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Breve análise sobre o inconsciente coletivo e as eleições

Agenda 12/09/2014 às 15:08

Sumário: 1 - Inconsciente coletivo e político. 2 – Democracia e distorção política. 3 – A persona e os interesses políticos. 4 - Conclusão .

1 – Inconsciente coletivo e político

Hannah Arendt escreveu que o sentido da política é a liberdade, para tanto, defendeu que política não é domínio, mas sim uma ação conjunta. Com o decorrer do tempo, a indagação é cabível: “Tem a política algum sentido?”. Em época de eleições, em um sentido literal, o questionamento acerca do real sentido da política se mostra necessário, haja vista, a urgência de conscientização política de uma sociedade que parece não se dar conta do real significado, bem como do valor do voto, que traduz democracia, sendo através dessa sociedade que o ideal de igualdade e representação seria realizado. Pelo menos aparentemente.

Entretanto, a maioria dos eleitores não sabem conceitualmente a finalidade dos cargos para os quais estão elegendo os políticos a quem dedicam seu voto, exercício de cidadania e responsabilidade, que transformará o candidato eleito em representante de uma sociedade que não possui a consciência do porquê delegou seu poder ao político.

Nesse sentido, ainda mais grave que a massa esteja absorvida pelo inconsciente político, é a questão que surge após os votos serem depositados nas urnas, depois da apuração dos resultados e das comemorações de vitórias por parte dos candidatos. Assim, problema grave se apresenta com a falta de memória política da sociedade, que acaba por não fiscalizar o candidato a quem delegou o poder de se fazer representar. Os eleitores não cobram propostas apresentadas, promessas eleitoreiras ou benefícios prometidos.

Lamentavelmente, há muitos eleitores que não se recordam em quais candidatos votaram pouco tempo após as eleições. As pessoas não sabem como pesquisar projetos de leis, andamentos de proposições e desconhecem os locais onde os seus eleitos trabalham ou ao menos deveriam fazê-lo. Deste modo, surge uma combinação explosiva e prejudicial para a sociedade, contudo, conveniente e benéfica para o corpo político eleito, é a junção do inconsciente social acerca da importância da cultura política com a falta de memória e atitude dos eleitores.

2 – Democracia e distorção política

Em ano eleitoral surgem os “ataques” de propagandas à população que, através dos meios televisivos, por intermédio do horário político gratuito, acaba por deixar-se influenciar pelo único recurso que dispõe para conhecer superficialmente o candidato no qual pretende votar, por vezes, não sabe quem eles são por trás do marketing, da maquiagem eleitoreira, do desejo de poder, da habilidade de manipular, do domínio da linguagem e do olhar certeiro que sabe direcionar suas intenções àqueles que não possuem cultura política, questionamentos ou grandes ambições além de sobreviver em meio a um mundo parcial, indigno e limitado.

Em meio a este cenário, surge uma nova espécie de candidato, que se aproveita da popularidade que o mundo artístico oferece, confirmado por um “público-eleitor” que não faz distinção do suposto artista do candidato que se apresenta usando de sua popularidade para conquistar pessoas que raramente terão consciência do que será ou não realizado pelo artista-candidato. Nesse sentido, a Democracia se mostra como um universo que promove a todos as mesmas oportunidades, não distinguindo a priori, quem possui boa-fé em suas intenções e atitudes, daqueles que aproveitam uma chance de caminhar pelas sendas da política, talvez não objetivando os vencimentos ao final do mês, mas sim as prerrogativas que acompanham a vida do indivíduo que consegue se eleger para determinados cargos públicos.

3 – A persona e os interesses políticos

Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, dedicou grande parte de suas pesquisas ao inconsciente humano, revelando ao mundo, em síntese, o estudo dos arquétipos e tipos psicológicos, identificando pessoas de acordo com o papel social que exercem. Desta forma, cada indivíduo tende a agir de determinada maneira e sabe como identificar rapidamente quem age de modo diferente dos padrões esperados.

Para Jung esse é o inconsciente coletivo. Para os políticos, esse é o caminho da vitória.

Jung acreditava que nossa consciência pessoal é mais ou menos um segmento arbitrário da psique coletiva. O que consiste em uma série de fatos psíquicos sentidos como algo pessoal, esse termo “pessoal” traduz algo pertencente de modo único a uma determinada pessoa.

A consciência apenas pessoal acredita que somente os seus conteúdos são válidos e a partir deles cria um todo, sendo assim, tudo aquilo que não ajudar a estes conteúdos é esquecido, reprimido ou negado. Desta forma, em benefício de uma imagem ideal, à qual uma pessoa tenta se moldar, é sacrificada muita de sua humanidade. Mais ou menos o modo como os políticos agem, se adaptam à uma imagem que moldam como ideal, sacrificando suas verdadeiras personalidades em prol de um objetivo maior, que se traduz na conquista da vaga do cargo de representante do povo.

