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Investimentos diretos brasileiros na América Latina

Investimentos diretos brasileiros na América Latina

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Sob a perspectiva das teorias do investimento internacional e da internacionalização da produção, estuda-se a evolução do investimento brasileiro no exterior, com destaque para os aportes dirigidos aos países latinoamericanos.

Introdução

O fenômeno de internacionalização de empresas de países emergentes, baseada em investimento direto em países estrangeiros, é relativamente recente e, por isso, pouco estudado. Desde os primórdios do fenômeno da internacionalização produtiva, apenas as empresas dos países desenvolvidos direcionavam seus investimentos para além de suas fronteiras nacionais. A constituição de grandes e competitivas empresas em países emergentes (e.g. China, Brasil Índia), somada à crise econômica persistente em alguns dos principais países ricos (e.g. Japão, UE), tem favorecido a progressiva internacionalização de grupos empresariais originários de países em desenvolvimento.

Neste trabalho, o investimento brasileiro direto na América Latina será analisado, em perspectiva histórica, como uma das formas principais de internacionalização produtiva de empresas brasileiras. Com a finalidade de compreender a importância dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs) na dinâmica da economia internacional contemporânea, o autor exporá, de forma sucinta, na primeira parte, alguns aspectos relevantes das teorias do investimento internacional, pois, ainda que o objetivo deste trabalho não seja o aprofundamento em aspectos econômicos, entende-se que a análise de alguns destes pode esclarecer os motivos e as conseqüências, as vantagens e as desvantagens, os empecilhos e os estímulos ao processo de internacionalização das empresas nacionais.

Na seqüência, em perspectiva histórica, analisar-se-á a relevância do investimento estrangeiro direto e de seu resultado imediato: o surgimento de empresas transnacionais no mundo contemporâneo. Esse fenômeno será tratado mediante explicação das mudanças mais importantes do sistema capitalista (fim da guerra fria, formação de blocos econômicos, predomínio de idéias neoliberais). Será destacado, igualmente, o advento de investimentos diretos originários de países emergentes, aspecto concomitante à ascensão de novos pólos de poder econômico e político no sistema internacional.

Os investimentos diretos brasileiros no exterior serão o objeto de estudo da parte três, a qual contém a maior quantidade de dados e de informações resultantes da pesquisa bibliográfica. Nessa parte, o investimento brasileiro direcionado aos países da América Latina será tratado de forma destacada. A fim de conferir maior concretude às considerações e aos argumentos expostos, o autor optou, em diversas partes do texto, por referir-se nominalmente às empresas mencionadas. Os números concernentes aos valores dos investimentos e das transações foram obtidos de fontes diversas: artigos acadêmicos, dados de relatórios da Cepal, sites institucionais de empresas, etc. As informações principais foram recolhidas, de forma direta ou indireta, no site do Banco Central do Brasil e na página institucional do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, que se define como think tank independente, constituída no ano de 2006.


1. As teorias do investimento internacional

O investimento internacional é fenômeno inerente à história do capitalismo, embora, no decorrer do século 20, tenha assumido características específicas e adquirido maior relevância, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial. Conforme a teoria econômica (BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES, pp. 199-218; GILPIN, 221-259), o investimento internacional pode ocorrer de duas formas:

a) investimento de portfólio;

b) investimento estrangeiro direto.

O investimento de portfólio, que não constitui objeto central de investigação deste trabalho, é determinado, basicamente, pelo diferencial de rentabilidade do capital existente entre os países. O investidor, além das diferenças entre as taxas de juros praticadas nos diferentes países, considera os custos e os riscos da transação e a liquidez dos ativos. (BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES, pp. 200) Esse tipo de investimento é caracterizado pela volatilidade e pela incapacidade de gerar resultados materiais efetivos. Com freqüência, é relacionado a práticas especulativas de atores financeiros internacionais, como fundos de pensão, fundos de hedge, grandes investidores individuais. Hodiernamente, esses investimentos constituem a maior parcela do capital transnacional, o qual, por meio de transações praticamente imediatas, gera oscilações repentinas nas diversas bolsas de valores do mundo. As grandes crises recentes do sistema capitalista (crise asiática, de 1997; crise russa, 1998; crise do subprime, 2008) foram determinadas, em grande medida, por essa espécie de investimento, que, conforme explicam seus críticos (e.g. James Tobin, Roubini), não são internacionalmente regulamentados ou limitados.

O investimento estrangeiro direto (IED), diferentemente do investimento de portfólio, é, como o comércio internacional e as relações contratuais plurinacionais, uma forma de internacionalização da produção, pois habitantes de um país tem acesso a produtos originários de outro. (BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES, pp. 208) Por meio do comércio internacional, forma mais básica de internacionalização da produção, os bens produzidos em um país, após cruzarem as fronteiras nacionais, são adquiridos e consumidos em outro país. Na relação contratual, por sua vez, a empresa detentora do produto faculta - mediante autorização legal que possibilita o uso restrito de tecnologia ou de marca - a produção deste por outra empresa, localizada em país diverso. O IED, que constitui objeto central deste trabalho, caracteriza-se pelo estabelecimento físico da empresa estrangeira no país hospedeiro - por meio da construção de nova unidade produtiva, da aquisição de instalações existentes ou do controle acionário de sociedade empresarial -, a fim de, diretamente, desempenhar o controle da função produtiva.

Deve-se ressaltar que, conforme explicado por Gilpin, o conceito mais preciso de transnacional está intrinsecamente relacionado ao investimento estrangeiro direto. Este é a forma como a transnacional atua fora das fronteiras de seu país de origem. (GILPIN, pp. 223) Ainda que o comércio e as relações contratuais de delegação da produção para terceiros sejam bastante relevantes, os investimentos diretos no exterior são o aspecto que, de fato, caracterizam a empresa multinacional.

As determinantes do investimento estrangeiro direto, conforme trabalho pioneiro de Stephen Hymer, são: a existência de vantagens específicas da empresa transnacional no mercado do país hospedeiro, a antecipação à concorrência e a diversificação dos riscos (BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES, p. 204). Os efeitos do IED, por sua vez, podem ser classificados em quatro grupos distintos: transferências de recursos, alteração no balanço de pagamentos, na concorrência e no grau de vulnerabilidade externa. (BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES, p.215)

1.1. Determinantes do investimento estrangeiro direto

A empresa transnacional pode, de formas variadas, desfrutar de vantagens específicas no mercado hospedeiro, aspecto relevante para decisão final acerca do investimento. Considerando, que, conforme teoria econômica clássica, os agentes econômicos atuam de maneira racional, o empresário decidirá investir em mercados externos sempre que puder - na competição com os agentes já estabelecidos e na comparação com seus ganhos de origem doméstica – aumentar seus lucros, ainda que seja no longo prazo, por meio de economias de escala. Com freqüência, a transnacional é proprietária dos direitos de produção de produto que não tem concorrentes no mercado hospedeiro. Essa situação permite que a transnacional atue como monopolista no mercado hospedeiro, situação que propicia os denominados lucros extraordinários ao seu beneficiário (pp. 216, BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES). A transnacional, além disso, pode ser detentora de técnicas específicas que incrementam sua produtividade em face das empresas preestabelecidas no mercado hospedeiro, característica que favorece a conquista progressiva do mercado do país receptor.

