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O Coaching no Brasil: Responsabilidade Social, Ética, Sustentabilidade e Ideais Progressistas

Agenda 21/10/2024 às 11:33

Autor: Ademarcos Almeida Porto – a cada dia em busca do saber e ciente que o caminho não tem fim.

Resumo

Este artigo investiga a evolução do coaching no Brasil à luz da responsabilidade social, ética, sustentabilidade e ideais progressistas. A prática do coaching tem ganhado espaço no país, principalmente em um cenário neoliberal que valoriza o sucesso individual. No entanto, surgem críticas acerca da falta de regulamentação, superficialidade em programas de formação e o impacto ético de sua popularização. O texto examina como o coaching pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e coletivo, desde que pautado por valores de inclusão, igualdade e sustentabilidade. A análise inclui uma abordagem comparativa com o coaching na América do Norte, Europa e China, identificando diferentes influências culturais e econômicas. Conclui-se que, no contexto brasileiro, o coaching tem o potencial de promover mudanças sociais, desde que alinhado com práticas éticas e sustentáveis.

Palavras-chave: Coaching, ética, responsabilidade social, sustentabilidade, ideais progressistas, Brasil.

Abstract

This article investigates the evolution of coaching in Brazil considering social responsibility, ethics, sustainability, and progressive ideals. Coaching has gained ground in the country, particularly within a neoliberal context that values individual success. However, criticisms have emerged regarding the lack of regulation, superficiality in training programs, and the ethical impact of its popularization. The text examines how coaching can contribute to personal and collective development if it is guided by values of inclusion, equality, and sustainability. The analysis includes a comparative approach with coaching in North America, Europe, and China, identifying different cultural and economic influences. The conclusion is that, in the Brazilian context, coaching has the potential to promote social change, provided it is aligned with ethical and sustainable practices.

Keywords: Coaching, ethics, social responsibility, sustainability, progressive ideals, Brazil.


1. Introdução

O coaching, enquanto prática voltada ao autodesenvolvimento, tanto pessoal quanto profissional, tem se expandido rapidamente no Brasil desde os anos 2000. Embora seja amplamente utilizado em áreas como administração, psicologia e desenvolvimento pessoal, há uma crescente preocupação com a ética e a responsabilidade social envolvidas nessa prática. Em um cenário global marcado por profundas desigualdades sociais e desafios ambientais, o coaching também deve se alinhar a princípios de sustentabilidade e justiça social.

No Brasil, onde o coaching muitas vezes se populariza por meio de treinamentos rápidos e superficiais, é necessário discutir seu papel em um contexto mais amplo, considerando as responsabilidades éticas, a sustentabilidade e os ideais progressistas. Este artigo examina como o coaching pode atuar dentro desse cenário, comparando sua evolução no Brasil com práticas em outras regiões, como América do Norte, Europa e China.

2. Coaching na América do Norte, Europa e China

2.1. Coaching na América do Norte

Nos Estados Unidos, o coaching foi fortemente influenciado pela gestão empresarial e pela psicologia positiva, promovendo o crescimento individual com foco em produtividade e liderança. Grant (2006) destaca que o coaching nos EUA é visto como uma ferramenta essencial para desenvolver habilidades de liderança dentro de uma lógica de alta performance.

Nos EUA, o coaching de vida (life coaching) também é popular, concentrando-se no bem-estar pessoal e sucesso individual, o que reflete uma cultura que valoriza a realização pessoal. No entanto, a falta de regulamentação no setor tem gerado críticas, como destaca Whitmore (2010), ao alertar para a ascensão de coaches sem formação científica adequada.

2.2. Coaching na Europa

Na Europa, o coaching assumiu uma abordagem mais humanista, destacando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a responsabilidade social. Rosinski (2010) aponta que o coaching intercultural se destacou no continente, com uma abordagem que respeita a diversidade e promove a colaboração entre diferentes culturas.

Os países europeus têm feito esforços para regulamentar a profissão, o que confere mais credibilidade aos coaches e suas práticas, refletindo a tradição filosófica e social do continente, que preza por valores éticos e de bem-estar.

2.3. Coaching na China

O coaching na China é um fenômeno mais recente, impulsionado pelo rápido crescimento econômico e pela busca de alta performance no mercado global. Tan (2014) destaca que o coaching inicialmente se apresentou como uma prática ocidental, mas com o tempo foi adaptado aos valores culturais chineses, incluindo o confucionismo, que valoriza a harmonia e o respeito à hierarquia.

