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Desemprego tecnológico:

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Agenda 21/02/2024 às 15:55

O atual nível de ação do Estado brasileiro para lidar com o desemprego tecnológico não é suficiente para atender a necessidade de proteção dos trabalhadores e evolução do mercado de trabalho.

RESUMO: A rápida evolução das novas tecnologias, agravada pelo contexto da pandemia de COVID-19, está remodelando radicalmente a economia global e redefinindo o cenário do emprego na era da "Indústria 4.0". Esta revolução, fundamentada em elementos como inteligência artificial, internet das coisas e big data, está substituindo rapidamente a mão de obra humana, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Apesar das promessas de eficiência e crescimento, a transição tecnológica enfrenta o desafio do desemprego tecnológico, exigindo uma análise abrangente para compreender suas complexidades e propor estratégias que mitiguem seus impactos.

Palavras-chave: indústria 4.0; novas tecnologias; substituição; mão de obra humana; desemprego tecnológico.


INTRODUÇÃO

O avanço inoponível e exponencial das novas tecnologias, acelerado pelo contexto da pandemia do COVID-19, tem instigado transformações significativas na economia global, delineando um novo paradigma no cenário do emprego.

A atual revolução, consagrada como "Indústria 4.0" – conceito desenvolvido pelo alemão Klaus Schwab –, é um catalisador de mudanças disruptivas que redefinem a dinâmica do mercado de trabalho em escala mundial, introduzindo novos processos, produtos e paradigmas de negócios que eram impensáveis há pouco tempo.

Nesse contexto da Indústria 4.0, que tem como protagonistas os sistemas inteligentes, internet das coisas (IoT)1, inteligência artificial2, big data3, entre outras, assistimos à substituição da mão de obra humana por esse conjunto de tecnologias numa velocidade assustadora.

Essa mudança radical impõe uma série de alterações na configuração e organização do trabalho, cujos efeitos reverberam de maneira mais acentuada em países em desenvolvimento, como o Brasil. Denominada em alusão à 4ª Revolução Industrial, essa transformação visa tornar gradualmente obsoletos os modelos convencionais de produção.

Enquanto essa revolução tecnológica promete desenvolvimento, aumento de lucros, redução de custos e eficiência na produção, depara-se com a lacuna crítica de não ser acompanhada pela criação de empregos na mesma velocidade, resultando no fenômeno do desemprego tecnológico.

Este fenômeno emerge como uma realidade tangível, reconfigurando a paisagem laboral e desafiando estruturas tradicionais de emprego. O Brasil, imerso na dualidade entre a promessa de eficiência tecnológica e a ameaça aos modelos consolidados de trabalho, confronta um cenário jurídico, social e econômico complexo.

Este artigo propõe, portanto, uma análise abrangente sobre o desemprego tecnológico no Brasil, visando compreender suas raízes, complexidades e implicações. A compreensão aprofundada desse fenômeno permite a identificação de estratégias necessárias para mitigar seus impactos, alinhando-se às demandas e desafios impostos pela revolução tecnológica na indústria 4.0.

INDÚSTRIA 4.0: A ASCENÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Embora pareça algo recente, a relação entre trabalho e tecnologia não é um tema atual e existe desde a Primeira Revolução Industrial.

Segundo Klaus Schawb, a palavra “revolução” denota mudança abrupta e radical4. E em nossa sociedade, as revoluções não ocorreram de forma isolada, todas foram acompanhadas de transformações sociais e tecnológicas.

O grande salto da evolução tecnológica foi a Primeira Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, por volta de 1760, e que foi marcada pelo vapor e pelo início da produção mecanizada. Foi um período de grande desenvolvimento tecnológico e que alterou completamente o mundo que até então todos conheciam.

A Segunda Revolução Industrial, iniciada no final do século XIX, foi marcada pela eletrificação e pela produção em massa da linha de montagem de Henry Ford (1913). Ela moldou o século XX, massificando a produção, elevando a renda dos trabalhadores e fazendo da competição tecnológica o cerne do desenvolvimento econômico. Ela também trouxe questionamentos acerca dos tempos de trabalho, pois antes do seu surgimento, não havia a possibilidade de trabalho noturno.

A Terceira Revolução Industrial, também chamada de revolução digital ou do computador5 teve início a partir a partir da década de 1960 e existe até hoje, representando a evolução dos computadores, semicondutores, da internet e da automação. Foi a partir daí que começamos a observar de forma mais latente a automatização do processo produtivo e a substituição da mão de obra por máquinas, com o surgimento dos primeiros robôs.

No momento, estamos diante da Quarta Revolução Industrial, que promete ser ainda mais impactante e traduz a ideia de que estamos vivendo em uma sociedade contemporânea que vivencia um espírito de ruptura e inovação. Agora, as tecnologias que começaram a ser vistas na revolução anterior, estão se tornando mais sofisticadas e integradas6 criando padrões que fazem emergir outras novas tecnologias que revolucionam todas as esferas da vida econômica.

São alguns exemplos: veículos autônomos, robótica, simulações, integração de sistemas, internet das coisas (IoT), cibersegurança, computação em nuvem, impressão 3D (manufatura aditiva), realidade aumentada, nanotecnologia, biotecnologia, armazenamento de energia e computação quântica, big data, inteligência artificial (IA), biologia sintética, sistemas ciber físicos (CPS).