As empresas podem buscar a internacionalização com o objetivo de se antecipar à concorrência no mercado do país hospedeiro. Conforme essa idéia, a empresa pioneira passa a beneficiar-se de vantagens competitivas em relação àquelas que pretendem ingressar no mercado. Estas, que podem ser constituídas por outras transnacionais e por empresas do país hospedeiro, passam a ter dificuldades para entrar no mercado no qual atua a transnacional previamente estabelecida. Essa estratégia é válida principalmente para estruturas de mercados que apresentam barreiras, institucionais ou econômicas - à entrada de novos produtores. Nesses casos o pioneirismo da transnacional pode garantir lucros extraordinários por período bastante longo, uma vez que atua em mercado de difícil acesso para potenciais concorrentes.  

A opção pelos investimentos diretos em país estrangeiro pode ser, por fim, uma forma de diversificação dos riscos. A empresa que concentra todos seus investimentos produtivos em um único mercado é dependente da manutenção do bom funcionamento desse mercado, o qual, entretanto, por vezes, pode estar sujeito a flutuações determinadas pelo encerramento de ciclos naturais de crescimento e por mudanças institucionais decorrentes de políticas do governo. Tendo em vista esses aspectos, as empresas buscam atuar em mercados diversos, conduta que mitiga os efeitos negativos que podem decorrer da desestruturação ou do enfraquecimento de um mercado específico.

Assim como o investimento baseado em vantagens específicas, aquele em que a empresa busca antecipar à concorrência é também uma conduta ofensiva, pois a empresa busca conquistar de novos mercados, independentemente da situação em seu mercado de origem. No caso do investimento determinado por política de diversificação de riscos, a conduta é defensiva, pois a empresa, nesse caso, teme que suas operações sejam afetadas, de forma generalizada, pelo declínio dos lucros em um mercado específico.

1.2. Conseqüências do investimento estrangeiro direto

Sob a perspectiva do país receptor, o investimento direto gera, necessariamente, a transferência, no curto prazo, de recursos. Esses recursos podem ser tangíveis (capital, bens, pessoas) ou intangíveis (técnicas de produção, inovações administrativas, direitos de propriedade intelectual). No longo prazo, no entanto, a tendência é que empresa estabelecida no país hospedeiro remeta, sob a forma de lucros, recursos para sua matriz, localizada em seu país de origem.

A segunda conseqüência do investimento direto é a alteração no balanço de pagamentos. No país receptor, no curto prazo, verifica-se a entrada de divisas. No longo prazo, no entanto, a tendência é que haja saída de divisas sob a forma de remessas de lucro. Além disso, a balança comercial, sob a perspectiva do hospedeiro, costuma ser afetada de forma negativa, uma vez que a transnacional estabelecida tende a fazer importações de mercadorias de alto valor agregado de sua matriz (comércio intrafirma). De forma inversa, o país de origem da transnacional, no curto prazo, perde divisas, as quais, em regra, são, no longo prazo, compensadas por remessas de lucro e aumento de exportações. (pp. 216, BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES)

No país hospedeiro, instalação de transnacional tende a aumentar a concorrência. Caso o investimento ocorra por meio de compra de empresa existente ou mediante participação em sociedade já estabelecida, a concorrência pode não ser afetada no país hospedeiro. Sob a perspectiva da empresa, o investimento em país estrangeiro pode objetivar a conquista de mercado com poucos competidores ou com competidores menos eficientes. Dessa forma, a empresa que atuava em mercado altamente competitivo (semelhante ao modelo da concorrência perfeita), no qual usufruía de lucros normais, pode buscar, por meio da internacionalização produtiva, a conquista de mercado pouco competitivo (oligopolista ou monopolista), no qual pode desfrutar de lucros extraordinários.

Embora o país receptor de investimentos diretos obtenha diversos benefícios (geração de empregos, contato com novas tecnologias, aumento da concorrência), ele tende a torna-se mais vulnerável a aspectos externos. Com freqüência, as transnacionais se estabelecem em país estrangeiro com a finalidade estrita de explorar mercado deste. Elas, por isso, em regra, pouco podem contribuir para o incremento das exportações e para entrada de divisa no país hospedeiro. Na realidade, como explicado supra, no longo prazo, as multinacionais tendem a pressionar negativamente a balança comercial, por meio do aumento de importações de suas matrizes. Os processos de integração econômica, entretanto, como constituem grandes blocos econômicos que, sob a perspectiva empresarial, formam um único mercado, alteraram, em parte, essa característica introspectiva da multinacional. Muitas destas, por isso, após fixação em país líder da região, exportam para os outros membros bloco, sem que esse processo seja onerado por incidência de tributos e por restrições quantitativas, exceto em casos de exceções pontuais previstas nos acordos constitutivos da organização regional.

1.3. A era das transnacionais

O fenômeno das transnacionais não é isento de polêmicas. Rober Gilpin, por exemplo, na obra O desafio do capitalismo global, explica que, tradicionalmente, tanto no país receptor dos investimentos quanto no país emissor, existem defensores e críticos da atuação das transnacionais. Hodiernamente, no entanto, a maioria dos governos entende que os IEDs são importantes para o desenvolvimento econômico, ainda que, para alguns países, em certas áreas consideradas estratégicas (e.g. defesa, energia, transportes) os aportes estrangeiros devam ser limitados, regulamentados e até proibidos.

No que tange aos países emissores dos investimentos, a crítica mais comum concerne à exportação de empregos. Segundo os defensores dessa tese, o IED gera, no exterior, postos de trabalho que deveriam ser criados domesticamente (GILPIN, pp. 221). Essa crítica, no entanto, não parece ter fundamento. Constata-se, em regra, que os investimentos feitos no exterior e aqueles feitos internamente não são concorrentes. Em outros termos, não há garantia de que o aporte não destinado ao exterior será, de fato, investido internamente na ampliação da produção e, por conseqüência, na geração de empregos. O IED, além disso, no longo prazo, tende a elevar o comércio intra-firma (por meio do subfaturamento dos produtos destinados à matriz e do superfaturamento dos direcionados à subsidiária), o que favorece a criação de empregos no país de origem da empresa (pp. 216, BAUMAN, CANUTO e GONÇALVES). A familiaridade com os investidores tradicionais e a permanência de parcela da produção no país de origem da transnacional são aspectos que acarretam o incremento das exportações para o país hospedeiro, por meio do comércio internacional entre unidades de um mesmo grupo corporativo, aspecto que compensa a fuga de capitais decorrente do IED.

Nos países hospedeiros, as críticas mais comuns aos IEDs concernem à suposta ingerência nos assuntos domésticos (inclusive políticos), à dependência de capital externo, à ausência de estratégia de investimentos constantes, à inocorrência de verdadeira transferência de tecnologia, ao desrespeito a práticas social e ambientalmente sustentáveis, à exploração  temerária de recursos naturais. Essas críticas, em parte, são verdadeiras, uma vez que as transnacionais, freqüentemente, apresentam conduta nociva a alguns interesses do país hospedeiro. Conforme entendimento contemporaneamente predominante, entretanto, os problemas gerados são compensados pelos benefícios trazidos ao país hospedeiro.