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No entanto, o coaching na China enfrenta desafios culturais, pois o foco no desenvolvimento individual pode entrar em conflito com os valores coletivistas tradicionais, conforme ressalta Wang (2016).

3. Responsabilidade Social e o Coaching no Brasil

A responsabilidade social envolve a consideração dos impactos sociais das práticas de coaching. No Brasil, essa prática deve levar em conta as profundas desigualdades sociais e a exclusão econômica. Um coaching verdadeiramente comprometido com a responsabilidade social deve buscar o empoderamento de indivíduos marginalizados e fomentar a igualdade de oportunidades, como discutido por Santos (2018). Coaches socialmente responsáveis precisam ir além da visão neoliberal de sucesso individual, promovendo uma abordagem coletiva que contribua para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

4. Ética no Coaching: Práticas e Desafios

A falta de regulamentação no Brasil levanta questões éticas fundamentais no coaching. Como apontado por Whitmore (2010), a ausência de padrões mínimos de qualificação permite que qualquer pessoa se autodenomine coach, o que pode colocar clientes em situações vulneráveis. Um coaching ético deve ser transparente em seus métodos e compromissos, além de buscar sempre o melhor interesse do cliente, inclusive indicando outros profissionais quando necessário.

5. Sustentabilidade e Coaching

O conceito de sustentabilidade é cada vez mais relevante no coaching, especialmente no Brasil, onde questões ambientais e sociais estão no centro das discussões políticas. Coaches precisam adotar uma visão a longo prazo, incentivando seus clientes a tomar decisões que não apenas maximizem seus resultados individuais, mas que também considerem o impacto dessas escolhas no meio ambiente e na sociedade, como sugere Silva (2020).

6. Ideais Progressistas e o Coaching no Brasil

O coaching pode ser uma ferramenta de transformação social quando alinhado com os ideais progressistas, que defendem a igualdade e a inclusão social. Coaches comprometidos com esses valores devem fomentar o empoderamento de minorias e populações marginalizadas, desafiando as normas neoliberais de sucesso individual, como discutido por Rosinski (2010).

No Brasil, marcado por divisões sociais profundas, o coaching progressista pode ajudar a promover uma mudança social real, tornando-se uma prática mais inclusiva e consciente das necessidades coletivas.

7. Conclusão

O coaching no Brasil possui o potencial de promover tanto o desenvolvimento individual quanto social. Contudo, para que isso ocorra, é fundamental que esteja alinhado a princípios de responsabilidade social, ética, sustentabilidade e ideais progressistas. No contexto brasileiro, o coaching deve ir além da visão neoliberal de sucesso pessoal, tornando-se uma prática comprometida com o bem-estar coletivo e o desenvolvimento sustentável.


Referências

GRANT, Anthony M. The impact of life coaching on goal attainment, metacognition and mental health. Social Behavior and Personality: An International Journal, v. 34, n. 3, p. 253-264, 2006.

ROSINSKI, Philippe. Coaching across cultures: New tools for leveraging national, corporate, and professional differences. Nicholas Brealey Publishing, 2010.

SANTOS, Maria José. Coaching e responsabilidade social no Brasil: Desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Psicologia, v. 35, n. 2, p. 145-160, 2018.

SILVA, Carlos. Sustentabilidade e coaching: Desafios no contexto brasileiro. Estudos em Desenvolvimento Sustentável, v. 12, n. 1, p. 20-33, 2020.

TAN, Xiaoying. The rise of coaching in China: Adapting Western methods to Eastern values. Journal of Leadership and Organizational Studies, v. 21, n. 4, p. 460-475, 2014.

WANG, Li. Cultural Challenges in the Coaching Industry in China. Coaching: An International Journal of Theory, Research and Practice, v. 9, n. 1, p. 22-35, 2016.

WHITMORE, John. Coaching for performance: GROWing human potential and purpose. Nicholas Brealey Publishing, 2010.

 

Sobre o autor
Ademarcos Almeida Porto

Formado pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo/SP Título de Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Escola Superior de Advocacia - OABSP. Pós graduação em Direito Constitucional Cursos de extensão em: Direito imobiliário; Direito da Família e Sucessões; Direito do Consumido; Estatuto da Criança e do Adolescente e Direito do Trabalho. Especializando em Direito da Família e das Sucessões.

Informações sobre o texto

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