No entanto, a quarta revolução não diz respeito apenas a sistemas e máquinas inteligentes e conectadas, mas também a ondas de novas descobertas simultâneas nas mais diversas áreas, ou seja, ondas vindas de diversos lugares: da tecnologia, das escalas sociais que se alteram, da economia.

Essa Revolução se diferencia das demais, dentre outros fatores, pelo aumento astronômico da geração de dados na indústria e pela difusão rápida das tecnologias e inovações7. A velocidade da disseminação das tecnologias habilitadoras dessa revolução indica que a chegada e a consolidação da Indústria 4.0 será, também, muito mais rápida se comparada a casos anteriores.

As três primeiras revoluções trouxeram a produção em massa, as linhas de montagem, a eletricidade, a tecnologia da informação e a quarta, que terá um impacto mais profundo e exponencial, se caracteriza por um conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e biológico. Nunca as mudanças foram tantas e, principalmente, tão rápidas, em um curto espaço de tempo.

Contudo, para Klaus Schawb, a quarta revolução industrial traz consigo consideráveis benefícios, ao mesmo tempo em que apresenta desafios significativos. Digamos que as vantagens são incontestáveis, especialmente para os consumidores: solicitar um transporte, localizar um voo, realizar compras, efetuar pagamentos, ouvir músicas ou assistir a filmes, todas essas atividades podem ser realizadas remotamente. A presença da internet, dos smartphones e de inúmeros aplicativos contribui para simplificar nossas vidas, tornando-as, em geral, mais eficientes e produtivas8.

Além disso, a importância da Indústria 4.0 para o futuro produtivo do mundo é hoje um consenso entre analistas econômicos, organismos internacionais e as maiores empresas do mundo. Seus impactos sobre a produtividade, a redução de custos, o controle sobre o processo produtivo, a customização da produção, a aplicação de inteligência à massa de dados, entre outros, apontam para os impactos no crescimento econômico.

Por outro lado, os desafios iminentes, especialmente no lado da oferta — no mundo do trabalho e da produção – indicam um declínio notável na demanda por mão de obra. É sabido que cada revolução industrial resultou na eliminação de muitos empregos, levando à extinção de algumas profissões e à demanda por novos tipos de profissionais.

Entretanto, ao contrário das revoluções anteriores, que impactaram setores específicos da sociedade, esta revolução tem o potencial de atingir a todos, inclusive trabalhadores intelectuais, ainda que de forma mais gradual. A quantidade de postos de trabalho a serem eliminados tende a ser significativamente maior, uma vez que as tecnologias disruptivas em desenvolvimento introduzem sistemas capazes de realizar tarefas que anteriormente demandavam a atuação não apenas de um, mas de vários profissionais.

Assim, é inevitável reconhecer: a chegada da realidade 4.0 imporá profundas transformações no mundo do trabalho e nunca mais a humanidade irá viver do mesmo jeito.

TECNOLOGIAS EMERGENTES E SEUS IMPACTOS NA AUTOMAÇÃO

Desde o início da história do Brasil, com a utilização da mão de obra indígena e, posteriormente, a mão de obra escrava africana, observa-se uma busca pela redução de custos com os meios de produção, buscando ao máximo gastar o mínimo e, assim, obter maiores lucros e rentabilidade. Essa busca está enraizada não só na cultura brasileira e é fruto do próprio sistema capitalista.

Segundo Karl Marx, a maquinaria surge, então, como um meio de baratear as mercadorias e diminuir jornadas de trabalho9, já que ela torna possível a produção em larga escala e em menor fração de tempo.

Com o progresso das máquinas, inicialmente criadas pelos seres humanos, e a demanda por uma maior produção de equipamentos, a indústria tomou controle sobre o processo, passando a fabricar máquinas por meio delas próprias. Essa conquista foi viabilizada por Henry Maudslay, que, na primeira década do século XIX, inventou o slide-rest [suporte móvel], que, sob forma modificada, foi automatizado e adaptado a outras máquinas de construção. Esse dispositivo mecânico não substituiu ferramentas individuais, mas a própria mão humana10.

Com o aumento das inovações e a crescente demanda por máquinas, ocorreu progressivamente a especialização na fabricação de máquinas em vários setores independentes. Houve expansão no tamanho das máquinas motrizes, no mecanismo de transmissão e nas máquinas-ferramentas, além do aprimoramento da complexidade, diversidade e rigor na regularidade de seus componentes. Isso resultou em uma forma mais livre, determinada exclusivamente por sua função mecânica, e avanços no sistema automático.

A automação, então, surge e segue cada vez mais presente no nosso cotidiano: cartões virtuais, aplicativos de transporte e de entrega, assistentes virtuais, aplicativos bancários e pagamento online, eletrodomésticos inteligentes e até mesmo casas automatizadas, em que é possível controlar iluminação, temperatura, segurança e até os próprios eletrodomésticos remotamente por meio de dispositivos móveis. No âmbito laboral, a pandemia do coronavírus acelerou tendências, sobretudo diante da intensificação da adoção do home office pelas empresas. A automação, como fruto da tecnologia, é compreendida como a aplicação extrema da eletrônica11 e trata-se de uma realidade irreversível.

E ao passo que o as tecnologias vão evoluindo, um novo cenário na automação vai se moldando, trazendo consigo impactos substanciais que redefinem a dinâmica tradicional do mercado de trabalho.

A Inteligência Artificial, aliada ao Machine Learning, assume um papel central na automação, permitindo que sistemas aprendam e executem tarefas sem intervenção humana direta. E a novidade é que ela lida com habilidades, o que pode atingir trabalhadores mais escolarizados e mais bem remunerados.