Até pouco tempo atrás, o investimento produtivo direto era invariavelmente originário de países desenvolvidos. Seus destinos, por sua vez, eram outros países desenvolvidos ou países em desenvolvimento que apresentassem mínima estabilidade institucional e potencialidade de mercado para que o capital gerasse lucros para o investidor. Gilpin, por exemplo, indica o fenômeno da internacionalização produtiva de empresas oriundas de países emergentes, mas não entende que seja relevante para compreender as características gerais do investimento estrangeiro direto no mundo globalizado, exceto em situações bastante específicas, como no caso das economias do leste asiático (GILPIN, pp. 225).

O renomado professor de economia política internacional afirma que o fenômeno das empresas transnacionais é característico do período posterior à Segunda Guerra Mundial. Ele explica que, no início, a empresa transnacional limitava-se às companhias norte-americanas que, como resposta à criação da Comunidade Econômica Européia (1957), tinham expandido rapidamente suas operações para além das fronteiras dos EUA. (GILPIN, pp. 95) Em decorrência da recuperação econômica progressiva, empresas européias e, posteriormente, japonesas também começaram a investir em operações exteriores aos seus países de origem. Em meados da década de 1980, as maiores empresas multinacionais eram exclusivamente oriundas dos países desenvolvidos, ainda que, entre os hospedeiros dessas corporações, se encontrassem os países em desenvolvimento.

Inicialmente, a participação dos países em desenvolvimento, no fluxo internacional de investimentos diretos, era circunscrita à posição de receptores. Como grande parte desses países caracterizava-se pela abundância de mão de obra e de recursos naturais e pela carência de legislação ambiental e social, muitas empresas transnacionais passaram a desenvolver parcela de sua produção no mundo em desenvolvimento, a fim de reduzir custos e de, por conseqüência, melhorar a produtividade com base no aproveitamento do fator abundante.

Essa situação, na qual os países em desenvolvimento são meros receptores de IEDs, tem sido alterada, de forma progressiva, nos últimos anos. A projeção internacional das grandes economias emergentes e o ciclo de crises econômicas das economias desenvolvidas influenciaram o crescimento das relações econômicas sul-sul, inclusive no âmbito de investimentos produtivos. A atuação conjunta do setor privado e dos governos nacionais tem possibilitado ascensão rápida, inclusive nos mercados de países ricos, de conglomerados transnacionais originários de grandes países em desenvolvimento. Na atualidade, pode-se afirmar que os investimentos diretos dos países emergentes não são limitados às políticas de cooperação sul-sul. Em muitos setores, as empresas desses países decidem instalar unidades produtivas em países desenvolvidos, com a finalidade de usufruir de mercados consumidores afluentes e de mão de obra qualificada, ainda que essa opção implique aumento substancial das despesas correntes e, por conseqüência, dos custos de produção.


2. A evolução dos investimentos diretos brasileiros no exterior

2.1. As origens dos investimentos diretos brasileiros no exterior: contexto histórico

A internacionalização produtiva das empresas brasileiras por meio do investimento direto no exterior é um fenômeno bastante recente. Ainda que seja possível constatar uma fase incipiente e pontual desse processo na década de 1970 (LUSSIEU da SILVA, pp. 148), pode-se afirmar que, de forma quantitativamente relevante, a internacionalização de empresas nacionais começa a ocorrer nos anos 1990 e, principalmente, no primeiro decênio do século 21 (CORRÊA e LIMA, pp. 249).

Como a industrialização brasileira baseou-se, em seus primórdios, no processo de substituição de importações, a produção nacional, até a década de 1990, era direcionada, preponderantemente, para o mercado doméstico, o qual, até o período de reformas neoliberais, gozava de ampla proteção tributária e, por conseqüência, enfrentava pouca competição interna e escassa exposição ao ambiente internacional. Ana Lúcia Guedes afirma, com base em Celso Furtado, que o coeficiente de abertura da economia brasileira, até o início dos anos 1990, era um dos mais baixos do ocidente. (GUEDES, pp. 338) Em decorrência desse cenário, a internacionalização mediante investimentos externos diretos não constava da agenda do empresário nacional, ainda que tenha ocorrido importante internacionalização produtiva por meio da exportação de bens manufaturados durante a década de 1970, principalmente por causa da necessidade imperiosa de obtenção de divisas.

Os esforços de integração econômica na América Latina, formalizados nos dois Tratados de Montevidéu, que instituíram, respectivamente, a ALALC (1960) e a ALADI (1980), não alteraram o perfil introspectivo dos investimentos brasileiros. Esses dois acordos tinham finalidade meramente comercial, uma vez que devem ser compreendidos, principalmente no caso do primeiro, conforme a lógica de desenvolvimento econômico advogado pelos economistas cepalinos. Os dirigentes latino-americanos almejavam aumentar o tamanho de seus mercados, por meio da eliminação das barreiras alfandegárias entre os países membros e da proteção tarifária em relação aos produtos cuja origem era externa ao bloco. O resultado desses esforços, no entanto, foi limitado, ainda que a ALADI, acordo multilateral flexível, esteja vigente e em funcionamento, na qualidade de tratado guarda-chuva, sob o qual foram instituídos, posteriormente, outros acordos regionais (e.g. Mercosul, Comunidade Andina).

A lógica da integração da ALALC e da ALADI era diversa, principalmente, daquela que predominou nos anos 1990. Os promotores dos pioneiros processos integrativos na região objetivavam mitigar as deficiências quantitativas e qualitativas dos mercados domésticos dos países da região, mediante o alargamento das fronteiras alfandegárias. Havia, dessa forma, preocupação efetiva com o desenvolvimento industrial e com o incremento da capacidade de absorção do empobrecido e incipiente mercado regional. Os investimentos produtivos, por sua vez, deveriam ser destinados, preferencialmente, ao próprio mercado interno.

A crise internacional do pensamento desenvolvimentista, os problemas econômicos domésticos (inflação, endividamento externo, perda de competitividade da produção industrial brasileira) e as grandes mudanças na estrutura da ordem internacional, ocasionadas pelo fim da guerra fria, ocasionaram o fim do ciclo de desenvolvimento econômico autárquico que caracterizou o país por quase meia década. A dissolução da URSS e o predomínio do pensamento neoliberal, formalmente consolidado no Consenso de Washington, foram aspectos importantes para desacreditar o modelo econômico de planejamento central e de desenvolvimento induzido pelo Estado. A relação, freqüentemente problemática, entre economia planejada e autoritarismo político foi determinante para que a consolidação democrática viesse acompanhada da adoção (acrítica e inercial, no entendimento de autores como Amado Luiz Cervo e Fagundes Vizzentini) dos preceitos neoliberais divulgados por teóricos e políticos ortodoxos dos países desenvolvidos.

Após as reformas liberalizantes iniciadas durante o governo Collor, as empresas nacionais são forçadas a se adaptarem, sob circunstâncias bastante desfavoráveis, à nova realidade econômica, caracterizada pela forte exposição à concorrência externa. Depois do primeiro choque liberalizante que causou danos relevantes ao setor produtivo brasileiro e da privatização de empresas estatais, as grandes empresas de capital nacional remanescentes iniciaram um canhestro processo de internacionalização produtiva, fase que durou até meados de 2002, ano em que foram definidas diretrizes de fomento público á internacionalização.

