravaria de flechas se eu a pegasse”.

Quanto à imortalidade esta não passa de uma palavra vazia. A única coisa que conta é uma vida honesta e correta, vivendo na piedade reverencial e na justiça. Todos esses traços reunidos formam a notável figura do trabalhador.

Já o ideal contemporâneo é aquele apto a realizar metas e, para tanto deve estar vinte e quatro horas por dia trabalhando, o que já totalmente viável pelas novas tecnologias que vai dos celulares (smartsphones – telefones inteligentes) com acesso à internet até aos tablets, a cibernética de vestir (tais como google glass, smartwatch e, etc).

No capitalismo contemporâneo domina “o cada um por si”, onde a obsessão de eliminar o concorrente na busca frenética pelo lucro se duplica na vontade, que aguerrida de eliminá-lo na conquista crescente de postos.

A cultura do ódio promove a eliminação em lugar da cooperação e a solidariedade das classes se desmancha em proveito da ferocidade supostamente favorecedora de melhores resultados.

Construímos um ambiente de trabalho monitorado por uma administração que dá conselhos, porém são conselhos despidos de experiência e sem conexão coma história do trabalhador.

Efusivamente refuta-se a temporalidade da experiência, do conhecimento e da felicidade. Afinal, a temporalidade é a dinâmica organizada, consolidando-se como atributo mais eminente da dominação, posto que corresponda a um encolhimento do espaço da experiência na vida social e de liberdade.

A temporalidade vinculada à aceleração do presente ou ao presenteísmo apodera-se de todos os espaços democráticos, a principiar pela educação que deixa de ser a educação para a liberdade[19] para ser a dos direitos e deveres correspondentes, tornando-se a educação para adaptação constante diante a proliferação de direitos.

Seus efeitos na educação se constituem no desaparecimento da noção de “cultura geral” pela “cultura comum”, cujo fim essencial é preparar jovens para entrar no mundo atual tal como ele é.

Essa total adesão ao tempo presente, caso permita algum sonho, apenas se sonho com o status quo onde nada de novo venha abrir o tempo histórico ou futuro.

O tempo da contemporaneidade é fatalizado pelas urgências que significa uma oscilação na razão instrumental, no culto dos meios e o esquecimento dos fins. Assim é o tempo do reino das renovações tecnológicas do progresso humano.

Portanto, a pós-modernidade nasce sob o signo da mudança constante e incessante, seu protótipo foi o Iluminismo filosófico e científico e seu grande apetite por clarividência.

Com a metáfora da luz tão peculiar do Iluminismo do século XVIII inaugura a crença no progresso científico, político, moral, social e econômico contra as trevas do obscurantismo.

O Iluminismo filosófico na política funda a noção de espaço público como aquele que comum a todos e não de propriedade de uns poucos e, acessível a todos e, não privilégios de alguns.

Desta forma, a igualdade, a liberdade e fraternidade constituíram até há pouco tempo, o ideário mais nobre da humanidade. Foi nesse ideário que se concebeu o homem-cidadão cuja dignidade deve ser exaltada e resguardada pelo Direito e pela lei.

Mesmo que esses ideais tenham se concretizado somente para uma classe social emergente, como a burguesia tão pretendente ao poder, tais valores permaneceram como reguladores de vigência para todos.

Pois, conforme elucidou Kant, se nem todos os homens são felizes[20], pelo menos todos têm direito a sê-lo.

A partir da revolução francesa, com o estabelecimento das funções públicas se procurou a garantir a continuidade das políticas sociais, independente da alternância de governantes no poder, de suas vontades particulares e da prática do favor, tão característico Ancien Regime[21].

A sociedade republicana e emancipada da miséria e dos dogmas religiosos encontra-se em estado de maioridade, diante qualquer tutela, pois todos sejam ricos ou pobres (sejam nobres ou plebeus) são igualmente protegidos pela lei.

A pós-modernidade veio então significar o direito a ser atendido prontamente, e com respeito assim, procurou-se abrigar idosos e portadores de necessidades especiais que deixaram de estar excluídos dos espaços sociais;

Na contemporaneidade os direitos sociais que constituíram os elementos críticos do capitalismo financeiro e, de onde derivaram as sucessivas flexibilizações.

Portanto, a lógica do mercado e da rentabilidade a curto prazo passa a abranger todas as dimensões do tempo[22]. E as privatizações correspondem, desse modo, a transferência do público ao privado, da garantia do futuro de seus cidadãos.

O Estado cede, afinal, sua capacidade de garantir o futuro para o mercado. Pois se identificam claramente duas lógicas temporais antagônicas: por um lado, a dos Estados como garantidores da lentidão e do durável; de outro, a lógica dos mercados ávidos de velocidade e rendimento a curto prazo.

A organização institucional do tempo é a figura mais eminente da alienação e da dominação do homem pelo mercado mundializado, pois cada um perde o sentido e o mestrado do tempo e de sua vida.

Há a tendência de dissolução dos Estados nacionais pelo capital internacional ou transnacional privatizante cujos critérios de autoridade correspondem aos interesses dos conglomerados no poder e a determinação de todas as esferas da vida pelas leis do mercado que dissolvem a separação entre o público e o privado e transformam o espaço pública em imagem pública e o cidadão em consumidor[23] como se observa no marketing político.

O advento de práticas persuasivas ligadas a peoplelização (proletarização) segundo a imprensa tabloide inglesa das “celebridades” e de colunismo social[24].

Na adoção do show business, com os políticos imitando a vida de stars, sob a hegemonia das mídias de massa, da publicidade massiva do talk show, sempre atendendo à lógica comercial e recreativa.

Recentemente já se diferenciava a propaganda da publicidade. No século XVIII europeu, a propaganda de ideias correspondeu à constituição de um espaço público nascido nos salões literários, sendo a leitura um nobre meio de propagação de valores de aprimoramento de convivência, de confiança, da solidariedade e da philia social.

A propaganda moderna já fazia parte do ideário iluminista de combate a todos tipos de preconceitos e de obscurantismos, na política, na moral, nas ciências e também nas artes.

