O PAPEL DA ESCOLA E DA FAMÍLIA NA PREVENÇÃO DO BULLYING
A Escola e a família são as primeiros instituições sociais com o qual o homem tem contato, são as instituições que contribuem diretamente para a formação da personalidade humana, que contribuem para definir o que individuo é e será futuramente.
A autora Eva Maria Lakatos em seu livro “Sociologia Geral” afirma que:
A família em geral, é considerada o fundamento básico e universal das sociedades, por se encontrar em todos os agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e o funcionamento (...) Retornando as sociedades ágrafas, verificamos que essas apresentam apenas a educação informal, um misto, de transmissão dos valores e habilidades requeridas para a vida em uma sociedade pequena e homogênea. A própria convivência diária é uma mistura de socialização e adestramento (LAKATOS, 2009, p.171/223).
Desta forma, a família tem papel primordial na identificação e interrupção do fenômeno “Bullying”, apesar de não ser tarefa fácil, já que a vítima sente-se retraída a contar, principalmente aos pais, as agressões que tem sofrido, com medo que os mesmos não acreditem ou não entendam. A idéia generalizada e leiga é a de que, por ser o “Bullying” considerado um fato normal para a maioria dos adultos, e encarado como necessários para a formação da personalidade do individuo, não se deve dar demasiada importância para ele.
De acordo com Ana Beatriz Barbosa Silva:
Cria-se, assim, um ambiente familiar aparentemente harmônico, no qual a função mais importante para os pais é ser um ponto de referência material e financeiro capaz de simular uma afetividade difícil de ser exercida. Constrói-se, dessa maneira, um cenário doméstico de falsa tranquilidade e segurança. É a política do “com o tempo tudo se resolve”. No entanto, a sabedoria popular costuma dizer o contrário: “um dia a casa cai”. (Silva, 2010, p. 61)
Tendo os pais papel fundamental na proteção e na luta dos direitos dos seus filhos, a prevenção e identificação de tal fenômeno é uma obrigação ainda maior para os mesmos. A família tem o dever de acompanhar a rotina do filho, bem como sua vida escolar e social, o que facilita a identificação de hábitos e comportamentos anormais, que os leva a procurar a causa da alteração.
A família deve conversar, se mostrar presente, para que o individuo tenha confiança na mesma e se sinta confortável para comunicar algo de errado que venha acontecer, ou estar acontecendo com ele fora da supervisão de sua família.
No entanto, a família não está sozinha nesta luta, a escola tem o papel de controlar as ocorrências de “Bullying”, tornando-se co-responsável já que é lá o cenário em que os comportamentos são gerados, tornando-se evidentes ou graves.
Alerta-se para o fato de que um outro grupo de fatores de risco relaciona-se ao ambiente familiar. Por exemplo, há indícios de que algumas vítimas vêm de famílias superprotetoras ou excessivamente apegadas. Talvez essas crianças não tenham desenvolvido, dentro da família, as capacidades de autoconfiança e de independência que lhes seriam úteis no grupo de colegas.
Além dos fatores de temperamento (como ser facilmente irritável), os fatores familiares costumam ser citados como fatores de risco para as crianças que persistentemente praticam intimidação. O mais comum é que essas crianças venham de famílias às quais falta afeto, nas quais a disciplina é inconsistente e há muita violência. Pais que foram intimidadores em seus tempos de escola tendem a ter filhos intimidadores. As crianças que são tanto intimidadoras quanto vítimas (vítimas agressivas) talvez venham de famílias particularmente perturbadas ou violentas.
Lopes explica:
As famílias, tanto dos alvos como dos autores, devem ser ajudadas a entender o problema, expondo a elas todas as possíveis conseqüências advindas do bullying. Os pais devem ser orientados para que busquem a parceria da escola, conversando com um gestor ou um professor que lhes pareça mais sensível e receptivo ao problema (LOPES, 2005).
