INTRODUÇÃO
O objetivo do presente texto é responder a seguinte questão: o que fazer se nos depararmos com ataques de atiradores que, sem razão aparente, invadem locais públicos, como escolas ou no próprio ambiente de trabalho, e abrem fogo, indiscriminadamente, contra as pessoas que ali se encontram?
Para tanto, foi revisada a literatura existente nos Estados Unidos (onde se define esses ataques como tiroteio em massa - mass shootings), especialmente artigos e manuais que podem nos indicar um caminho a seguir no Brasil. Com base nisso, apresenta-se as condutas que podem ser adotadas em caso de ataques de atiradores em escolas ou ambiente de trabalho.
Essas condutas podem ser empregadas na elaboração de políticas públicas para o enfrentamento de ataques de atiradores, orientando professores e servidores da educação no que se refere aos procedimentos a serem adotados em caso de ataques.
DESENVOLVIMENTO
Inicialmente, é preciso compreender que os atiradores que se dispõe a praticar esses ataques querem simplesmente alvejar e matar pessoas. Em geral, não possuem um padrão de seleção de vítimas.
Os atentados praticados por esses atiradores ativos costumam durar de 10 a 15 minutos, sendo comum que o atirador pare a ação somente quando há a imediata reação de seguranças ou de integrantes de órgãos de segurança.
O Departamento de Segurança Interna do governo dos Estados Unidos recomenda as seguintes práticas para lidar com essa situação:
• Estar ciente de seu ambiente e de qualquer perigos possíveis;
• Conhecer as duas saídas mais próximas em qualquer lugar que você esteja;
• Se estiver em um escritório, ficar por lá e guardar a porta;
• Se estiver em um corredor, entrar em um comodo e segurar a porta; e
• Como último recurso, tentar jogar o atirador no chão. Isso porque, se o atirador está perto e você não pode fugir, a sua chance de sobrevivência é muito maior se tentar incapacitá-lo; e
• Ligar para a polícia assim que estiver em condições seguras de fazê-lo.
O QUÊ FAZER QUANDO UM ATIRADOR ADENTRA NA ESCOLA OU LOCAL DE TRABALHO
Uma vez constatado que há alguém efetuando disparos na escola ou local de trabalho ou em recinto público fechado, é preciso determinar rapidamente a maneira mais razoável de proteger sua vida. As pessoas provavelmente seguirão a liderança de funcionários, gerentes ou professores durante essa situação. Daí a importância de conhecer o ambiente onde se encontra.
Então, o primeiro o procedimento recomendado na literatura é a EVACUAÇÃO.
Se houver um caminho de fuga acessível, deve-se evacuar as instalações. Para tanto é preciso:
• Ter uma rota de fuga e planejá-la mentalmente, evitando elevadores e preferindo-se as saídas de emergência;
• Evacuar independentemente de os outros concordarem em seguir;
• Deixar quaisquer pertences para trás;
• Ajudar os outros a escapar, se possível;
• Impedir que indivíduos entrem em uma área onde o atirador possa estar;
• Manter suas mãos visíveis;
• Seguir as instruções de qualquer policial que encontrar;
• Não tentar remover pessoas feridas;
• Ligar para a Polícia assim que for seguro.
Contudo, nem sempre será possível evadir-se do local. Nessa hipótese, o procedimento a ser realizado é ESCONDER-SE.
Encontre um lugar para se esconder, onde seja menos provável que o atirador possa encontrar. O esconderijo deve:
• ficar fora da visão do atirador;
• fornecer proteção se disparos forem realizados em sua direção; e
• permitir opções de movimento, sempre que possível.
Para evitar que um atirador entre no local de esconderijo, a porta deve ser trancada e bloqueada com mobília pesada. Essa conduta foi adotada pela cozinheira Silmara Moraes, que usou um freezer para impedir a entrada de atiradores no refeitório da Escola Estadual Professor Raul Brasil e salvou a vida de mais de cinquenta crianças e adolescentes.
Proteja-se atrás de mesas ou objetos grandes.
É importante desligar as luzes e qualquer aparelho que faça barulho para não chamar a atenção. O silêncio e a calma são essenciais. Há relatos de que, durante o ataque à Escola Estadual Professor Raul Brasil, professores realizarem esse procedimento e salvaram a vida de muitos alunos.
Somente em ultimo recurso e em caso de iminente perigo é que se deve tentar ATACAR o atirador.
O QUE FAZER QUANDO OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA CHEGAREM
O objetivo da Polícia, ao chegar ao local, deve ser parar o atirador o mais rápido possível, evitando que ele cause mais danos às pessoas.
Assim, os policiais seguirão diretamente para a área em que os últimos tiros foram ouvidos. Por isso, é importante não bloquear a passagem deles e seguir as instruções que forem passadas, mantendo as mãos para o alto, com os dedos espalhados, evitando movimentos rápidos em direção a policiais, como segurá-los por segurança.
Outra conduta importante é não gritar ou apontar.
