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A 'Machosfera' e dignidade do gênero feminino na 'Nova Pólis

Agenda 06/03/2023 às 15:10

Ontem (05/03/2023), na Rede Globo de Televisão, melhor dizendo, Fantástico, a ‘Machosfera’ foi televisionada. Nas redes sociais existe uma "mundo" diferente da realidade. Não! Tão somente permitiu que as pessoas possam se expressar distantemente, do contrário seria briga física. É interessante verificar que a internet é a "Nova Pólis" para debates e discussões sobre a democracia. E democracia possui ideologias desde econômicas, políticas, religiosas.

Foi o tempo que os debates e as discussões ficavam restritas nos bares, nas praças públicas, dentro dos lares, nos espaços físicos do Congresso Nacional. E tem muito tempo. Com o acesso, a Internet é a "Nova Pólis". O Homo Sapiens Sapiens Conflictus direcionou todos os seus anseios e dúvidas existenciais para o meio digital. O anonimato, através dos comentários, nalgumas plataformas de blogues, garantem "ousadias" para "dizer verdades", em formas de comentários. Alguns personagens políticos disseram que "Fake news é verdade necessária". É de estarrecer vindo de "representante" do povo.

À questão dos "machos versus feministas". Sabemos que  Homo Sapiens Sapiens Conflictus é, independentemente de geolocalização, ideologia, etnia, sexualidade. Entre LGBT+ e não LGBT+ há os conflitos dentro das próprias comunidades. Na esteira de Justiça, o lado moral da internet, o presente artigo.

Lembro-me do programa Plantão da Madrugada ou Comando da Madrugada com o jornalista Goulart de Andrade. O bordão Vem Comigo, além dos conteúdos das reportagens, consagraram Goulart. Numa reportagem, o jornalista  Vem Comigo entrevistou mulheres. Essas mulheres iam às boates para encontrarem promissores homens. Homens com dinheiro. Sem rodeios e sem quaisquer vergonhas diante de  Goulart e câmeras, elas ficavam espreitando homens que chegavam para ingressarem na boate. Dois grupos de mulheres, um do lado de fora da boate, outro dentro da boate. Externamente, o grupo olhava para selecionar o alvo, sempre apresentando boas condições econômicas (automóvel, indumentária). Um delas entrava na boate para informar sobre o alvo. Informadas, dentro da boate, não demonstravam interesse, mas sondavam se o alvo iria consumir, e o que consumiria. 

Do livro Psicanálise Surpreendente (SILVA, Valmir Adamor da Silva. Psicanálise Surpreendente.3ª Edição. Revista e Atualizada. Editora Tecnoprint Ltda. 1985):

Com no psiquismo existe a lei da bipolaridade, pode ocorrer às vezes dois contrastes: a semelhança ser substituída pelo oposto. No amor, como ele o vê, há também um pouco da lei da compensação de Adler. Quem ama procura, no parceiro, o seu ideal. Esse ideal, em última análise, é a compensação. 

Busca-se. então, em outrem, aquilo que lhe falta. Isso se dá tanto no terreno físico como no psíquico. A mulher necessita do homem por ser ele forte e lhe oferecer proteção. Já a virago casa-se com homem fraco, franzino, efeminado, a fim de dominá-lo.

Realço "virago". Qual é a definição?  Dicionário Houaiss:

substantivo feminino

1 mulher de aspecto, inclinações sexuais e hábitos masculinos; fanchona, paraíba.

Assim como o Direito se transforma, os dicionários também, ambos pelas consequências das mudanças na sociedade. Quando se fala em "palavras", a ideia central é "dicionário". Ainda em Houaiss:

Dicionário

substantivo masculino

1 Rubrica: lexicologia.

compilação completa ou parcial das unidades léxicas de uma língua (palavras, locuções, afixos etc.) ou de certas categorias específicas suas, organizadas numa ordem convencionada, ger. alfabética, e que pode fornecer, além das definições, informações sobre sinônimos, antônimos, ortografia, pronúncia, classe gramatical, etimologia etc.

