Insula, dentre todos os meus medos, temores e a enorme insegurança, aliada à culpa por ter causados danos à minha filha, fiz essa busca e a encontrei. Você me deu a atenção que eu precisava e que até agora não havia percebido em ninguém dos que me acompanharam. Foi o retorno bom em meio a tantas coisas ruins. Adorei tê-la encontrado! Sempre fui muito cobradora, muito direta, muito insana, até. Minha filha nasceu quando eu tinha 39 anos e foi fruto de um desses acasos que ninguém explica. É meu bem maior! Seu pai, comparativamente a mim, detinha um poder aquisitivo muito além do meu e foi um grande pai. Claro que falhou, mas a culpa foi minha. Não o fiz reconhecer minha filha pelo medo de que, mais tarde, na adolescência, ela quisesse ficar com ele pelo dinheiro em si, mesmo que eu a tenha criado com todo o meu amor e com o respeito que é devido a toda e qualquer criança. Acho que me dei bem nesse aspecto. Tenho a melhor das filhas e vejo uma pessoa de bem, em sua pouca idade, segurando minha mão nas minhas loucuras. Assumi o compromisso de, jamais, tentar prejudicar o pai dela e o fiz. Mesmo após sua morte, mesmo com as meia irmãs sabendo da existência de minha filha, ainda assim, relutei. Só o fiz um ano depois quando elas se afastaram. Prover sua educação, suas necessidades básicas foi complexo. Venho de cargo de chefia, com salário bom e liberdade de ação dentro da empresa. Mas, com tudo isso, após a morte do pai da minha filha veio a depressão, quatorze quilos a mais, a empresa em que eu trabalhava fechando com a morte do meu patrão e eu, cerrando portas e uma época boa da minha vida. Me perdi e tudo foi muito ruim. Veio uma doença renal que me impede de trabalhar; a aposentadoria não desejada, mas já possível e então, necessária. Vieram as perdas, o medo, a mudança de colégio particular da minha filha, o abandono do balé, os passeios, os óculos importados sendo trocados por uma vaga junto a uma instituição para deficientes visuais - única forma de conseguir vale transporte para minha filha deslocar-se ao colégio, e conseguida porque minha filha tem deficiência visual não aparente, mas sérias. Um olho com 15% de visão e outro com somente 5%. Lindos olhos verdes que escondiam-se por trás de grossas lentes. Por isso as lentes importadas, e, depois, aos treze anos, a possibilidade do uso de lentes de contato, a realização da minha filha! Vê-la encapando cadernos de ano anterior com as mesmas capas para o novo ano doíam e ela o fazia sem pudor algum, com capricho, com respeito. Pequei, sim! E culpo-me, e me perco e me desanimo e desejo sair cuspindo fogo para atingir tudo e todos. Não o faço, mas o desejo! E minha dor física está aqui e meu salário, antes bom, nos últimos anos mal dá para o sustento de nós duas. Uso medicamentos o tempo todo e tais não são fornecidos pela rede pública. Quatro cirurgias renais e sem resultado positivo. Tudo assusta e portanto, a pressa, a insatisfação. Ninguém erra porque quer. Concordo! Sou prova disso. Admiro pessoas que se doam - já fiz isso por muitas e muitas vezes - e você também o faz. Vale a pena. Ajuda, quem como eu, está perdido, mesmo que escondido sob pseudo-sabedoria. Não é sabedoria é urgência e aí, depois de longa espera, um resultado negativo que tive que repassar à minha filha, que de tanto querer preservar, sai à luta, meio às cegas, com dor física e emocional, tentando garantir-lhe o que eu, hoje já não posso. Obrigada! Você conseguiu me orientar e isso é muito bom. Obrigada pelo seu tempo dedicado a algo que só lhe acrescenta o prazer em ser útil, compartilhando o que bem conhece, e abrindo os olhos de cegos, que como eu, só veem o que querem. Um abraço!