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Considerações preliminares sobre a filosofia contemporânea

Considerações preliminares sobre a filosofia contemporânea

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Considerações preliminares sobre a filosofia contemporânea

Considérations préliminaires sur la philosophie contemporaine

 

Resumo: Considerando-se o presente tempo, a tarefa mais nobre da Filosofia é justificar a presença humano no mundo. Concretizada no convívio com a natureza e, principalmente, na criação da realidade a que chamamos cultura. A filosofia de nosso século se deparou com existência e, ainda, com a essência, sua missão constitui-se em esclarecer a situação do homem em elucidar o seu modo de ser e, ainda traçar novas bases para sua sobrevivência. A precariedade da existência humana, nesse tempo, renova a importância do filosofar. Procurando preservar a dignidade humana mesmo em declínio. A Filosofia tem hoje, como teve na antiga Grécia, a missão de elaborar argumentos válidos capazes de nos libertar do medo e da ignorância.

Palavras-chave: Filosofia. Filosofia Contemporânea. Cultura. Dignidade da pessoa humana.

 

Résumé: À l'heure actuelle, la tâche la plus noble de la philosophie est de justifier la présence humaine au monde. Incarné dans la coexistence avec la nature et, principalement, dans la création de la réalité que nous appelons culture. La philosophie de notre siècle s'est retrouvée face à l'existence et, aussi, à l'essence, sa mission est de clarifier la situation de l'homme, d'élucider sa manière d'être et, même, de tracer de nouvelles bases pour sa survie. l'existence humaine, à cette époque, renouvelle l'importance de philosopher. Chercher à préserver la dignité humaine même en déclin. La philosophie a aujourd’hui, comme dans la Grèce antique, la mission d’élaborer des arguments valables, capables de nous libérer de la peur et de l’ignorance.

Mots-clés: Philosophie. Philosophie contemporaine. Culture. Dignité de la personne humaine.

 

A filosofia contemporânea situa-se nos séculos XIX, XX e XXI e, perpassa pelo positivismo, fenomenologia, o materialismo histórico-dialético, teoria da significação hermenêutica, o niilismo, o pensamento da Escola de Frankfurt, existencialismo, filosofia analítica e, o pós-estruturalismo. A intenção desse modesto texto é resumir e evidenciar suas interações e influências sobre a vida contemporânea.

De fato, a filosofia contemporánea é iniciada pelo positivo de Auguste Comte e, pelo materialismo histórico-dialético nos idos do século XIX. E, dois conceitos dão início o que viria a ser a construção do pensamento filosófico contemporâneo.

 Lembremos que o pensamento científico é o único considerado válido pois Comte[1] abandonou totalmente as anteriores noções de filosofia que ainda adotavam pensamentos sobre a metafísica e o transcendentalismo.

O racionalismo e o cientificismo são as principais características relevantes do positivis e que muito influenciaram o modo de pensar e fazer ciência. Comte[2] enxergava a sociedade como sendo sistema dotado de progressão natural e, assim, mantendo-se a ordem, naturalmente se galgaria a evolução e, o progresso. E, os acontecimentos históricos posteriores, já no século XX, enfatizaram esse aspecto do positivismo.

A industrialização das sociedades conduziu o pensamento de Marx e Engels que passaram a refletir sobre o materialismo histórico-dialético que se opusera as crenças iluministas, vendo a sociedade como sendo resultado de seu nível de produção e de sua economia.

A problemática do Direito na obra de Karl Marx vem de forma intermitente, na medida em que faz parte de um conjunto amplo de relações e interconexões dentro daquilo que o pensador alemão, em prefácio da obra Contribuição à Crítica da Economia Política, de 1859, denominou superestrutura jurídica e política da sociedade.

E, assim, não tratou de forma sistemática o fenômeno jurídico, mas o abordou em suas particularidades, e, principalmente, em seu amplo papel do processo de reprodução do capital e na totalidade de relações sociais a estes correspondentes[3].

Os filósofos enxergavam a sociedade em caminho do progresso, mas sim, suas transformações materiais e econômicas. E, assim, as mudanças econômicas e transformações nos modelos de produção bem definiram o caminho histórico que a sociedade teria.

Afinal, a história deixou de ser concebida como mera sucessão de fatos históricos, para ser enxergada como ordem de fatos que se passaram em face das alterações no modelo econômico e produtivo.

Aliás, pode-se afirmar que as mudanças históricas que foram propiciadas pela Revolução Industrial estão relacionadas com as alterações econômicas que as provocaram. E, assim, a transformação social tal como a migração do campo para as cidades, a luta por direitos trabalhistas entre outros.  A evolução social se deu através da luta de classes.

O materialismo histórico-dialético[4] é contrário ao idealismo e, por meio dessa tese é preciso estudar a sociedade e sua evolução em sua totalidade e inserido num contexto mais amplo.

A fenomenologia, igualmente avessa aos positivistas, de Husserl propunha que era necessário repensar a construção filosófica se afastando de convicções cientificistas.

Para Husserl, o conhecimento seria produzido a partir da forma como a consciência humana interpreta os fenômenos. Como fenômeno, pode-se entender qualquer acontecimento ou manifestação, qualquer coisa que se coloque diante de um indivíduo.

