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A Influência da Guerra Russo-Ucraniana no Conflito entre Israel versus Hamas e Hezbollah no Líbano

Agenda 03/10/2024 às 21:09

RESUMO

O conflito entre Israel e o Hamas foi impactado pela guerra russo-ucraniana de várias maneiras. A atenção internacional desviada para a Europa pode ter encorajado o Hamas a intensificar suas operações, aproveitando a distração global. A aliança militar entre Rússia e Irã se aprofundou durante o conflito na Ucrânia, com o Irã fornecendo armamentos à Rússia, o que também fortaleceu grupos como o Hamas e o Hezbollah, que recebem apoio iraniano.

Além disso, o impacto econômico da guerra, especialmente no mercado de energia, deu ao Irã mais influência e poder de financiamento de grupos militantes. A resistência ucraniana à Rússia serviu como uma inspiração para o Hamas, reforçando a ideia de que uma resistência armada pode obter resultados contra uma potência maior.

O desvio de recursos e atenção ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, para a Ucrânia, também deixou Israel potencialmente mais vulnerável, enquanto o Hamas pode ter visto uma oportunidade para intensificar seus ataques.

Em suma, o conflito entre Israel e o Hamas foi afetado indiretamente pela guerra na Ucrânia, especialmente através de alianças geopolíticas, fornecimento de armamentos e distração internacional

Palavras-chave: Conflito Armado. Direito Internacional. Israel. Hamas. Hezbollah.

ABSTRACT

The conflict between Israel and Hamas has been impacted by the Russian-Ukrainian war in several ways. The international attention diverted to Europe may have encouraged Hamas to intensify its operations, taking advantage of the global distraction. The military alliance between Russia and Iran deepened during the conflict in Ukraine, with Iran supplying weapons to Russia, which also strengthened groups such as Hamas and Hezbollah, which receive Iranian support. Furthermore, the economic impact of the war, especially on the energy market, gave Iran more influence and funding power for militant groups. Ukrainian resistance to Russia served as an inspiration for Hamas, reinforcing the idea that armed resistance can achieve results against a greater power. The diversion of Western resources and attention, especially from the United States, to Ukraine also left Israel potentially more vulnerable, while Hamas may have seen an opportunity to intensify its attacks. In short, the conflict between Israel and Hamas was affected by the war in Ukraine, especially through geopolitical alliances, arms supplies and international distraction.

Keywords: Armed Conflict. International Law. Israel. Hamas. Hezbollah.

