Greve e Copa do Mundo FIFA

07/06/2014 às 14:57
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Greves e movimentos reivindicatórios às vésperas da Copa do Mundo. Poder privado e exclusão social.

Os meios de comunicação de massa, em especial aqueles seleto grupo que controla a notícia no Brasil, e porque não, que decide pela grande maioria da população, esta em polvorosa em razão dos movimentos de paralisação e greve justo às vésperas da Copa do Mundo de Futebol da Fifa. Arrepiam-se só de pensar em movimentos similares durante o evento. É necessário que o poder público haja, dizem de forma categórica!

Não vi, e confesso que não tenho contato com todos os meios de comunicação (se bem que acho que não é necessário pois que a opinião é sempre a mesma), discutir-se o motivo destas paralisações e manifestações. Apenas e tão somente são taxadas de oportunistas, aproveitadoras, casuístas e etc. Também pudera, os meios de comunicação, no Brasil, jamais estão ao lado do povo e das pessoas humildes, daquelas que, além da sua força de trabalho, possuem apenas a capacidade de indignação.

Os movimentos de reivindicação, de paralisação e etc. não estão aproveitando-se da época de Copa do Mundo da Fifa.

Embora o Governo Federal, aos poucos, esteja dando voz e vez aos pobres e humildes, é ainda através de um evento internacional enorme como este que se pode mostrar ao mundo a realidade precária em que a maioria da população brasileira vive. E esta realidade é fruto de sonegação fiscal, desmandos, lavagem de dinheiro e etc., na certa realizada pela elite nacional conservadora e burocrática, que critica bolsa família e sistema único de saúde, mas não paga suas contas. Não fosse a sonegação, a população pagaria quase trinta por cento a menos de impostos (http://www.sul21.com.br/jornal/carga-tributaria-e-sonegacao-fiscal-1a-parte/ - acesso 06 de junho de 2014). Note-se que no Brasil tributa-se muito o trabalho, a produção e o consumo, e pouco a especulação.

As pessoas necessitam melhorar sua condição social. Reduzir a desigualdade entre ricos e pobres. Não basta apenas políticas públicas de inclusão. O que a parcela mais sacrificada da população está vendo é que quem a escraviza com salários baixos e poucas possibilidades de ganho e crescimento, é o poder privado. E é por isso que reivindica. É por isso que grita. Agora chega, dizem! Está na hora de sermos vistos e ouvidos e de termos direitos reais sobre os bens produzidos no país. Chega de concentração de renda e de extremo poder privado em detrimento da população, em sacrifício da democracia.

Para provar o que está dito supra basta uma análise na realidade presente: hoje, no Brasil, a forma de uma pessoa de classe média ou média baixa manter o padrão de vida dos pais é o serviço público, alcançado através do concurso público. Vários empregados das grandes redes de imprensa por exemplo, hoje, buscam, em razão dos salários rasos pagos por seus empregadores no Brasil, esta opção. Na época de seus pais o capital privado pagava salários médios mais altos. A realização econômica e profissional da classe média podia-se fazer junto à iniciativa privada sem a necessidade de um número excessivo de trabalho extraordinário, dois empregos e etc. Nos últimos anos não, não mais é assim. Para que o trabalhador tenha um padrão razoável de vida e de salário é necessário trabalhar por doze, treze horas e ter mais de um emprego. Do contrário, o ganho é baixo, muito baixo.

E é sabendo disso que os servidores públicos, por exemplo, fazem greve. Se não a fizerem vão perder o pouco que ainda têm. O serviço público deixou de ser uma boa opção em razão de seus atrativos como garantia no emprego por exemplo para ser a única opção. E em sendo a única opção, para que atrativos? Num mundo de uma opção, não há opção. Não havendo opção, pra que atrativos?

É por isso que se faz necessário repensar o presente e os movimentos havidos em todo o país, em especial em São Paulo, não para tê-los como oportunistas, mas para que sejam vistos, quem sabe, como a última forma de se chamar a atenção à escravidão privada que vive boa parte da  população obreira no Brasil, vítima de uma desigualdade social brutal, capitaneada pelas grandes empresas privadas nacionais e internacionais e com o apoio da mídia nacional.

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Sobre o autor
Rafael da Silva Marques

Juiz do Trabalho titular da Quarta Vara do Trabalho de Caxias do Sul;<br>Especialista em direito do trabalho, processo do trabalho e previdenciário pela Unisc;<br>Mestre em Direito pela Unisc;<br>Doutor em Direito pela Universidade de Burgos (UBU), Espanha;<br>Membro da Associação Juízes para a Democracia

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