Conforme observações de Jonas Valente, a Inteligência Artificial representa uma resposta eficaz para tarefas altamente complexas, ampliando significativamente a implementação de soluções automatizadas. Ele destaca que os setores empresariais que mais incorporaram a inteligência artificial em seus processos são os de alta tecnologia (78%), automotivo (76%), telecomunicações (72%), transporte e viagens (64%) e finanças (62%)12.

A robótica avançada também tem um papel crucial na automação, viabilizando a concepção de robôs mais refinados e adaptáveis, e operando nos mais diversos cenários, desde linhas de produção até serviços. A interligação de dispositivos por meio da Internet das Coisas (IoT) promove a automação em uma ampla gama de setores, abrangendo desde residências até ambientes industriais. A tecnologia de impressão 3D, por sua vez, capacita a criação de objetos tridimensionais, promovendo alterações significativas na produção e logística, além de fomentar a personalização e a redução de desperdícios. Os veículos autônomos representam um marco significativo nos setores de transporte, logística e entregas.

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Contudo, essa automação levanta questões sobre a substituição de funções que antes eram exclusivas da capacidade humana, sobre a substituição de trabalhadores por máquinas automatizadas, sobre a necessidade de adaptação de profissionais, além de impactar modelos de negócios tradicionais. Do ponto de vista ético, levanta também discussões acerca da privacidade e segurança dos dados e informações.

RELAÇÃO ENTRE AUTOMOÇÃO E DIMINUIÇÃO DOS POSTOS DE TRABALHO

À medida que exploramos as nuances dessas tecnologias emergentes, torna-se imperativo compreender não apenas os benefícios tangíveis da automação, mas também abordar de maneira proativa os desafios sociais e econômicos que surgem nesse novo paradigma.

A automação do processo produtivo e a incorporação de novas tecnologias em diversas fases da produção, seja na indústria ou nos segmentos primário e terciário, resultam na substituição da mão de obra humana pelo desempenho de uma ou várias máquinas. Ao contrário do processo de mecanização, a informatização confere autonomia à máquina, resultando na necessidade cada vez menor de intervenção humana no processo de produção13.

Essas tecnologias têm o potencial de revolucionar a automação, aumentando a eficiência, reduzindo custos e proporcionando inovações em diversos setores. Contudo, os impactos na sociedade são profundos, com a possibilidade de deslocamento de trabalhadores tradicionais e a necessidade de requalificação profissional. Para Raí Chicoli, a automação está progressivamente assumindo uma parcela significativa de trabalhos de rotina, especialmente os de baixa qualificação14.

Há uma expectativa que até 2025 a automação acarretará a extinção de 85 milhões de empregos em todo o mundo em empresas de médio e grande porte em 15 setores e 26 economias, incluindo a brasileira15.

Diferentes categorias de trabalho, particularmente aquelas que envolvem o trabalho mecânico repetitivo, já estão sendo automatizadas e ao longo da história fomos observando algumas profissões tornando-se obsoletas. Uma dessas é a de telefonista, ocupação das pessoas responsáveis pela transferência de ligações e fornecimento de informações via telefone para aqueles que chamavam na central. Atualmente, com os celulares e com o acesso à internet em qualquer lugar, o próprio usuário realiza essas funções. Podemos citar ainda a retirada dos cobradores de ônibus e ascensoristas de elevadores e a queda expressiva na demanda por atendentes de caixas de bancos, motoristas de táxi, operadores de caixas em supermercados.

Essa transformação, vista do prisma do empregador, aprimora a eficiência do trabalho, contribuindo simultaneamente para a redução dos custos de produção. Contudo, sob a perspectiva do trabalhador, a introdução de maquinário culmina na perda de empregos e, em muitos casos, na extinção de funções específicas.

À medida que as empresas incorporam tecnologias avançadas, como inteligência artificial, robótica e automação industrial, a eficiência na produção aumenta, permitindo maior output com menos recursos humanos. Isso resulta em uma contradição aparente, pois a produção continua a crescer, muitas vezes de forma expressiva, enquanto o número de trabalhadores necessários para realizar essas tarefas diminui.

À frente do seu tempo, Aldacy Coutinho16 já dizia que num mercado globalizado há uma alteração na organização dos processos produtivos com o objetivo de minimizar custos, maximizar resultados, mas eliminando postos de trabalho em todos os setores.

Jouberto Cavalcante fornece diversos dados econômicos que evidenciam a substituição da mão de obra pela automação, enquanto a produção se mantém ou até mesmo aumenta expressivamente: Na década de 1980, a Fiat, na Itália, contava com 150 mil trabalhadores e produzia 1,5 milhão de carros. Entretanto, em 1996, com apenas 75 mil empregados, a produção cresceu para 1,6 milhão de veículos. Nos Estados Unidos, a United State Steel tinha 120 mil trabalhadores em 1980. Uma década depois, com 20 mil empregados, a produção permaneceu constante. Na década de 1950, 33% dos trabalhadores nos EUA estavam no setor industrial, mas esse número caiu para 17% na década de 1990. Na Europa, entre 1975 e 1995, o setor siderúrgico viu uma redução no número de trabalhadores de 991 mil para 326 mil. Na França e no Reino Unido, a diminuição foi ainda mais pronunciada, alcançando 75% e 80%, respectivamente17.

