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Golisrael ataca novamente

Agenda 02/07/2014 às 16:24

Por mais que Israel deseje, a justiça não é e nunca será igual à vingança.

A parábola bíblica é bem conhecida e já ganhou várias versões cinematográficas. O pequenino Davi se oferece para enfrentar o campeão inimigo armado apenas com uma funda em combate singular. Apesar de todas as expectativas estarem contra ele, Davi vence o gigante Golias e põe fim a guerra.

"Golias parou e gritou às tropas de Israel: 'Por que vocês estão se posicionando para a batalha? Não sou eu um filisteu, e vocês os servos de Saul? Escolham um homem para lutar comigo.

Se ele puder lutar e vencer-me, nós seremos seus escravos; todavia, se eu o vencer e o puser fora de combate, vocês serão nossos escravos e nos servirão'.

E acrescentou: 'Eu desafio hoje as tropas de Israel! Mandem-me um homem para lutar sozinho comigo'."

Ontem Israel bombardeou Gaza diversas vezes com jatos e helicópteros de guerra para vingar a morte de jovens israelenses encontrados numa cova rasa perto de Hebron:https://oglobo.globo.com/mundo/israel-comeca-bombardear-faixa-de-gaza-13086917. Qualquer semelhança entre este ataque e a história de Davi e Golias é puro abuso ideológico.

Israel tem armas maiores, melhores e mais mortais do que as usadas pelos seus inimigos palestinos. Nenhum Golias invencível se apresenta diante de Israel ameaçando sua existência. O que vimos ontem foi uma população praticamente desarmada ser uma vez mais brutalmente atacada sem qualquer razão plausível. Os verdadeiros assassinos dos jovens israelenses estão entre os mortos e feridos pelas bombas e mísseis despejados por Israel em Gaza? Quantos inocentes palestinos tem que ser mortos para satisfazer a sede de sangue dos militares israelense?

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Um crime foi cometido. O castigo é necessário e admitido pelos padrões de justiça em qualquer tempo, lugar e cultura, mas deve atingir apenas a pessoa dos responsáveis. Uma punição que atinge inocentes nunca é justa, exceto se os padrões de justiça forem tão distorcidos quanto aqueles que os nazistas utilizavam nos territórios ocupados durante a II Guerra Mundial (para cada alemão morto, dezenas de homens da população local eram alinhados e imediatamente fuzilados). Ao invés de procurar, processar e punir os autores dos homicídios dos garotos enterrados próximo a Hebron, Israel preferiu cometer outros crimes alimentando a espiral de injustiças. Os militares israelenses querem o fim da guerra ou apenas alimentar o conflito?

A força descomunal de Israel em relação aos palestinos é evidente. Sua disposição de usar a força bruta sem qualquer medida de justiça também. Isto equipara os israelenses não a Davi e sim a Golias. A certeza de vitória decorrente do tamanho e do melhor armamento controla o imaginário e a conduta do personagem bíblico tanto quanto parece controlar as estratégias das Forças de Defesa de Israel. A fraqueza moral dos israelenses neste momento não deriva apenas de sua disposição de praticar injustiças para remediar injustiças, como se a justiça não fosse uma negação da injustiça e da vingança, mas de sua disposição de ignorar sua própria história mítica.

Golias, o gigante bem armado, cai diante do jovem e frágil Davi porque a justiça e a paz têm que triunfar sobre a força bruta e a injustiça. Esta é a lição moral que os autores do texto podem ter pretendido ensinar aos judeus. Israel também cairá porque se equipara cada vez mais a Golias do que a Davi? Isto é o que veremos.

Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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