A homofobia brasileira sempre teve por base “ensinamentos” bíblicos à luz da interpretação fundamentalista de certos “sacerdotes” que agora querem fazer crer que a estreia do beijo gay na Globo é o início de um apocalipse.
As personagens Felix e Niko, da novela Amor a Vida não inauguraram tamanha polêmica como entendem os fundamentalistas. Um beijo comum, respeitoso, carinhoso, normal e nada além do saudável amor e afeto entre seres humanos.
Polêmica mesmo foi em 1963, quando a extinta TV Excelsior exibiu um romance entre uma presidiária e um homem comum do cotidiano. Em 1964, a então TV Tupi mostrou o drama de uma mãe solteira e o filho dela. Se em pleno 2014 causa espanto, à parcela de católicos, o fato do atual Papa Francisco ter batizado filho de uma mãe solteira, imaginemos a positiva polêmica que TV Tupi causou, naquela época.
Chacrinha, em meados dos anos de 1965, recebia em seu programa a cantora Clara Nunes, ícone da divulgação das religiões afro brasileiras. A Rede Globo apresentou polêmica muito maior ao beijo gay, com a telenovela A Cabana do Pai Tomás (1969), quando exibiu o brilho de Ruth Pinto de Souza (93 anos) - a primeira atriz negra protagonista de novelas do Brasil.
Sem falar na minissérie global Anos Dourados (1987) a qual retratou o romance entre um jovem da então família patriarcal dominante e um rapaz filho de pais desquitados. O polêmico Dia Gomes, criador da novela Verão Vermelho (1969 a 1970) também abordou o tema desquite, o qual somente foi vencido, 7 anos após, no ano de 1977 quando o Congresso Nacional institui o divorcio no Brasil.
O divorcio; a criação de filhos separados e de mães solteiras; o racismo; o casamento entre pessoas de classes econômicas diferentes, etc., são temas respeitados por nossa sociedade. Mas por qual motivo, apesar de a Organização Mundial de Saúde, Conselhos Federais de Medicina e Psicologia atestarem que ser homossexual é saudável, mesmo assim um simples beijo gay provoca tanto espanto?
Infelizmente no Brasil, ao invés de liberdade religiosa, temos igrejas super poderosas, supostamente acima da lei e com uma blindagem inigualável. Resultado: algumas religiões, convenientemente, afastam as partes violentas, machistas, enfim negativas da bíblia e as demais que pregam a homofobia são reforçadas, em nome de um projeto político de crucificação a homossexuais.
Em Levítivo 20:13, prega-se a morte a homossexuais; em Genesis 17:14 aceita-se o abandono, por parte dos pais, de criança; em Genesis 24:35 Abraão recebe muitos escravos como presente de deus; em Êxodo 21:20-21 é feito apologia à violência contra escravos; em Êxodo 12:35-36 o roubo a egípcios é natural; em Êxodo 22:18 dar-se embasamento ao assassinato de feiticeiras; etc.
A elucidação do parágrafo acima nos mostra com total clareza que as pregações contra homossexuais são frutos de mentes criminosas; de bandidos que usam e manipulam a fé de seres humanos para simplesmente discriminar. Quantos filhos homossexuais foram expulsos de casa ou nela permanecem ao sofrer humilhações, quantos são perseguidos nos locais de trabalho, servem de chacota nas escolas, graças a certos sacerdotes que deveriam estar na cadeia e não segurando um microfone, em um altar de igreja.
Para aqueles que defendem a “tese” de que ser contra a família homoafetiva é questão de opinião, tente me convencer de duas formas: primeiro derrubando os argumentos da Organização Mundial de Saúde e segundo, ao me mostrar uma procuração assinada de próprio punho, por deus, ao lhe dá poderes de ignorar certos trechos da bíblia e reforçar os que são declaradamente homofóbicos!
Com a palavra os fundamentalistas.