O espaço público foi a contrapartida da vida na Corte, com seu culto a aparência e da contemplação da imagem pública do valor de alguém.

De fato, ser escolhido pelo Rei Sol, na França de Luís XIV significava o apogeu da vida pública, a partir do momento em que suas formas alternativas, ligadas à cidade e ao civismo, desapareceram com a derrota dos nobres que se recusaram abandonar Paris e se confinar na Corte.

Vencida a Fronda, a capital francesa se transferiu de Paris para Versalhes. A vida pública se reduz à vida em público com sua subsequente teatralização.

Aliás, a Corte, como é sabido, é o lugar da vaidade e da dissimulação porque é preciso conservar a todo custo o crédito, o favor ou gentileza recebida, a fortuna, razão pela qual os moralistas passaram a ser analistas das paixões humanas.

Na esfera pública viria se propagar o ideal político democratizante, fundado no debate público, na presença de protagonistas ou por escrito, o que supunha o fortalecimento do âmbito de argumentação e de informação.

Já a publicidade busca tornar visíveis as propriedades reais ou imaginárias de um produto segundo a lógica da compra e da venda para fins de reposição, acúmulo, e acréscimo de um capital investido e, no caso, o êxito eleitoral.

A política people associa-se a propaganda à publicidade, advindo o chamado marketing político dirigido ao conjunto dos consumidores de mídias, isto é, o corpo de eleitores.

A revolução conservadora uma vez que se assiste ao retorno do privado, da intimidade pessoal e da personalização do poder. De onde o tratamento cada vez mais agressivo nas campanhas eleitorais. A misen-em-scêne, promocional da intimidade tem por corolário a imprensa sensacionalista e vedetizante, que expõe publicamente a intimidade e, vive de escândalos, conforme denúncias de várias ordens e a curiosidade com respeito a preferências sexuais ou alimentares das celebridades.

Os acontecimentos tomam a fórmula de faits-divers: não estranhos à feição pós-moderna da política com traços populistas, pautados tanto no fetiche das pesquisas de opinião como responsáveis pela fabricação de uma imagem[25] pública destinada a tornar objeto de ódio ou de amor.

A personalização da política contradiz a concepção parlamentar das instituições republicanas. Por essa razão, o debate nas eleições se guia pela lógica da conquista a qualquer preço dos cargos eletivos, apelando para um sistema de preconceitos, suscitando o exercício sem escrúpulos de ressentimentos, fruto de uma rivalidade mimética.

O cidadão convertido em espectador e, melhor, de telespectador e comentarista político confirma as carências e insuficiências do jogo político tradicional.

Também a sucessão de escândalos e boatos só pode ser mantida pelos procedimentos próprios à média, capaz de reunir em um “todo” coerente um conjunto de elementos desordenados de modo a impedir a reflexão.

Pois não há como distinguir o que é significativo e, o que é insignificante nos noticiários. Constrói-se um universo povoado de heróis e anti-heróis, de vítimas e de seus salvadores.

Enfim, o marketing político se desenvolve no campo ideológico da autenticidade e da glorificação do homem comum. Ehrenberg[26] indica os efeitos pois a autenticidade se transforma em transparência. Walter Benjamin elucidou: “O homem pode, se for o caso, colocar ostensivamente sua vida privada em contradição com as máximas que defende implacavelmente na vida privada e considera, secretamente, se a menor dor de consciência, sua própria conduta como a prova mais constrangedora da autoridade dos princípios que ele exibe”.

O recurso à injúria, por exemplo, é legado do jacobinismo, com finalidade angariar votos e tem por base suposta superioridade moral de seus enunciadores com respeito aos seus opositores que eram os “corruptos” perseguidos por Robespierre e Saint Just; os renegados de Lênin ou os degenerados de Hitler (judeus, ciganos e os povos inferiores). A compreensão da política na oposição amigo – inimigo adota a prática consensual de eliminação do concorrente.

A partir da concorrência pode ser que melhorarem as mercadorias, mas certamente, se pioram os homens. Assim uma cidade feliz será aquela que assegura o máximo a sobrevivência, segurança, justiça, liberdade e amizade para o conjunto de cidadãos. E o espaço público se define por ser aquele que é comum e acessível a todos.

Afora isso, politizar todas as dimensões da vida, incluindo até mesmo a intimidade é a expressão da despolitização total posto que sejam mobilizados aspectos protofascistas e autoritários de cada um, bem o que revelaram as análises de Hannah Arendt sobre o totalitarismo.

Na agenda midiática e despolitizadora surgem as cotas compensatórias que substituem o enfretamento da exclusão econômica e social e cultural da maioria, quando deveriam ser apenas transitórias.

As indenizações para as vítimas do terrorismo do Estado e o silêncio sobre as suas causas com a consequente manutenção da prática de tortura no país.

Afinal, o mercado não reconhece “direitos” apenas porque vale a “lei do mais forte”. Semelhante ao descrito por Marx, nas “Formações econômicas pré-capitalistas” quando as massas inteiras de servos de gleba foram arrancadas do seu modo de vida, crenças, tradições e violentamente lançados na selva de cidades, vindo a constituir, na Inglaterra, o proletariado moderno, o Estado mínimo para garantir direitos.

O tempo de trabalho oferece a medida exata da geografia das riquezas e das pobrezas. A pós-modernidade capitalista, da indústria até a microeletrônica supõe a plena luz. Abolidos os lampiões a gás pela iluminação elétrica nos fins do século XIX, enfim a Via Láctea foi secularizada. O que se refere não apenas ao desencantamento psíquico e da cultura mas também ao significado socioeconômico dessa realização: uma atividade sem fim, a produção capitalista se tornou desmedida, não se tolerando a passividade, repouso ou contemplação.

E a partir da nanotecnologia e da microeletrônica, a economia em sua feição contemporânea de acumulação, exige a extensão e a intensificação de atividade indo até aos limites físicos e biológicos dos indivíduos. Indo adiante e em direção ao infinito!

