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A filosofia de Machado de Assis. Animais do mundo.

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Agenda 29/10/2024 às 14:01

[1] As características principais das obras de Machado de Assis são: 1. Crítica à burguesia e à sociedade de maneira geral; 2. Ironia; 3. Metalinguagem; 4. Diálogo direto com o leitor.  Sua obra também é bastante conhecida pelo chamado realismo psicológico, que se caracteriza pelos aspectos psicológicos dos personagens, os quais, até então, eram explorados apenas a nível físico e costumeiro. Por ser um escritor que também era jornalista e cronista, sua visão da sociedade, a qual rotineiramente observava, influenciava muito o que abordava em suas obras: a sociedade burguesa carioca do século XIX.

[2] Doutrina ou estudo da salvação do homem por um redentor. A soteriologia é o estudo da salvação humana. A palavra é formada a partir de dois termos gregos σωτήριος [Soterios], que significa "salvação" e λόγος [logos], que significa "palavra", "princípio", ou "ensino". Cada religião oferece um tipo diferente de salvação e possui sua própria soteriologia, algumas dão ênfase ao relacionamento do homem em unidade com Deus, outras dão ênfase ao aprimoramento do conhecimento humano como forma de se obter a salvação.

[3] O humanitismo é o nome de uma filosofia fictícia criada por Quincas Borba ou Joaquim Borba dos Santos, que é exposta no romance Quincas Borba e também secundariamente em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Para os críticos a referida filosofia constitui-se no império da lei do  mais forte, do mais rico e do mais esperto. É a transformação do homem em objeto do homem, sendo uma das principais maldições relacionadas à falta de liberdade verdadeira, econômica e espiritual. Traduziu-se numa sátira ao positivismo de Auguste Comte e ao cientificismo do século XIX e, ainda, à teoria de Darwin sobre a seleção natural.  Desnudava ironicamente o caráter desumano e antiético da lei do mais forte.

[4] Dom Casmurro não é, em verdade, um romance. Como todas as outras obras do período realista de Machado de Assis, Dom Casmurro tem por objetivo central mostrar ao homem sua própria mediocridade. Aliás, um ponto marcante em sua obra é essa visão pessimista em relação ao homem . Especialmente nesta obra, Machado ainda dirige uma certa crítica à obra “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz, onde o autor acredita poder descrever a realidade de forma fidedigna. Frente a isso, Machado nos mostra, em “Dom Casmurro”, a realidade sob o ponto de vista de um marido ciumento, atormentado em seus devaneios.

[5] No Brasil, as relações sociais têm um mediador quase que universal: o favor. Assim, rentista, herdeiro de grande monta como Brás que não trabalha nem compra o pão com o suor conta positivamente as negativas. O pobre, a seu turno, que trabalho, ao revés, não faz mais que sua obrigação. E, não há mérito nisso. Afinal de contas, o pagamento, na maioria das vezes, é apenas representado como meio de troca. E, todas as relações de Brás Cubas com o dinheiro têm um funcionamento muito antimoderno. Tanto que compra a consciência de Dona Plácida por cinco contos. Retribui uma moeda de prata ao almocreve que lhe salvou a vida. Todas as perspectivas se submetem à função ideológica.  Logo, o antagonismo de classe, em sua forma particular no Brasil,  seria a chave para a compreensão do romance. A grandeza de  Machado está em interiorizar no romance as contradições das  relações sociais, conferindo-lhes uma totalidade virtualmente  inexistente no plano da realidade. A técnica narrativa se transforma  na mimese da volubilidade como estrutura social.

[6] O alcance do ceticismo machadiano transcende o dos  moralistas. Banido o vínculo teológico, subtraído o Deus de Pascal,  Machado pressente que as duas Naturezas, diversas pelo grau de  veracidade, são falsetes que se duplicam nas personagens e  compõem a malha social.

[7] Aponta-se a tomada da Bastilha como o início da Revolução  Francesa. Construída como uma defesa contra os ingleses durante a Guerra dos Cem Anos, logo se tornou uma prisão. Luís XIV transformou-a em uma espécie de prisão política, para  onde eram enviados, sem direito a julgamento, conspiradores e "indesejados" de uma  maneira geral. No século XVIII, um grupo específico passou a "frequentar" cada vez mais  as celas da Bastilha: os escritores. Machado deu a Itaguaí sua Bastilha: a Casa Verde. O próprio autor chama algumas  vezes a atenção para a analogia. Primeiro, quando um dos personagens define o manicômio  como a "Bastilha da razão humana". Depois, afirma que "os trezentos que caminhavam  para a Casa Verde, – dada a diferença de Paris a Itaguaí, – podiam ser comparados aos que  tomaram a Bastilha" (p. 271). E logo em seguida há uma referência irônica ao famoso  diálogo de Luís XVI com o duque de La Rochefoucauld-Liancourt, quando este o avisou da  tomada da Bastilha: – Isso é uma revolta? – teria indagado o rei. – Não, sire, é uma revolução.