Portanto, na fenomenologia, o conhecimento sobre determinado assunto ou objetivo é construído através interpretação, ou seja, de uma leitura feita pela consciência humana.

Com tal afirmação, Husserl tira o protagonismo do pensamento filosófico do objeto e passa para a pessoa/sujeito, que detém a consciência capaz de interpretá-lo.

A fenomenologia acaba sendo vista por muitos estudiosos como uma espécie de método para o pensamento filosófico.

No contexto da interpretação, a hermenêutica é uma importante característica da filosofia contemporânea. Pois é a filosofia de interpretar e compreender a significação, a produção de sentido ou a semântica.

Pode-se afirmar que as disciplinas-chave para entender filosofia atual são a fenomenologia e a hermenêutica. A filosofia contemporânea tem uma grande preocupação com os estudos linguísticos, das teorias da significação. A filosofia analítica tem também como base as teorias da significação. Um dos seus nomes mais importantes foi Russel.

Com a filosofia analítica, parte-se do princípio de que as pessoas são seres linguísticos, e que é por meio da linguagem que se transmite e se constrói conhecimento. Portanto, essa corrente de pensamento propõe uma análise lógica da linguagem.

A filosofia deixa de pensar sobre objetos ou o conhecimento em si, e passa a estudar a linguagem com a qual se compartilha conhecimento.

A filosofia contemporânea também tem uma forte característica niilista. Baseada, principalmente, nos pensamentos de Nietzsche. O niilismo de Nietzsche influenciou na construção do existencialismo e do pós-estruturalismo.

O niilismo[5] é uma filosofia que afirma não existir nenhum tipo de certeza na qual se possa basear o conhecimento. A partir do niilismo de Nietzsche[6], tem-se as concepções de morte de deus e da libertação do sujeito.

Nesses conceitos, o ser humano deixa de ser regido pela moral, pela cultura ou pela religião. Afinal, no niilismo, nenhuma dessas crenças podem ser considerada uma certeza na qual se deve seguir ou construir conhecimento sobre.

Dessa forma, o ser humano passa a ser livre, pois a vida não teria qualquer tipo de sentido ou essência. Essa é a base do pensamento existencialista. O existencialismo tem como nomes importantes Sartre, Beauvoir e Camus.

Esse pensamento filosófico declara a falta de sentido para a vida humana. Assim a vida não teria qualquer significado maior, o indivíduo simplesmente existe e cabe unicamente a ele construir e guiar a sua existência. Construindo a sua condição humana.

Com base marxista, a Escola de Frankfurt[7] sugeria uma nova leitura dos conceitos de Marx. Os pensadores de Frankfurt se opunham ao positivismo[8] e ao iluminismo, pois consideravam que com a ascensão dos movimentos fascistas e nazistas na Europa havia acontecido uma severa regressão social.

A Escola de Frankfurt surgiu na Alemanha no século XX e durante a II Guerra Mundial se mudou para os Estados Unidos. Os filósofos, entre eles, Horkheimer e Adorno, desenvolveram a Teoria Crítica.

A Escola de Frankfurt era formada por pensadores marxistas. Desse modo, as reflexões produzidas por eles apresentam uma visão do sistema capitalista.

Em seus trabalhos é possível observar a denúncia das formas de dominação presentes na política, economia, cultura e psicologia da sociedade moderna. Entre os nomes mais importantes estão:

Max Horkheimer (1895-1973) - era filósofo e sociólogo. Junto com Adorno, desenvolveu o conceito de Indústria Cultural, presente no livro "A Dialética do Esclarecimento";

Theodor W. Adorno (1903-1969) - foi filósofo, sociólogo e músico. Autor dos livros "Dialética Negativa", "A Ideia de História Natural" e defensor da educação como forma de emancipação do sujeito;

Herbert Marcuse (1898-1979) - seus estudos se dedicam a apontar as relações entre capitalismo e sexualidade, bem como as questões envolvendo raça e exclusão social;

Friedrich Pollock (1894-1970) - foi cofundador do Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt. Seus trabalhos mais proeminentes estudam as relações entre capitalismo e Estado;

Erich Fromm (1900-1980) - suas reflexões utilizam bases do pensamento marxista aliadas a elementos da psicanálise. Em seus trabalhos, ele analisa as relações sociais, a família e outras elementos que interferem na formação da pessoa;

Jürgen Habermas – esse pensador, ainda vivo, faz parte da segunda geração da Escola de Frankfurt. Seus trabalhos analisam as relações entre ética e política.

A Teoria Crítica visava a transformação social. Não se colocava como um conceito neutro, o que era comum nas conceituações anteriores, mas propunha um pensamento crítico e que provocasse mudança.

A indústria cultural é conceito da Teoria Crítica, que surge a partir da análise dos meios de comunicação. A indústria cultural se refere a um sistema de "fabricação" de bens culturais que serviriam como mecanismo de geração de lucro e de controle social, mantendo as pessoas alienadas.

Pertencentes à indústria cultural estariam filmes, novelas, programas de rádio e televisão, livros e todo bem artístico-cultural resultado da chamada cultura de massa.

A cultura de massa seria uma mistura da cultura erudita com a cultura popular. Esses bens seriam produzidos com o objetivo de manter a ordem social e econômica vigente.

