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Defesa do idioma

Defesa do idioma

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  Estimei ler o artigo de José Guilherme Merquior, no JB de 04/01/83, no qual o crítico deplora a penúria de nossa fala portuguesa, que anda pobre e trôpega e conclui que “compete a todos nós concitar os poderes públicos e as autoridades do ensino a pôr cobro a essa situação alarmante” (sic).

Concordo com o ensaísta que “alguém precisa realmente cuidar um pouco mais da nossa pobre língua” (sic). Só não concordo é que se deva pedir ajuda às autoridades públicas. A luta em prol do português desaparece gradualmente e não encontra reforço nos meios oficiais. Prova disso e causa dessa situação são a extinção do latim e o  ridículo número de aulas de gramática nos cursos secundários.

Sugiro que o JB seja esse “alguém” em benefício da preservação do nosso idioma. Não na atitude do México (JB de 16/11/82), tentando criar comissão para a sua defesa, que neutralize a influência cultural  de outros países. Muito menos imitando The New York Times Magazine com a sua seção semanal On Language ou O Estado de São Paulo com suas Questões Vernáculas semanais.

 O que estou sugerindo é que JB seja o paradigma do seu uso escorreito, em todas as suas matérias publicadas, tentando assim evitar conspurcações do idioma, que são arriscadas, em face do perigo de a língua se esfacelar e perder, desse modo, o seu poder comunicativo.

 Não basta o JB reformular as suas normas de redação. É preciso que todos os seus redatores e colaboradores usem essas normas de correção de linguagem e, ao mesmo tempo, eliminem  definitivamente das suas matérias publicadas as palavras estrangeiras totalmente  dispensáveis, desde que haja em português a palavra correspondente.

A título de exemplo, aqui seguem algumas expressões usadas diariamente pelo JB, totalmente dispensáveis, uma vez que existem em português palavras que representam a mesma coisa. Exemplos com o vernáculo correspondente.

 1 - Outdoor - cartaz, cartazão.  2  - Commercial -  anúncio, propaganda. 3 - Container - recipiente, canastrão,  cofre de carga, invólucro. 4 - Open market - mercado aberto. 5 - Borderaux - pasta, relatório, registro.  6 - Voo charter - voo fretado, voo de fretamento. 7 - Marketing - mercadologia, mercadização. 8 - Shopping center - centro de compras. 9 - Slogan - lema. 10 - Standard - padrão.  11 - Staff - assessoria, pessoal, quadro, assistência. 12 - Codiname - cognome. 13 - Performance - rendimento, resultado. 14 - Ferry-boat - balsa.  15 - Hall - saguão, sala de entrada. 16 - Holding - englobadora, empresa-teto. 17 - Lingerie - roupa branca. 18 - Trading - comercializadora. 19 - Underwriting - subscrição, compromisso. 20 - Score - contagem, resultado, marcação. 21 - Comité - comissão, junta, grupo. 22 -  Croquis - esboço. 23 - Ersatz - sucedâneo. 24 - Feedback - realimentação. 25 - Design -  projeto. 26 - Ranch - fazenda. 27 - Panel - mesa redonda. 28 - Know-how - técnica. conhecimentos técnicos, culturais e administrativos. 29 - Evidence - prova. 30 - Leasing -  arrendamento.  31 - Script - texto. 32 - Relax - descanso.

Sei que não é fácil para um periódico , como o JB, lutar por isso, dados os problemas de pessoal etc., com que se defronta, sem dúvida alguma. Mas há sempre uma saída. Contrate o JB um revisor, pague melhor o funcionário encarregado dessa parte, coloque  nas suas mãos o excelente Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida para ele consultar, antes de permitir o uso de palavras estrangeiras totalmente dispensáveis.

Só assim é que o JB estará usando a medicação certa para a cura da lepra linguística, assumindo a posição de alguém que irá cuidar “um pouco mais da nossa pobre língua” (sic), no dizer do ensaísta. - Máriton Silva Lima.

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Jornal do Brasil Ltda, Rio de Janeiro, 21/01/83.


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