Gabriela Lopes dos Santos1
RESUMO
O artigo científico proposto tem como objetivo analisar e comparar os desafios enfrentados pela pesquisa científica nos contextos do Brasil e de Angola. Em Angola e no Brasil, é reconhecida a importância da pesquisa científica para o desenvolvimento socioeconômico e para a elevação da qualidade de vida da população. Ambos os países estão buscando formas de fortalecer suas capacidades de pesquisa e inovação, investindo em infraestrutura, formação de recursos humanos e políticas de incentivo à pesquisa. Por fim, é imperioso incentivar a colaboração e o intercâmbio entre pesquisadores brasileiros e angolanos, contribuindo para a internacionalização da ciência e para o avanço do conhecimento em nível global.
Palavras-chave: Angola. Brasil. Ciência. Desafios. Produção científica.
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa científica desempenha um papel fundamental no progresso socioeconômico e na promoção da qualidade de vida da população, tanto em escala global quanto em contextos nacionais particulares. A comparação entre a situação da pesquisa científica no Brasil e em Angola revela desafios comuns e específicos enfrentados por ambos os países.
A relevância de elaborar um artigo científico com o tema proposto reside na busca por compreender e analisar os desafios enfrentados pela pesquisa científica nos contextos do Brasil e de Angola, países que compartilham histórias e realidades distintas, mas que enfrentam questões semelhantes no campo da produção de conhecimento. Ao examinar os desafios e as estratégias adotadas por esses países para impulsionar a pesquisa científica e a inovação, o artigo científico possibilita percepções importantes que podem orientar políticas públicas, programas de cooperação internacional e iniciativas de fortalecimento da pesquisa em ambos os contextos. Além disso, ao destacar a necessidade de incentivar a colaboração e o intercâmbio entre pesquisadores brasileiros e angolanos, o artigo contribui para a internacionalização da ciência e para o avanço do conhecimento em nível global. Em suma, um artigo científico sobre esse tema é relevante não apenas para os acadêmicos e pesquisadores envolvidos, mas também para gestores públicos, instituições de ensino superior, agências de fomento e demais atores interessados no desenvolvimento científico e tecnológico desses países e na promoção de uma colaboração efetiva entre eles.
2. INDAGAÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM ANGOLA
Consoante a Falola (2007), a carência de autonomia no exercício do pensar/fazer a prática científica, assim como a ausência de alternativas que atendam às necessidades nacionais - na cultura, economia, tecnologia, saúde, com destaque para a educação -, sem recorrer de forma sistemática e dependente ao estrangeiro, representam um dos principais desafios que o sistema educacional angolano enfrenta. Embora haja aspectos conhecidos, como a escassez de literatura e recursos educacionais, a fuga de talentos e outros, há também questões que são ignoradas. Efetivamente, se produz conhecimento, mas qual é o destino desse conhecimento? A África enfrenta uma divisão digital e inúmeros novos desafios derivados da revolução digital, especialmente no que diz respeito ao processamento de grandes volumes de dados disponíveis na internet. Além disso, o autor Falola (2007) ainda aduz sobre o enfrentamento da rigidez na estruturação das disciplinas, o que influencia a criação de cursos e a administração das instituições acadêmicas. A inflexibilidade dos departamentos acadêmicos desencoraja a colaboração entre pesquisadores.
Uma das declarações proferidas pelo investigador e pedagogo Pedro Patacho (2016, p.17) pode ser aplicada para contemplar também a realidade angolana: "Os povos que se mantêm à margem do progresso científico encontram-se, em grande medida, excluídos dos avanços nos padrões de qualidade de vida e subordinados economicamente aos povos que lideram o desenvolvimento do conhecimento. Reverter tal cenário não constitui uma tarefa simples, pois a instauração de uma cultura científica requer vultosos investimentos em educação e cultura, agravados pelas deficiências derivadas da dificuldade dessas sociedades em gerar riqueza sem o principal insumo para tal, que é o conhecimento."
Para Sambo (2019), dentre os principais desafios encontrados pela pesquisa científica em Angola, destaca-se especialmente a escassez de pesquisadores e a carência de financiamento como os mais significativos. No entanto, diante das experiências vividas, é imperativo reconhecer a necessidade de fazer o melhor uso dos recursos disponíveis, tanto em termos de escassez de recursos humanos quanto de limitações financeiras. É inadmissível permanecer lamentando a falta de pesquisadores quando os poucos que existem talvez não recebam o devido reconhecimento e estímulo. Como sociedade, é essencial compreender que investir na criação de condições adequadas para o trabalho dos nossos pesquisadores é um investimento com garantia de sucesso e efeito multiplicador para o país. Em um cenário que os países emergentes enfrentam dificuldades para ter acesso as tecnologias e muitos demonstram resistência à transferência de conhecimento e tecnologia, é mais sensato começar por valorizar e apoiar os próprios pesquisadores nacionais, completa o autor Sambo (2019).