Outro conceito presente na Teoria Crítica é o da razão instrumental. A razão instrumental seria quando a razão ou conhecimento se tornam instrumentos de dominação e controle social.

Com a razão instrumental[9], a ciência deixaria de ser um modelo para o conhecimento e a liberdade, e passaria a ser um meio para alcançar o poder, tornando-se exploratória e dominadora.

Um dos principais pensadores da corrente pós-estruturalista[10] é o filósofo Michel Foucault. O pós-estruturalismo é uma corrente de pensamento filosófico que critica as bases do estruturalismo, por considerá-las deterministas e não levarem em consideração os contextos históricos.

Os filósofos pós-estruturalistas consideram a realidade uma construção social e de caráter subjetivo. O pós-estruturalismo também tende a negar posições binárias, como os conceitos de "bom ou mal" ou "homem ou mulher".

O pensamento pós-estruturalista está presente em estudos semânticos e de significação, nos estudos de gênero, na análise literária e em muitos outros. O pós-estruturalismo tem como base os conceitos de Nietzsche e o antipositivismo[11].

Os principais filósofos pós-estruturalistas e suas obras mais importantes, a saber:

1. Michel Foucault: foi um dos pensadores pós-estruturalistas mais influentes. Suas obras, como "Madness and Civilization", "The Birth of the Clinic" e "Discipline and Punish", exploraram como as estruturas de poder sustentam sistemas e instituições de conhecimento. O conceito mais famoso de Foucault é provavelmente "poder/conhecimento", que afirma que poder e conhecimento estão inerentemente interligados.

2. Jacques Derrida: foi outra figura chave no pós-estruturalismo, particularmente conhecido por desenvolver a desconstrução. Sua obra seminal "Of Grammatology" critica a confiança da tradição filosófica ocidental no "logocentrismo" ou a ideia de que a fala é uma forma de linguagem mais autêntica do que a escrita. Derrida argumentou que tais dicotomias são problemáticas e podem ser desconstruídas.

3. Julia Kristeva: contribuiu significativamente para o pós-estruturalismo, particularmente por meio de seu trabalho em semiótica e psicanálise. Seus trabalhos mais influentes incluem "Revolution in Poetic Language" e "Powers of Horror", nos quais ela introduziu o conceito de abjeção.

4. Roland Barthes: foi uma das primeiras influências no pensamento pós-estruturalista, particularmente com seu trabalho em semiótica (o estudo de signos e símbolos). Seu ensaio "A Morte do Autor" é um texto pós-estruturalista significativo, argumentando que a intenção do autor ou o significado original é menos importante do que as interpretações dos leitores.

5. Gilles Deleuze e Félix Guattari: com suas obras colaborativas como "Anti-Édipo"[12] e "Mil Planaltos", desenvolveram conceitos como rizoma e desterritorialização, desafiando modos de pensar lineares e hierárquicos e defendendo multiplicidades e fluidez identidades.

Husserl foi o principal nome da fenomenologia. Para o filósofo, a realidade seria um fenômeno que precisaria ser interpretada e revelada.

A consciência humana seria a responsável por realizar essa interpretação. Husserl também afirmava que a consciência é sempre uma consciência de algo. Portanto, a consciência não seria vazia, estaria sempre relacionada a alguma coisa, seja uma pessoa, um objeto ou uma situação.

Essa consciência também seria considerada plástica, ou seja, teria a capacidade de mudança, sendo aberta para transformações e se adaptando.

Entretanto, a consciência também teria a particularidade da temporalidade. Assim, a forma da consciência humana de interpretar fenômenos poderia variar de acordo com o tempo histórico em que o indivíduo vive.

Para o filósofo, o conhecimento também possuiria características de intencionalidade. Quando um indivíduo volta sua atenção para um fenômeno existente, sempre há intenção em fazê-lo.

Edmundo Husserl era alemão, nasceu em 1859 e faleceu em 1938. Outro nome importante dentro da fenomenologia foi Friederich Hegel. Russel foi um filósofo pertencente a corrente de pensamento da filosofia analítica.

A filosofia analítica[13] se dedicava aos estudos dos enunciados linguísticos, isto é, era um ramo da filosofia que pensava o ser humano como um ser linguístico, e que a linguagem era o meio pelo qual se construiria e se transmitiria o conhecimento.

Por ser também matemático, Russel traz para a filosofia uma forma lógica de se analisar a linguagem. A análise lógica da linguagem seria o caminho para entender e se pensar a filosofia.

Para os filósofos analíticos, a análise lógica da linguagem era a maneira de superar os problemas da filosofia metafísica. Russel nasceu no Reino Unido em 1872. Pertenceu a aristocracia britânica, assumindo o título de conde.

Foi um homem considerado progressista para a sua época, posicionando-se politicamente contra as duas Grandes Guerras e se mostrando a favor do voto feminino. Em 1950, ganhou o Nobel de Literatura. Morreu em 1970.

Horkheimer foi um dos mais prestigiados membros da escola de Frankfurt. Uma das maiores correntes filosóficas do século XX, influenciando a filosofia e sociologia. Também compõem a escola de Frankfurt, pensadores como Walter Benjamin[14], Theodor Adorno e Jürgen Habermas[15].