As pessoas devem prosseguir na direção de onde os policiais estão entrando que é, em tese um caminho já seguro.
Lembre-se, os primeiros policiais a chegar ao local não devem parar para ajudar as pessoas feridas, mas para fazer o ataque cessar. As equipes de resgate e pessoal médico de emergência chegarão depois, tratarão e removerão quaisquer pessoas feridas.
Uma vez em local seguro, esteja ciente que você provavelmente será mantido nessa área pela polícia até que a situação esteja sob controle, e todas as testemunhas tenham sido identificadas e questionadas.
FORMAÇÃO DO PESSOAL PARA UMA SITUAÇÃO DE ATAQUE DE ATIRADORES
A melhor forma de lidar com o ataque de atiradores é a prevenção, criando um Plano de Ação de Emergência e exercitando-o, preparando as pessoas para responder a essa situação de crise com eficácia e a minimizar a perda de vidas. Essa missão compete ao Diretor da escola, ao gerente de segurança da empresa, ao chefe de segurança do shopping, por exemplo.
O Plano de Ação de Emergência, para ser bem sucedido, inclui:
• Um método para relatar incêndios e outras emergências;
• Uma política de procedimento de evacuação;
• Procedimentos de evacuação de emergência e atribuições de rota de fuga (ou seja, plantas baixas, áreas seguras);
• Informações de contato e responsabilidades de indivíduos a serem contatados;
• Informações relativas aos hospitais da área local (ou seja, nome, número de telefone e distância da sua localização);
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• Um sistema de notificação de emergência para alertar várias partes de uma emergência, incluindo: as pessoas em locais remotos dentro das instalações, órgãos de segurança pública e hospitais.
A maneira mais eficaz de treinar alguém para responder a uma situação de tiro é realizar simulações e treinamento. Os órgãos policiais deveriam ser um excelente recurso na laboração de exercícios de treinamento, ensinando a reconhecer o som de tiros, a reagir rapidamente quando os tiros são ouvidos e/ou quando um tiroteio é testemunhado; a evacuar o local; a esconder e, em último caso, a agir contra o atirador como último recurso.
O QUÊ NÃO FAZER
Algumas condutas, comprovadamente, não devem ser realizadas. Vejamos:
1 - Não acione o alarme de incêndio. Isso cria confusão sobre o que está acontecendo. No ataque de atirador ocorrido em Parkland, Flórida, o atirador acionou o alarme para criar pânico e alvejar as pessoas saindo para os corredores. Se quiser alertar, grite: "atirador".
2 - Não use elevadores mas sim as escadas das saídas de emergência. Não se sabe onde o elevador pode parar. Pelas escadas, é possível identificar o barulho dos disparos e se situar melhor. Pular pela janela, desde que em andares baixo, é uma opção. Alunos da Virgínia Tech escaparam do atirador em 2007 pulando a janela do segundo andar. No ataque às mesquitas de Christchurch, na Nova Zelândia, muitos sobreviventes relataram ter fugido quebrando as janelas do templo.
3 - Não tente se envolver com o atirador, perguntar a ele o que ele está fazendo ou implorar por sua vida falando sobre sua família. Essa conduta não se mostrou eficaz em lidar com atiradores. Não perca seu tempo tentando conversar com ele - é muito melhor lutar, ferir o atirador no rosto, nos olhos, nos ombros, no pescoço ou nos braços, de modo que seja mais provável que solte a arma.
CONCLUSÃO
Situações como as relatadas no início do texto, infelizmente, têm ocorrido com frequência que, até a pouco tempo, não se imaginava. É certo que autoridades tem agido para impedir a ocorrência de casos de ataques de atiradores em escolas. No entanto, nem sempre o comportamento humano é previsível.
É preocupante a constatação da existência de comunidades que se inspiram nesses comportamentos e, talvez, seja o caso de que a imprensa discuta como deve ser feita a cobertura em eventos dessa natureza, a fim de que tragédias, que devem sim ser divulgadas, não sejam usadas de maneira contraproducente como publicidade por pessoas que queiram incentivar esse tipo de comportamento.
Espera-se que o presente paper possa ajudar na conscientização das autoridades e da sociedade para que, em conjunto, possam procurar, mediante políticas públicas, ao menos, mitigar o impacto ou número de vítimas nessas eventuais ocorrências.
BIBLIOGRAFIA:
How to Survive a School or Workplace Shooting. Disponível em: https://www.wikihow.com/SurviveaSchool-or-Workplace-Shooting
9 TIPS FOR WHAT TO DO IN A SCHOOL SHOOTING. Disponível em: https://swiftshield.com/blogs/news/9-tips-for-what-to-do-inaschool-shooting
What to Do When There’s an Active Shooter. Disponível em: https://www.nytimes.com/2018/02/16/us/survive-active-shooter.html
ACTIVE SHOOTER HOW TO RESPOND. Manual do U.S. Department of Homeland Security. Disponível em https://www.dhs.gov/xlibrary/assets/active_shooter_booklet.pdf
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