Com a eletrificação, o dia vastamente iluminado passa a ter vinte e quatro horas. A organização institucional do tempo é a mais eminente figura da alienação e da dominação do homem pelo mercado mundializado, pois cada um perde o sentido do tempo e da vida.

Nos muros de maio de 1968 um francês eternizou a inscrição: “Não mude de emprego, mude o emprego de sua vida”. É preciso lembrar que viver é mais que apenas sobreviver, do contrário se desfazem as máximas morais. Tudo pode ser trocado e precificado e aquelas que não podem ser comparadas, não podem ser trocadas possuem dignidade.

O mercado ao contrário, só reconhece os custos e, nos deixa na perplexidade diante de indagações do tipo: quanto custa um idoso? E uma criança ou ainda um doente? A redução do ser humano ao quanto custa só acarreta o empobrecimento espiritual e existencial das democracias, cujo vazio é preenchido por uma hierarquia competitiva da burocracia empresarial, de maneira que o dirigente passa a ser reconhecido como um ganhador ou vencedor e cujo maior temor é de ser etiquetado como perdedor.

Não se tem nenhuma lealdade com aqueles com quem trabalha. É competitivo como o mercado e, como este, exclui automaticamente o que não gera lucro a qualquer preço.

No século XVI, La Boétie escreveu: “Não pode haver amizade onde há deslealdade, desconfiança, injustiça[27]. Entre os maus, quando se reúnem, é um complô, não é companhia; eles não se entretêm, se entretemem, não são amigos mas cúmplices”.

A ética capitalista protestante fora abandonada em nome do espírito concorrencial conforme apontou Walter Benjamin. E, segundo a fórmula de Benjamin Franklin que enunciou: “tempo é dinheiro”. E, este não é a busca de sentido e subjetividade, mas a quantidade e heteronomia impostas pela temporalidade típica do capitalismo tardio que só acentua a crise do sentido da atividade.

A desagregação do sentido da vida em comum arrisca subsumir o homem nessa alienação particular que Hannah Arendt nomeava de acosmismo que é sentir-se estranho no mundo, é o despertencimento e o ser supérfluo.

Cabe, no entanto, diferenciar o capitalismo de produção de capitalismo de consumo. No primeiro, o homem só se sentia em casa quando fora do trabalho e quando no trabalho estava fora de si. A sociedade de consumo quando o homem está fora do trabalho tampouco se encontra junto a si o que resulta na lógica do desengajamento em relação a um mundo compartilhado e com respeito também a si mesmo, com a dificuldade de criação e laços duradouros, com a obsolescência, responsabilidade e fidelidade.

O eu procura eliminar todos os laços e sentimentos, reduzidos, agora, ao valor de troca, e o mercado conduz ao consumo permanente, induzindo-se a pressa, constrangendo à rapidez, acentuando a superficialidade nos vínculos.

E, na medida em que os sentimentos exigem a duração temporal para se desenvolverem, a frenética aceleração do tempo produz a grande pobreza interior.

No século XIX o aumento tanto absoluto como o relativo do tempo de trabalho era ainda experimentado como espécie de tortura. Por um longo período, as pessoas tentaram uma resistência desesperada contra o trabalho noturno ligado à industrialização. De sorte que trabalhar antes do alvorecer ou depois do pôr-do-sol era considerado imoral.

Mas para o mercado financeiro, o homem não deve dormir nunca e, assim, institui-se o stress como o modus vivendi, tanto para os trabalhadores como para a massa crescente de trabalhadores precários e desempregados. Há a sensação de um tempo sem tempo. O capitalismo ultraliberal confisca o espaço da experiência e as expectativas, o que nos propõe um cansativo presente eterno. É um mundo no qual só vale a lei do valor, não é o mundo humano.

Mas é o mundo do capital, da sociedade sem espaço para a fraternidade e para a amizade e também sem compaixão. Trata-se da tristeza mimética onde desejamos o fim do sofrimento desse outro “nós-mesmos”.

A contemporaneidade transforma a capacidade de duvidar em mera falta de convicção O não engajar significa não emprenhar na criação de valores espirituais. A pulsão antigenealógica não reconhece nenhuma dívida simbólica com o passado, acredita=se que tudo é e, existe, deve-se a si mesmo, enaltecendo o auto-engajamento.

Na ausência de laços afetivos estáveis se produz um sensível déficit simbólico no indivíduo e na sociedade, uma vez que os valores dependem de um espaço comum de experiências compartilhadas. Os indivíduos estão condenados às leis do mercado e submetidos a insegurança e ao medo.

Os quadros funcionais de uma empresa fornecem a ideia de que não pode controlar seu ambiente do trabalho e de seu futuro. A ameaça constante consiste em não saber quais os critérios em que se baseiam as sanções e as recompensas.

O êxito ou o fracasso não são mais objetiváveis, a partir de elementos concretos, enfim, a incerteza domina o medo de ser executado, censurado e de ser visado. O que resulta numa pressão contínua e um sentimento de jamais fazer o suficiente, uma angústia de não estar à altura do que a empresa exige.

Afora, isso o trabalhador está sempre sob o controle das empresas, nas quais o trabalhador passa a ser encarado como custando mais caro. A perda de identidade profissional e da autoestima constitui uma situação traumática uma vez que não se perde apenas um posto de trabalho, mas a vida que pode ser desfeita.

Daí, os sentimentos de desvalorização de si, a ruptura de redes de solidariedade, perda de elementos constitutivos da identidade profissional, culpabilidade, vergonha, introversão, dilaceramento da comunidade de trabalho que sustentava a existência.

A perda de confiança no futuro produz uma profunda ansiedade que respondem a angústia e o medo do abandono. A modernização significa a passagem de um mundo de regras conhecidas para um mundo incerto, instável e líquido.

A temporalidade contemporânea produz não o tédio, mas a monotonia. Se o tédio como magistralmente o tematizou Baudelaire em poesia e prosa, é a temporalidade do passado que se repete continuamente no presente como a moda, mas isso não significa a perda do futuro.