O fortalecimento da economia brasileira, o aumento da produtividade de grandes empresas nacionais, o enfraquecimento relativo da economia dos países desenvolvidos, os impasses nas negociações multilaterais de liberalização comercial, o recrudescimento do protecionismo comercial foram aspectos que influenciaram a internacionalização produtiva de algumas empresas brasileiras no primeiro decênio do século 21. O apoio oficial do BNDES – cujo programa específico surgiu no ano de 2002, após a aprovação de diretrizes ao financiamento do processo de internacionalização de empresas brasileiras que apresentassem viabilidade econômica e consistente plano de negócio – foi fundamental para garantir recursos à expansão das companhias nacionais. (ALÉM e CAVALCANTI, 2005).

2.2. As fases do investimento direto brasileiro no exterior

Márcia Tavares, em artigo baseado em estudo da CEPAL sobre o tema, explica que, tradicionalmente, a evolução dos investimentos brasileiros no exterior é dividida em três períodos: dos primeiros investimentos até 1982; de 1983 a 1992; e de 1993 em diante. Essas fases, de certa forma, coincidem com os momentos de grandes mudanças econômicas ocorridas no Brasil. A primeira fase é caracterizada pelo desenvolvimento autárquico, induzido e gerenciado pelo Estado. Na década de 1980, o projeto desenvolvimentista, baseado, fundamentalmente, na substituição de importações, na proteção do mercado doméstico e na relevante participação do Estado na economia começa a apresentar problemas (muitos deles decorrentes do elevado endividamento externo), o que gera contestação por parte de alguns grupos. Nos anos 1990, após as opções neoliberais do governo Collor, algumas empresas de capital privado nacional passam a investir de forma mais agressiva em mercados externos, característica que, com algumas alterações (a atuação direta e indireta do Estado brasileiro volta a ser relevante), conserva-se na atualidade.

Na fase inicial (até 1982), conforme Márcia Tavares, os investimentos foram feitos por empresas financeiras, construtoras e pela Petrobrás. Esta objetivava encontrar e explorar fontes de petróleo para abastecer o mercado doméstico, o qual, em plena expansão, carecia, principalmente após os choques do petróleo, de recursos energéticos. As empresas financeiras, por sua vez, entendiam que a atuação direta fora do país facilitaria a captação de recursos no mercado financeiro internacional. As construtoras eram aquelas que tinham estratégia menos defensiva, uma vez que investiam no exterior com a finalidade de conquistar novos mercados e de usufruir, em maior escala, da expertise em grandes obras de engenharia. O know how desenvolvido no mercado doméstico, principalmente durante o auge do “milagre econômico” brasileiro, garantia às construtoras importantes vantagens competitivas nos mercados externos, o que, juntamente com as perspectivas de altas taxas de lucro, estimulava a instalação de unidades em países produtores de petróleo, carentes de infra-estrutura para exploração do recurso (e.g. participação da Camargo Corrêa no projeto da usina hidrelétrica de Guri, na Venezuela) (Camargo Corrêa).

O segundo período (de 1983 a 1992), por sua vez, foi caracterizado, em razão das dificuldades econômicas do país, pela baixa capacidade de investimentos das empresas brasileiras. Além dos três setores destacados no período anterior, Tavares destaca os seguintes setores: de autopeças, de metal-mecânica, de têxteis e de embalagens, o que indica maior participação do setor industrial, o qual, no período, foi responsável por 10% dos investimentos brasileiros no exterior. A autora, além disso, explica que, nesse interregno, duas mudanças qualitativas foram importantes no conjunto dos investimentos: maior participação de empresas de médio porte e maior relevância da América do Sul como destino dos aportes brasileiros.

No terceiro período (de 1993 em diante), Tavares afirma que, em razão do processo de abertura econômica, as empresas mais competitivas sofreram um processo de reestruturação, por meio da profissionalização de sua administração, da diversificação de suas fontes financiadoras e da inovação de seus produtos. Essas mudanças possibilitaram a internacionalização da atividade dessas empresas. A estabilidade monetária, por sua vez, consolidada após 1994, foi fundamental para a capacidade de planejamento dessas firmas. No entendimento da autora, a maturidade das estratégias de investimento dessas empresas foi alcançada, no entanto, apenas na década seguinte, o que também é confirmado por Corrêa e Lima (pp. 249-250).

2.3. Características gerais dos investimentos brasileiros no exterior

Conforme estudo realizado, em 2006, por Corrêa e Lima (pp. 249), os investimentos brasileiros no exterior, de forma geral, apresentam evolução positiva constante desde 2001, ano em que o Banco Central do Brasil passou a publicar os números referentes ao estoque de capitais brasileiros no exterior. Seus principais destinos, excluídos paraísos fiscais, eram Argentina, Estados Unidos, Espanha, Portugal e Uruguai. No entendimento dos autores, a proximidade geográfica, a consolidação dos marcos institucionais do Mercosul, a afinidade cultural e a precedência de relações comerciais relevante foram aspectos que determinaram a posição de destaque recebida por esses países.

No caso de Argentina e de Uruguai, a proximidade geográfica e a existência do Mercosul foram, certamente, os aspectos principais para escolha do investidor. Como, entre os países pertencentes à união aduaneira, não há, em tese, barreiras alfandegárias, o empresário brasileiro pode instalar unidades produtivas nos dois países vizinhos, sem que seja penalizado pela perda do mercado de seu país de origem. O investimento nos Estados membros do Mercosul, por isso, não pode ser explicado por meio da teoria segundo a qual a  decisão pelo IED é determinada, principalmente, por políticas protecionistas do Estado receptor. Os investimentos brasileiros na Argentina e no Uruguai não são soluções para vencer barreiras comerciais impostas por esses países, uma vez que ambos, juntamente com Brasil e Paraguai, constituem união aduaneira, a qual é incompatível com medidas protecionistas internas ao bloco, ainda que, no âmbito do Mercosul, haja inúmeras listas de exceções que, na prática, derrogam as regras da zona de livre comércio.

Os investimentos direcionados a Portugal e a Espanha, por sua vez, foram determinados pela proximidade cultural entre o país emissor e os países receptores do investimento. Com freqüência, aspectos culturais são fundamentais para o êxito da atividade empresarial. (CASTELLS, pp. 174-175) Proximidade lingüística, afinidade de princípios empresariais, semelhança de rotinas de trabalho podem facilitar o início e determinar a prosperidade da empreitada em território estrangeiro. Portugal e Espanha, além disso, são membros da União Européia, o que constitui características importante para as empresas que buscam penetrar em mercados afluentes e bem protegidos. Quando transnacionais brasileiras instalam-se em território português e espanhol, elas passam a usufruir das condições benéficas garantidas pelas normas comunitárias, as quais possibilitam acesso irrestrito aos mercados dos vinte e sete membros da União e proteção contra concorrência externa ao bloco. Nesse caso, por isso, as empresas que optam pelo investimento direto, por meio da constituição legal de unidades produtivas em território europeu, objetivam, de fato, neutralizar as políticas protecionistas - que, na atualidade, são exemplificadas pela imposição de rigorosas barreiras sanitárias, fitossanitárias e técnicas - dos membros da União Européia.

