"A ciência, como a linguagem, é a propriedade comum de um grupo ou então não é nada. Compreendê-la é compreender o que esse grupo valoriza, tolera e desdenha"

Como T. Kuhn, K. Popper e I. Lakatos encaram linguagem e ciência.

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"A ciência, como a linguagem, é a propriedade comum de um grupo ou então não é nada. Compreendê-la é compreender o que esse grupo valoriza, tolera e desdenha". Como T. Kuhn, K. Popper e I. Lakatos encaram linguagem e ciência.

Ao tratar das revoluções científicas, Thomas Kuhn, em “A estrutura das revoluções científicas”, considera a progressão científica sobretudo por dois caminhos: um por meio de um processo cumulativo que acontece através da ciência normal, tendo como base o aprofundamento de determinado paradigma já estabelecido, seguindo regras de um arcabouço metodológico e semântico e outro “ (...)não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente redundando em uma revolução científica”. Sobre a citada quebra ou troca de paradigmática, onde um paradigma científico correntemente aceito, em conflito com outro saber revolucionário, este último desafiando o anterior, é substituído por um novo paradigma, aí teríamos, portanto, uma revolução. Os principais modos com que se dá desse processo revolucionário seriam a revolução por ruptura e a substituição paradigmática total ou parcial.

 

Tal substituição paradigmática se relaciona diretamente com a aceitação de um grupo, que em um tempo tinha como “norte científico” ideias agora superadas pela assunção de um novo modo de pensar, valorizado, em detrimento daquele anteriormente aceito. Sem tal aceitação, não se pode falar em um “novo paradigma”, pois a ciência só é ciência se entendida assim não apenas pelo(s) cientista(s) que a estuda e desenvolve, mas também por seus pares.

 

Popper, por sua vez, defende a ideia de refutação para o avanço da ciência. Aproximando as ciências naturais das ciências sociais o autor propõe a “unidade metodológica”, enxergando para ambas áreas da ciência formulações de sistemas teóricos gerais. Em “Epistemologia sem um sujeito conhecedor” Karl Popper defende a ideia da existência de três mundos: um dos objetos físicos, outro dos estados subjetivos e um terceiro do conhecimento objetivo. De acordo com o autor este terceiro mundo prescinde de um “sujeito conhecedor”. Separando-se o mundo das teorias científicas do sujeito conhecedor, e distinguindo claramente o conhecimento considerado subjetivo daquele considerado objetivo, demarca-se a ciência e não-ciência pelo falsificacionismo. A epistemologia sem um sujeito conhecedor parece produto de uma ciência madura, dispensando a possibilidade de que, a priori, teses científicas sejam verdadeiras. Ao contrário, até que se prove o contrário, as teses são falsas.

 

Popper, portanto, nega o subjetivismo, considerando na construção do saber científico os elementos do terceiro mundo, àqueles “objetivos” e refutáveis. Quando se assume tal concepção, remete-se a valores de grupos que refutam demais teses que são, na linguagem científica e nos seus símbolos e premissas, relativizadas. Seria, portanto, na aceitação do grupo, e não no subjetivismo do sujeito conhecedor, que se baliza o progresso científico.

 

Lakatos afirma que a ciência não pode ter a mesma importância se não possui uma filosofia questionadora, com tal filosofia oferecendo um método que tente distinguir a história da ciência da prática científica, com a mesma sendo também considerada um programa de pesquisa, ideia fortemente relacionada à do “sujeito construtor de conhecimento”. Este último conceito discorre a respeito do pesquisador e sua interação não trivial entre os conhecimentos já conhecidos e os novos conhecimentos desenvolvidos. Ao indivíduo cabe a tarefa de estudar, interpretar, analisar e estudar o objeto de seu estudo, a fim de entendê-lo e, ao mesmo tempo, ampliá-lo. Assim, nada do que temos foi nos dado em uma única vez, e não está pronto e terminado. Quando trata o conceito de “núcleo duro” para a ciência e a criação de um cinturão de proteção discorre sobre como a maturidade científica está ligada ao fortalecimento dos programas de pesquisa, uma vez que a “ciência madura” consistiria em não apenas nos fatos novos, mas também em novas teorias auxiliares. A heurística positiva há um esquema geral de cintos protetores e seria fruto de uma assunção de afirmações previamente questionadas, desenvolvendo, a partir daí, elementos refutáveis no próprio programa de pesquisa, sendo útil para que cientistas não se confundam, indicando caminhos. Por outro lado, a heurística negativa (por exemplo, um diagnóstico médico através da exclusão de sintomas para busca de um diagnóstico). Ainda de acordo com o autor, o progresso do conhecimento depende da existência de programas concorrentes, com a superação deste apenas no caso de haver alternativa, ou seja, programa, melhor. Ao invés da crença de que novas teorias conflituosas com as aceitas até então sejam suficientes para colocar em xeque estas deve-se considerar um processo, muitas vezes longo, de desenvolvimento de tais refutações e por conseguinte da construção de conhecimento. O conhecimento científico seria construído por fenômenos e observação empírico-dedutiva, com nenhuma ciência, por óbvio, tendo valor irrefutável.

 

Sobre o autor
André Port Artur de Paiva Torres

Interessado em Direito Administrativo. Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bacharel em Administração Pública pela fundação João Pinheiro.

Informações sobre o texto

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