Para Baudelaire que escreveu “Spleen e Ideal” o spleen[28] era como ideal a se contrapor à lógica da produção de mercadorias que representa a multiplicação e da repetição em princípio ilimitada do mesmo objeto.

O dândi notabilizado por seu hábito de “mudar de rosto” e pela capacidade de a cada dia surpreender com vestimentas excêntricas, é um ser dotado de singularidade em meio à multidão anônima e anódina. O olhar do dândi é capaz de reconhecer no novo o antigo e, no antigo o novo conferindo ao repetitivo o ar de raridade de objeto único. O pó de arroz cosmético é como a mica de mármore que confere à mulher moderna a aura de estátua grega. Já a monotonia se traduz em tempo estagnado onde a eternidade do céu se plasmasse na Terra.

A temporalidade atual exprime a ansiedade de “matar o tempo”. O tempo patológico tem o seu stress com ideal porque a monotonia não passa o homem está alienada na perda do sentido das ações. Estas prometem a felicidade pelo consumo de bens materiais, mas permanentemente frustra essa esperança, pois não é possível em regime de acúmulo, nem reposição e acréscimo do capital, tampouco democratizar o excedente e o supérfluo.

O tempo se comprime no espaço do desejo de consumo ilimitado, por um lado, determina a exaustão, de outro. Se no cansaço ainda é possível pensar e imaginar; na exaustão não há a possibilidade de exercício do pensamento, apenas a hiperatividade vazia e também destrutiva.

A abulimia e a sofreguidão constituem dois aspectos do tempo presente embora aparentemente diversos: as duas atitudes possuem um traça em comum: reificação de si. A apreensão de si como objeto sem valor e nem sentido. As pessoas se cansam até o limite, vive-se numa inflação de possibilidades de significados em reconhece-los, seja em nosso mundo interno quanto no externo.

O imaginário da sociedade contemporânea está condicionado por uma extrema saturação, caracteriza-se por uma abundância potencial que se apresenta, no entanto, inacessível. É precisamente a tensão entre a intuição da presença da satisfação ao alcance da mãe e a realidade de seu afastamento e inacessibilidade, o que determina a situação da consciência contemporânea.

Olgária Matos exemplifica primorosamente como pode ser encontrado na sociedade polonesa, que vivencia a dicotomia entre a sociedade da penúria material e uma sociedade de consumo que ocorreu há quinze anos e transformou totalmente o seu imaginário social.

A mudança da valorização e, principalmente da saturação do campo simbólico foi muito mais acelerada que a melhora a qualidade de vida. Nos anos sessenta, depois da destanilização, quando praticamente a totalidade de poloneses vivia em extrema penúria, sob o pálio de um imaginário relativamente saturado e, estruturado pelo vetor do progresso, a vivência da falta era fraca e cada aquisição material tornava-se valorizado positivamente.

Já nos anos noventa a transformação econômica melhorou muito a situação material da maioria da população mas, ao mesmo tempo, forçou a integração do campo simbólico dos poloneses no espaço global. O sentimento de falta e de frustração tornou-se generalizado em todas as camadas da sociedade.

Eis aí o mal estar contemporâneo que se expressa em um sentimento de monotonia ou o “tédio crônico”, monotonia que conduz a desinvestimentos em valores.

Há uma temporalidade monótona e específica de uma sociedade organizada, também de maneira peculiar mas dotada de uma desorganizada consciência social pelo sentimento de desvalorização de si e de humilhação.  Na vida política contemporânea, ser é “ser percebido”, fórmula narcisista, regressiva e onipotente da ocupação do espaço público.

Enfim, na medida em que uma sociedade perde o sentido da fraternidade acaba por se restringir em ser um projeto pragmático de adaptação ao status quo de consumo pelo consumo, do crescimento econômico pelo enriquecimento, do progresso pelo progresso.

Referências

MATOS, Olgária. O mal-estar na contemporaneidade. Perfomance e tempo. Revista do Serviço Público. Brasília: Out./Dez. 2008.


[1] A expressão "capitalismo tardio" é conceito usado pelos neomarxistas para se referir ao capitalismo posterior ao ano de 1945, estágio que se refere a também chamada "era áurea do capitalismo (1945-1970). Apesar de existir certa controvérsia quanto à adequação da expressão. O crítico e teórico da cultura norte-americano Frédéric Jameson, considera mais prudente a expressão "desenvolvimento recente do capitalismo" ou "capitalismo recente" ou jüngste usada por Hiferding por soar menos profética do que capitalismo tardio. Derrida prefere usar o termo "neocapitalismo" ao invés de pós-capitalismo. A expressão "capitalismo tardio" (Spätkapitalismus) foi usada pela primeira vez por Werner Sombart na sua obra de 1902 Der Moderne Kapitalismus, na qual distinguia três fases do capitalismo: o capitalismo primitivo, o auge do capitalismo e o capitalismo tardio. A expressão ressurgiu após a crise de 1929 e passou a ser usada pelos socialistas europeus entre o final dos anos 1930 e os anos 1940, quando muitos acreditavam que o capitalismo estava condenado. No final da Segunda Guerra Mundial, economistas importantes, como Joseph Schumpeter e Paul Samuelson, acreditavam mesmo que o fim do capitalismo estaria próximo, em razão de problemas econômicos insuperáveis.

[2]O capitalismo tardio, que teria como elementos distintivos a expansão das grandes corporações multinacionais, a globalização dos mercados e do trabalho, o consumo de massa e a intensificação dos fluxos internacionais do capital. Seria mais propriamente uma crise de reprodução do capital do que um estágio de desenvolvimento, uma vez que o crescimento do consumo (e, portanto, da produção) tornar-se-ia insustentável pela exaustão dos recursos naturais.

