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A reconstrução do Brasil pelas mãos do povo nas ruas

24/08/2013 às 09:43
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Como explicar tantos assaltados aos cofres públicos e o país manter-se vivo e rico? Como explicar tanta corrupção e o povo manter-se fiel aos corruptos e corruptores? Como explicar tanta incompetência e ineficiência dos governos e o povo manter-se calado e silencioso?

"...

Vem, vamos embora

Que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora

Não espera acontecer

..."

Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores

Geraldo Vandré

Os fatos recentes vindos das ruas são relevantes para a análise da atual conjuntura social, política e econômica do Brasil.

Nada melhor do que começar essa análise sob a inspiração do canto inconfundível da música e letra de Gerando Vandré, entoada nas ruas, nas fábricas e nas universidades em tempos de luta nacional contra a ditadura em que se consagrou o hino da libertação: Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, no bom e velho refrão:

" ...

Vem, vamos embora

Que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora

Não espera acontecer

...."

Fique e estou surpreso com a força vinda das ruas! Por isso prefiro tratar da questão na primeira pessoa, embora não seja essa a minha predileção literária.

Assim continuo a narrativa: no último dia 5 de junho, em Congresso do CONPEDI, ocorrido em Curitiba, no UNICURITIBA (Centro Universitário de Curitiba) presidia eu a Mesa de Debates sobre o tema da Corrupção. Em minha fala final, no fechamento dos trabalhos, dizia eu aos jovens que lá estavam que no Brasil se fazia passeata pela liberação da maconha, pela demarcação das terras indígenas, pela liberdade sexual e tantas outras bandeiras, mas ninguém ia às ruas protestar firmemente contra a corrupção. Então, eu convocava os jovens a protestar contra os corruptos e corruptores.

Pois bem: coincidentemente, uma semana depois, estoura no Brasil, de norte a sul, de leste a oeste do país, uma onda de protestos contra a corrupção, como um verdadeiro movimento nacional de indignação contra o estado de coisas ruins que acontecem nesta nação, principalmente a partir do maior escândalo de corrupção no Brasil: o mensalão! O emblemático caso da institucionalização da corrupação, do assalto aos cofres públicos à luz do dia, da engenharia e reengenharia de alimentação do poder através do poder, com o mecanismo da compra de votos e de apoio parlamentar no Congresso, além da insatisfação geral contra a ineficiência do Estado.

Muito já disse nos corredores da política de que o Brasil é sim um ótimo caso para teses universitárias. Como explicar tantos assaltados aos cofres públicos e o país manter-se vivo e rico? Como explicar tanta corrupção e o povo manter-se fiel aos corruptos e corruptores? Como explicar tanta incompetência e ineficiência dos governos e o povo manter-se calado e silencioso?

Se Deus é brasileiro? É sim, ele é?! Nunca tive tanta certeza disso quando agora, finalmente, vejo que o povo acordou e decidiu sair às ruas em protestos contra tudo e contra todas as instituições corruptas e ineficientes!

Vimos fato inédito: os Poderes Executivo e Legislativo acuados pelo povo! Outro fato inédito: o Congresso Nacional tomado por tanta gente honesta: o povo brasileiro!

As passeatas iniciadas em São Paulo contra as tarifas das passagens dos ônibus urbanos bem demonstraram que o motivo inicial - aumento da tarifa - nada mais fora do que a gota d'água no oceano da insatisfação popular. Afora os desvios cometidos pelos vândalos e os excessos praticados pela Polícia, é certo que o povo foi, está e continuará nas ruas. Críticas surgiram por que muitas foram as bandeiras levantadas nas passeatas. Não há que se fazer críticas! De fato, os problemas são muitos diante da ineficiência do Estado brasileiro para com o seu povo trabalhador e sofrido!

Se, de um lado, restou evidente a desarticulação política nas ruas, por falta de uma bandeira específica; de outro, provou-se de forma inconteste a insatisfação geral do povo.

As passeatas relevaram e ainda estão por revelar que o povo pode, se quiser e se assim entender e desejar, de forma organizada, até tomar o poder! As passeatas provaram e estão a provar a incompetência do Estado brasileiro até para lidar com os problemas trazidos à baila e postos à mesa. Os exemplos da incompetência de Dilma são: plebiscito para a reforma política e a importação de médicos!

As passeatas aqui no Brasil faz lembrar a Marcha sobre Versalhes, também conhecida como Marcha de Mulheres a Versalhes. Esse histórico acontecimento foi o grande marco na Revolução Francesa. Contam os historiadores que o episódio teve início entre mulheres dos mercados de Paris que, na manhã de 5 de outubro de 1789, protestavam contra o alto preço e a escassez do pão. As mulheres se uniram aos revolucionários que exigiam reformas políticas liberais e uma monarquia constitucional para aFrança. Milhares de cidadãos parisienses, encorajados pelos agitadores revolucionários, saquearam o arsenal de armas da cidade e marcharam rumo ao Palácio de Versalhes. A multidão sitiou o palácio e exigiu do Rei Luís XVI mudanças. O evento marcou o fim da autoridade real.