A Escola de Frankfurt iniciou seus estudos na Universidade de Frankfurt, em 1924, e construiu pensamentos filosóficos sobre vários temas, como estética, comunicação, linguística, entre outros.

Tendo origem judia, a Escola de Frankfurt passou a existir na clandestinidade por volta dos anos de 1930, tendo depois que mudar sua localização para os Estados Unidos, durante o regime nazista.

Propondo uma releitura do marxismo, a Escola de Frankfurt também tinha perfil antipositivista, e inspiração no existencialismo e na psicanálise de Sigmund Freud.

Horkheimer foi um dos pensadores base para a Teoria Crítica. A Teoria Crítica é um conceito guarda-chuva para diversos pensamentos importantes desenvolvimentos dentro da Escola de Frankfurt, entre eles, a indústria cultural[16] e a razão instrumental.

A indústria cultural seria a produtora da cultura de massa. Portanto, a indústria cultural iria produzir, assim como em uma fábrica, bens ou produtos culturais.

Esses bens da cultura, que poderiam ser filmes, novelas, peças de teatro, séries de tv, etc., assim como em uma indústria são feitos em série e com os objetivos de gerar lucro e promover o controle social.

Os filósofos da escola de Frankfurt apontavam ser danoso que a indústria cultural fosse a fonte de informação e o guia de vida das pessoas. Esse aspecto "educativo" da indústria cultural poderia influenciar padrões e comportamentos.

Os "frankfutianos" também elaboraram o conceito de razão instrumental, que seria quando a ciência e/ou a razão passam a ser utilizadas como instrumento de dominação e exploração econômico e social.

Foucault é um dos filósofos fundamentais para entender o pensamento filosófico atual. Muitas vezes visto como um pensador de revolucionou as ciências humanas.

O filósofo é o grande nome do pós-estruturalismo[17], no qual retomou os pensamentos de Nietzsche e se inspirou no existencialismo de Sartre. Também apoiando as ideias antipositivistas.

Foucault elaborou conceitos sobre o poder, o discurso, a domesticação dos corpos, a história da sexualidade, a história da construção do conhecimento ocidental e também da loucura, abordando a psiquiatria.

Por ser um notável crítico do mundo contemporâneo, Foucault ficou conhecido como o filósofo da desconfiança. A expressão faz referência à pratica do pensador analisar as instituições sociais e defender uma atitude de desconstrução da realidade, típica dos chamados pós-estruturalistas.

Dentre as várias conceituações, destacam-se os pensamentos sobre o poder e a domesticação dos corpos. Foucault se afastou do pensamento marxista clássico que pensava o poder como uma posição majoritariamente ligada ao fator econômico.

Foucault não via o poder como uma posição, mas como algo que poderia ser exercido. O poder seria algo que poderia ser executado. E sempre seria exercido de maneira desequilibrada, isto é, por mais sutil que possam ser, as relações de poder são sempre desiguais.

Nenhum indivíduo poderia estar fora dessas relações. Por menor que a execução de poder seja, ele sempre estará presente no cotidiano de todos.

Como exemplo, essas relações de poder podem ficar evidente nas relações familiares, entre pais e filhos, ou mesmo entre irmãos. Na escola, entre professores e estudantes; entre trabalhador e empregado; entre os policiais e os cidadãos civis; entre amigos ou em situações maiores, como entre as instituições jurídicas e a população comum.

O poder[18] não necessariamente é exercido em uma relação de dualidade, o poder se ramifica em toda a sociedade e tem como uma de suas principais característica a de ser assimétrica.

O poder também não é algo que se exerce eternamente, as dinâmicas das relações de poder são mutáveis. Transformando-se com o decorrer do tempo, mas nunca deixando de existir.

Outra característica do poder seria a capacidade de atuar sobre os corpos dos indivíduos. Nessa conceituação, Foucault elabora o pensamento sobre a domesticação dos corpos. O que faria com que os corpos dos indivíduos fossem transformados para que pudessem entregar o máximo possível.

Ou seja, os corpos deveriam ser domesticados ao ponto máximo de rendimento. O filósofo afirmava que essa domesticação poderia ser vista nos espaços, como no militarismo ou nas escolas. A domesticação criaria uma espécie de disciplina, que formam regras e comportamentos a fim de explorar ao máximo o tempo e o corpo.

O contexto histórico que permeou a construção da filosofia contemporânea começou a partir da Revolução Francesa e também da Revolução Industrial.

Tais dois eventos históricos mudaram a estruturação econômica e social em todo mundo. Inicialmente na Europa e depois, gradativamente, no restante do globo.

Em contrapartida aos avanços tecnológicos da Revolução Industrial, transformações sociais problemáticas ocorreram, como a forte migração das populações das zonas rurais para as cidades, em busca de trabalho nas fábricas (o êxodo rural).

Também houve uma acentuação das desigualdades sociais, que eram notórias devido às más condições de trabalho nas fábricas, moradias precárias e a falta de direitos trabalhistas.

A necessidade das populações em conquistar direitos trabalhistas e melhores condições de vida abriu caminho para conceituações como a luta de classes de Karl Marx e o feminismo, com o movimento sufragista. O movimento lutava pelo direito feminino ao voto.

