Por “velocidade dos textos” entendemos a sua permanência no tempo, vale dizer, a sua durabilidade enquanto objeto de leitura.
Desse modo, um texto veloz é aquele que dura pouco tempo, enquanto que um texto vagaroso ou lento é aquele que dura muito, em termos de temporalidade.
Para exemplificar, consideremos que, tradicionalmente, são bastante velozes os artigos de jornais. Os de revista, talvez sejam pouca coisa mais lentos, ainda que não tanto quanto os artigos publicados em periódicos acadêmicos. Os textos mais duráveis dos quais se tem notícia são, sem dúvida, os livros, pois são aqueles que se prestam por mais tempo à leitura e maior permanência temporal-material, em termos de durabilidade, enquanto que os demais são mais rapidamente descartados.
Assim, temos diferentes velocidades para os textos, conforme vimos no parágrafo acima. Todavia, cumpre mencionar que, com o advento da internet, tal concepção sofreu profunda modificação, que vem se alterando cada vez mais na era digital, em ritmo exponencial. Trata-se de um progressão geométrica inigualável, pode-se dizer, com tendência a um crescimento talvez infinito? Seria isso possível, tratar-se a velocidade do texto uma possibilidade de infinitude, embora estejamos tratando de uma lógica temporal?
Por ora, já se pode mencionar estudos e experimentos em que as ideias – primórdios de textos – são transmitidas pelo pensamento, instantaneamente. Realmente, são casos de instantaneidade, então já não há mais que se falar em velocidade e temporalidade. Que teremos para o futuro? ... Só o tempo dirá.
Todavia, ao nos referirmos ao tempo, havemos de considerar que, para a física moderna, o tempo não existe; é uma ilusão. Tal é a concepção predominante. Porém, há outros modos de se pensar o tempo, como por exemplo, o tempo cronológico (que é o tempo “do relógio”, analógico), o tempo afetivo (medido pela intensidade das emoções; aqui não se fala em duração, mas em intensidade. Assim, não há “tempo longo “ ou “tempo curto”, como na cronologia, e sim “tempo forte” e “tempo fraco”, conforme a intensidade das emoções, de sorte que “tempo forte” é aquele e, que se vive emoções mais intensas), dentre algumas outras concepções de tempo que foram estudadas, de modo esmaecido, pela Antropologia, ao investigar tribos humanas ainda primitivas.
Este ensaio adota a ideia de tempo cronológico-analógico, porque está fortemente atrelada à matéria, que é, por assim dizer, o texto impresso, seja ele livro, periódico, artigo de revista e jornal, ou outro. Aqui a desmaterialização do texto se faz com a internet, quando os textos não são mais impressos mas, à nossa percepção, quer parecer que imitem a forma dos textos escritos, exceção feita ao hipertexto. Talvez, nesse caso específico, tenha-se que adotar outra concepção de texto, que não a cronológica-analógica.
É oportuno lembrar, ainda, que há vários tipos de textos; questão básica de semiótica. A presente nota se refere basicamente aos textos escritos, mas há textos não-escritos, como a linguagem não verbal, por exemplo. O Universo é um texto semiótico completo. Aliás, Galileu Galiei dizia que o Universo é um texto escrito em caracteres matemáticos.
Que é, afinal, um texto? Ora, um texto pode ser qualquer coisa, basta que tenha significação, significado, que signifique. Até mesmo o absurdo pode ser compreendido como um texto. Questão simples para a semântica, mas não tão simples para nós, que está a ensejar muitas reflexões, todas elas multidisciplinares.
Pensemos agora sobre a possível “densidade dos textos”.
Há escritos que parecem tão densos quanto o que se pensava sobre a matéria nos tempos anteriores a Aristóteles, de tão compactos que são. Outros, porém, são tão diluídos e porosos como um queijo suíço. Questão de linguagem.
As palavras escorrem sobre o mundo. Algumas derretem. Outras evaporam. Os estados da matéria.
Na verdade, o que denominamos de densidade dos textos refere-se à existência e à possibilidade de se escrever coisas em textos mais sucintos, breves, compactos e resumidos (estes seriam os textos mais densos, por assim dizer) e de se escrever coisas de modo mais desenvolvido, elaborado, com o emprego de uma narrativa mais detalhista, descendo-se às minúcias das ideias e, não raro, repetindo-se as mesmas coisas com vocábulos diferentes (estes seriam os textos menos densos ou mais diluídos, por assim dizer).
Mas afinal, o que é mais desejável, escrever de modo mais ou menos denso, mais ou menos compacto? Depende da natureza do trabalho que se está a escrever.
A Publicidade, por exemplo, busca escritos com a maior densidade possível e polissêmicos, no sentido de que consigam expressar o maior número de informações com o menor número de palavras possível. É um tipo de inteligência.
O Jornalismo trabalha com textos mais densos (manchetes) e menos densos (matérias redigidas de modo explicativo, às vezes pormenorizado).
A Literatura é o ramo do conhecimento no qual os escritos são os mais diluídos e as narrativas mais lentas, vale dizer, de menor densidade. As publicações geralmente redundam em tomos volumosos, com muitas páginas. E outro tipo de inteligência.
O Direito, tradicionalmente, era não muito denso e mais explicativo, com ênfases em teses e argumentos repetidos, o que, dizem os especialistas, colaborava para com a morosidade do processo judicial, pois os juízes empregavam mais tempo para ler as petições juntadas aos autos. Por tal razão, verifica-se que, no âmbito da prática forense, muitos operadores do Direito atualmente optam por uma redação mais compacta, mais sucinta, resumida e com menos citações, o que parece ser uma tendência observada no cotidiano forense.
Já na pesquisa jurídica – monografias, dissertações e teses – ainda parece estimável que o redator escolha uma redação menos densa do que no foro, com um razoável número de páginas, evitando, porém, as repetições.
O conceito que chamamos “densidade dos textos” pode ser aplicado também à extensão dos parágrafos, lembrando que parágrafos muito extensos podem dificultar a concentração do leitor e, por conseguinte, o entendimento do texto, embora sejam corretos, sob o ponto de vista gramatical.
A exigência de simetria dos parágrafos em um escrito acadêmico vem sendo já há muito questionada e até mesmo abolida, nas Ciências Humanas, Jurídicas e Sociais, não apenas pela natureza mesma dessas matérias, mas sobretudo porque mais importante do que escrever parágrafos mais ou menos simétricos e textos mais ou menos densos e velozes, é o desafio de se comunicar bem, transmitindo ao leitor as ideias com clareza e sem ambiguidades. Assim se pode fazer da escrita, mais que um ofício, uma atividade prazerosa.