[3] A "onda" neoliberal se inicia coma vitória de Margareth Thatcher nas eleições de 1979, quando foram derrotados os trabalhistas, até então no governo. Naquele processo eleitoral, os conservadores ingleses não atacaram de frente o sistema de assistência social montado pelo Estado britânico. Entretanto, no poder, iniciaram o ataque à estrutura econômica pública montada no pós-guerra. A globalização neoliberal é uma das transformações históricas de ordem econômica internacional que se expressam sucessivamente no regime colonial, o padrão ouro, o acordo de Bretton Woods e a supressão atual das fronteiras comerciais. Em todos esses esquemas distintos existem, evidentemente, relações de dominação entre os países centrais e a periferia, mas também há acordos indispensáveis para a convivência pacífica e a ordem das transações econômicas entre nações.

[4] A reação neoliberal à crise do capitalismo é apresentada como produto de tendências inelutáveis e não como resultado de políticas deliberadas.   Uma primeira vertente desse pensamento, baseada em uma concepção a-histórica do capitalismo contemporâneo e, em conceitos tais como globalização e privatização, descreve o fenômeno como algo novo, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, anuncia o "fim da história" - ou perpetuação do status quo. Uma segunda vertente desqualifica o Estado como provedor de infraestrutura física e como instância capaz de responder às necessidades coletivas.  Legitimam-se assim as mais variadas formas de organização da sociedade, favorecendo o desmonte do Estado do bem-estar e o aumento da concentração do capital e da renda, paralelamente à expansão insustentável do crédito ao consumo bem como à exploração não sustentável das matérias-primas.

[5] O despertencimento alia-se também ao conceito de alienação e, mais particularmente, a noção de trabalho alienado, considerando o seu valor heurístico para compreender, mais profundamente, as interconexões entre os fundamentos do trabalho e atuais desafios da crise social e ambiental. O despertencimento relaciona-se a alienação e, a noção de papel social, histórico, a perda de direitos, os danos à saúde física e mental, e a não-identificação com os ciclos da natureza e os limites biopsicossociais dos indivíduos.

[6] O neoliberalismo propugna a redução do intervencionismo estatal e do raio de ação da política, ao criar interferências contrárias à liberdade individual e ser uma fonte de corrupção.  Na ordem nacional, o desideratum se finca em conseguir o funcionamento automático da economia e dos mercados, livres de toda distorção governamental ou de cidadãos organizados coletivamente. E, na ordem internacional, concebe-se a globalização como o processo capaz de instaurar a ordem cosmopolita (economicamente eficiente), além da política, como se isso fosse possível.

[7] Exército industrial de reserva é um conceito desenvolvido por Karl Marx em sua crítica da economia política, e refere-se ao desemprego estrutural das economias capitalista. O exército de reserva corresponde à força de trabalho que excede as necessidades da produção. Para o bom funcionamento do sistema de produção capitalista e garantir o processo de acumulação, é necessário que parte da população ativa esteja permanentemente desempregada. Esse contingente de desempregados atua, segundo a teoria marxista, como um inibidor das reivindicações dos trabalhadores e contribui para o rebaixamento dos salários.

Conforme enunciou Marx, na busca de inovações tecnológicas que lhes propiciem vantagem temporária sobre seus concorrentes, os capitalistas tender a elevar a composição orgânica do capital substituindo gradativamente a força de trabalho por máquinas que são parte do capital constante e que resultaria num aumento de desemprego e do exército de reserva.

[8] Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil, comumente chamado de Leviatã, é um livro escrito por Thomas Hobbes e publicado em 1651. Ele é intitulado em referência ao Leviatã bíblico. O livro diz respeito à estrutura da sociedade e do governo legítimo, e é considerado como um dos exemplos mais antigos e mais influentes da teoria do contrato social.1 O editor foi Andrew Crooke, parceiro da Andrew Crooke e William Cooke. Muitas vezes, é considerada uma das obras mais influentes já escritas do pensamento político.

[9] O termo "Estado-nação" implica em uma situação onde os dois são coincidentes.  O Estado-nação afirma-se por meio de uma ideologia, uma estrutura jurídica, a capacidade de impor uma soberania, sobre um povo, num dado território com fronteiras, com uma moeda própria e forças armadas próprias também. O conceito de um estado-nação pode ser comparado e contrastado com o de um estado multinacional, cidades-estados, impérios, confederações, e outras formações de estados dos quais podem sobrepor-se. Ao longo da história, existiram estados-nações em diferentes épocas e lugares do mundo, e atualmente representam a forma dominante de organização geopolítica mundial.

[10] O Leviatã é uma criatura mitológica, geralmente de grandes proporções, bastante comum no imaginário dos navegantes europeus da Idade Média.  Há referências, contudo, ao longo de toda a história, sendo um caso recente o do Monstro de Lago Ness. No Antigo Testamento, a imagem do 'Leviatã é retratada pela primeira vez no Livro de Jó, capítulo 41. Sua descrição na referida passagem é breve.  Foi considerada pela Igreja Católica durante a Idade Média, como o demônio representante do quinto pecado, a Inveja, também sendo tratado com um dos sete príncipes infernais.  Uma nota explicativa revela uma primeira definição: "monstro que se representa sob a forma de crocodilo, segundo a mitologia fenícia" (Velho Testamento, 1957: 614). Não se deve perder de vista que nas diversas descrições no Antigo Testamento ele é caracterizado sob as diferentes formas, uma vez que se funde com outros animais. Formas como a de dragão marinho, serpente e polvo (semelhante ao Kraken) também são bastante comuns.

Leviatã também diz respeito a obra do cientista político e jusnaturalista Thomas Hobbes (1588 -1679).

Em sua obra, Hobbes afirmava que a "guerra de todos contra todos" (Bellum omnium contra omnes) que caracteriza o então "estado de natureza" só poderia ser superada por um governo central e autoritário. O governo central seria uma espécie de monstro - o Leviatã - que concentraria todo o poder em torno de si, e ordenando todas as decisões da sociedade.