Dessa forma, a necessidade premente de refletir sobre a autonomia na produção científica no contexto angolano e a busca por uma independência na construção do conhecimento foram preocupações centrais do professor angolano Albano Ferreira (2018), doutor em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. O referido autor aborda que mesmo observando um aumento na produção científica angolana nos últimos anos, afirma ser inegável que ela ainda é limitada e insuficiente. Para melhorar essa situação, é crucial envolver um número cada vez maior de pessoas em atividades de pesquisa, especialmente profissionais altamente qualificados, como aqueles com doutorado e mestrado.
Ainda segundo Ferreira (2018), enfrenta-se escassez de recursos humanos e um número insuficiente de profissionais com qualificações acadêmicas, científicas e técnicas adequadas nas Instituições de Ensino Superior (IES) e Instituições de Desenvolvimento de Pesquisa (IDI) em Angola. Para superar esse cenário desafiador, é essencial continuar investindo na formação desses profissionais, ao mesmo tempo em que se evita a dispersão, concentrando-os em projetos prioritários e de grande impacto no campo da Ciência, Tecnologia e Investigação (CTI). Ele sugere, primeiramente, uma estratégia de concentração e focalização desses profissionais nas IES e IDI, fortalecendo os programas de pós-graduação e de CTI, para então promover sua dispersão para outros setores.
Refletir sobre a autonomia da produção acadêmica em Angola constitui uma maneira de destacar os mecanismos que direcionam o país no investimento em uma educação de qualidade e na valorização de seus pesquisadores. Ademais, o desenvolvimento econômico, social, cultural e tecnológico de uma sociedade é intensificado quando seus cidadãos, apoiados por políticas públicas eficazes, estabelecem condições para gerar ferramentas que facilitem a resolução de suas próprias necessidades.
Atualmente, as iniciativas de Angola convergem para a qualificação de seus especialistas e para o esforço de conceber e disseminar conhecimentos. Esses saberes, uma vez convertidos em tecnologia, proporcionarão vantagens incontestáveis para toda a nação. No âmbito educacional, é necessário ainda debater o caráter das políticas educativas que possam solucionar os persistentes desafios socioeconômicos que impactam Angola e o restante do continente.
3. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA NO BRASIL
Nas últimas décadas, a pesquisa científica no Brasil experimentou um progresso notável. Vários fatores desempenharam papéis fundamentais nessa evolução, mas é indiscutível que uma parcela significativa desse avanço pode ser atribuída à consolidação da política de pós-graduação implementada nas décadas de 1960 nas principais universidades do país. Para compreender esse avanço, sem recorrer ao uso excessivo de dados estatísticos disponíveis em agências de financiamento estaduais e federais, é possível observar a transformação por meio das questões levantadas em diferentes períodos (FÓRUM DE REFLEXÃO UNIVERSITÁRIA – UNICAMP, 2002).
Segundo as fontes do Fórum de reflexão universitária da UNICAMP (2002), na década de 1960, um docente de universidade pública poderia ser questionado: "Você faz pesquisa?" Uma resposta simples, afirmativa ou negativa, geralmente satisfazia o interlocutor. Uma resposta afirmativa conferia ao professor um status distinto. Já na década de 1970, a pergunta evoluiu para: "Você publicou papers?" Nesse período, o reconhecimento vinha através das publicações, especialmente aquelas em inglês, mesmo que em periódicos nacionais, conferindo um prestígio ainda maior ao pesquisador.
Os anos 1980 introduziram uma nova especificidade às indagações: "Com qual temática você está trabalhando? É pesquisa básica ou aplicada?" A segunda questão tornou-se central nas discussões acadêmicas, gerando debates intensos em diversos fóruns. Foi também um período em que as agências de financiamento, especialmente as federais, começaram a introduzir mecanismos indutores de pesquisa, destacando-se o PADCT, que impactou significativamente as áreas de química, física, materiais e biotecnologia (FÓRUM DE REFLEXÃO UNIVERSITÁRIA – UNICAMP, 2002).
No período compreendido entre 1981 e 2000, o número de artigos científicos brasileiros publicados em periódicos internacionais indexados ao ISI (Institut of Scientific Information) experimentou um crescimento expressivo, passando de 2,6 mil para 12 mil artigos anuais. Esse aumento representa aproximadamente 1,5% da produção científica global (GARRIDO; RODRIGUES, 2005).
Apesar de ainda se situar aquém dos volumes observados em outras nações, a ciência brasileira exibe um perfil semelhante ao da comunidade científica internacional, tanto na distribuição por diversas áreas do conhecimento quanto no número médio de artigos publicados por cientista. Um aspecto marcante da ciência nacional é sua concentração no eixo geográfico Sul-Sudeste (GARRIDO; RODRIGUES, 2005).
3.1 O RECONHECIMENTO DA CIÊNCIA
Com o avanço contínuo das fronteiras do conhecimento humano, a ciência emerge como uma fonte crucial de qualidade de vida para os povos que genuinamente participam de seu desenvolvimento. Esse progresso se traduz na libertação do homem das necessidades básicas de sobrevivência e na consequente sofisticação das atividades sociais, econômicas, culturais e artísticas. Por outro lado, os povos que se mantêm alheios ao avanço científico encontram-se, em grande medida, à margem das melhorias nos padrões de vida e permanecem subordinados economicamente aos países que lideram os avanços do conhecimento.
