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O Estado laico e os evangélicos

Agenda 11/08/2014 às 16:04

Em algum momento seremos convocados a decidir se queremos ou não a instalação de uma teocracia no Brasil, infelizmente.

Uma coleguinha do Facebook me indicou um post de Dilma Rousseff e perguntou-me o que penso sobre o assunto.

A separação entre Estado e religião está prescrita na CF/88. O ideal da construção e preservação de um Estado laico evoluiu lentamente após a constatação histórica de que o predomínio político político de uma religião provocava inevitavelmente guerras civis religiosas como as que arrasaram a Europa a partir da Reforma Protestante e a Contra-Reforma Católica. No Brasil, colonizado por católicos, as guerras religiosas somente ocorreram a partir da invasão holandesa. Durante a guerra movida aos invasores pelos brasileiros, os soldados protestantes a serviço da Companhia das Índias Ocidentais eram inapelavelmente degolados, apenas os mercenários católicos de origem francesa eram feitos prisioneiros e devolvidos com vida para a Europa. Canudos foi, de certa maneira, nossa última guerra religiosa, pois os guerrilheiros do anacoreta sombrio eram também seus fiéis seguidores.

Votarei em Dilma Rousseff, mas considero preocupante o poder político destas pequenas igrejas grandes negócios que ela tem visitado. Além de arrecadar dinheiro dos pobres crédulos que freqüentam seus templos (eufemismo para caixas-registradoras), os auto-proclamados pastores e bispos evangélicos distribuem justiça aos fiéis proibindo-os de freqüentar cultos se não pagarem o dízimo. A contribuição que deveria ser voluntária se torna obrigatória e o não pagamento acarreta punição como se o templo pudesse agir como um Estado dentro do Estado.

Em Brasília os Deputados e Senadores evangélicos já conseguem paralisar ações públicas de saúde e educação. Há algum tempo, a bancada do templo arrancou do Presidente da Republica um decreto para que o Estado começasse a financiar shows de música gospel e outras atividades religiosas como se fossem atividades culturais. Movimentos culturais legítimos e minoritários que não se encontram sob a proteção de uma bancada como a dos evangélicos seguem sendo marginalizados pelo Estado.

Alguns políticos evangélicos não escondem que seu projeto é transformar o Brasil numa teocracia, sob seu controle. São os memos que querem que o SUS custeie a cura-gay e que conseguiram demonizar e proibir o que eles chamaram de kit-veadagem que pretendia fomentar a tolerancia sexual nas escolas. A fome de poder dos evagélicos é tamanha que eles já exigem o direito de enfiar seus pastores nos Quartéis para influenciar, dividir e comandar militares brasileiros. Em Osasco, o prefeito evangélico do PT contratou alguns pastores para fazer o policiamento teológico dos servidores públicos despertando a ira dos mesmos, petistas que trabalham na prefeitura incluídos.

Na semana passada a bancada do templo teve a ousadia de desafiar o Itamaray, dizendo que apoia Israel. Líderes evangélicos foram fotografados ostentando a bandeira do estado assassino de centenas de crianças inocentes ao lado da do Brasil, apesar de nosso país ter oficialmente criticado os ilegais ataques militares israelenses contra civis em Gaza. A ofensa feita ao Brasil pelo representante do infame regime de Tel Aviv foi, portanto, confirmada pelo evangélicos.

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A Legislação Internacional que foi criada com ajuda do Brasil e está sendo corajosamente defendida pela diplomacia brasileira não significa nada para os referidos lideres evangélicos que defendem o sionismo. Nenhuma novidade, eles só acreditam no poder político da Bíblia e, portanto, apoiarão os criminosos de guerra israelenses sem fazer qualquer outra consideração legal, diplomática ou jurídica. O desprezo dos evangélicos pela Lei brasileira também ficou evidente quando da construção do Templo de Salomão em São Paulo. A suntuosa morada do bispo Edir Macedo foi levantada sem o alvará adequado e mediante a fraudulenta utilização de um alvará concedido para outra finalidade.

Igrejas evangélicas, pastores e bispos já são proprietários de jornais, rádios, redes de TV, helicópteros, jatos, empresas, imóveis, etc... e utilizam tudo o que tem a sua disposição, inclusive dinheiro dos fiéis, para fazer propaganda política para os seus candidatos e para demonizar políticos que praticam outras religiões ou que são ateus. Esta mistura de religião e política é explosiva e tende a dividir o país em grupos antagônicos irreconciliáveis, algo proibido pela CF/88.

Quem conhece suficientemente a História do Brasil tem razões para suspeitar que em algum momento num futuro próximo, os evangélicos ficarão tentados a conquistar pela força bruta o controle total do Estado que eles acreditam que Deus já lhes deu. A forma desrespeitosa e até violenta com que os pastores e bispos evangélicos atacam os outros cultos, especialmente os de origem africana que existem a séculos no Brasil, é uma amostra dos Pogrons que eles já devem andar cogitando ou até mesmo planejando dentro dos seus templos. Curiosamente, estes mesmos templos tem sido visitados por políticos declaramente comprometidos com o Estado laico.

Confesso que não gostei nada de ver Dilma Rousseff no Templo de Salomão, obra construída de maneira irregular. A presença dela no local legitimou uma ilegalidade. Além disto, os líderes político-religiosos daquele templo lutam para destruir o regime constitucional laico que ela jurou defender ao ser empossada na presidência. Quando se vê diante de um grave conflito iniciado por fanáticos religiosos, o Presidente de uma Republica laica como a nossa, o comandante em chefe das Forças Armadas na forma da CF/88, não pode hesitar por que deve favores eleitorais a uma seita religiosa. Caso não defenda o regime constitucional com todos os meios à sua disposição e imediatamente, a guerra civil religiosa pode se alastrar colocando em risco o Estado, o regime político e até mesmo a integridade territorial do país.

Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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