[11] Existem poucos livros de teoria política que receberam uma publicidade tão grande quanto Império, por Michael Hardt e Antonio Negri (Hardt & Negri). Ele foi descrito como “neomarxista” ou mesmo como o “novo Manifesto Comunista”. Ed Vuilliamy escreveu no The Observer (15 de julho de 2001): “Um livro improvável escrito por um acadêmico de esquerda e um prisioneiro italiano está fascinando a América”. “O livro reabilita a palavra ‘comunismo’”. Este livro de 500 páginas, porém, não é um Manifesto Comunista para o século 21 e nem um belo trabalho que analisa seriamente o capitalismo global e suas contradições. Os autores prometem muito mais do que realmente oferecem e, enquanto algumas vezes clamam seguir os passos de Karl Marx, eles terminam por perder o contato com a realidade. Um Império sem um centro? O ponto de partida é que "O império está se materializando diante de nossos olhos”.

Nas últimas décadas, a começar pelo período em que regimes coloniais eram derrubados, e depois em ritmo mais veloz quando as barreiras soviéticas ao mercado do capitalismo mundial finalmente caíram, vimos testemunhando uma globalização irresistível e irreversível de trocas econômicas e culturais” (Prefácio, p. 11). Isto, por sua vez, significa que "a soberania tomou nova forma, composta de uma série de organismos nacionais e supranacionais, unidos por uma lógica ou regra única. Esta nova forma global de economia é o que chamamos de “Império” (Prefácio, p. 12). Duas páginas depois eles concluem que “o imperialismo acabou” (Prefácio, p. 14). E que nenhum Estado-nação, nem mesmo os Estados Unidos, “ocupará a posição de liderança mundial que as avançadas nações europeias um dia ocuparam (Prefácio, p. 14). Um comentário notável dado que os EUA são a única superpotência restante e sua posição com relação aos seus dois principais rivais capitalistas (os estados da União Europeia e o Japão) fortaleceu-se no curso dos últimos dez anos. De fato, nunca na história uma força ocupou tal posição dominante nos âmbitos militar, diplomático e econômico. O imperialismo dos EUA controla aproximadamente um terço da produção mundial, enquanto no fim dos anos 80 controlava 22%.

[12] As Organizações não governamentais (ONG) atualmente significam um grupo social organizado, sem fins lucrativos, constituído formalmente e autonomamente, caracterizado por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das condições da cidadania. Porém, seu conceito não é pacífico na doutrina e gera muitas divergências. Também fazem parte do chamado Terceiro Setor. Tais organizações podem complementar o trabalho do Estado, podendo receber financiamentos e doações dele, assim como de entidades privadas, para tal fim. Atualmente estudiosos têm defendido o uso da terminologia organizações da sociedade civil.  Não tem valor jurídico. E, segundo o C.C. de 2002 prevê três figuras jurídicas do terceiro setor: as associações, fundações e organizações religiosas (que foram recentemente consideradas como uma terceira categoria).

[13] Para Foucault, o poder não existe, o que existe são as relações de poder. No entender de Foucault, o poder é uma realidade dinâmica que ajuda o ser humano a manifestar sua liberdade com responsabilidade. A ideia tradicional de um poder estático, que habita em um lugar determinado, de um poder piramidal, exercido de cima para baixo, em Foucault é transformada. Ele acredita no poder como um instrumento de diálogo entre os indivíduos de uma sociedade. A noção de poder onisciente, onipotente e onipresente não tem sentido na nova versão, pois tal visão somente servia para alimentar uma concepção negativa do poder.

[14] Antonio Negri é filósofo político marxista italiano. Foi preso sob a acusação de ser líder de um grupo chamado Brigadas Vermelhas. Tradutor de escritos de Filosofia do Direito de Hegel, especialista em Descartes, Kant, Espinosa, Leopardi, Marx e Dilthey. Ganhou notoriedade internacional nos primeiros anos do século XXI após o livro "Império" que se tornou um manifesto do movimento antiglobalização e de sua sequência, "Multidão" ambos escritos em coautoria com seu ex-aluno Michael Hardt.

[15] Antístenes (440-335 a.C.) foi discípulo de Sócrates e fundador da Escola Cínica que valorizava o trabalho ao extremo chegando a considerá-lo como símbolo único de sabedoria e da moralidade, por se opor aos prazeres e às ilusões míticas, além de levar o homem a bastar-se a si mesmo, sem depender do que possa vir de outras pessoas. A autossuficiência socrática radicalmente considerada por Antístenes encontra um melhor acabamento que é o personagem de Zuckerberg descrito como tendo uma subjetividade isolada, alheia à amizade, à solidariedade ou quaisquer outros princípios morais.

[16] Os doze trabalhos de Hércules (ou Trabalhos de Héracles) são uma série de episódios arcaicos ligados entre si por uma narrativa contínua, relativa a uma penitência que teria sido cumprida por um dos maiores heróis gregos, Héracles, mais conhecido em português pela romanização Hércules. Os antigos gregos atribuíam o estabelecimento de um ciclo fixo de doze trabalhos a um poema épico, a Heracleia, já perdido, escrito por Peisândro de Rodes, e que dataria de 600 a.C. 

Da maneira em que são conhecidos atualmente, os trabalhos de Hércules não são contados num único lugar; foram reunidos a partir de fontes diferentes. De acordo com os mitólogos Carl A. P. Ruck e Blaise Daniel Staples, não há uma maneira específica de interpretar os trabalhos; pode-se inferir apenas que seis deles se passam no Peloponeso, e culminaram com a dedicação de Olímpia. Outras seis levaram o herói até terras mais distantes, quase sempre lugares relacionados à deusa Hera, além de entradas para o Hades, o mundo inferior, habitado pelos mortos.  Todos os trabalhos seguiam o mesmo modelo: Hércules era enviado para matar, subjugar ou buscar uma planta ou animal mágico para Euristeu, representante de Hera.

Uma célebre descrição dos trabalhos na arte grega se encontra nas portas do Templo de Zeus em Olímpia, que data do século V a.C; A ordem tradicionalmente aceita, encontrada em Pseudo-Apolodoro é:

1. No Peloponeso, estrangulou o Leão da Nemeia - filho dos monstros Ortros e Equidna - que devastava a região e que os habitantes do local não conseguiam matar. Na segunda tentativa de matá-lo, tendo a primeira sido infrutífera, estrangulou-o, após com ele lutar. Acabada a luta arrancou a pele do animal com as suas próprias mãos e passou a utilizá-la como peça do vestuário. A criatura converteu-se na constelação de leão.