Os Estados Unidos constituem o outro receptor importante dos investimentos brasileiros diretos. As empresas brasileiras, como aquelas de outras origens, são fortemente atraídas pelo rico mercado e pelas facilidades de empreendedorismo nos EUA. Estes, na atualidade, constituem o maior receptor de investimentos estrangeiros diretos do mundo, à frente de China e de outros grandes países emergentes. No caso específico das empresas brasileiras, deve-se destacar que, em regra, os investimentos diretos de empresas como Petrobrás, Weg, Vale e Gerdau foram precedidos relevante fluxo de exportações, o que possibilitou conhecimento prévio da amplitude e das peculiaridades do mercado norte-americano. Como ocorre com as transnacionais brasileiras que direcionam investimentos diretos para a Europa, aquelas que investem nos Estados Unidos também objetivam transpor as barreiras impostas às exportações brasileiras, bem como se beneficiar dos vários acordos de livre-comércio dos quais os EUA fazem parte. O caso da Gerdau é paradigmático, pois a empresa, cujas principais unidades produtivas, em solo americano, estão sediadas em Michigan e na Flórida, transformou suas unidades estadunidenses em plataformas de exportação de aços longos (long steels) e de aços especiais (special steels). (Gerdau)

Deve-se notar que, conforme informado e explicado por Corrêa e Lima (pp. 250-251), os investimentos brasileiros no exterior apresentam as mesmas características dos fluxos mundiais de investimento: alta concentração no setor terciário, com destaque para operações financeiras e formação de holdings e de joint ventures, característica da economia internacional contemporânea criticada por autores que, como François Chesnais, explicitam a problemática relação de subordinação entre o capital produtivo e o capital financeiro.

No que concerne, especificamente, aos investimentos feitos pelo setor secundário da economia brasileira, Corrêa e Lima (pp. 253-256), com base em estudos publicados na década de 1990, divide a atuação das empresas nacionais em quatro grandes áreas: commodities, bens duráveis, tradicionais e difusores de tecnologia. As indústrias da área de commodities, apesar de apresentarem elevado índice de produtividade e grande penetração no comércio exterior, são caracterizadas pelo baixo esforço tecnológico. Na área de bens duráveis, as indústrias, no Brasil, são, em regra, subsidiárias de empresas estrangeiras, as quais apresentam elevada produtividade e prestação de assistência técnica rápida e eficiente. Por sua vez, as indústrias tradicionais - constituídas por empresas do setor têxtil, calçadista, mobiliário - caracterizam-se pela grande heterogeneidade produtiva. As indústrias área de difusores de progresso técnico são aquelas que abarcam os produtores de bens de capital. Sua principal característica é a capacidade de elevar a produtividade das outras áreas.

As indústrias da área de commodities são aquelas que apresentam maior representatividade nos investimentos diretos no exterior, seguidas das indústrias tradicionais e das difusoras de progresso técnico. Essa preponderância das indústrias de commodities em parte pode ser explicada pela atuação da Petrobrás e da Vale, duas empresas gigantes, freqüentemente listadas entre as maiores do mundo.

Deve-se notar que, com base nessa classificação, se comparados com o total dos investimentos diretos brasileiros no exterior, os investimentos do setor secundário são bastante pequenos e proporcionalmente decrescentes (de 8,0% para 3,7% entre os anos de 2001 e 2005). Os investimentos do setor secundário, no entanto, continuam sendo o melhor indício do grau de internacionalização produtiva de um país.


3. Os investimentos brasileiros diretos na América Latina

Os investimentos brasileiros diretos na América Latina são relevantes, principalmente em determinados países e em setores específicos. Conforme dados coletados pelo Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, think tank independente, os investimentos brasileiros nos países vizinhos é crescente, ainda que, com freqüência, por razões diversas, são sejam identificados pelo Banco Central do Brasil.

Márcia Tavares explica que uma das principais características do empresário brasileiro é sua capacidade de atuar em situações de instabilidade e de risco elevado, atributo que favorece a conquista de mercados na América Latina. A autora, na realidade, afirma que empresas latino-americanas, em geral, apresentam vantagens, em relação a atores exteriores, no processo de conquista de mercados da região.

Foram identificados, apenas para o ano de 2011, quase quarenta projetos (incluindo os anunciados) de investimento direto brasileiro em países da América Latina. Alguns desses aportes alcançam somas bilionárias, como no caso do investimento da EBX, no complexo hidrelétrico de Castilla, no Chile. Entre os investimentos anunciados, devem ser destacados, no ano de 2011, os anunciados pela Votorantim (R$ 3,2 bilhões) e pela Braskem (R$ 3 bilhões), ambos direcionados ao Peru. Os casos mais relevantes serão analisados abaixo.

De antemão, explica-se que não serão tratados os países da América Central e do Caribe, pois, como muitos deles constituem paraísos fiscais, os dados referentes aos investimentos provavelmente estariam distorcidos. Quanto aos países que, apesar de não pertencerem a essas duas regiões, não foram mencionados, deve-se inferir que não são destinos efetivos de investimentos brasileiros. No que concerne às setores dos investimentos, optou-se por uma classificação simples baseada em três categorias: indústria, agropecuária e serviços. Mineração, construção civil, processamento de alimentos e distribuição de energia elétrica, são, neste trabalho, abarcados pelo setor industrial. Transporte, logística, intermediação financeira, tecnologia da informação e comércio são incluídos no setor de serviços. A agropecuária, por fim, abrange apenas cultivo vegetal e criação animal, sem incluir qualquer atividade que se desenvolve com base nessas duas ou em etapa posterior a essa fase inicial.

3.1. Argentina

O primeiro país que deve ser destacado é a Argentina, principal parceiro do Brasil no Mercosul, e destino precípuo dos investimentos brasileiros na região. Ao lado do Chile, o Brasil é o maior investidor do subcontinente sul-americano na Argentina. Corrêa e Lima afirmam que os sub-setores mais atrativos para o capital brasileiro são os de energia, de infra-estrutura, de comércio (inclusive distribuição) e de serviços. (CORRÊA e LIMA, pp. 253-254)

Márcia Tavares, por sua vez, explica que os investimentos diretos brasileiros na Argentina cresceram no final dos anos 1990 e no começo dos anos 2000. Segundo a autora, as causas desse aumento estavam relacionadas a aspectos inerentes à economia Argentina, bem como ao amadurecimento do processo de internacionalização das companhias brasileiras. Houve, dessa forma, o surgimento de grandes oportunidades decorrentes da crise econômica argentina, e o aproveitamento efetivo destas por parte de empresas brasileiras fortalecidas e dotadas de know how nos procedimentos jurídicos e financeiros de fusão e de aquisição de empresas estrangeiras. Tavares destaca que aspectos como proximidade geográfica, compatibilidade cultural e pertencimento ao mesmo bloco econômico também foram relevantes para tomada de decisão de investimento.  

