Há nove anos, me lembro o como foi difícil decidir o rumo da minha vida profissional. Após a fase de indecisão, meu senso de justiça, somado a certa influência do meu pai, me fizeram escolher o curso de Direito. Muito embora tenha ouvido que enfrentaria grandes desafios, como memorizar leis, encarar um mercado de trabalho competitivo e até mesmo realizar o tão temido exame da Ordem, isso não me desencorajou.
Já na faculdade, me recordo da minha primeira surpresa: entre os 80 alunos da minha turma, a grande maioria eram mulheres. Até então, acreditava que o ramo jurídico era predominantemente masculino, mas já comecei a vivenciar uma nova realidade. Na minha jornada profissional, não foi diferente. Desde meu primeiro estágio, até a primeira atuação como advogada, fui liderada por grandes mulheres, que, mesmo jovens, impunham respeito e exerciam com maestria a posição de liderança. Essas mulheres me inspiram até hoje a ser uma pessoa mais segura, determinada e a acreditar que há espaço para o crescimento profissional de todas, se houver dedicação e esforço.
Mas, nem tudo foi um mar de rosas. Desde meu primeiro estágio, notei que o universo do Direito tinha alguns outros desafios: lidar com muitos prazos, pressão, grandes responsabilidades e, sobretudo, com pessoas. O fato de ser jovem e mulher, intensificam um pouco mais as coisas.
Ainda na época de estágio, me recordo de alguns tropeços e as dificuldades que surgiram a partir disso. Foi preciso ter humildade para assumir esses lapsos e, ao mesmo tempo, autocompaixão para que isso não me paralisasse e fizesse com que eu desacreditasse de mim. Contudo, para minha sorte, a maior parte dos meus colegas de profissão tiveram empatia comigo nesses momentos, e muito mais, valorizaram a minha atitude de transparência, do que me constrangeram pela falha em si.
Há quase três anos, ao começar a atuar como advogada, mais do que nunca, tive que vencer alguns temores e inseguranças. Para evitar conflitos, tinha uma grande dificuldade de me impor e me posicionar, mesmo em situações que exigiam isso. Contudo, a profissão me fez encarar de frente esse receio. Me recordo de algumas audiências judiciais que realizei para tentativa de conciliação ou produção de provas, onde tive que ser mais firme e me posicionar, para defender os direitos de meu cliente e até mesmo para exigir respeito pessoal, já que nem sempre houve cordialidade por parte de alguns colegas de profissão.
O sócio e grande líder no escritório onde atuo, sempre depositou muita confiança em mim e em toda equipe. Já tivemos que lidar com situações no dia a dia que exigiam importante tomada de decisões, proatividade, inteligência emocional e autoconfiança. Em muitos momentos, ao atender um cliente, por exemplo, me questionei se eu passava a credibilidade necessária, justamente por ser jovem e mulher. Por outro lado, via que minha colega advogada, também jovem, se mostrava mais segura e não se intimidava com esses fatores, o que me encorajou a lidar com essas circunstâncias de forma mais autoconfiante.
Outro grande e principal desafio da carreira jurídica é saber lidar com pessoas. Isso inclui ter uma relação harmônica com a equipe de trabalho e criar um bom relacionamento com o cliente, mas também abrange aprender a lidar com os funcionários dos fóruns, cartórios e repartições públicas e inclusive, com os advogados da parte contrária. Nem sempre a equipe estará motivada e engajada, nem sempre os funcionários públicos terão o mesmo senso de urgência que o nosso cliente e nem sempre haverá o respeito esperado do advogado da outra parte.
Por isso, no exercício da advocacia, cabe principalmente a nós, jovens e mulheres, o desafiador equilíbrio entre ser firme, exigente e impor respeito, mas sem jamais perder a empatia, compaixão e solidariedade, para preservar o lado humano que a profissão deve ter.
Desafios da jovem advogada na carreira
17/03/2023 às 18:26
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Laura Falsarella
Advogada e especialista em Direito do Consumidor do Quagliato Advogados
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