[8] Além disso, lembremos que Machado de Assis ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras sinceramente inspirada na Academia Francesa, e há quem defenda que o escritor foi crítico e irônico em relação aos ideais revolucionários, como se pode perceber nas obras, como O Alienista e Memórias Póstumas de Brás Cubas.

 

[9] Diante da monstruosidade humana, Pascal, afirmou que o homem age pautado em seus interesses, mas às vezes, suas ações contêm uma centelha de bondade. Mas, Machado de Assis discordou. Em Brás Cubas, não acreditou em boas ações, foi influenciado pelos moralistas franceses, para quem os bons sentimentos são mera máscara hipócrita do egoísmo.  Sempre ser vistas por um prisma de desconfiança, pois “a frase  machadiana é de fato sempre faceira: exige que nós a olhemos antes de ver o que ela. Miguel Reale discorda dos apontamentos de Afrânio Coutinho. Segundo ele há  um certo exagero na correlação.

[10] No cristianismo a salvação é estabelecida através de Jesus Cristo. A soteriologia no cristianismo estuda como o evangelho de poder e os ensinamentos de Jesus e a fé n'Ele separa do mundo e das práticas mundanas as pessoas que antes estariam condenadas pelo pecado e os reconcilia com Deus. Os cristãos recebem o perdão dos pecados, vida e salvação adquirido por Jesus Cristo através de seu sofrimento inocente, morte e ressurreição após sua morte. Esta graça da salvação é recebida sempre pela fé em Jesus Cristo, através da palavra de Deus. Alguns cristãos, simplificadamente, acreditam que a salvação é obtida a partir deles e da vontade de Deus (sinergismo), outros creem que a salvação parte da vontade absoluta de Deus e o homem pela fé é incapaz de resistir.

[11] François-René, Visconde de Chateaubriand foi um escritor, ensaísta, diplomata, realista e político francês que se imortalizou pela sua magnífica obra literária de caráter pré-romântico. Quando eclodiu a revolução francesa, o jovem Chateaubriand era oficial de cavalaria e quando seu regimento foi dissolvido, em abril de 1791, emigrou para os Estados Unidos, onde conviveu com comerciantes de pele e índios. Em 1792 resolveu regressar a França e ingressou no exército contrarrevolucionário. Ferido na batalha de Thionville, Chateaubriand mudou-se para Bélgica e depois para Londres, onde em meio a grandes dificuldades econômicas, viveu como professor particular e escreveu “Ensaio Histórico, Político e Moral sobre as Revoluções”. A vida política de François-René de Chateaubriand começou com a queda do império. Chegou a ser embaixador em Berlim e Londres, assistiu ao Congresso de Verona, além de ser ministro das Relações Exteriores.  Viveu durante os últimos anos de sua vida graças à renda que lhe proporcionou a obra-prima “Memórias de Além-Túmulo”.

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[12] A questão da alma presente no conto "O Espelho - esboço de uma nova teoria  da alma humana" (1882) de Machado de Assis discute a relação entre ironia e metafísica na exposição machadiana de  ideias filosóficas realizando um breve paralelo entre o escritor brasileiro e os  filósofos Sócrates, Aristóteles e Heidegger.

[13] A definição clássica de Metafísica dada  por Aristóteles (2001) compreende  quatro pontos:  1. Ciência das causas  primeiras ou supremas;  2. Ciência do ser enquanto ser;  3. Ciência da substância;

4. Ciência de Deus e da substância supra-sensível.

[14] A tradição da Igreja enumera doze: «caridade, alegria, paz, paciência, bondade, longanimidade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência, castidade» (Gl 5, 22-23 segundo a Vulgata). Resumindo: 1833. A virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem.