1 INTRODUÇÃO

O conflito entre Israel e o Hamas é uma das disputas mais antigas e complexas do Oriente Médio. No entanto, eventos geopolíticos recentes, como a guerra russo-ucraniana, têm exercido uma influência indireta, mas significativa, no desenrolar e nas dinâmicas desse conflito. A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022, alterou o equilíbrio de poder global, redirecionou a atenção internacional e provocou mudanças estratégicas no Oriente Médio. Este artigo examina como a guerra russo-ucraniana impactou a guerra entre Israel e o Hamas, relacionando os fatores econômicos, militares e diplomáticos que emergiram desse conflito global.
  A invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 tornou-se o principal ponto de atenção da comunidade internacional, especialmente dos países ocidentais, como os Estados Unidos e os membros da OTAN. A guerra na Europa desviou o foco de muitos conflitos no Oriente Médio, incluindo a questão israelo-palestina. Este desvio de atenção pode ter aberto espaço para grupos militantes como o Hamas intensificarem suas atividades. O Hamas, ao perceber que a atenção global estava concentrada na Europa, pode ter se sentido encorajado a intensificar seus ataques, sabendo que as respostas diplomáticas e militares internacionais seriam mais lentas ou dispersas.
  A guerra russo-ucraniana causou uma reconfiguração das alianças geopolíticas, com impactos significativos no Oriente Médio. A Rússia e o Irã, que já mantinham uma relação próxima, aprofundaram sua cooperação, principalmente no âmbito militar. O Irã, um aliado chave do Hamas e do Hezbollah no Líbano, forneceu drones e armamentos à Rússia para a guerra na Ucrânia, o que fortaleceu suas capacidades militares e ampliou sua influência regional. A cooperação militar mais estreita entre Rússia e Irã pode ter beneficiado o Hamas, que tradicionalmente recebe apoio iraniano em termos de financiamento, treinamento e armamentos.
 Além disso, o estreitamento dos laços entre Rússia e Irã pode ter fortalecido a resistência armada no Oriente Médio. O Irã, ao expandir sua influência na região, proporcionou um ambiente mais favorável para que grupos como o Hamas e o Hezbollah consolidassem suas posições e se sentissem mais confiantes para desafiar Israel. A guerra russo-ucraniana teve um impacto direto no mercado de armas global. A Rússia, ao enfrentar sanções econômicas e um bloqueio de acesso a tecnologias ocidentais, passou a depender mais fortemente do Irã para o fornecimento de drones e mísseis, como os drones Shahed-136, amplamente utilizados no conflito. Esta colaboração não só fortaleceu as capacidades da Rússia na Ucrânia, mas também potencializou a tecnologia militar disponível para o Hezbollah e o Hamas, que tradicionalmente recebem esse tipo de equipamento iraniano. A proliferação de tecnologia militar usada no campo de batalha ucraniano — como drones, foguetes e técnicas de guerra assimétrica — pode ter influenciado diretamente o Hamas, que já utiliza táticas de guerrilha e o lançamento de foguetes contra Israel. A possibilidade de o Hamas ter acesso a armamentos mais sofisticados ou táticas de combate aprimoradas por meio do Irã e da Rússia aumentaria a intensidade e a eficácia de seus ataques.

  A guerra na Ucrânia teve um impacto significativo nos mercados globais de energia, principalmente devido às sanções ocidentais ao petróleo e gás russos. Com a Rússia limitada em sua capacidade de exportação de energia, países produtores de petróleo no Oriente Médio, como o Irã e a Arábia Saudita, passaram a ter maior importância e influência no mercado global.
 Essa nova realidade econômica deu mais poder de barganha a países como o Irã, que utiliza sua influência energética para pressionar o Ocidente e, ao mesmo tempo, continuar financiando grupos militantes como o Hamas. O aumento dos preços globais do petróleo também fortaleceu economicamente países e grupos que dependem da venda de energia para financiar suas operações militares e políticas. A resistência ucraniana à invasão russa tem servido como uma fonte de inspiração para outros movimentos de resistência ao redor do mundo, incluindo o Hamas. A narrativa de uma pequena nação (Ucrânia) que luta contra uma superpotência (Rússia) pode ressoar fortemente com grupos como o Hamas, que se veem em uma posição semelhante em relação a Israel. O sucesso da Ucrânia em resistir militarmente às forças russas, mesmo com inferioridade em números e equipamentos, pode ter reforçado a convicção de que a resistência armada contra Israel também pode produzir resultados, especialmente quando acompanhada de apoio externo, como o que o Irã fornece ao Hamas.
 A guerra russo-ucraniana polarizou o cenário diplomático global, tornando mais difícil a coordenação de uma resposta unificada a crises regionais como o conflito israelense-palestino. A Rússia, um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, tem usado seu poder de veto para bloquear resoluções que poderiam prejudicar seus interesses na guerra na Ucrânia ou no Oriente Médio. Essa situação enfraqueceu as iniciativas diplomáticas internacionais para mediar conflitos em outras regiões, como o Oriente Médio, onde o conflito entre Israel e o Hamas continua sem resolução. Além disso, a sobrecarga diplomática causada pela guerra na Ucrânia diminuiu a capacidade das Nações Unidas e de outras organizações internacionais de intervir de forma eficaz em crises no Oriente Médio. Isso pode ter contribuído para a falta de pressões externas que poderiam conter a escalada das hostilidades entre Israel e o Hamas. Os países ocidentais, especialmente os Estados Unidos e os membros da OTAN, redirecionaram uma grande quantidade de recursos financeiros e militares para apoiar a Ucrânia em sua guerra contra a Rússia. Isso incluiu o envio de armamentos, assistência humanitária e suporte financeiro, deixando menos recursos disponíveis para conflitos em outras regiões. Essa realocação de recursos pode ter afetado tanto Israel quanto o Hamas, já que ambos dependem, de diferentes maneiras, de apoio externo. Israel, por exemplo, tem uma forte aliança militar com os EUA, e uma distração dos americanos pode ter deixado Israel mais vulnerável a ataques, enquanto o Hamas pode ter percebido uma oportunidade para intensificar suas operações.