Esses investimentos brasileiros foram materializados de forma emblemática nos anos 2002, 2005 e 2006. Em 2002, o país alcançou posição de maior investidor estrangeiro na Argentina, principalmente em razão da compra das petrolíferas Pérez Compac e Pecom Energia pela Petrobrás. Em 2005, a compra da Swift Argentina pelo grupo Friboi e a aquisição da Loma Negra pela Camargo Corrêa foram o par de operações mais relevantes ocorridas entre empresas dos dois países. Finalizado em 2006, o controle da Quilmes pela AmBev segue nessa linha de investimento, baseado em aquisições e em controle acionário.

Entre os anos de 2007 e 2012, conforme os dados da tabela anexa, as empresas brasileiras anunciaram ou efetivaram mais de nove dezenas de projetos para o território argentino. Além de quantitativamente elevado, os projetos são bastante diversificados, pois abarcam quase todos os setores da economia. Em 2007, a Petrobrás e a Mafrig foram as duas maiores investidoras brasileiras na Argentina. Ao todo, naquele ano, dezoito companhias distintas anunciaram aportes no país vizinho. Além das duas citadas, no setor industrial, devem ser mencionadas as seguintes empresas: Dass (couro e calçados), Artecola (produtos químicos), AmBev (bebidas), Cyrela (construção civil). No ano seguinte, os destaques foram os empreendimentos no setor de serviços, em especial nos ramos de informática, de transportes e de intermediação financeira. Segundo dados do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, as seguintes companhias destacaram-se: Itaú, Gafor, Totalcom, Dextera, América Latina logística e Ação informática.

No biênio de 2009 e 2010, os aportes relacionados à produção industrial - nos setores de mineração, têxtil, metalúrgico, calçadista e de construção civil - são os mais relevantes. Nos dois anos subseqüentes, foram anunciadas (ou efetuadas) mais de duas dezenas de investimentos diretos brasileiros na Argentina, entre os quais se incluem aportes de empresas como Vicunha, Votorantim, Penalty, Moura e Odebrecht, o que indica a manutenção da predominância de investimentos em setores diversos da indústria,

Pode-se afirmar que, hodiernamente, a relação econômica entre Brasil e Argentina é madura e complexa. Além de intercâmbio comercial intenso entre os dois países, os investimentos mútuos adquirem relevância crescente. Na atualidade, os investimentos de empresas brasileiras dirigidos à Argentina são volumosos e heterogêneos, ainda que o setor industrial - principalmente os relacionado à extração mineral e à produção de roupas e de calçados - ainda seja o mais relevante. Com base nessas informações, pode-se inferir que, no caso da indústria extrativa, setor que demanda grandes aportes iniciais, a internacionalização direcionada ao país vizinho foi possibilitada pela existência de excedentes de capital, vantagem comparativa fundamental nos grandes empreendimentos de mineração e de exploração de hidrocarbonetos. No que concerne aos investimentos na indústria têxtil e calçadista, pode-se inferir que são estratégias de antecipação à concorrência de produtos asiáticos. A indústria alimentícia, por sua vez, dotada de vantagens específicas adquiridas na atuação no mercado doméstico, também diversifica os riscos por meio de atuação em mercado estrangeiro próximo.

3.2. Bolívia

A Bolívia, país membro da Comunidade Andina, não está entre os principais destinos dos investimentos brasileiros. A despeito de suas riquezas minerais, de seu potencial energético e de sua proximidade espacial, foram efetivados, na última meia década, apenas dois projetos de investimentos brasileiros em território boliviano. O investimento da Petrobrás, anunciado no ano de 2010, constitui na aquisição de parcela (30%) dos direitos de exploração do campo de Itaú, os quais pertenciam à empresa francesa Total. O outro investimento, anunciado em abril de 2010, pela empresa Braskem, objetiva a instalação de uma planta industrial de eteno para a produção de polietileno.

Ambas as empresas que investem em território boliviano objetivam - com base em suas vantagens técnicas específicas e em sua disponibilidade de capital - a exploração das riquezas naturais do país, principalmente as reservas de petróleo e de gás natural. A exigüidade dos investimentos, entretanto, decorre da ausência de atrativos econômicos domésticos além das reservas de hidrocarbonetos, uma vez que o país apresenta mercado consumidor empobrecido, infra-estrutura precária e grande instabilidade institucional e política. Embora o governo nacionalista do presidente Evo Morales tenha relevante apoio popular e tenha honrado as indenizações decorrentes da expropriação de propriedades estrangeiras, sua atitude, fundamentada em considerações políticas defensivas (Gisbert, pp. 28), na perspectiva da iniciativa privada brasileira, não é favorável aos negócios e aos aportes diretos, uma vez que gera insegurança jurídica e incerteza quanto à remuneração do capital investido.

3.3. Chile

No Chile, maior investidor sul-americano na região, foram identificados, do ano de 2007 ao ano de 2012, vinte cinco projetos de empresas brasileiras. Nos anos de 2007 e de 2008, investimentos na área financeira e na de extração de minerais foram os principais destaques, em especial o aporte de mais de três bilhões da Petrobrás. A empresa brasileira comprou os ativos da Esso Chile, do setor de distribuição de combustível. Na mesma operação, a Petrobrás adquiriu 22% da Sociedad Nacional de Oleoductos e 1/3 da Sociedad de Inversiones de Aviación. A estatal, dessa forma, passa a ocupar 16% do comércio minoritário de combustíveis do Chile, bem como 14% do mercado industrial. Ainda, no ano de 2008, deve ser mencionado o consseu iderável aporte feito pela MPX (US$ 4,4 bilhões) no setor de termelétrico. O investimento foi direcionado a um projeto de instalação de complexo de geração de energia térmica no norte do Chile, para produzir em torno de 2.100 (dois mil e cem) megawatts (MW) de energia elétrica.

Nos anos de 2009 e de 2010, os investimentos brasileiros foram concentrados nos seguintes setores: indústria química e alimentícia, prestação de serviços de transporte e de armazenagem, bem como aquisições de empresas do ramo da construção civil. Em 2011, o setor que mais absorveu investimentos brasileiros foi o bancário (três projetos), ainda que o maior aporte tenha sido da empresa EBX, direcionado ao complexo hidrelétrico de Castilla.

Os investimentos de empresas brasileiras no Chile ainda são fortemente concentrados nos setores industriais de extração mineral, de processamento de materiais básicos e de energia. O ambiente juridicamente estável, a previsibilidade institucional e a adequada rede de fornecedores domésticos e de benefícios logísticos, somados à riqueza de recursos minerais, são características que favorecem o investimento estrangeiro. As companhias brasileiras que direcionam seus capitais para o país andino, geralmente grandes empresas exploradoras de recursos básicos, buscam fazer uso de vantagens técnicas específicas e de excedente de capital. Ao lado disso, elas objetivam o estabelecimento antecipatório no mercado, aspecto que, na indústria de extração, pode ser fundamental para superar a concorrência. 