Diante das desigualdades sociais consequentes ao estabelecimento do capitalismo, outros modelos sociais e econômicos passaram a ser pensados, como o socialismo, o comunismo e a anarquia.

Além das mudanças sociais negativas, o ideal de progresso natural firmado pelo positivismo foi colocado em causa com a tomada do poder por governos totalitários no século XX. Tanto de direita, como o nazismo e o fascismo, como de esquerda, o stalinismo.

Hannah Arendt[19] foi uma importante filósofa alemã, perseguida pelo regime nazista. Arendt era judia e foi a responsável por um renomado estudo sobre regimes totalitários, e elaborou conceitos como o da banalidade do mal.  as características do totalitarismo.

A partir desses fenômenos, especialmente a ascensão do nazismo na Alemanha, passou-se a valorizar ainda mais o pensamento crítico. A chamada escola de Frankfurt, que durante a guerra teve de se mudar para os Estados Unidos, tinha uma base marxista, mas procurava ir além das noções de Karl Marx.

Eram contrários ao positivismo e foram influenciados pelo existencialismo e pela psicanálise. A sua base de pensamento filosófico estava nas teorias críticas ao capitalismo e na emancipação social.

É também na Escola de Frankfurt que surge o conceito de indústria cultural. A indústria cultural seria um mecanismo capitalista de transformar a cultura em uma mercadoria e em um meio de controle social.

No fim do século XX começa, na França, um movimento baseado nas concepções de Nietzsche. Embora o movimento pós-estruturalista não tenha assim se autodenominado, ficou dessa forma conhecido por pensar a sociedade como uma construção e negar o binarismo presente nos estudos estruturalistas.

Além de Michel Foucault, Gilles Deleuze e Judith Blutter[20] são importantes nomes da filosofia contemporânea.

Apesar de ser possível traçar uma linha temporal sobre os acontecimentos históricos que influenciaram e foram influenciados pela filosofia contemporânea, também é notória que a filosofia praticada nos últimos dois séculos é diversa.

Conclui-se que a filosofia contemporânea tinha por objetivo produzir uma nova concepção de racionalidade. O pensamento filosófico moderno tinha a razão como uma ferramenta de emancipação intelectual através da reflexão. A racionalidade deveria ser utilizada para que os homens dominassem sua natureza.

Ou seja, a racionalidade contemporânea, alimentada pelos processos e produtos de conhecimento gerados através do pensamento abstrato e dedutivo do campo teórico-cientifico, comunicar-se-ia com a sociedade de maneira naturalizada, sob forma de representação social,

Duarte demarca com precisão que “a eclosão da primeira guerra mundial […] constitui a própria inauguração de nossa época”: a modernidade virulenta dos conflitos bélicos e éticos. Naquele evento se empregou segundo o autor, a mais avançada tecnologia em massa para exterminar vidas humanas, utilizando-se do falacioso argumento de proteger o mundo.

Hobsbawm (1994) ao discorrer sobre acontecimentos históricos da modernidade, nomeia aquele momento como “um século de guerras religiosas [e ideológicas], que têm na intolerância sua principal característica”. E assim se desenrola a paradoxal modernidade, do início ao fim, atacando cidadãos, sua dignidade e sobretudo os princípios éticos.

A era da incerteza[21], das relações complexas não pode ser avocada como argumento inconfidente para manipular, execrar a natureza do próprio homem. Assim se estaria mais uma vez negando a própria eticidade que deveria conformar e nutrir a própria sociedade em cada tempo histórico.

Enfim, a epistemologia contemporânea está ancorada numa abordagem de cientificidade pautada na “desdogmatização”, a epistemologia contemporânea busca romper com a dicotomia entre ciências sociais e ciências naturais, resguardando a ambas a unidade científica e a especificidade inerente aos seus respectivos objetos e problemas de investigação.

Em síntese, para os desafios impostos para haver uma real abordagem científica do fenômeno da mediatização, algumas respostas, ou, pelo menos, pistas concretas encontram-se no percurso histórico e na institucionalização das ciências sociais[22]. Portanto, o pluralismo epistemológico não pode tender ao relativismo radical e a metodologia deverá designar reflexão transteórica e transdisciplinar[23].

 

 

 

Referências

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[1] Auguste Comte (1798-1857) foi um filósofo francês, considerado o fundador do Positivismo - corrente filosófica que propôs uma nova organização social. Foi o primeiro a empregar o termo sociologia. Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, conhecido como Auguste Comte, nasceu em Montpellier, França, no dia 19 de janeiro de 1798, onde fez os seus primeiros estudos. Filho de família católica e monarquista, em 1814, com 16 anos, ingressou na Escola Politécnica de Paris, da qual foi expulso dois anos depois por liderar um movimento de protesto. Passou a colaborar com jornais e dar aulas particulares.

[2] Auguste Comte (1798-1857): precursor dos pensamentos positivistas e da Sociologia. Fundador da escola positivista de filosofia, Comte pauta suas ideias no desenvolvimento de uma ciência inspirada no progresso científico e na apresentação de dados.