2. Matou a Hidra de Lerna, filha monstruosa de duas criaturas grotescas, a Equidna e Tifão. Era uma serpente com corpo de dragão, que possuía nove cabeças (uma delas parcialmente de ouro e imortal, que se regeneravam), mal eram cortadas, e exalavam um vapor que matava quem estivesse por perto. Hércules matou-a cortando suas cabeças enquanto seu sobrinho Iolau impedia sua reprodução queimando suas feridas com tições em brasa. A deusa Hera enviou ajuda à serpente – um enorme caranguejo, mas Hércules pisou-o e o animal converteu-se na constelação de Câncer (do latim câncer, "caranguejo"). Por fim, o herói banhou suas flechas com o sangue da serpente para que ficassem envenenadas.

3. Alcançou correndo a Corça de Cerineia, um animal lendário, com chifres de ouro e pés de bronze. A corça, que corria com assombrosa rapidez e nunca se cansava, era Taígete, ninfa que, para fugir da perseguição de Zeus foi transformada por Ártemis no animal.  Como ela tinha uma velocidade insuperável, Hércules a perseguiu incansavelmente durante um ano até que, exausta, foi atingida por uma flecha disparada pelo herói.  Ferida levemente foi levada nos ombros do herói até o reino de Euristeu. Em outra versão do mito, Héracles tinha de capturar a corça, mas sem machucá-la; ele a perseguiu durante um ano, até conseguir pegá-la com uma rede, porém ela acabou se ferindo. O herói pôs então a culpa em Euristeu, para que Ártemis se zangasse com ele. Em uma terceira versão, Hércules levou um ano para realizar o trabalho a seguir, que era capturar a corça que habitava o monte Cerineu. Este animal parecia ser mais tímido do que perigoso, e sagrado para Ártemis; Hércules finalmente aprisionou-a e estava levando-a para Euristeu quando se encontrou com Ártemis, que estava muito zangada e ameaçou matá-lo pelo atrevimento em capturar seu animal, mas quando ficou sabendo sobre os trabalhos, concordou em deixar Hércules levar o animal, com a condição que Euristeu o libertasse logo que o tivesse visto.

4. Capturou vivo o Javali de Erimanto, que devastava os arredores, ao fatigá-lo após persegui-lo durante horas.  Euristeu, ao ver o animal no ombro do herói, teve tamanho medo que foi se esconder dentro de um caldeirão de bronze.  As presas do animal foram mostradas no templo de Apolo, em Cumas.

5. Limpou em um dia os currais do rei Aúgias, que continham três mil bois e que há trinta anos não eram limpos. Estavam tão fedorentos que exalavam um gás mortal. Para isso, Hércules desviou dois rios.

6. Matou no lago Estínfalo, com suas flechas envenenadas, monstros cujas asas, cabeça e bico eram de ferro, e que, pelo seu gigantesco tamanho, interceptavam no voo os raios do Sol.  Com seu arco, conseguiu matar alguns e os outros, expulsou a outros países.

7. A sétima tarefa de Hércules era levar o Touro de Creta vivo até Euristeu, que por sua vez o entregaria a Hera.

O touro era enraivecido e aterrorizava o povo da ilha grega de Creta, pois Poseidon, o deus dos mares, o havia oferecido a Minos, rei local, em sacrifício, e o rei não teve coragem de sacrificar um animal tão bonito e tão forte. Hércules não só capturou-o como, montado no animal, levou-o até Euristeu.

8. Castigou Diómedes (rei da Trácia), filho de Ares, possuidor de cavalos que vomitavam fumo e fogo, e a que ele dava a comer os estrangeiros que as tempestades arrolavam à sua costa.  O herói entregou-o à voracidade de seus próprios animais.

9. Venceu as amazonas, tirou-lhes a rainha Hipólita, apossando-se do cinturão mágico que ela vestia.

10. Matou o gigante Gerião, monstro de três corpos, seis braços e seis asas, e tomou-lhe os bois que se achavam guardados por um cão de duas cabeças, e um dragão de sete.

11. O seu décimo primeiro trabalho foi colher os pomos de ouro do Jardim das Hespérides, após matar o dragão de cem cabeças que os guardava.  O dragão foi morto por Atlas, a seu pedido, e durante o trabalho, ele sustentou o céu nos ombros no lugar do titã.

12. O último trabalho consistiu em trazer do mundo dos mortos o seu guardião, o cão Cérbero.

Hades autorizou-o a levar Cérbero para o cimo da Terra sob a condição de conseguir dominá-lo sem usar as suas armas.  Hércules lutou com ele só com a força dos seus braços, quase o sufocou, dominando-o. Depois o levou a Euristeu, que, com medo, ordenou-lhe que o devolvesse.

[17] O estudioso alemão Walter Burkert chamou os trabalhos, juntamente com os outros mitos sobre Hércules, de "um conglomerado de contos populares que foram explorados apenas de maneira secundária pela arte da poesia”. Os feitos sobrehumanos de Hércules, sempre a vencer a morte passaram a ter simbolismos filosóficos, morais e até alegóricos, por trás de seus significados literais. E a figura heroica passou a representar tradição interior, e os trabalhos foram interpretados como etapas de uma jornada espiritual. Os três derradeiros trabalhos, particularmente, seriam considerados grandes metáforas sobre a morte. E, Hércules representou o único entre os heróis gregos, na medida em que não se conhecia a localização de sua sepultura, e, portanto os sacrifícios e libações eram-lhe oferecidas em todos os lugares.