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2 OS FATORES QUE DESENCADEARAM OS ATAQUES DE ISRAEL NO LÍBANO

Os ataques de Israel ao Líbano têm raízes complexas, envolvendo uma série de conflitos históricos e disputas territoriais, mas o mais recente ciclo de confrontos está diretamente ligado à atividade do grupo Hezbollah, uma organização político-militar xiita que opera no Líbano e tem apoio do Irã. Por outro lado, A relação entre os conflitos de Israel com o Hezbollah no Líbano e com o Hamas na Palestina está centrada em questões de segurança, disputas territoriais e a resistência de grupos armados que rejeitam a existência de Israel como Estado. Ambos, Hezbollah e Hamas, são organizações militantes com agendas parecidas, porém em contextos geográficos diferentes
 O Hezbollah, que Israel e vários países consideram uma organização terrorista, tem realizado ataques contra Israel a partir do sul do Líbano por muitos anos. Esses ataques incluem o lançamento de foguetes, incursões transfronteiriças e outras ações militares. Israel considera o Hezbollah uma grande ameaça à sua segurança e, por isso, realiza ações militares contra o grupo no território libanês.

Um dos eventos que desencadeou um grande conflito entre Israel e o Líbano foi o sequestro de soldados israelenses pelo Hezbollah em 2006, conhecido como a Guerra do Líbano de 2006. Este incidente provocou uma resposta militar massiva por parte de Israel, resultando em bombardeios intensos e uma guerra que durou 34 dias. O Hezbollah é amplamente apoiado pelo Irã, tanto em termos financeiros quanto militares. O crescimento da influência iraniana no Líbano e na Síria é visto como uma ameaça à segurança israelense, o que tem levado Israel a atacar posições do Hezbollah e de outros aliados iranianos no Líbano para impedir que essas forças se fortaleçam. As tensões também são agravadas por disputas territoriais, especialmente em relação às Fazendas de Shebaa, uma área que Israel ocupa desde 1967, mas que o Líbano reivindica. Essa disputa é frequentemente usada pelo Hezbollah para justificar ataques contra Israel.

 A guerra civil na Síria também contribuiu para aumentar as tensões, uma vez que o Hezbollah tem lutado ao lado do regime sírio de Bashar al-Assad. Israel realizou vários ataques aéreos na Síria contra o Hezbollah e outros alvos iranianos, e a proximidade geográfica entre Síria e Líbano facilita a escalada do conflito.

Pontos em comum entre os conflitos:

1.     Resistência armada contra Israel: Tanto o Hezbollah quanto o Hamas são movimentos que se opõem abertamente à existência de Israel e buscam a liberação dos territórios que consideram ocupados. O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, lançou uma série de ataques com foguetes e incursões contra Israel, assim como o Hezbollah faz a partir do Líbano. Esses ataques levam Israel a realizar operações militares em resposta, tanto na Palestina quanto no Líbano.

2.     Apoio de potências regionais: Tanto o Hezbollah quanto o Hamas recebem apoio de países como o Irã, que financia, treina e fornece armamentos a ambos os grupos. Esse apoio faz parte de uma estratégia mais ampla do Irã de aumentar sua influência no Oriente Médio e pressionar Israel por meio de suas fronteiras norte (Líbano/Síria) e sul (Gaza).

3.     Ataques e represálias cíclicas: Os confrontos entre Israel e o Hamas seguem um padrão de ataques cíclicos, com o Hamas lançando foguetes a partir de Gaza, seguidos de intensos bombardeios israelenses. Isso é semelhante aos conflitos com o Hezbollah, que também segue uma dinâmica de ataques transfronteiriços e retaliação por parte de Israel.