[15] Blaise Pascal foi um matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo francês. Prodígio, Pascal foi educado por seu pai. Os primeiros trabalhos de Pascal dizem respeito às ciências naturais e ciências aplicadas. Contribuiu significativamente para o estudo dos fluidos. Em 1654, depois de quase morrer em um acidente de carruagem e passar por uma experiência mística, Pascal decidiu consagrar-se a Deus e à religião. Elegeu seu guia espiritual o padre jansenista Singlin e, em 1665, recolheu-se à abadia de Port-Royal des Champs, centro do jansenismo. Nesse período, elaborou os princípios de sua doutrina filosófica, centrada na contraposição dos dois elementos básicos e não excludentes do conhecimento: de um lado, a razão com suas mediações que tendem ao exato, ao lógico e discursivo (espírito geométrico). Do outro lado, a emoção, ou o coração, que transcende o mundo exterior, intuitiva, capaz de aprender o inefável, o religioso e o moral (espírito de finura). Pascal resumiu sua doutrina filosofia na frase que a humanidade repete há séculos, na qual nomeia os dois elementos do conhecimento - a razão e a emoção.  "O coração tem razões que a própria razão desconhece."

[16] A religiosidade e espiritualidade são  fatores constitutivos da subjetividade humana, nomeando vivências e experiências  com suas significações, corroborando a ideia de Oliveira e Pinto (2018) em relação à  uma compreensão biopsicossocial-espiritual dos sujeitos.

[17] Consummatum est (locução latina que significa "tudo está consumado") locução. Últimas palavras de Jesus Cristo ao expirar na cruz; citam-se a propósito de uma grande catástrofe, ou de uma vida que acaba de extinguir-se. Fonte: Vulgata, S. João, XIX, 30. pub. Parecidas. Palavras vizinhas.

[18]  O jovem Ícaro é filho de Dédalo, famoso inventor grego, responsável pela criação do labirinto de Creta, que abrigava o temível Minotauro, c criatura que, de certa forma, ele mesmo contribuiu em trazer ao mundo, pois foi Dédalo quem construiu a estrutura dentro da qual entrou Pasífae para ser possuída pelo touro do rei Minos (seu marido), como castigo enviado por Poseidon por ter se negado a sacrificar aquele animal. Dédalo participou uma vez mais nos mitos gregos quando ajudou Ariadne a tirar Teseu de dentro do labirinto de Creta, logo após este derrotar o Minotauro. Ao saber de sua traição, o rei Minos o aprisionou, junto com seu filho Ícaro.

[19] Para alguns intelectuais, a história de Ícaro e Dédalo é uma lembrança da força da ambição e das consequências trágicas que podem ocorrer quando a ignorância e a imprudência prevalecem sobre a sabedoria. Outra análise feita versa sobre a importância de os mais jovens escutarem os conselhos dos mais velhos. A morte de Ícaro aconteceu justamente por este ter desobedecido às ordens de Dédalo. Há também os que afirmam que a história diz respeito ao excesso de confiança. Quanto mais Ícaro subia, mais se encantava e mais poderoso se sentia, acreditando que nada poderia impedi-lo de atingir seu objetivo. O mito faz referência ao caminho discipular de todo homem que acorda para a verdadeira espiritualidade. Trata da busca pelo estado de liberdade, no caso representado pelo voo, que também referência as capacidades latentes do homem que vão aos poucos se desenvolvendo de acordo com a necessidade do momento. O Sol, neste caso representa a Luz, a Sabedoria, que jamais deve ser buscada. Para tanto, o mito pune Ícaro com a morte por ter ascendido voo além do limite, demonstrando que o discípulo não deve sair repentinamente da caverna, assim como bem nos ensinou o mestre Platão no Mito da Caverna. O mito também mostra a queda do discípulo da senda, ocasionada pelo encantamento com a sabedoria, que traz à tona o vício da vaidade, da presunção e da ganância, e da falta da paciência.

[20] Quanto aos aspectos mais concretos, o mito nos reporta à responsabilidade sobre a paternidade e/ou maternidade, já que, uma vez responsáveis por nossos filhos, devemos oportunizá-los e permitir-lhes terem suas próprias experiências para, então, poderem amadurecer e tornarem-se capazes de realizar seus sonhos, inclusive conquistar a independência material. No mito, Dédalo acaba por fazer todas as tarefas, desde a ideia até a confecção das asas, sem a participação de seu filho, que acabou por perder suas referências básicas materiais e alçou voo nas alturas, o que acabou ocasionando sua morte. Na verdade, Ícaro não estava preparado nem havia sido devidamente treinado e orientado pelo pai.