Reverter essa situação representa um desafio, uma vez que a construção de uma cultura científica requer investimentos substanciais em educação e cultura. Essas necessidades são agravadas pelas dificuldades enfrentadas por essas sociedades em gerar riquezas sem o principal insumo para tal: o conhecimento. Encontrar maneiras de romper esse ciclo vicioso é o grande desafio enfrentado pelas sociedades dos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
A visão simplista que considera a ciência como patrimônio exclusivo de um grupo seleto de cidadãos, dos quais se espera milagres e a erradicação da miséria, revela um equívoco de perspectiva fundamental. Um país não se torna científico apenas através da alocação variável de recursos em cientistas e laboratórios. Embora esses investimentos sejam indispensáveis, por si só não são suficientes. Se bem-sucedidos, podem formar bons pesquisadores, um componente essencial para a expansão das fronteiras do conhecimento. Contudo, a experiência dos últimos séculos demonstra que, para um país verdadeiramente adotar a ciência, sua sociedade deve abraçar a convicção de que a ciência, juntamente com seus resultados, é a verdadeira fonte de bem-estar e progresso.
Portanto, é evidente que não é suficiente apenas alocar fundos para programas destinados a modernizar alguns laboratórios tidos como de excelência. Tais iniciativas, isoladamente, são insuficientes, dado que os desafios enfrentados no desenvolvimento científico e na utilização dos resultados da pesquisa frequentemente decorrem de deficiências no âmbito dos recursos humanos. Assim, o principal desafio para o Brasil parece ser a criação de um sistema educacional público robusto que possibilite a sua inclusão integral no desenvolvimento de uma ciência que esteja alinhada às grandes questões nacionais. Para tal, é necessário um engajamento amplo de toda a sociedade, pois a transformação requerida é crucial para que os investimentos em pesquisa efetivamente gerem resultados, tanto no avanço do conhecimento quanto na melhoria da qualidade de vida da população.
4. SUCINTO PARALELO ENTRE OS DOIS PAISES- BRASIL E ANGOLA
A comparação entre a situação da pesquisa científica no Brasil e em Angola revela desafios comuns e específicos enfrentados por ambos os países. No contexto brasileiro, o desenvolvimento da pesquisa científica ao longo das últimas décadas foi marcado por uma evolução significativa. Houve um avanço na valorização da produção científica, medida não apenas pela realização de pesquisa, mas também pela publicação de artigos e papers em periódicos nacionais e internacionais. No entanto, mesmo com esses avanços, persistem desafios relacionados à concentração de recursos em laboratórios de excelência e à necessidade de uma educação pública sólida que inclua toda a sociedade no desenvolvimento científico.
Por outro lado, em Angola, a pesquisa científica ainda enfrenta obstáculos significativos em sua consolidação e expansão. A escassez de recursos humanos qualificados e a falta de financiamento são desafios prementes que limitam a capacidade do país de desenvolver uma cultura científica robusta e autônoma. A dependência de recursos estrangeiros para a realização de pesquisas e a falta de políticas eficazes de incentivo à pesquisa também contribuem para essa situação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se afirmar que tanto no Brasil quanto em Angola, há um reconhecimento da relevância da pesquisa científica para o desenvolvimento socioeconômico e para a melhoria da qualidade de vida da população. Ambos os países estão buscando formas de fortalecer suas capacidades de pesquisa e inovação, investindo em infraestrutura, formação de recursos humanos e estabelecimento de políticas de incentivo à pesquisa. No Brasil, a mobilização da sociedade é vista como fundamental para garantir que os recursos investidos na pesquisa científica possam ser aproveitados de maneira eficaz, contribuindo para o avanço do conhecimento e para o desenvolvimento nacional. Em Angola, a valorização dos pesquisadores nacionais e o investimento em educação de qualidade são considerados passos essenciais para a construção de uma base sólida para o desenvolvimento científico do país.
Em suma, tanto o Brasil quanto Angola enfrentam desafios semelhantes no que diz respeito à pesquisa científica, mas também apresentam contextos e realidades específicas que demandam abordagens e soluções adequadas a cada país. O reconhecimento da importância estratégica da pesquisa científica para o desenvolvimento nacional é um primeiro passo crucial, e ambos os países estão trabalhando para superar os obstáculos e fortalecer suas capacidades de pesquisa e inovação.
REFERÊNCIAS
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Especialista em Direitos Humanos; Direito Constitucional; Bacharela em Direitos Humanos com ênfase em ciências sociais pela OMDDH. Bacharela em Direito pela Faculdade UNIPAC, Campus de Teófilo Otoni. Defensora dos Direitos Humanos pela Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos, signatária do Pacto Global da ONU. Dra. Honoris Causa em Comunicação Social pela OMDDH. Coordenadora de projetos científicos internacionais. Dra. Honoris Causa em Comunicação Social pela Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos, signatária do Pacto Global da ONU; Dra. Honoris Causa em Intercâmbio Cultural Brasil-África; Certificação da Academy do Pacto Global da ONU sobre Igualdade de Gênero .︎