As escolas podem dar maiores ou menores oportunidades para a ocorrência de intimidação, em termos da natureza do ambiente escolar e do tipo de valores éticos que ali prevalecem, de haver ou não uma política escolar que de fato funcione e sanções contra a prática da intimidação, e de quais são as atitudes dos grandes grupos de colegas, na escola.
O ambiente escolar também se revela um fator que influencia o “Bullying” quando ocorrem, por exemplo,cortes orçamentários recentes ou iminentes; problemas com pessoal (alta rotatividade, recrutamento, saúde física, qualidade, motivação); espaço físico insuficiente; a escola foi instruída pela Autoridade Local a matricular a criança ou a escola está mal-informada ou desinformada sobre a natureza das necessidades e das circunstâncias da criança. Também a natureza das políticas de administração de comportamento, de disciplina, tem implicações no fenômeno.
Por ser relativamente mais fácil trabalhar nas escolas do que tratar das questões mais amplas de ordem social e familiar, as intervenções de combate à intimidação por parte das escolas vêm-se constituindo numa maneira normativa de lidar com a intimidação. Todavia, muitas são as discussões sobre a postura das instituições frente às ocorrências de “Bullying”. Muitos, também, são os posicionamentos frente a esse assunto: alguns profissionais da área da educação defendem uma ordem hierárquica no posicionamento da escola, qual seja, diante das primeiras ocorrências a escola deve fazer anotações; se o comportamento continuar a escola deve contatar os pais; mantendo o mesmo comportamento a escola deve contatar o Conselho Tutelar, para que medidas cabíveis, na forma da lei, possam ser tomadas.
Lopes afirma da necessidade do atendimento psicológico:
A avaliação psiquiátrica e/ou psicológica pode ser necessária e deve ser garantida nos casos em que crianças ou adolescentes apresentem alterações de personalidade, intensa agressividade, distúrbios de conduta ou se mantenham, por longo período, na figura de alvo, autor ou alvo/autor. A prevenção de futuros incidentes pode ser obtida com orientações sobre medidas de proteção a serem adotadas: ignorar os apelidos, fazer amizade com colegas não agressivos, evitar locais de maior risco e informar ao professor ou funcionário sobre o bullying sofrido (LOPES, 2005).
Ainda,
O tratamento indicado para o autor de bullying deve ser o de habilitá-lo para que controle sua irritabilidade, expresse sua raiva e frustração de forma apropriada, seja responsável por suas ações e aceite as conseqüências de seus atos. Portanto, aqueles pacientes que relatarem situações em que protagonizam ações agressivas contra seus colegas merecem atenção, tanto quanto os que são por eles agredidos (LOPES, 2005).
Importantíssimas considerações são traçadas pelo autor:
Todos os programas anti-bullying devem ver as escolas como sistemas dinâmicos e complexos, não podendo tratá-las de maneira uniforme. Em cada uma delas, as estratégias a serem desenvolvidas devem considerar sempre as características sociais, econômicas e culturais de sua população. O envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para a implementação de projetos de redução do bullying. A participação de todos visa estabelecer normas, diretrizes e ações coerentes. As ações devem priorizar a conscientização geral; o apoio às vítimas de bullying, fazendo com que se sintam protegidas; a conscientização dos agressores sobre a incorreção de seus atos e a garantia de um ambiente escolar sadio e seguro. O fenômeno bullying é complexo e de difícil solução, portanto é preciso que o trabalho seja continuado. As ações são relativamente simples e de baixo custo, podendo ser incluídas no cotidiano das escolas, inserindo-as como temas transversais em todos os momentos da vida escolar (LOPES, 2005).
Frente a isso, as instituições de ensino devem se comprometer, acima de tudo, em prevenir seus alunos do “Bullying”, por um ensino baseado na democracia e na solidariedade, permitindo aos alunos se pronunciarem, dando o exemplo pela própria equipe da escola ao mostrar limites sem autoritarismo e violência.