[21] Sébastien-Roch Nicolas, que tomou posteriormente o nome de Nicolas de Chamfort, foi um poeta, jornalista, humorista e moralista francês. Estreando com alguns artigos no Journal Encyclopédique (Jornal Enciclopedista) e uma colaboração no Vocabulaire Français (Vocabulário Francês), faz-se notar bem cedo através de alguns prêmios de poesia dados pela Academia, dá ao Théâtre-Français algumas comédias que fazem sucesso e junta-se aos diversos empreendimentos literários para se sustentar. Sua reputação o faz ser escolhido pelo Príncipe de Condé como secretário de suas licitações; torna-se em 1784 secretário ordinário e do gabinete de Madame Elizabeth, irmã do Rei Luís XVI. Antes da Revolução,  foi um dos escritores mais apreciados nos salões parisienses, brilhante e espirituoso, escrevendo diversas peças para teatro. Iniciou-se na Franco-Maçonaria em 1778.  Fez carreira de homem de letras que o conduziu à Academia Francesa em 1781 (ocupando a cadeira nº 6), porém prematuramente contraiu uma doença venérea da qual jamais se recuperou e que deixou sua saúde precária pelo resto da vida.

[22] Considerado o "primeiro mestre" de Machado de Assis, o poeta português Francisco Gonçalves Braga (1836-1860) é um ilustre desconhecido nas literaturas brasileira e portuguesa. Dessa forma, o artigo mostra aspectos da vida literária de Gonçalves Braga, sobretudo nos seis anos em que viveu no Rio de Janeiro.

[23] Espiritualismo é a denominação genérica de doutrinas religiosas ou filosóficas para as quais a essência da realidade é o espírito, entendido quer como substância psíquica, consciência universal, pensamento puro, liberdade irrestrita, vontade absoluta ou divindade todo-poderosa. O espírito é então a realidade primordial, o bem supremo, a fonte de todos os valores e o unificador das consciências finitas. Transcende a natureza material, que se reduz à aparência sensível ou manifestação da substância imaterial, infinita. O espiritualismo passou assim a designar as correntes de pensamento que afirmam a existência de uma realidade imaterial. O dualismo e o monismo, o teísmo e até certos tipos de ateísmo, o panteísmo, o idealismo e outras tendências filosóficas são consideradas compatíveis com o espiritualismo, pois admitem uma realidade independente da matéria e superior a ela. Foram espiritualistas Platão, por seu conceito de alma, e Aristóteles, por distinguir o intelecto ativo do passivo e por conceber Deus como realidade pura. Em sentido mais amplo, podem ser considerados espiritualistas o neoplatônico Plotino e os racionalistas Descartes, Malebranche e Leibniz, entre outros.

[24] Hipólito da Costa (1774-1823) foi o redator do primeiro periódico liberal de língua portugue­sa, o Correio Braziliense, e é considerado o patriarca do jornalismo brasileiro. Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (Colônia do Sacramento, 13 de agosto de 1774 — Londres, 11 de setembro de 1823) foi um jornalista, maçom e diplomata brasileiro, patrono da cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras. Seu irmão, José Saturnino da Costa Pereira, foi Senador do Império do Brasil e Ministro da Guerra.

[25] A possibilidade de mecanizar o cálculo aritmético foi apresentada pela primeira vez ao público em 1642 pelo matemático e filósofo francês Blaise Pascal. Pascal, então com dezanove anos e sem conhecimento dos trabalhos anteriores, construiu uma máquina calculadora que ficou conhecida pelo nome de Pascalina.

[26] No tecnomecanicismo cartesiano, os corpos (e não os homens) não passam de aparatos autômatos. Como toda coisa extensa, a explicação do funcionamento de um corpo vivo deve ser procurada em conexões lineares, em forças físicas dispostas na forma de relações de causalidade no circuito fisiológico. Desse modo, para Descartes, a diferença ontológica entre a alma e o corpo não se aplicaria aos diferentes corpos, sejam eles naturais ou fabricados. Além do mais, não seria a alma que daria movimento e calor ao corpo, sendo estes princípios básicos de um corpo vivo, como afirma o quinto artigo de As paixões da alma: "Que é um erro que a alma dá movimento e calor ao corpo" (Descartes, 2000).

 

[27] Um problema de tamanha importância para a História da  Filosofia e até mesmo para nossos próprios modos particulares de ver o mundo, pode ser mais  bem aproveitado se não o limitarmos e respeitarmos sua complexidade. Tentar uma  explicação fácil para uma questão de tamanha abrangência e que talvez seja irrespondível  pode não ser o melhor modo de se tratar este tema ou mesmo este autor, de um modo geral,  que tanto advertiu contra julgamentos precipitados e contra a estreiteza de pensamento.

[28] Torna-se inevitável lembrar o  parágrafo 25 de Ser e Tempo, em que  Heidegger (1999, 167) diz: “O  esclarecimento do ser-no-mundo  mostrou que, de início, um mero sujeito  não ‘é’ e nunca é dado sem mundo. Da  mesma maneira, também, de início, não  é dado um eu isolado sem os outros”.