3.4. Colômbia

Entre os anos de 2007 e 2012, como expressa tabela anexa, constam vinte e quatro projetos de investimentos brasileiros diretos na Colômbia. No ano de 2007, destacam-se os investimentos feitos pela Natura (aproximadamente R$ 3 milhões), multinacional da área de cosméticos, que objetivam a distribuição e a comercialização de seus produtos em território colombiano. Deve-se notar que o aporte realizado pela Natura é bastante comum em empresas que desenvolveram praticas exportadoras exitosas, baseadas em produtos diferenciados e em marca internacionalmente reconhecida. O estabelecimento de escritórios comerciais e de redes de distribuição em mercados estrangeiros tende a incrementar as exportações da empresa, cujos produtos continuam a ser produzidos em seu no país de origem. Esse esforço da Natura, empresa que faz amplo uso de venda direta, foi iniciado em Bogotá, e, posteriormente, estendido para outras localidades da Colômbia como Bucaramanga, Floridablanca, Piedecuesta e Villavicencio.

 Da série analisada, o ano de 2008 foi mais relevante no que concerne aos investimentos de empresas brasileiras na Colômbia. Além da continuidade dos investimentos da Natura, foram identificados mais de uma dezena de projetos direcionados ao território colombiano, entre os quais se destacam investimentos da Vale (R$ 300 milhões), da Votorantim (R$ 1,4 bilhão) e de diversas empresas de serviços (informática, comércio de bijuterias, educação).

No ano de 2012, destaca-se a diversificação dos investimentos brasileiros em território colombiano, por meio de aportes de empresas de tecnologia e de serviços de informática, como ocorrera no ano de 2010, após os investimentos da Nexxera, empresa de TI, atuante no mercado de serviços financeiros. A aquisição da empresa espanhola Groupalia, dedicada a compras coletivas pela internet, pelo grupo brasileiro Peixe Urbano (que também anunciou aportes no Chile e no México), é exemplo dessa espécie de investimento que se origina de empresas que fazem uso de novas tecnologias.

As considerações acerca dos atrativos para os investimentos brasileiros no Chile são parcialmente aplicáveis para o caso colombiano. O mercado consumidor da Colômbia, entretanto, é mais amplo e mais dinâmico do que o chileno, aspecto que possibilita investimentos mais diversificados e complexos. Em razão disso, empresas brasileiras de tecnologia da informação, de serviços financeiros e de comércio varejista, dotadas de vantagens específicas (tecnologia própria, métodos inovadores de vendas, produtos diferenciados) são atraídas pelo mercado colombiano em grau maior do que ocorre no caso chileno.

3.5. Guiana

A Guiana não constitui grande receptora de investimentos brasileiros. No período analisado, de 2007 a 2012, foi constatado, conforme dados do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, apenas o projeto da Eletrobrás, referente à construção de usina hidrelétrica que abastecerá a Guiana com 100 MW e transferirá para Boa Vista, em Roraima, outros 700 MW.

Os investimentos direcionados à Guiana, certamente, não são motivados por seu diminuto mercado consumidor. Existe, entretanto, grande potencial hidromineral que pode ser explorado em seu território, aspecto que, futuramente, pode atrair aportes de grandes empresas brasileiras.

3.6. México

A economia do México, membro da Aladi e do NAFTA, é a segunda mais importante da América Latina, e o quinto maior receptor de investimentos brasileiros na América Latina. Apesar das estreitas relações do país com os EUA, ele tem atraído investimentos de diversas empresas brasileiras (o Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento identificou, no período entre 2007 e 2012, duas dezenas de projetos de investimento). Na realidade, o acordo de livre comércio firmado entre os países da América do Norte, o Nafta, tem constituído grande atrativo para investimentos estrangeiros no México, pois, por meio dos benefícios garantidos pelas normas do bloco econômico, as empresas estabelecidas no México têm acesso direto aos afluentes mercados de Estados Unidos e de Canadá.

No ano de 2007, devem ser mencionados os investimentos das empresas Gerdau (metalurgia básica), Metalfrio Solutions (eletrônica de precisão) e Artecola (adesivos industriais), as quais aportaram - mediante aquisição de ativos de companhias locais e por meio de projetos em parceria com outras empresas - quase um bilhão de dólares em território mexicano. Nos dois anos seguintes, indústrias importantes anunciaram investimentos (e.g. Gerdau, Borrachas Vipal, Braskem, Eurofarma, Unigel), o que indica interesse das corporações brasileiras em aproveitar o complexo e desenvolvido parque industrial estabelecido em território mexicano, com a finalidade de localizar novos fornecedores e de obter ganhos de produtividade.

Entre os anos de 2010 e 2012 (até o primeiro semestre), as empresas de serviços somaram-se às companhias do setor secundário da economia. Aquelas demonstram interessem em explorar o grande mercado consumidor mexicano e dos outros integrantes do NAFTA, uma vez que os acordos constituintes desse bloco, diferentemente de outros tratados de livre comércio, contêm previsões acerca da liberalização de serviços. (Celli Júnior, pp. 31). Empresas como Bradesco, Bio-Ritmo e Peixe Urbano, em razão das promissoras perspectivas de lucros em mercado expandido e afluente, decidiram iniciar operações em território mexicano, o que, de certa forma, destoa do perfil tradicional dos investimentos brasileiros dirigidos ao país latino da América do Norte.

Como ocorre na Argentina, no Chile e na Colômbia, os investimentos brasileiros no México são bastante diversificados. As indústrias de bens de capital fazem uso de suas vantagens específicas e aproveitam a existência de do complexo industrial amplo e heterogêneo do México. As empresas do setor de serviços, por sua vez, antecipam-se à concorrência mediante expansão de suas atividades no dilatado mercado consumidor dos países do NAFTA.

3.7. Paraguai

Embora seja membro do Mercosul e localize-se próximo à Região Sudeste, onde é encontrada a porção territorial economicamente mais dinâmica do Brasil, o Paraguai ainda não é destino relevante dos investimentos de empresas brasileiras. Nos últimos cinco anos, foram detectados apenas quatro empreendimentos brasileiros no território do país vizinho. A Vale, no ano de 2009, adquiriu ativos da mineradora Rio Tinto; a Camargo Corrêa,  no mesmo ano, iniciou a construção de planta fabril para processamento de minerais não metálicos, e a Eurofarma anunciou a compra de laboratórios químicos; em 2010, o grupo Bourbon, que atua no setor hoteleiro, declarou participar de empreendimento vinculado à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).

Os principais aportes brasileiros no Paraguai são determinados pela proximidade geográfica e pela integração econômica possibilitada pelo Mercosul, características que possibilitam a utilização de vantagens específicas inerentes a empresas brasileiras do ramo de construção civil, de serviços e da indústria de bens de capital. Entretanto, a ausência de grandes reservas de recursos minerais, o pouco potencial de compra do mercado consumidor interno, a baixa qualificação de sua mão de obra são aspectos que reduzem a atratividade do país.

3.8. Peru

O Peru, outro membro da Comunidade Andina, é o quinto maior destino de investimentos brasileiros na América Latina. Entre os anos de 2007 e 2012, foram constatadas mais de duas dezenas de projetos de empresas brasileiras. No setor industrial e extrativo, o qual abarca aproximadamente 90% de todos os aportes, destacam-se as seguintes companhias: Artecola, Petrobrás, Eletrobrás, Vale, Gerdau, Neogás, OAS, Votorantim, Braskem. Os investimentos no setor de serviços, por sua vez, são ainda bastante incipientes e restritos, conforme os dados da tabela em anexo.