Esses dados destacam a tendência global de como a automação impacta na diminuição dos postos de emprego em diversos setores econômicos, mesmo em contextos nos quais a produção continua a expandir-se. E é justamente por conta disso, que Domenico de Masi18 aponta a mecanização e a automação nas sociedades industriais, como elementos de exclusão do trabalho para muitos.

A complexidade das transformações decorrentes da automação destaca a necessidade de uma abordagem equilibrada para conciliar eficiência produtiva e mitigação dos impactos no mercado de trabalho. Nesse contexto desafiador, as tecnologias disruptivas e a inovação desempenham um papel crucial ao promover a automatização de trabalhos, anteriormente executados por pessoas, em uma rapidez jamais verificada.

Contudo, esse avanço não ocorre sem suscitar preocupações, especialmente relacionadas ao já rotulado fenômeno do "desemprego tecnológico".

A TECNOLOGIA E O DESEMPREGO

IDENTIFICAÇÃO DOS DESAFIOS

Diante desse intenso processo de transformação, diversos pensadores dedicaram-se a analisar o significado da "máquina" (criação do homem) e das mudanças resultantes da progressiva substituição dos métodos tradicionais de trabalho por avanços tecnológicos, com particular ênfase na preocupação com o "desemprego tecnológico" (technological unemployment)19.

Um dos primeiros economistas políticos a pensar nos efeitos das inovações tecnológicas no sistema capitalista foi o economista David Ricardo, por meio do livro “Princípios de Economia Política e Tributação”, publicado no início do século XIX, ao constatar que o aperfeiçoamento da maquinaria poderia resultar em desemprego de parte da população20.

Essa questão também preocupou a mente de Karl Marx21 que, algumas décadas depois do livro de Ricardo (1817), publicou o primeiro livro de O capital (1867). Ambos acreditavam e alertavam que a introdução de novas máquinas poderia causar uma situação de desemprego crônico.

Mais tarde, em uma conferência intitulada "Economic Possibilities for our Grandchildren" (1930), John Maynard Keynes fez um alerta sobre a rapidez com que o progresso tecnológico impactava determinados setores da economia, expressando sua inquietação “estamos sendo atingidos por uma nova doença, dos quais alguns leitores podem ainda não ter ouvido o nome, mas que eles vão ouvir uma grande quantidade nos próximos anos – ou seja, o desemprego tecnológico”. Ou seja, um desemprego ocasionado pela “[...] nossa descoberta de meios de economizar na utilização de mão de obra ultrapassando o ritmo em que podemos encontrar novos usos para trabalho”22.

No Brasil, os impactos da revolução tecnológica da microeletrônica, ocorrida na década de 1970, se fizeram sentir no sistema produtivo do país a partir de 1990. Esse fenômeno trouxe consigo o desafio do desemprego, cuja incidência cresceu significativamente ao longo das últimas três décadas, afetando uma considerável parcela dos trabalhadores23.

Na sociedade contemporânea, o fenômeno do desemprego está sendo visto como uma das maiores mazelas, considerando que um enorme contingente de pessoas está desempregado, subempregado e desalentado, num mundo onde o progresso científico e tecnológico caminha lado a lado com os desequilíbrios emocionais.

De acordo com o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), “Tendências Mundiais do Emprego em 2007”, o número global de desempregados atingiu um recorde de 195,2 milhões em 2006, com a taxa de desemprego permanecendo estável em 6,3%, o mesmo índice registrado em 200524. No Brasil, os dados atuais mostram que a taxa de desemprego registrada no 3º semestre do ano de 2023 era de 7,7%25.

A gravidade da situação se intensifica se considerarmos diversas variáveis, como gênero, raça, idade, nível de escolaridade e localização. Para ilustrar, o relatório da OIT destaca disparidades de gênero, revelando que 48,9% das mulheres estão empregadas em comparação com 74% dos homens. A juventude, entre 15 e 24 anos, enfrenta uma situação ainda mais crítica, com 86,3 milhões (44%) de jovens desempregados globalmente26.

No Brasil, quando falamos a respeito da localização e nível de escolaridade, dados do IBGE indicam uma taxa de desemprego preocupante na região Nordeste, atingindo 10,8%27.

Tudo isso só mostra que o desemprego, além de ser um problema econômico, é um problema social e político, ressaltando a urgência de abordar essas disparidades multifacetadas. Para os economistas, considerando as diversas causas, é possível classificar o desemprego em espécies.

O desemprego friccional que ocorre quando se têm indivíduos desempregados temporariamente, seja porque estão no processo de mudança voluntária de emprego ou porque foram despedidos e estão procurando um novo trabalho ou, até mesmo, buscando emprego pela primeira vez28.

O desemprego sazonal que decorre de variações sazonais na demanda por determinados tipos de trabalho, como agricultura, turismo ou varejo. O desemprego involuntário, quando os trabalhadores estão dispostos a trabalhar, mas não conseguem encontrar emprego. O desemprego cíclico, fortemente relacionado às oscilações do ciclo econômico, com taxas de desemprego aumentando durante recessões e diminuindo durante períodos de crescimento29.

E, por fim, o desemprego estrutural, que se associa a alterações na estrutura econômica. Em outras palavras, o desemprego estrutural é desencadeado por diversos "agentes de mercado”, como avanços tecnológicos (com aumento da mecanização e automação) ou mudanças nos padrões de demanda dos consumidores, tornando obsoletas determinadas indústrias ou profissões30. De acordo com uma reportagem da BBC News de 202131, o nível de desemprego estrutural no Brasil recente já supera o de países desenvolvidos.

