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Eu sei o que vocês fizeram na eleição passada

Agenda 16/10/2024 às 22:58
Nas eleições municipais de São Leopoldo/RS, um episódio peculiar chama a atenção para o comportamento de certos atores políticos. No feriado de Finados de 2022, logo após o segundo turno das eleições presidenciais, minha mãe, como de costume, pretendia visitar o cemitério para prestar homenagens aos meus avós, mas foi impedida pelo caos instaurado pelos autointitulados “patriotas”. Liderados pelo Delegado Aposentado Heliomar, esses manifestantes montaram acampamento em frente ao quartel do 16º GAC AP, protestando contra a derrota do então presidente Jair Bolsonaro e alegando que as urnas eletrônicas não eram auditáveis, apesar de a Missão de Observação Eleitoral (MOE), coordenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ter atestado a transparência do sistema.
Os manifestantes clamavam por um golpe militar para reverter o resultado eleitoral, mostrando sua recusa em aceitar a vontade popular. Dois anos depois, o mesmo Heliomar, que outrora questionava a legitimidade das urnas, foi eleito prefeito de São Leopoldo sem qualquer contestação sobre a integridade do processo. Isso nos leva a refletir: o sistema eleitoral passou por alguma mudança, ou foi o discurso do Delegado Aposentado Heliomar que se ajustou a suas novas conveniências?
Esse caso revela uma dinâmica política em que os princípios são moldados de acordo com os interesses momentâneos. A lisura do sistema eleitoral brasileiro já foi amplamente comprovada por órgãos competentes, mas o comportamento daqueles que antes descreditavam a democracia e agora se beneficiam dela expõe uma flexibilidade ética preocupante. Isso levanta uma questão fundamental: quantos municípios, no último pleito, não testemunharam esse mesmo tipo de contradição política?

Sobre o autor
Alessandro Fernandes

Doutorando em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

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