[3] O processo histórico que transforma a força de trabalho em mercadoria possui dimensões e consequências objetivas e subjetivas, haja vista que se efetua por uma longa cadeia de relações históricas de expropriação ao mesmo tempo em que se dá início ao processo de subjetivação dos indivíduos em torno dos incipientes princípios jurídicos da liberdade e da igualdade formais. A esse processo histórico Marx (2017, p. 786) chama acumulação primitiva, e assim o define: O processo que cria a relação capitalista não pode ser senão o processo de separação entre o trabalhador e a propriedade das condições de realização de seu trabalho, processo que, por um lado, transforma em capital os meios sociais de subsistência e de produção e, por outro, converte os produtores diretos em trabalhadores assalariados. A assim chamada acumulação primitiva não é, por conseguinte, mais do que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção. Ela aprece como “primitiva” porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde.

[4] O método materialista histórico-dialético caracteriza-se pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade, isto é, trata-se de descobrir (pelo movimento do pensamento) as leis fundamentais que definem a forma organizativa dos homens durante a história da humanidade. Na concepção marxista, a dialética é uma ferramenta utilizada para compreender a história. A dialética marxista considera o movimento natural da história e não admite sua maneira estática e definitiva. Segundo Engels: “O movimento é o modo de existência da matéria”. Sendo assim, a história quando é analisada como algo em movimento torna-se transitória, que por sua vez, pode ser transformada pelas ações humanas. Nesse caso, a matéria possui uma relação dialética com os âmbitos psicológico e social. E assim, os fenômenos sociais são interpretados através da dialética. Por meio dessa relação dialética entre o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos, os seres humanos, a cultura e a sociedade criam o mundo, ao mesmo tempo que são modelados por ele.

 

 

[5] Niilismo é a rejeição ou ceticismo quanto ao valor e propósito da vida e da existência. Surgiu como um movimento distintivo na Rússia do século XIX. Caracteriza-se pela rejeição de valores tradicionais, ceticismo em relação à verdade absoluta e descrença no propósito da vida. O niilismo se configura numa negação da vida. O niilista é o indivíduo que encara a vida com indiferença. Crítica o que há a sua volta, afirmando que tudo é falso porque é tudo artificial. Desta forma, para Nietzsche, o niilismo é o sintoma do adoecimento do homem. O filósofo é bem objetivo nessa interpretação, mas, como não poderia ser diferente para o filósofo do martelo, ele bate forte e bem na base. Isso porque atribui aos patronos da filosofia a culpa por essa negação. Mas, como Sócrates pode ser considerado niilista? Ora, vejamos. Aristóteles afirma sobre seus desacordos com Platão: “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade”. Ocorre que esse desacordo é exatamente a concepção de realidade entre eles. Aristóteles afirma que a existência está no mundo que vivemos, Platão (e Sócrates) negam o mundo material e afirmam que a realidade perfeita está em outro mundo. Nietzsche afirma que alguns pensadores na história da filosofia foram longe nos seus esforços para compreender o niilismo e produzir um efeito de evolução na humanidade, mas, segundo o autor, só é possível retornar dessa “viagem” mais saudável, viajando do seu jeito. Para ele, o niilismo é uma doença.

[6] Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um filósofo, escritor e crítico alemão que exerceu grande influência no Ocidente. Sua obra mais conhecida é “Assim Falava Zaratustra”. O pensador estendeu sua influência para além da filosofia, penetrando na literatura, poesia e todos os âmbitos das belas artes. A fase criativa de Nietzsche foi interrompida em 03 de janeiro de 1889, quando sofreu um grave colapso nas ruas de Turim e perdeu definitivamente a razão. Ao ser internado na Basileia, foi diagnosticado com paralisia progressiva, provavelmente em consequência da sífilis.

[7] A Escola de Frankfurt foi uma das instituições mais importantes para pensar a cultura e a sociedade. Ela surgiu no início do século XX e seus pensadores desenvolveram reflexões filosóficas e sociológicas que orientam a realização de estudos e de reflexões críticas até os dias de hoje, O contexto histórico em que surge a Escola de Frankfurt coincide com marcos acontecimentos importantes da história mundial. No início do século XX, nos 1920, acontece a Primeira Guerra Mundial e, ao final da década, o mundo irá sucumbir à crise de 1929. Nesse período, as discussões em torno da implementação de regimes socialistas ganhavam força, ainda que houvesse diferentes perspectivas acerca de como deveria ser feito. Uma das perspectivas era a defendida pelos intelectuais que, mais tarde, iriam integrar a Escola de Frankfurt. Para eles, era importante que as ideias de Marx foram implementadas tendo em vista o cenário observado no século XX. Essa foi uma das questões discutidas no Primeira Semana de Trabalho Marxista, que resultou na criação do Instituto de Pesquisa Social.

[8] No âmbito da política essa influência pode ser notada laicização do Estado, na Abolição da Escravatura e até mesmo na Proclamação da República, mas o maior símbolo dessa corrente no Brasil encontra-se na bandeira nacional criada por Raimundo Teixeira Mendes: A máxima "Ordem e Progresso" mostra uma busca por uma sociedade mais justa fraterna e progressista, baseada nos mesmos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), maior marco baseado no positivismo da história mundial.

