Do suposto Estado Islâmico de Dilma Rousseff aos degoladores de Alckmin

26/09/2014 às 08:20
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Quem prestar atenção aos telejornais diários conseguirá entender como e por que o telejornalismo brasileiro está totalmente comprometido com a barbárie produzida pelos norte-americanos no Oriente Médio.

É notável como o jornalismo brasileiro insiste em endossar a política externa belicosa dos EUA e em criminalizar a política externa responsável feita pelo Brasil. Isto ficou claro no Jornal da Gazeta de hoje.

O telejornal desqualificou o discurso de Dilma Rousseff na Assembléia Geral da ONU dizendo que ela condenou o ataque norte-americano ao Estado Islâmico. O que a presidente do Brasil criticou, entretanto, foi a violação do espaço aéreo da Síria, o desrespeito à soberania de um país que faz parte da própria ONU. A política externa brasileira é pautada pelo respeito às Leis Internacionais e, em decorrência, não admite o unilateralismo belicoso dos EUA.

Além de associar Dilma Rousseff injustamente ao terrorismo islâmico, o telejornal noticiou de maneira positiva o discurso de Obama na ONU. O telejornal sugeriu ao respeitável público que a posição dos EUA em relação ao Estado Islâmico é correta. Os ataques aéreos na Síria seriam justificáveis porque vários estrangeiros foram degolados pelos terroristas. Em nenhum momento o telejornal fez referência à história recente da região, que foi intencional e maldosamente desestabilizada pelos EUA.

Síria e Líbia não eram paraísos antes das guerras sujas promovidas em seus territórios por norte-americanos e europeus. Em ambos havia vida social intensa, relações políticas civilizadas e um ambiente econômico estável capaz de proporcionar bem estar à maioria dos sírios e líbios. O estado lastimável em que a Síria e a Líbia se encontram na atualidade pode e deve ser em parte colocada na conta da política irresponsável, belicosa e imperial conduzida por Barack Obama.

Por razões que ignoro, o Jornal da Gazeta sempre endossa a política externa dos EUA. O que quer que os norte-americanos façam é considerado justo, correto e inquestionável. Nada do que a Presidente do Brasil diga sobre as ações dos EUA no Oriente Médio merece ser levado em conta pelos telejornalistas da Rede Gazeta.  As notícias internacionais são narradas sem contexto histórico. A conclusão óbvia a que se pode chegar é a seguinte: não há jornalismo internacional no Jornal da Gazeta, apenas propaganda dos EUA e contra o Brasil. Tudo se passa como se a banda pública de transmissão não tivesse sido concedida à Rede Gazeta pelo Brasil e sim pelos EUA.

Os degoladores do ISIS são tratados pelo Jornal da Gazeta como terroristas perigosos. Os terroristas islâmicos são retratados como bárbaros que merecem ser despedaçados por bombas made in USA. Os bombardeios dos EUA são legítimos mesmo que ocorra violação unilateral da Lei Internacional que garante a soberania da Síria. Até a data de hoje, os milicianos Estado Islâmico parecem ter degolado 3 ou 4 estrangeiros na frente das câmeras. Isto bastou para que o Jornal da Gazeta apoiasse os ataques dos EUA na Síria.

A letalidade do Estado Islâmico é, porém, muito inferior a da PM de São Paulo. No Estado em que a Rede Gazeta tem sua sede e opera os soldados comandados por Geraldo Alckmin matam 5 pessoas a cada 2 dias http://noticias.r7.com/sao-paulo/pms-de-sp-matam-5-pessoas-a-cada-2-dias-22092014 . Vários dos paulistas mortos nos últimos meses são inocentes. Alguns deles estavam desarmados e contidos quando foram abatidos a tiros em frente a cameras de segurança ou de curiosos.

Vejo o Jornal da Gazeta todos os dias. Nunca vi seus telejornalistas tratarem os assassinatos cometidos pela PM/SP com o mesmo rigor dispensado aos assassinatos cometidos pelos terroristas do ISIS. Até a presente data nenhum deles exigiu que o Palácio dos Bandeirantes e a sede do comando da PM/SP sejam destruídos por bombas made in USA para que a população paulista seja protegida. A interrupção violenta dos assassinatos cometidos por policiais contra civis inocentes em São Paulo não interessa à Rede Gazeta? Porque somente os assassinatos cometidos na Síria pelos terroristas devem ser interrompidos com o uso da força bruta?  Os responsáveis pelo Jornal da Gazeta acreditam que os brasileiros mortos pelos degoladores de Alckmin não tem o mesmo valor humano que os europeus e norte-americanos degolados pelos terroristas do Estado Islâmico?

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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