O desemprego tecnológico emerge como uma faceta do desemprego estrutural, manifestando-se na escassez ou perda de empregos devido a transformações ou inovações tecnológicas. Nessa categoria, observamos a substituição de trabalhadores por máquinas, simplificando tarefas e demandando menos profissionais para a execução de uma mesma atividade.

Com a ampliação do desemprego estrutural no Brasil, notadamente em razão do avanço da tecnologia, o que se observou foi o crescimento de diversos desafios substanciais para o mercado de trabalho, tais como: incapacidade de reabsorção da mão de obra demitida; aumento da informalidade, do subemprego e do número de trabalhadores autônomos; deslocamento de trabalhadores de setores tradicionais para novas áreas, muitas vezes exigindo habilidades diferentes; desqualificação profissional; desigualdade de renda; perda da qualidade de vida. Além desses, a incerteza em relação ao futuro do trabalho devido à automação pode levar a desafios psicossociais, como ansiedade, estresse e resistência à mudança.

Isto porque, o trabalho é uma faceta fundamental que confere dignidade ao ser humano. Além de proporcionar um retorno financeiro e substancial, o trabalho tem o poder transformador de impactar não apenas o indivíduo, mas também seu ambiente. Deve ser entendido como uma atividade que transcende a mera obtenção de recursos, desempenhando um papel crucial na formação e na evolução tanto do indivíduo quanto da sociedade.

Os desafios impostos pelo desemprego tecnológico são complexos e abrangentes, exigindo uma análise cautelosa para compreender e lidar efetivamente com suas consequências. A tecnologia, paradoxalmente, não é apenas uma fonte de desafios, mas também abre portas para oportunidades transformadoras. O advento da indústria 4.0 e a revolução tecnológica proporcionam espaço para a criação de novas profissões, o desenvolvimento de habilidades especializadas e a exploração de setores emergentes.

EXPLORAÇÃO DAS OPORTUNIDADES EMERGENTES NO CENÁRIO TECNOLÓGICO

A exploração das oportunidades emergentes no cenário tecnológico constitui um imperativo na busca por soluções inovadoras e estratégias que possam transformar os desafios do desemprego tecnológico em possibilidades de crescimento e desenvolvimento. Essa nova revolução trará impactos substanciais na produção, incluindo o aprimoramento da eficiência no uso de recursos, a capacidade das empresas de integração e a flexibilidade das linhas de produção.

Primeiramente é preciso entender que a tecnologia exerce dois diferentes efeitos sobre os empregos: destrutivo que ocorre quando as rupturas tecnológicas e a automação substituem o trabalho por capital, resultando em desemprego ou na necessidade de realocação de habilidades pelos trabalhadores; e o efeito capitalizador onde a demanda por novos bens e serviços aumenta, levando à criação de novas profissões, empresas e até mesmo indústrias32.

Contudo, a questão crucial reside no momento e na extensão em que o efeito capitalizador consegue superar o efeito destruidor, bem como na rapidez dessa transição. Este tema gera divergências de opiniões.

Há quem acredite que a nova indústria cria novas oportunidades de emprego, tanto nela quanto no mercado consumidor dela derivado, e que em uma perspectiva de longo prazo, essa perda de postos de emprego acabe sendo compensada tanto pela criação de empregos mais produtivos e valiosos quanto por uma melhora no padrão de vida das pessoas. Um exemplo é a indústria de aplicativos que surgiu com o aparecimento dos smartphones33.

Ressalte-se, no entanto, que no Brasil, “a proporção de empresas que desenvolveram bens ou serviços ‘novos para o mercado’ foi de apenas 3,8% da indústria de 2012 a 2014 (IBGE, 2014)”34.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também enxerga na transformação tecnológica um estímulo para o crescimento econômico a longo prazo, um aumento na produtividade e a elevação nos padrões de vida. Entende que esse aumento de produtividade resultará em mais lucro e investimentos em diversos setores econômicos, o que, por sua vez, gerará mais empregos. A OCDE prevê a geração de empregos, especialmente nas áreas de alta tecnologia, finanças, seguros, indústria e suporte à gestão de recursos, como observado por Jonas Valente35.

Os trabalhos relacionados a processamento de informação e outros altamente cognitivos e com habilidades interpessoais também estão crescendo36.

Contrariando a preocupação de alguns, uma pesquisa nos Estados Unidos em 2014, envolvendo 1.800 estudiosos de diversas áreas, revelou que 52% deles consideram improvável que a tecnologia extinga mais empregos do que criará. Além disso, o Relatório The Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial em Davos (2016), prevê a criação de dois milhões de novas funções nos próximos cinco anos devido ao surgimento de novos modelos e do comércio. Esses dados evidenciam uma perspectiva otimista em relação às oportunidades de emprego geradas pela evolução tecnológica37.

Há também quem defenda a ideia de que, em alguns setores, não há a eliminação do trabalho, mas o deslocamento para outras atividades. Isso se dá porque, diante da necessidade de aumentar a produtividade em certas indústrias, há um deslocamento do trabalho para outros setores, onde ele se acumula em grande quantidade devido a processos que ainda não foram totalmente ou, em alguns casos, não podem ser mecanizados na mesma proporção. Portanto, o resultado não é a 'eliminação' do trabalho, mas sim o seu deslocamento para outras ocupações e atividades38.