Todavia, palavras possuem muito mais do que "significante" e "significados". Pela linguística, palavras são formações de expressões vivas, mutáveis e identificadoras de culturas, sociedades, comunidades. Prossigo com o Dicionário Houaiss:

Linguística 

substantivo feminino

Rubrica: linguística.

ciência que tem por objeto: (1) a linguagem humana em seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico, social e psicológico; (2) as línguas consideradas como estrutura; (3) origem, desenvolvimento e evolução das línguas; (4) as divisões das línguas em grupos, por tipo de estrutura ou em famílias, segundo critérios tipológicos ou genéticos.

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A palavra "virago" teve o seu momento histórico e psicológico. Atualmente, pela Era dos Direitos Humanos, inconcebível admitir que "virago" seja "mulher de aspecto, inclinações sexuais e hábitos masculinos; fanchona, paraíba". Só a palavra "paraíba" como sentido de "mulher com inclinações sexuais e hábitos masculinos" denota racismo, ou seja, mulheres paraibanas são masculinizadas. E diante de uma sociedade heteronormativa, as "paraibanas" não são "boas mulheres" para casamentos.

Se a "virago" é "masculinizada", pela teoria de Cesare Lombroso tais mulheres são potenciais criminosas (natas) [1].

Analisemos conjuntamente:

Busca-se. então, em outrem, aquilo que lhe falta. Isso se dá tanto no terreno físico como no psíquico. A mulher necessita do homem por ser ele forte e lhe oferecer proteção. Já a virago casa-se com homem fraco, franzino, efeminado, a fim de dominá-lo.

A frase "A mulher necessita do homem por ser ele forte e lhe oferecer proteção" é de uma construção ideológica de superioridade do gênero masculino sobre o gênero feminino. A ciência sobre o comportamento humano Por séculos, a mulher cisgênero foi idealizada como "sexo fraco", "sexo com pouca inteligência" etc. Tais construções ideológicas foram desconstruídas quando as mulheres ingressaram nas fábricas de materiais bélicos, na Primeira Guerra Mundial. Muito antes disso, por exemplo, no Império Romano, mulheres gladiadoras [2]. Na Idade Média, as mulheres cisgênero tinham iniciativa sexual, ou seja, não eram passivas (documentário History: Como o Sexo Mudou o Mundo).

Percebe-se — a "mulher frágil", a "mulher quieta", por não poder falar muito, ou ter que se dirigir, primeiramente aos homens —, nitidamente, a História foi, é e será, sem relativizações e revisões unicamente vertentes para defesa de um grupo.

No Fantástico há muito tempo, um homem foi entrevistado sobre o seu livro — desculpem-me, faz muito tempo que assisti e ainda não encontrei tal reportagem — comportamental sobre homens e mulheres. Para ele, os homens deveriam se adequar aos novos tempos. Poderia o sexo masculino pagar contas no primeiro encontro, mas nos outros encontros o sexo feminino deveria também pagar, ou seja, "meio a meio". Pela sua experiência, a "ex" dele terminou e ele soube que ela comprara automotivo, por padrões culturais, os homens (cisgênero) foram idealizados como provedores de tudo, enquanto as mulheres seriam passivas. Com o ingresso das mulheres (cisgênero) no mercado de trabalho, com os salários, inexiste, pelos "novos tempos", obrigação de os homens pagarem tudo e, como defesa, não pagarem para mulheres somente interessadas nos bens dos homens.

Tanto homens quanto mulheres, ambos cisgêneros, cometem "estelionato sentimental". Pelas estatísticas, os homens cisgênero cometem muito mais. Como os homens foram ensinados, pelo patriarcado, que deveriam prover os lares, pagarem contas quando saíssem com mulheres, gerações de homens cisgênero assim se comportaram. É compreensível o "cavalheirismo" dos homens quando as mulheres não tinham condições de se autoproverem economicamente. Todavia, o  "cavalheirismo" servia para demonstração de poder diante de outros homens. A mulher cisgênero, pelo patriarcado, pela condição imposta do próprio patriarcado para a objetificação à mulher, era um "troféu". Não à toa — o filme Titanic (1997) tem fundo de verdade — tanto o pai quanto a mãe escolhiam os pretendentes, para as suas filhas, pelas características socioeconômicas. Em tempos de patriarcado e restrições às mulheres de trabalharem fora do "lar doce lar", nada mais compreensível as escolhas dos pais: qual pai e mãe querem o pior para seus filhos? Condená-los, pelos olhar de condições sociais na atualidade, é aberrativo.