[9]  A razão instrumental pode ser entendida como: “uma técnica para o cálculo das disponibilidades, dos meios, das possibilidades e das probabilidades, tendo em vista a consecução de determinado objetivo que não é racional em si, mas se torna, se o cálculo o estabelecer”. A razão instrumental no pensamento dos frankfurtianos, é o oposto daquilo que se pode chamar de razão crítica. Se a razão deixa de refletir sobre os fins e os valores da humanidade, ela se torna um simples instrumento, que tem função de alcançar determinado objetivo.

[10] Pós-estruturalismo é um termo amplo que abrange uma variedade de teorias e filosofias que surgiram em meados do século XX, predominantemente na França. Pode ser considerado como um movimento intelectual que se desenvolveu em resposta ao estruturalismo, um paradigma filosófico que defendia que a cultura humana pode ser compreendida em termos de estruturas. De modo geral, os pós-estruturalistas rejeitam definições que encerrem verdades absolutas sobre o mundo, pois a verdade dependeria do contexto histórico de cada indivíduo. O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos.

[11] O antipositivismo está intimamente ligado às ideias de Max Weber, um sociólogo alemão que enfatizava a importância dos valores que existem dentro de uma sociedade específica ou de um grupo subcultural. Junto com Georg Simmel, outro importante pensador alemão da época, Weber insistiu que qualquer pesquisa deveria se concentrar no entendimento interpretativo (ger., Verstehen). As diferenças entre a abordagem positivista e a antipositivista da pesquisa também podem ser encontradas nos métodos utilizados para conduzir o estudo. Uma abordagem positivista normalmente inclui métodos de análise estatística e experimentos, enquanto, por outro lado, uma abordagem antipositivista se concentraria em fazer pesquisa de campo, etnografia e análise de discurso (crítica). Os antipositivistas sustentam que não existe objetividade real. Os cientistas envolvidos em qualquer estudo devem sempre estar cientes de suas próprias crenças culturais, porque influenciarão as interpretações, quer queiram ou não. Uma visão antipositivista baseia-se no relativismo cultural, e pode-se argumentar que um olhar positivista é mais etnocêntrico.

[12] Anti-Édipo é um livro escrito à quatro-mãos, por Deleuze e Guattari, lançado em 1972. “Escrevemos o Anti-Édipo a dois. Como cada um de nós era vários, já era muita gente” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs I). Mais um fruto de maio de 68, movimento libertário que ocorreu na França e no qual os dois autores participaram ainda sem se conhecer. este livro que procura dar conta de 1968 juntamente com todas as lutas culturais, estudantis, proletárias, as manifestações de contracultura, as barricadas, o movimento feminista, o black-power, a revolução nas drogas, as inúmera novas sensibilidades. Como efeito global, depois de 1968, sabemos que algo se passou e criou novas subjetividades, o livro de Deleuze e Guattari procuram entender “o que se passou”.  Mas ao mesmo tempo, o Anti-Édipo busca entender por que a revolução de maio de 68 falhou. Se a transformação está bloqueada, então deve haver algo de errado com os agentes de liberação! E é neste sentido que podemos trazer a explicação do título: o Anti-Édipo é uma reação à psicanálise de Freud e Lacan (ainda muito influente na França) e se propõe a explorar novos caminhos para o inconsciente e o desejo. No lugar do modelo neurótico, Deleuze e Guattari trazem o modelo do esquizofrênico, como aquele que resiste ao Édipo e busca novas possibilidades.

[13] A Filosofia analítica é uma vertente do pensamento contemporâneo, reivindicada por filósofos bastante diferentes, cujo ponto comum é a ideia de que a filosofia é análise - a análise do significado dos enunciados e se reduz a uma pesquisa sobre a linguagem. O Wittgenstein defendia sendo uma das figuras mais influentes na filosofia inglesa, produziu o sistema original da filosofia da linguagem. Defendia inicialmente que as palavras representam coisas, segundo acordo social. No entanto, acabou por rejeitar essa ideia. Passou a acreditar que o uso era mais importante do que a convenção

[14] Com outro ponto de vista a respeito da indústria cultural, o filósofo alemão Walter Benjamin descreve possíveis benefícios alcançados a partir da massificação da produção artística. Um de seus argumentos era a facilidade de acesso à cultura, que ficaria mais acessível para diferentes indivíduos, apesar das diferenças sociais ou econômicas entre eles.

[15] Habermas desenvolveu o conceito de ação comunicativa, modelo racional de interação, por meio de argumentação, debate, deliberação, para se alcançar acordos. Essa interação se daria na esfera pública, espaço de discussão que incluiria diversos grupos sociais, bem como agentes do Estado.  Habermas refere-se à possibilidade do ressurgimento autêntico e razoável do discurso público, na contramão da racionalidade instrumental que se manifesta na hierarquia, na administração, na tecnocracia, fundado em objetivismo e relativismo pós-moderno.

[16] A Indústria Cultural é aquela que utiliza como base a cultura de determinados polos do mundo para fabricar seus produtos. Contudo, ela também promove uma mudança no estilo de cultura dos indivíduos, promovendo, assim, um comportamento muitas vezes considerado massivo em uma perspectiva de consumismo exacerbado. O conceito de indústria cultural foi desenvolvido por Theodor Adorno e Max Horkheimer no final do século XIX e início do século XX. Os estudiosos analisaram os impactos dos avanços tecnológicos proporcionados pela Revolução Industrial e o capitalismo no mundo das artes.