Mas essa “teoria da compensação” desenvolvida por economistas ingleses do início do século XIX, que dizia que embora a maquinaria deslocasse trabalhadores, eles eram reempregados pelo mesmo capital, já era criticada por Marx, que, de forma contrária, entendia que a cada aperfeiçoamento da maquinaria ocupavam-se menos trabalhadores. Segundo ele “a maquinaria põe trabalhadores na rua, e não só no ramo da produção em que é introduzida, mas também nos ramos da produção em que não é introduzida”39.

Nesse mesmo sentido, Jayr Figueiredo de Oliveira e Antônio Vico Mañas40 afirmam que as indústrias ainda vão excluir postos de trabalho e, mesmo com o crescimento da economia, elas serão capazes de produzir mais, sem criar empregos. Schwab41 faz uma comparação que em 1990, as três principais empresas de Detroit, um centro industrial tradicional, possuíam uma capitalização de mercado combinada de US$ 36 bilhões, faturamento de US$ 250 bilhões e empregavam 1,2 milhão de pessoas. Em contraste, em 2014, as três maiores empresas do Vale do Silício tinham uma capitalização de mercado muito mais elevada (US$ 1,09 trilhão), geraram aproximadamente as mesmas receitas (US$ 247 bilhões), mas contavam com cerca de 10 vezes menos empregados (137 mil).

Em 1988, Coutinho42 já dizia que o desenvolvimento tecnológico determina, sim, a diminuição na quantidade de empregos, mas, por outro lado aumenta outras formas de ocupação e implica um desenvolvimento de empregos intelectualizados.

Os avanços tecnológicos, notadamente nas Revoluções Industriais, sempre impactaram o mercado de trabalho, resultando em novas modalidades de emprego. Além de substituir trabalho humano, o desenvolvimento tecnológico tem gerado novas formas de trabalho e modelos de relações laborais. O problema com todos esses novos empregos, no entanto, é que eles provavelmente exigirão altos níveis de especialização, e não resolverão, portanto, os problemas dos trabalhadores não qualificados que estão desempregados. Os postos de trabalho que estão sendo ofertados necessitam de conhecimento inacessível à maioria da população.

Até agora, a evidência aponta para o seguinte: a quarta revolução industrial parece estar gerando menos empregos nas novas indústrias em comparação com as revoluções anteriores43.

A questão da empregabilidade, portanto, impõe a urgência de ações coordenadas por governos e empresas, visando desenvolver planos de formação que preparem os profissionais para os empregos do futuro. Para que dessa forma, a transição para um cenário tecnológico mais avançado não seja apenas uma ameaça, mas também uma oportunidade.

POLÍTICAS PÚBLICAS E INICIATIVAS PARA MITIGAR O DESEMPREGO TECNOLÓGICO

É crucial considerar estratégias que visem equilibrar o avanço tecnológico com o bem-estar social e a estabilidade no mercado de trabalho. Diante dos desafios impostos pela automação e a revolução tecnológica, políticas públicas eficazes são essenciais para que qualifiquem profissionais e mitiguem os impactos do desemprego tecnológico.

As funções terão alterações e trabalhadores precisarão se adaptar para lidar com essas modificações. De acordo com o Instituto para o Futuro (2011), o aumento das máquinas inteligentes necessitará de trabalhadores com habilidades como pensamento inovador e adaptativo e inteligência social para lidar com estes desafios44.

No entanto, pelo estudo, 56% da população adulta não possui habilidade alguma ou possui apenas as habilidades básicas para lidar com as tarefas mais simples desta nova tecnologia. O estudo ainda acrescenta que as políticas deverão focar em: fortalecer o aprendizado nos primeiros anos de vida escolar; antecipar e responder melhor às mudanças nas habilidades necessárias; dar maior importância às habilidades socioemocionais para maior exigência de trabalhos colaborativos e flexíveis; aumentar o uso das habilidades dos trabalhadores; e aumentar os incentivos para aprendizado futuro45.

À medida que as empresas se modernizam e aumentam a complexidade da tecnologia utilizada, é requisitada maior aptidão técnica e pessoal, ou seja, a cada dia pessoas são consideradas desqualificadas para os novos cargos que surgem.

É evidente que existem oportunidades disponíveis no mercado de trabalho, principalmente em setores que demandam habilidades especializadas, mas a escassez de qualificação profissional é, atualmente, a principal razão para o desemprego, uma vez que as empresas buscam profissionais capacitados com formação técnica e especializada.

Portanto, com a introdução cada vez maior da tecnologia no mercado de trabalho, maior será a necessidade de capacitação das pessoas para atender a essa necessidade.

Aqui defende-se uma ação maior das autoridades políticas para desenvolvimento de políticas sociais e econômicas que permitam a adaptação dos trabalhadores ao novo sistema de trabalho e a proteção daqueles afetados pelas mudanças. É importante destacar que o debate e desenvolvimento de leis e projetos relacionados a esse tema teve pouco ou nenhum progresso nos últimos 30 anos46.

Algumas iniciativas e diretrizes importantes incluem: Investir em programas de educação e treinamento profissional. Desenvolver currículos que abranjam habilidades necessárias para o mercado de trabalho futuro, como programação, análise de dados e gerenciamento de tecnologia.