4.     Disputa sobre territórios ocupados: Tanto o Líbano quanto os palestinos disputam territórios que Israel controla. No caso do Hezbollah, a disputa está focada nas Fazendas de Shebaa, enquanto o Hamas está inserido no contexto do conflito sobre a ocupação israelense da Cisjordânia e do bloqueio a Gaza.

5.     Civis como principais vítimas: Assim como nos conflitos entre Israel e o Hezbollah, os combates com o Hamas resultam em um alto número de baixas civis, principalmente palestinos em Gaza, devido à densidade populacional e à destruição provocada pelos bombardeios.

Diferenças importantes:

1.     Contexto geográfico e político: O Hezbollah é uma força política e militar no Líbano, com participação no governo libanês, enquanto o Hamas controla diretamente a Faixa de Gaza, uma área palestina sob bloqueio de Israel e que tem uma dinâmica própria no conflito israelo-palestino.

2.     Objetivos específicos: O Hamas foca na libertação da Palestina e no estabelecimento de um Estado palestino, enquanto o Hezbollah, embora tenha ligações com a causa palestina, está mais centrado em fortalecer o poder xiita no Líbano e conter a influência israelense na região

 

3 CONCLUSÃO

Os conflitos de Israel com o Hezbollah no Líbano e com o Hamas na Palestina estão profundamente interligados devido à questão da resistência à ocupação israelense, o envolvimento de potências regionais como o Irã, e a dinâmica de ataques e represálias. Ambos os grupos representam ameaças militares para Israel em suas fronteiras norte e sul, e as respostas israelenses são semelhantes, com operações militares intensas visando neutralizar essas forças.
 A guerra russo-ucraniana influenciou o conflito entre Israel e o Hamas principalmente ao alterar a dinâmica geopolítica global, fortalecer alianças regionais como a de Rússia e Irã, afetar o mercado de armas e desviar a atenção e recursos internacionais. Enquanto o Oriente Médio já é uma região repleta de tensões históricas, a guerra na Ucrânia adicionou novas camadas de complexidade que permitiram que o Hamas e outros atores intensificassem seus ataques em um momento de instabilidade global. Os países ocidentais, especialmente os Estados Unidos e os membros da OTAN, redirecionaram uma grande quantidade de recursos financeiros e militares para apoiar a Ucrânia em sua guerra contra a Rússia. Isso incluiu o envio de armamentos, assistência humanitária e suporte financeiro, deixando menos recursos disponíveis para conflitos em outras regiões. Essa realocação de recursos pode ter afetado tanto Israel quanto o Hamas, já que ambos dependem, de diferentes maneiras, de apoio externo. Israel, por exemplo, tem uma forte aliança militar com os EUA, e uma distração dos americanos pode ter deixado Israel mais vulnerável a ataques, enquanto o Hamas pode ter percebido uma oportunidade para intensificar suas operações.
 A guerra russo-ucraniana impactou o conflito entre Israel e o Hamas de maneira indireta, mas significativa. Através do redesenho das alianças geopolíticas, a proliferação de armamentos, e o desvio de atenção e recursos internacionais, o conflito no Oriente Médio foi afetado pela guerra na Europa. O fortalecimento da cooperação entre Rússia e Irã e a crescente confiança do Hamas em táticas de resistência inspiradas pela Ucrânia são exemplos claros de como os eventos globais podem reverberar em crises regionais. Embora a guerra entre Rússia e Ucrânia esteja centrada na Europa, seus impactos são globais, moldando as dinâmicas de conflitos em regiões distantes como o Oriente Médio.

 

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Sobre o autor
Silvio Moreira Alves Júnior

Advogado; Especialista em Direito Digital pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal pela Faculminas; Especialista em Compliance pela Faculminas; Especialista em Direito Civil pela Faculminas; Especialista em Direito Público pela Faculminas. Doutorando em Direito pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES

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