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Em outro artigo comentei sobre  Canal Livre: Massacre em Suzano - Parte 1 - YouTube. A psiquiátrica afirmou que a psicopatia é mais difícil diagnosticar em mulher. Neste parágrafo, alguns leitores, denominados "redpill", podem aproveitar parte do vídeo para espalharem "descontextualização", no sentido de que o gênero feminino é "ardiloso" e "perigoso" para os homens (cisgênero).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações sociais, com fortes influências no Direito, estão presentes neste início se século XXI. Paulatinamente, as mulheres (cisgênero) conquistaram espaços reservados unicamente aos homens (cisgênero): medicina; engenharia; motoristas de transportes públicos e de veículos da construção civil; Poderes da República como Executivo, Judiciário e Legislativo, e tantas outras áreas da sociedade brasileira. Se homens foram enganados por mulheres, ou tiveram decepções, por agirem com comportamentos de "patriarcado", pode-se considerar seus traumas e frustrações; os ataques às mulheres, como se o gênero feminino fosse mal em si, em essência, com fundamentos religiosos — o homem perdeu o Paraíso por culpa da mulher ao comer e oferecer o fruto proibido, a maçã. Sobre autoridade do homem:

 1 Tm 2:8-15:

Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade. Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas). A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso.

A frase acima foi extraída de uma comunidade "machosfera", de cunho religioso.

Aos leitores assíduos de meus artigos, o artigo  Entrevista com a fundadora do Grupo de Apoio à Mulher [GRAM], Solange Pires Revorêdo  possui, na segunda parte, considerações sobre mulheres vítimas de violências. Traumas profundos, desconfianças de homens, por serem homens. Percebo, salvo engano, que a "machosfera" é um defesa emocional contra os traumas do passado. Sem saberem como lidar com tais emoções (frustrações do passado), canalizam e transferem suas raivas para o gênero feminino, por serem seres humanos do sexo feminino. Assim como as mulheres cisgênero vítimas de violência masculina desenvolvem traumas, e necessitam de acompanhamentos profissionais na área de saúde (psicologia comportamental), os homens "machosfera" também necessitam. Isso não quer dizer que ficarão impunes, afinal, existem os manicômios — perdoem-me os verdadeiros "loucos". O "louco machosfera" no manicômio será avaliado, periodicamente, por equipe médica, para atestar ou não sobre a possibilidade de "viver em sociedade". Enquanto o "louco machosfera" não tiver condições de "viver na sociedade", no manicômio permanecerá. Agora, o "machosfera" é considerado "parcialmente louco", isto é, capacidade mental de entender, parcialmente, o ato, a pena será diminuída. Ou seja, há tipificação penal, de "louco", de "semilouco" ou de "são", a consequência não será "impunidade". Pela sociedade imbuída nos direitos humanos, "louco", "semilouco" ou "são" sempre existirão comportamentos humanizados dos agentes em relação aos seres humanos  "loucos", "semiloucos" ou "são". E sempre existirá uma resposta do Estado a qualquer violação dos direitos humanos.

Em relação à 'Nova Pólis', somente o novo nome; a humanidade continua barbaramente violenta.

NOTAS:

[1] — MACHADO, Daniel Dias. Et al. A teoria de Cesare Lombroso e sua influência na sociedade. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 06, Ed. 01, Vol. 07, pp. 57-73. Janeiro de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/cesare-lombroso, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/lei/cesare-lombroso.

[2] — Aventura na História. GUERREIRAS ESQUECIDAS: AS BATALHAS FEMININAS DE GLADIADORES. Disponível em:  Guerreiras esquecidas: as batalhas femininas de gladiadores (uol.com.br)

Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

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