Estabelecer programas de requalificação para trabalhadores afetados pela automação, proporcionando oportunidades de aprendizado e reciclagem; investir no trabalho digno e sustentável; investir em pesquisa e desenvolvimento para impulsionar a inovação e criar oportunidades de emprego em setores emergentes; avaliar a implementação de políticas de renda básica para garantir um suporte mínimo aos cidadãos durante períodos de transição e requalificação profissional;

Investir em infraestrutura digital, como acesso à internet de alta velocidade. É difícil a gente querer falar em trabalho tecnológico se nem acesso à internet as pessoas têm; adequar as regulações trabalhistas às mudanças tecnológicas, incluindo a revisão de leis para abordar questões como trabalho remoto, contratos flexíveis e proteção dos direitos dos trabalhadores, garantindo direitos e proteções em um cenário de evolução constante.

Estabelecer parcerias entre o setor público e privado para criar programas conjuntos que atendam às demandas do mercado de trabalho e facilitem a transição de profissionais para setores em crescimento. Criar ambientes propícios à inovação e ao empreendedorismo. Além disso, apoiar startups e empresas inovadoras pode diversificar a economia e criar empregos em setores emergentes. Uma alternativa seria oferecer incentivos fiscais para empresas que implementam programas de treinamento e reciclagem de funcionários.

Outra iniciativa interessante seria envolver sindicatos, organizações de trabalhadores e empresas em discussões sobre as mudanças tecnológicas. Para as organizações sindicais, essa ação seria voltada para a negociação e discussão entre trabalhadores, empresas e governo para melhor formas de ação e a criação de um pacto para uma transição justa para os trabalhadores47.

A OIT apresenta ideias semelhantes, focando na importância de programas de educação para a classe trabalhadora melhor se adaptar às mudanças vindas, no investimento na área de trabalho tecnológico e no estabelecimento de uma rede de defesa aos trabalhadores por meio de garantias do Estado para a classe48.

Uma iniciativa já adotada pelo Brasil foi a construção de um plano de ação para o período de 2019 a 2022, pela Câmara Brasileira da Indústria 4.049 – coordenada pelos ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e da Economia (ME), em parceria com mais de 30 instituições do governo, da iniciativa privada e da academia, com o objetivo de aumentar a competividade e a produtividade das empresas brasileiras por meio da manufatura avançada50.

Para alcançar este objetivo, o Plano lista ações e iniciativas para superar os desafios como: aumentar a competitividade e produtividade das empresas brasileiras por meio da Indústria 4.0; melhorar a inserção do Brasil nas cadeias globais de valor; introduzir o uso de tecnologias da Indústria 4.0 nas pequenas e médias empresas; garantir instrumentos para que soluções de empresas de base tecnológica, startups e integradoras possam ser ofertadas e disponibilizadas diretamente às empresas; assegurar estabilidade e volume de recursos a custo adequado para implementação de iniciativas para a Indústria 4.0; identificar e desenvolver soluções para a Indústria 4.0 adequadas às empresas do parque produtivo brasileiro; e evitar a sobreposição de esforços individuais de instituições públicas e privadas para solucionar necessidades e demandas da Indústria 4.0 no Brasil51.

Outra iniciativa foi a chamada Agenda Brasileira para a Indústria 4.0, voltada para promover a transformação digital e a adoção de tecnologias avançadas na indústria brasileira. Ela envolve parcerias entre o governo, setor privado, instituições de pesquisa e demais atores relevantes, com o intuito de alinhar esforços e estratégias para o desenvolvimento da indústria brasileira no contexto da revolução tecnológica.

O governo também está empenhado em identificar cursos, capacitações, eventos, programas de apoio financeiro e gerencial, entre outras ações ligadas ao tema por meio da iniciativa denominada "Mapeamento 4.0", a qual conta com a colaboração do Senai Nacional52.

Essas iniciativas, quando implementadas de maneira coordenada, podem contribuir para atenuar os impactos do desemprego tecnológico, promovendo uma transição mais suave para uma economia impulsionada pela tecnologia.

Não se pode perder de vista que a automação avança inexoravelmente, substituindo trabalhos repetitivos e não criativos por um exército de robôs. Mesmo dispositivos constitucionais visando proteger os trabalhadores do desemprego estrutural não impedirão o progresso tecnológico irreversível. A chave para mitigar os efeitos da automação reside em incentivar a humanidade a ser mais inteligente, criativa e aprender continuamente. A ação conjunta público-privada é essencial para capacitar as pessoas, permitindo que elas se tornem líderes, não competidores, das máquinas, com clareza para desenvolver planos de distribuição justa das riquezas geradas pela tecnologia.

O mercado de trabalho, independente do segmento, busca profissionais capacitados. Ao adotar uma abordagem abrangente e colaborativa que integre educação, inovação, proteção social e regulação, as políticas públicas podem desempenhar um papel crucial na minimização dos efeitos adversos do desemprego tecnológico, buscando um equilíbrio entre a eficiência econômica e o bem-estar social.

PERSPECTIVAS FUTURAS: COMO SE PREPARAR PARA O MERCADO DE TRABALHO EVOLUTIVO

À medida que a sociedade continua a se adaptar à rápida evolução do mercado de trabalho impulsionada pela revolução tecnológica, é imperativo explorar perspectivas futuras e estratégias para se preparar adequadamente. Nesse cenário, é crucial desenvolver competências relevantes para as demandas do futuro, destacando habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas, criatividade e adaptabilidade.