[29] René Karl Wilhelm Johann Josef Maria Rilke, mais conhecido como Rainer Maria Rilke, ou por vezes também Rainer Maria von Rilke, foi um poeta e romancista austríaco. Ele é "amplamente reconhecido como um dos poetas de língua alemã mais liricamente intensos". Ele escreveu versos e prosa altamente lírica. Em 1910, foi publicado seu único romance, Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, que abriu novos caminhos no gênero. Trata-se de um diário supostamente escrito por um jovem poeta dinamarquês que vive em Paris, com características autobiográficas e que, na forma, reflete a crise existencial e da sociedade do final do século XIX. Em 1923, Rilke terminou as Elegias de Duíno e os Sonetos de Orfeu. Outras obras importantes do autor são: O Livro das imagens (1902) e O Livro das Horas (1899-1903).

[30]  No século XVIII, Julien Offray de La Mettrie escreve o polêmico livro intitulado L'homme-machine [O homem-máquina]. Se Descartes propõe o corpo como uma máquina, La Mettrie conclui que o homem é uma máquina. Ao acompanharmos o movimento do pensamento no século XVIII, podemos perceber que, nesse século, a filosofia não tem como fundamento a ciência matemática, como o tem para Descartes. A base científica da filosofia no quadro teórico do século XVIII está voltada para as ciências naturais. Sendo assim, Julien Offray de La Mettrie elabora em sua obra uma tese própria para sua época. A proposta de Descartes, que descreve o funcionamento do corpo humano como uma máquina, é assim conduzida para outra afirmação mais radical: o homem é uma máquina.

[31] A “Apologia de Raymond Sebond” indica o interesse de Montaigne pelo ceticismo antigo, pois ele percebeu sua relevância para as discussões religiosas da sua época. trata do  ceticismo nos Ensaios, pode ser interpretado por duas diferentes leituras que se opõem. Em  uma leitura, o seu ceticismo é visto como uma defesa do cristianismo. Seria uma apologia  cética da religião cristã. No complexo diálogo que realiza com Sebond e seus críticos,  Montaigne, em sua proposta inicial de defendê-lo, discursaria em prol da fé e da grandeza de  Deus. Em outra leitura oposta, seu ceticismo é interpretado como uma crítica à religião cristã, limitando-a à esfera do que é meramente humano, ao pôr em dúvida a possibilidade de o  homem obter o conhecimento de Deus através razão, seu instrumento epistemológico natural.  Apesar dessa proposta inicial de Montaigne de defender a religião tradicional, estes últimos  intérpretes leem a Apologia como um ensaio estritamente cético, como se seu objetivo  primordial fosse, na realidade, demonstrar os problemas e a fraqueza da religião cristã através  de uma crítica profunda à capacidade da razão humana de conhecer as coisas. Assim,  enquanto a primeira leitura apresenta um Montaigne comprometido com a fé, a segunda  evidencia os aspectos de seu ceticismo mais ligados ao naturalismo ou ao paganismo.

[32] In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000202.pdf  Em apertada síntese, para que o leitor possa entender com algum conhecimento de causa o que se diz a seguir, é a história de dois filósofos, Stroibus e Pítias, que querem provar que todas as essências humanas encontram-se nos bichos. Para desenvolver uma essência qualquer, basta beber o sangue do animal escolhido. Assim, o rato faria o ladrão; o pavão faria o enfatuado; o boi faria o paciente; a aranha faria o músico, o geômetra, o sábio etc. Os dois beberam o sangue de rato e viraram ladrões, foram presos e sacrificados com o mesmo processo que usaram para sacrificar milhares de ratos para a sua experiência, isto é, através da vivissecção, para estudos e proveito da própria humanidade. Tudo é válido em prol da ciência, que, em meados do século XIX, passou a ser a deusa da verdade. O ideal é mesmo você ler esse conto!

[33] Também a ironia é um conceito controverso, pois além das possibilidades textuais da ironia filosófica, o escritor ganhou maior sofisticação estética. A ironia equilibrada entre dois discursos, um explícito e outro sugerido, levando o leitor oscilar entre um sorriso ou a escancarada gargalhada. A ironia de Machado de Assis está sempre voltada para as mazelas humanas e nasceu da valoração da vida.

[34] É possível afirmar que Machado de Assis criava teorias absurdas não apenas para alfinetar ironicamente o cientificismo do século XIX, mas também demostrar o caráter reificante da ciência. Esse método se dava através da satirização dos procedimentos científicos, que não tinha o intuito de divertir a sociedade, mas incomodá-la e também levá-la à reflexão sobre a maneira como a ciência estava monopolizando à sociedade.

Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Informações sobre o texto

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