Nos anos de 2008 e de 2009, a Eletrobrás e a Braskem, empresas que atuam, respectivamente, nos setores de distribuição de energia e de metalurgia, anunciaram investimentos bilionários em território peruano. Esta última, por meio de aporte no valor de quase US$ 1,5 bilhão, objetivava incrementar, em mais seis vezes, a produção de sua fábrica Sider Peru (dedicada ao ramo de metalurgia básica), na localidade de Chimbote (Ancash). No ano de 2011, a Braskem foi responsável pelo maior investimento feito no Peru (US$ 3 bilhões), quantia destinada à construção de complexo petroquímico.

De forma semelhante ao que ocorre no Chile e na Colômbia, o Peru é caracterizado por grande riqueza de recursos naturais e por estabilidade institucional, aspectos que, em regra, são valorizados pela iniciativa privada, em especial pelas empresas brasileiras que condicionam sua eficiência produtiva e suas vantagens específicas ao acesso a matéria prima abundante.

3.9. Uruguai

O Uruguai, outro país membro do Mercosul, é o segundo principal receptor de investimentos brasileiros (superado apenas pela Argentina). No período analisado, foram identificadas quase três dezenas de projetos de empresas brasileiras, o que, de certa forma, dada dimensão modesta do mercado interno uruguaio, constitui volume bastante relevante.

No ano de 2007, devem ser destacadas indústrias alimentícias, como Mafrig e Bom gosto; em 2008, houve investimentos da Bidim (têxtil), da Bom gosto (alimentos), da JHSF (construção civil), da Camil (alimentos) e do grupo Votorantim (produtos químicos). Naquele ano, ao lado dos projetos industriais, identificou-se investimento da Ação informática, empresa que presta serviços de tecnologia da informação e de distribuição de produtos da IBM, Oracle, EMC e RedHat. Nos dois anos seguintes, a indústria de alimentos perde participação entre os investidores, em benefício de outros segmentos mais complexos (e.g. mineração, energia, plásticos, produtos químicos). Nesse período, destacam-se as seguintes companhias: Vale, Petrobrás, Eletrobrás, Profinance, Tigre, Eurofarma e Intercity. Nos últimos tempos, aparentemente, houve diminuição no volume dos investimentos. O setor de serviços financeiros, em especial a abertura de agências bancárias, tem concentrado a maior parcela dos aportes dos dois últimos anos.

Deve-se destacar que o Uruguai, apesar do pequeno mercado consumidor, tem atraído muitos investimentos de empresas brasileiras, as quais apresentam excedente de capital e experiência na realização de grandes empreendimentos na área de energia e de mineração. A população relativamente rica e bem educada do Uruguai, além disso, é interessante para empresas prestadoras de serviços de alta tecnologia, as quais encontram, nos habitantes locais, mão de obra e consumidores necessários para seu funcionamento.

3.10. Venezuela

Apesar do potencial de seu mercado consumidor e da situação de membro em processo de adesão, a Venezuela não constitui destino muito relevante de investimentos brasileiros. Entre os anos de 2007 e 2008, empresas brasileiras anunciaram sete investimentos direcionados ao território venezuelano. Os dois mais importantes, em razão das quantias bilionárias envolvidas, foram feitos pela Braskem, destinados à fabricação de eteno, polietileno e polipropileno, produtos derivados do petróleo. Além disso, no ano de 2010, a Odebrecht anunciou que aporte de mais de US$ 50 milhões na área de exploração de petróleo. Conforme dados detalhados na tabela em anexo, a companhia brasileira e a estatal PDVSA acordaram constituir uma empresa de capital misto, a fim de explorar quatro campos de petróleo (Zulia). A filial da PDVSA terá 60% e o restante será da parte brasileira.

A Venezuela, em certo sentido, apresenta problemas semelhantes aos da Bolívia: instabilidade social, ausência de previsibilidade jurídica e institucional, predomínio de políticas econômicas nacionalistas. Na perspectiva do investidor privado, essas características aumentam o risco de investimento no país. Essa situação, entretanto, não obstou alguns investimentos importantes, baseados em expressivo know how de companhias brasileiras, no setor infra-estrutura e de processamento de materiais derivados do petróleo


4.  Considerações finais

Os investimentos diretos são a forma mais relevante de internacionalização produtiva. A proliferação de empresas transnacionais está intrinsecamente relacionada aos IEDs, os quais, durante muito tempo, eram originários apenas dos países desenvolvidos. O crescimento pujante de alguns países periféricos, somado à estagnação dos países ricos, possibilitou que grandes grupos empresariais de nações emergentes iniciassem processo relevante de internacionalização mediante investimentos diretos no exterior.

Os investimentos diretos brasileiros no exterior constituem, como no caso de muitos outros emergentes, fenômeno ainda incipiente. Embora a internacionalização produtiva das companhias brasileiras possa ser identificada em casos da década de 1970, pode-se considerar que esse processo tornou-se relevante, ainda que em situação adversa, apenas depois da abertura econômica promovida durante o governo Collor.

Conforme verificado no decorrer do trabalho, as multinacionais brasileiras optam pelo investimento no exterior por razões diversas, entre as quais se destacam: diversificação de riscos, o uso de vantagens específicas e antecipação à concorrência. No caso dos investimentos direcionados aos países da América Latina, o uso de vantagens específicas (técnicas e econômicas) e a antecipação à concorrência são os principais determinantes do investimento direto de empresas brasileiras.

Alguns países da América Latina constituem destinos relevantes de investimentos brasileiros no exterior. Argentina, Uruguai, Colômbia, Chile e México podem ser considerados hospedeiros importantes de empresas multinacionais brasileiras, mesmo se considerado todo o universo de países receptores de investimentos diretos brasileiros.

Os países que mais atraem investimentos brasileiros na região são dois membros do Mercosul: Argentina e Uruguai. A proximidade geográfica, o arcabouço institucional da União Aduaneira, as semelhanças culturais, o intenso e tradicional fluxo comercial são os aspectos que determinam essa posição de destaque dos dois países. O Paraguai, apesar de membro do Mercosul, apresenta mercado interno pouco atrativo, instabilidade política e institucional, bem como ausência de recursos naturais relevantes em seus território, características que não favorecem os investimentos diretos de empresas estrangeiras.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que os investimentos diretos brasileiros na América Latina apresentam tendência de crescimento e de diversificação. Em análise prospectiva, a entrada da Venezuela no Mercosul, combinada com o potencial energético e com o mercado consumidor relativamente afluente do novo membro do bloco, pode favorecer a política de investimentos brasileiros para toda região norte do subcontinente, o que alteraria substancialmente as características dos aportes brasileiros na América do Sul.


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Autor

  • Mauro Kiithi Arima Junior

    Bacharel em Direito e Relações Internacionais pela USP. Especialista em Direito Político, Administrativo e Financeiro pela FD USP. Especialista em Política Internacional pela FESPSP. Mestre em Direito Internacional pela USP. Doutor em Direito Internacional pela USP. Advogado, professor e consultor jurídico.

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Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

KIITHI, Mauro Kiithi Arima Junior. Investimentos diretos brasileiros na América Latina. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 24, n. 5915, 11 set. 2019. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/72715. Acesso em: 25 abr. 2024.