[17] De modo geral, os pós-estruturalistas rejeitam definições que encerrem verdades absolutas sobre o mundo, pois a verdade dependeria do contexto histórico de cada indivíduo. O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos.

[18] Foucault rompe com as concepções clássicas deste termo e define o poder como uma rede de relações onde todos os indivíduos estão envolvidos, como geradores ou receptores, dando vida e movimento a essas relações. Para ele, o poder não pode ser localizado e observado numa instituição determinada ou no Estado. Foucault define o poder enquanto ação: uma ação sobre outra ação possível (Foucault, 1982: 243). Ou seja, o poder não é substância ou faculdade, mas sim, a própria execução: o poder não se tem, se exerce. Ele se estabelece numa relação entre indivíduos: uma ação em relação à outra ação.

[19]  Hannah Arendt (1906-1975) foi uma cientista política e filósofa alemã. De ascendência judaica, vítima do racismo antissemita, tornou-se um dos grandes nomes do pensamento político contemporâneo por seus estudos sobre os regimes totalitários. A liberdade, o abandono das tradições culturais e a administração tecnocrática da sociedade foram alguns de seus temas principais. Hannah Arendt nasceu no subúrbio de Linden, em Hannover, Alemanha, no dia 14 de outubro de 1906. De ascendência judaica, "Johannah Arendt" mudou-se com a família para a Prússia quando tinha três anos de idade. Hannah Arendt, foi uma menina precoce. Tinha sete anos quando o pai morreu, mesmo assim procurou consolar a mãe: “Pense – isso acontece com muitas mulheres”, disse ela para espanto da viúva. Com 14 anos leu a obra de Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura.

[20] Judith Butler é uma filósofa estadunidense nascida numa família judia, em Ohio, em 24 de fevereiro de 1956. Sua companheira é a cientista política Wendy Brown (1955). Juntas, elas compartilham a parentalidade de Isaac, homenageado em alguns de seus livros (a dedicatória de Precarious Life: The Powers of Mourning and Violence, por exemplo, diz “Para Isaac, que pensa de outra forma”). Cursou Filosofia na Universidade de Yale, hoje é professora de Literatura Comparada no Departamento de Retórica da Universidade da Califórnia, em Berkley, onde também é fundadora do Critical Theory Program (Programa de Teoria Crítica) e do International Consortium of Critical Theory Programs (Consórcio Internacional de Programas em Teoria Crítica). É professora titular da cátedra Hannah Arendt na European Graduate School, Suíça. Integra diversas organizações sociais, como a American Philosophical Society, o Jewish Voice for Peace e o Center for Constitutional Rights.

[21] O século XXI pode ser chamado de “Era da Incerteza”, ou também de Era da Ansiedade, já que as pessoas sentem falta de ter “certezas” para ficarem tranquilas. Nos últimos quarenta anos, a globalização, viabilizada pela extraordinária revolução nos transportes e, sobretudo, nas comunicações, esteve combinada com a hegemonia de políticas de Estado neoliberais, favorecendo um mercado global irrestrito para o capital em busca de lucros. No setor financeiro, isto ocorreu de forma absoluta, o que explica porque a crise do desenvolvimento capitalista ocorreu ali. Apesar do fato de que o capitalismo sempre — e por natureza — opera por meio de uma sucessão de expansões geradoras de crises, isto criou uma crise maior e potencialmente ameaçadora para o sistema, comparável à Grande Depressão que se seguiu a 1929, mesmo que seja cedo para avaliarmos todo o seu impacto.

[22] Ciências Sociais é uma área científica destinada a estudar a organização das sociedades e culturas atuais. Para isso, é preciso entender suas origens e desenvolvimento, bem como as características de indivíduos e grupos. A Ciência Social, como disciplina científica, se consolidou no século XIX, com o objetivo de compreender e explicar as transformações pelas quais passava a sociedade moderna, tais como a revolução industrial, a urbanização, a expansão dos mercados, a colonização na África e na Ásia, a revolução científica. As ciências sociais podem dividir-se naquelas dedicadas ao estudo da evolução das sociedades (arqueologia, história, demografia), à interação social (economia, sociologia, antropologia) ou ao sistema cognitivo (psicologia, linguística). Também se pode falar das ciências sociais aplicadas (direito, pedagogia) e de outras ciências sociais agrupadas no genérico grupo das humanidades (ciências políticas, filosofia, semiologia, ciências da comunicação).

 

[23]  As principais características da estreita relação  entre hermenêutica e vida que surgiu no final do século XIX e se manteve até meados do século  passado, culminando no deslocamento do elemento textual, outrora a característica hermenêutica  mais evidente.


Autor

  • Gisele Leite

    Professora universitária há três décadas. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Pesquisadora - Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Presidente da Seccional Rio de Janeiro, ABRADE Associação Brasileira de Direito Educacional. Vinte e nove obras jurídicas publicadas. Articulistas dos sites JURID, Lex Magister. Portal Investidura, Letras Jurídicas. Membro do ABDPC Associação Brasileira do Direito Processual Civil. Pedagoga. Conselheira das Revistas de Direito Civil e Processual Civil, Trabalhista e Previdenciária, da Paixão Editores POA -RS.

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