[18] Clemente de Alexandria ou Tito Flávio Clemente foi escritor, teólogo, apologista e mitógrafo cristão grego nascido em Atenas. Clemente foi um erudito numa época em que os cristãos eram geralmente pouco letrados e abertamente hostis a intelectuais. Não obstante, foi capaz de construir argumentos lógicos convincentes, baseados nas escrituras e na filosofia, a favor do cristianismo e contra os gnósticos de Valentim, que, baseados em Alexandria - o mais importante centro de atividade intelectual da época - estavam em plena expansão. Defendeu a fraternidade e a repartição das riquezas entre os homens, observado livre-arbítrio: “Deus criou o gênero humano para a comunicação e a comunhão de uns com os outros, como ele, que começou a repartir do seu e a todos os homens proveu seu Logos comum, e tudo fez por todos. Logo tudo é comum, e não pretendam os ricos ter mais que os outros”. Da homilia Quis dives salvetur? ("Que rico se salvará?"), baseada na história de Jesus e o jovem rico (Marcos 10:17-31). "De sorte que não é rico aquele que possui e guarda, mas aquele que dá; e este dar, não o possuir, faz o homem feliz. Portanto, o fruto da alma é essa prontidão em dar. Logo na alma está o ser rico." (Pedagogo 3, 6).

[19] O ensaio de Paulo Freire chamado " Educação como prática de liberdade" propôs a visão pedagógica e de seu método de ensino, onde soube reconhecer com clareza as prioridades nesta etapa de emergência política das classes populares ao lado da crise das elites dominantes. A primeira das exigências é exatamente o reconhecimento dos privilégios da prática, onde o educador é participante e pode diminuir as desigualdades através de propor a livre e crítica interação com os educandos tanto no círculo da cultura como na unidade de ensino como no exercício comezinho da cidadania.

[20] É na passagem da modernidade para a atualidade pós-moderna que Bauman afirmar ser perceptível todas as nuances e sutilizas produtoras de mal-estar a que estamos cotidianos submetidos. O mal-estar conceito freudiano quando o homem reconhece que ocupa um lugar de eterna incompatibilidade entre suas necessidades individuais em face das exigências sociais e culturais reinantes. São tempos em que o próprio tempo tornou-se frívolo, efêmero e impreciso em virtude da massacrante velocidade de acontecimentos e da multiplicidade de possibilidades a desfilar perante nossos olhos ainda incrédulos. Nossa liberdade se encontra carente de referenciais sólidos, se torna cada vez mais difícil a visualização de um norte que indique um sentimento de certeza para o sujeito em suas escolhas. É uma liberdade fluida.

[21] Antigo Regime ou em francês Ancien regime refere-se ao sistema social e político aristocrático estabelecido na França, calcado em regime centralizado e absolutista, onde o poder era concentrado nas mãos do rei. E, trouxe um modo de viver bem características das populações europeias durante os séculos XVI, XVII e XVIII, ou seja, desde as descobertas marítimas até as revoluções liberais.

[22] Afinal com o fim das utopias se obtém o máximo da incredulidade humana e o fim o de seu potencial criativo e transformador. Os ídolos foram nocauteados e os novos referenciais surgem e desaparecem antes mesmo de serem vivenciados de forma significativa. Então, a possibilidade de fazer e fazer-se sentido, produzindo significados genuínos, nos dias atuais torna-se obsoleta.

[23] A produção frenética dos bens de consumo convoca os indivíduos a ocupar um lugar que representa determinado status e que se concretiza na rápida aquisição e no subsequente abandono dos signos fálicos (objetos de desejo) na sociedade pós-moderna. A sucessiva substituição desses bens pouco duráveis é o que garante o “sucesso” dos sujeitos.

[24] A nova configuração de tempo e espaço, forjada nos dias de hoje, liquida a possibilidade de cristalizar-se um passado histórico, em virtude da efêmera instantaneidade dos acontecimentos, valorizando, desse modo, um presente contínuo e fugaz, em que não existem condições de perpetuar coisa alguma. Nenhuma obra de arte é capaz de eternizar-se no tempo como acontecia em outras épocas, nenhuma música permanecerá significativa e se tornará um clássico nos dias atuais, por exemplo.

[25] A cultura da atualidade é regida pela primazia da estetização do eu, o qual transparece e evidencia-se nas perfomances subjetivas de individualidades, é o produto e, por que não dizer, o sintoma da sociedade espetacular, uma vez que no espetáculo a imagem é tudo. Afinal a cultura da imagem significa o correlato essencial da estetização do eu, na medida em que a produção do brilho social se realiza fundamentalmente pelo esmero desmedido na constituição da imagem pela individualidade. É a hegemonia da aparência que define o critério fundamental do ser e da existência em sua evanescência brilhante.

[26] Alain Ehrenberg é um sociólogo francês e autor de tese de doutorado intitulada "Arcanjos, guerreiros e desportistas. Ensaio sobre a educação do homem forte" que posteriormente tornou-se interessado nas ansiedades dos indivíduos na sociedade moderna, confrontados com a necessidade de realização e autonomia e da perda de referenciais sociais e sistemas de apoio. É pesquisador do Centro Edgar Morin e dirigiu o grupo de pesquisa voltado para o tema "Psicotrópicos, política, sociedade".

[27] "A fama é a soma de equívocos criados em torno de uma pessoa" afirma Rilke. Mas para Voltaire "todas as glorias deste mundo não valem um amigo fiel". Nas últimas décadas, o mundo ocidental passou por transformações que resultaram em uma sociedade de desgarrados, fruto do aumento de divórcios e da fragmentação da relação familiar. As pessoas estão em busca de identidade e de sentido para viver, em razão da fragmentação excessiva da sociedade as deixou sem rumo.

[28] Em francês, o termo spleen representa o estado de tristeza pensativa ou melancolia associado ao poeta Charles Baudelaire. O spleen baudelairiano é um profundo sentimento de desânimo, isolamento, angústia e tédio existencial, que Baudelaire exprime em vários dos seus poemas reunidos em Les Fleurs du mal. Embora o termo tenha sido muito difundido pelo poeta francês durante o decadentismo, já fora utilizado anteriormente, em particular na literatura do romantismo.


Autor

  • Gisele Leite

    Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

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