Aqui as passeatas têm, mutadis mutandis, finalidade não literal, mas teleologicamente coincidente com a Marcha sobre Versalhes, embora em tempo diferentes. O que o povo brasileiro quer não é tomar o poder, mas fazer com que o poder trabalhe em prol do povo, com competência e eficiência e sem corrupção!

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O povo quer a reconstrução do Brasil! Um país melhor e mais justo para os brasileiros! Um país limpo, sem corrupção! E é exatamente por isso que os Poderes Executivo e Legislativo estão acuados!

É hora de eliminar do poder os corruptos e corruptores; é hora de criar um grande movimento nacional em prol e a favor do Brasil e de seu povo!

Deve-se convocar o presidente, congressistas, prefeitos e governadores, além dos grande empresários para o Movimento Nacional em Prol do Brasil! A participação dos impérios financeiros é fundamental para a reconstrução do Brasil. Os bons exemplos de David Rockefeller e Andrew Carnegie que viveram para fazer dinheiro e doá-lo às instituições norte-americanas - transformaram os EUA na maior economia do mundo.

Os EUA, então falidos no início do século XX, ganharam projeção mundial a partir das doações desses grandes empresários: Carnegie e Rockefeller. Ambos eram rivais no mundo dos negócios, mas parceiros nas doações às instituições. Com os bilhões de dólares doados, a valores presentes, Fundações foram criadas, Universidades foram fundadas, Escolas e Institutos Científicos foram constituídos e mais de 55 bibliotecas públicas foram construídas nos Estados Unidos.

Rockefeller e Carnegie doaram bilhões de dólares na certeza de que a então nova filantropia - a filantropia da doação de riquezas - seria o caminho para educar o povo e elevar os Estados Unidos ao topo das economias. Quando tudo estava ruim e vivia-se o caos, Rockfeler e Carnagie enxergaram a reconstrução do país através da filantropia, com o patrocínio das universidades e do investimento na educação. Rockfeler bem compreendia e compreendeu que o homem rico deveria devolver o dinheiro para construção da Nação, sob pena de morrer desgraçadamente.O então homem mais rico do mundo, após a sua aposentadoria, passou 40 anos doando a maior parte do seu patrimônio às instituições educacionais na visão da melhoria do bem estar do povo norte-americano.

Hoje, o Brasil - país rico, de povo pobre - por sua juventude atuante e consciente que está nas ruas - deve banir os políticos corruptos da política, deve eleger gente competente e comprometida para com a causa do Brasil e deve convocar os grandes empresários ao caminho da filantropia para que todos, juntos, colaborarem, ao lado do Estado, para a reconstrução de uma nova Nação, um novo país com boas escolas públicas e qualidade no ensino, com hospitais e médicos com padrão FIFA, com universidades equipadas e professores e pesquisadores bem remunerados, com policias equipadas e prestigiadas e sem corrupção.

A corrupção deve ser banida do país! Corrupção deve merecer pena máxima, inclusive de confisco!

O povo nas ruas deve exigir o verdadeiro pacto para a reconstrução moral do Brasil.

Não há e não temos alternativa: faremos isso agora, neste momento de consciência e indignação, ou aguardaremos mais 500 anos!

Salvem o Brasil!

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Sobre o autor
Luiz Guerra

Sócio Fundador & CEO do Guerra Advogados. Advogado sediado em Brasília, com atuação nos Tribunais Superiores. Parecerista. Embaixador Cultural da Rede Internacional de Advocacia de Excelência. Professor Titular e Decano de Direito Comercial da Faculdade de Direito/UNICEUB. Professor visitante em Universidades e Escolas Jurídicas no Brasil e no exterior. Jurista (autor de mais de 50 livros publicados no Brasil e no exterior). Articulista (autor de mais de 250 artigos publicados no Brasil e no exterior). Doutrinador (citado em doutrina e julgados). Palestrante & Conferencista em Seminários e Congressos Nacionais e Internacionais. Membro Benemérito do Instituto dos Advogados do Distrito Federal (ex-Presidente). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros. Membro Efetivo do Instituto dos Advogados de São Paulo. Membro de Vários Institutos Culturais no Brasil e no exterior. Titular de comendas culturais e prêmios científicos nacionais e internacionais.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

GUERRA, Luiz. A reconstrução do Brasil pelas mãos do povo nas ruas. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n. 3706, 24 ago. 2013. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/25038. Acesso em: 12 mai. 2024.

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