CONCLUSÕES
O “Bullying” é um novo desafio de ordem mundial, trata-se de um problema que se apresenta de forma diferente em cada situação, e para detectá-lo é essencial a cooperação dos pais, professores, diretores e alunos, pois quanto mais cedo o “Bullying” for detectado, melhor poderá ser controlado e mais fácil será remediar os estragos que terá causado.
O foco deve ser em programas e projetos que têm como objetivo solucionar o problema da violência escolar. A função da prevenção da violência pode se dar através de programas de diferentes órgãos governamentais como modelos para agências públicas, escolas, programas voltados a jovens, programas voltados aos menores infratores e a entidades de outros tipos, modelos esses a serem imitados em escala nacional.
O desafio está em prevenir, detectar e interromper; entretanto, deve-se prestar mais atenção nos aspectos preventivos. A instituição escolar, junto com os pais e todos os funcionários da instituição, deve criar e executar campanhas de conscientização anti-bullying, além de acompanhar as possíveis vítimas e, se necessário, encaminhá-las ao profissional competente; deve, também, fortalecer e estimular programas que levem os alunos a se socializarem, para que possam reduzir problemas de comportamento social.
É importante que nos demos conta de que as pesquisas e os programas de intervenção direcionados à redução imediata dos níveis de violência escolar quase sempre enfocam a violência interpessoal direta que, tradicionalmente definida como os atos deliberados, por parte de crianças, adolescentes ou jovens adultos, que representam ameaça ou que vêm a resultar em danos corporais graves ou morte. Tal definição é limitada, pois situa o “lócus” da violência no nível individual. Como descrito, são vários os fatores, circunstancias, causas e efeitos, não sendo possível uma resposta única para todos os casos. Devemos trabalhar com o conceito de “violência estrutural”, que implica uma interpretação mais ampla da violência, visando a mostrar que a ameaça está presente nas instituições, mesmo quando não há violência literal, ou violência tal como estrita ou tradicionalmente definida. A literatura especializada sobre a violência e a prevenção da violência atravessa muitas fronteiras disciplinares e baseia-se na suposição de que a pobreza, o racismo, o desemprego, a deficiência da assistência à saúde, as ideologias que discriminam os papéis sexuais e a má distribuição de renda são fatores estruturais e causas arraigadas. Qualquer solução que não leve em consideração tais fatores estruturais será, “ab inicio”, inócua.
Temos plena convicção de que programas de prevenção e combate à violência escolar, ao “Bullying”, são o meio mais eficaz para garantir que todos sejam respeitados, o grande desafio é conscientizar a todos para trabalharem em conjunto, de forma interdisciplinar, incentivando uma cultura de paz e ao respeito às diferenças individuais.
REFERÊNCIAS
ANTUNES,Deborah Christina. Do Bullying ao Preconceito: Os desafios da barbárie a educação.São Carlos ,2007. Artigo Científico. Departamento de Graduação em Psicologia . Universidade Federal de São Carlos, 2007.
FRACISCO, Marcos Vinicius. Um Estudo sobre Bullying entre Escolares do Ensino Fundamental. São Paulo. 2008. Artigo Científico. Departamento de Educação Roberto Simonsen. Faculdade de Ciência e Tecnologia-UNESP,2008.
HEINRICHS, R. R. (2003). A Whole-school approach to bullying: special considerations for children with exceptionalities.Intervention in School and Clinics, 38 (4),195-204.
LAKATOS, Eva Maria. Sociologia Geral. 7, Ed. Ver. E ampl. –São Paulo: Atlas, 2009.
LOPES NETO, Aramis A. Bullying – comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatra (Rio J). 2005;volume 81(5Supl):S164-S172. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf. Acesso em 3 de outubro de 2011.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.
ZAINE, Isabela. Comportametos de Bullying e Conflito com a Lei. São Carlos ,2010. Artigo Científico. Departamento de Graduação em Psicologia . Universidade Federal de São Carlos, 2010.