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O segmento arbitrário da psique coletiva é chamado de persona. Sua expressão original foi usada para designar a máscara usada pelos atores, traduzindo os papéis que iriam desempenhar. A persona seria um recorte, uma máscara da psique coletiva, uma máscara que aparenta uma individualidade, que tenta convencer a si mesma e aos outros que é individual, todavia, é um papel, onde predomina a psique coletiva.

A persona não é real, ela representa uma espécie de compromisso entre a pessoa e a sociedade, é o “parecer ser” através de títulos, cargos, bens etc. Diante do quadro político que se apresenta em nosso país, podemos dizer que os candidatos assumiram um persona que ao invés de aparentar uma falsa individualidade, traz a idéia de falsa democracia na qual todos acreditam existir e que poderão fazê-la valer, não perante os interesses de bem-estar de uma nação, mas sim em detrimento de interesses partidários individuais egoísticos que visam a detenção de poder e privilégios. Nesta linha, pode-se afirmar que as exceções são raras.

Nesta esteira, a cada eleição a oferta de candidatos parece piorar, assumindo personagens que vêm à tona para tentar conquistar o voto do eleitor através de músicas, brincadeiras, palhaçadas, acusações e propagandas vazias, que não trazem efetivos programas de campanha eleitoral, que traduzirão a seara de trabalho pela qual o candidato, se eleito, deverá se debruçar e empenhar a fim de corresponder à expectativa daquele eleitor que lhe confiou seu voto, bem como de melhorar a sociedade e a política de modo geral, haja vista que somente melhorando o individual a evolução poderá mostrar sua face no âmbito coletivo, eis que nenhuma transformação ocorre por acaso, ainda mais a mudança dos aspectos morais, a chamada reforma íntima, pois para tanto, faz-se necessário que se abra mão de desejos egoísticos e atitudes mesquinhas, pautadas pelo lucro fácil, pelas palavras falaciosas, sorrisos enganosos e propagandas com conteúdo claramente vazio destituído do real sentido da política e de seus fundamentos democráticos.

Jung, que sempre esteve a frente de seu tempo, adiantava uma grande verdade, que traduz uma das maiores ameaças ao ser humano: “...o único perigo que realmente existe é o próprio homem... Não sabemos quase nada sobre o homem, quase nada... nós somos a origem de todo mal porvir...”[1]

Na ocasião, Carl Gustav Jung não falava diretamente sobre a política e sim sobre a possibilidade de uma terceira guerra mundial, razão pela qual indiretamente havia o envolvimento da política, tendo em vista que as guerras sempre nascem de decisões advindas de dirigentes políticos que comandam os países que se encontram em eventual atrito, independente do motivo, os interesses políticos prevalecem.

Jung já havia chegado à conclusão do quanto o homem pode fazer mal a si mesmo e ao seu próximo em todas as áreas do conhecimento humano, não sendo diferente na seara política, porém, o mal praticado chega à sociedade encoberto com a face do bem, com o mascarado rosto da falsa democracia, com a face fingida do bem-estar social, do sacrifício e da luta que parecem ser em detrimento de um povo, mas acabam por se revelarem em benefício do detentor do poder ao qual lhe foi conferido o voto popular. 

4 - Conclusão

Ao final de mais uma eleição, o sentido da política se apresentará, entre candidatos, personas, cantores, palhaços e parcialidades, a verdade demonstrará através da realidade das urnas, a consciência, o protesto ou a indiferença de um país formado por eleitores de muitos tipos, mas que serão governados por um tipo de político indiferente ao real significado do caminhar na seara política, de falar em nome do povo, de agir em favor da democracia e de se aquecer sob o manto do interesse e da mentira. “Dificilmente haverá uma figura política mais passível de suspeição justificada do que o contador da verdade profissional que descobriu alguma feliz coincidência entre a verdade e o interesse".

O mentiroso, ao contrário, não carece de uma acomodação equívoca semelhante para aparecer no palco político; ele tem a grande vantagem de estar sempre, por assim dizer, em meio a ele. Ele é um ator por natureza; ele diz o que não é por desejar que as coisas sejam diferentes daquilo que são – isto é, ele quer transformar o mundo. Ele tira partido da inegável afinidade de nossa capacidade de ação, de transformar a realidade, com a misteriosa faculdade que nos capacita a dizer “O sol brilha” quando chove a cântaros”.[2]

Referências Bibliográficas:

(1) http://www.youtube.com/watch?v=kLyEANMLopU

(2) Hannah Arendt, Entre o passado e o futuro, p. 310.

Bibliografia:

HANNAH, Arendt. Entre o Passado e o Futuro/Hannah Arendt – Trad. Mauro W. Barbosa de Almeida – São Paulo – Ed. Perspectiva – Coleção Debates, 5ª ed. 2001. Capítulo 7 – Verdade e Política. Tradução de: Between Past and Future. 

JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. 19 ed. Petrópolis: Vozes, 2006.

Sobre a autora
Michelle Sanches B. Jeckel

Advogada. Mestre em Direitos Difusos e Coletivos.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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