Embora os impactos futuros permaneçam incertos, há uma especulação crescente sobre as implicações da economia tecnológica nos arranjos laborais. Essa transformação gera controvérsias e levanta questões significativas no cenário profissional. As previsões variam, desde aquelas que apontam para o risco de substituição de muitos empregos até as que defendem um efeito positivo com a criação de novas ocupações.

O relatório “Futuro do emprego 2020” do Fórum Econômico Mundial prevê que em cinco anos, máquinas e humanos irão dividir os trabalhos de forma igual no mundo53. Um estudo do Fórum ainda aponta que 65% das crianças que estão entrando na escola atualmente terão trabalhos que nem sequer existem. Na mesma linha, um estudo produzido pela gigante do setor de tecnologia Dell prevê um cenário ainda mais inovador, estimando que 85% das profissões existentes em 2030 ainda não surgiram54.

Jayr Figueiredo de Oliveira e Antonio Vico Mañas optam por enquadrar a discussão em termos de ondas, influenciadas pelos ciclos econômicos. Durante os períodos de crescimento econômico, destacam os impactos positivos do avanço tecnológico. Já durante os períodos de crise, a introdução de máquinas e as mudanças nas formas de produção serão responsáveis pela redução de empregos55. Parte superior do formulário

Para Klaus Schwab, o emprego crescerá em relação a ocupações e cargos criativos e cognitivos de altos salários e em relação às ocupações manuais de baixos salários; mas irá diminuir consideravelmente em relação aos trabalhos repetitivos e rotineiros. Para ele, num futuro próximo, os empregos menos suscetíveis à automação são aqueles que demandam habilidades sociais e criativas, destacando-se nas decisões em ambientes incertos e na geração de novas ideias. Ele cita alguns exemplos: médicos e cirurgiões, psicólogos, analistas de sistemas, gerentes de vendas, diretores56.

De Masi57 pensou no futuro do trabalho como um caminho para a libertação, com máquinas assumindo tarefas manuais e intelectualmente repetitivas, enquanto aos seres humanos restaria o trabalho criativo.

Não se pode negar que o emprego tradicionalmente compreendido tende a perder espaço para formas flexíveis de relação de trabalho, mas, por outro lado há, não só o aumento da informalidade, como também a criação de profissionais inseguros e frágeis do ponto de vista emocional, financeiro e físico.

A estrutura tradicional da relação de emprego, central no sistema trabalhista, está enfrentando sua crise mais significativa atualmente. As novas formas de trabalho originadas das mudanças econômicas e das ferramentas tecnológicas apresentam desafios substanciais tanto para o cenário laboral quanto para a sociedade em geral, além de impactar a vida dos trabalhadores.

É aí que surge a ideia de empreendedorismo como alternativa em que cada indivíduo é o grande responsável por seu sucesso ou por seu fracasso. Neste contexto vemos emergir a Gig Economy, termo criado para intitular trabalhos de freelancer obtidos exclusivamente a partir da Internet, sobretudo por meio de plataformas. No Brasil, esse fenômeno é conhecido como uberização.

Atualmente, embora o futuro não possa ser previsto com exatidão, é certo que a preparação para as mudanças é crucial. Se não nos anteciparmos às transformações, a deterioração da base de habilidades profissionais resultará em um aumento da desigualdade e das tensões sociais.

É possível que o resultado seja um meio termo entre essas visões: emprego com alguns setores sendo reduzidos ou até extintos, enquanto outros setores irão surgir e criarão empregos. Mas, com certeza, haverá uma alteração na estrutura ocupacional, e demandará a requalificação dos trabalhadores.

A preparação para a revolução tecnológica, portanto, deve ser holística, abrangendo educação, capacitação, inovação e políticas adaptativas. Ao antecipar as mudanças e investir no desenvolvimento de habilidades relevantes, podemos moldar um futuro do trabalho mais inclusivo e sustentável.

CONCLUSÃO

Na era da Indústria 4.0 e da ascensão das novas tecnologias, é imperativo enfrentar os desafios e oportunidades que moldam o futuro do trabalho. A Quarta Revolução Industrial trouxe consigo avanços tecnológicos disruptivos, como inteligência artificial e internet das coisas, reconfigurando a relação entre automação e diminuição dos postos de trabalho. Identificamos desafios significativos, como o desemprego tecnológico, mas também exploramos oportunidades emergentes nesse cenário.

Ao analisar o atual panorama, ficou claro que, apesar das divergências entre possíveis soluções para a questão da automação e empregos, é consenso que o atual nível de ação do Estado brasileiro para esses problemas não é suficiente para atender a necessidade de proteção dos trabalhadores e evolução do mercado de trabalho. Para mitigar esses desafios, analisamos políticas públicas e iniciativas destinadas a preparar a força de trabalho para a evolução do mercado de trabalho, destacando a importância de estratégias educacionais e de requalificação.

Em última análise, destaca-se a necessidade de analisar as perspectivas futuras e a importância de desenvolver capacidades de adaptação, criatividade, pensamento crítico e inovação para enfrentar as incertezas geradas pela economia tecnológica. É essencial que a preparação seja holística, abrangendo educação, capacitação, inovação e políticas adaptativas para moldar um futuro do trabalho, justo, inclusivo e sustentável.

Sobre o autor
Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

SANTOS, Isabela Gomes Moura. Desemprego tecnológico: : como as novas tecnologias afetam o mercado de trabalho no Brasil. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 29, n. 7539, 21 fev. 2024. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/108403. Acesso em: 23 dez. 2024.

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