CONCURSO E O «INIMIGO INTERIOR»
Atahualpa FernandezÓ
“Se estás angustiado por algo externo, el malestar no es debido a la cosa misma, sino a tu valoración de ella, y eso es algo que puedes cambiar en cualquier momento”. MARCO AURELIO
ImaginemosÒ uma situação em que escutamos alguém fazer o seguinte comentário: Já faz algum tempo que estou estudando para fazer concursos e, depois de ter fracassado em todos o que fiz até agora, às vezes me encontro sem forças, temeroso e algo desestimulado para enfrentar-me a outros concursos. Sinto como se meu desanimado cérebro não fosse capaz de reter os dados que leio e estudo. Por mais horas que intento memorizar ou compreender a matéria, aos poucos dias acabo esquecendo tudo, repasso de forma quase compulsiva o que já havia estudado e, o que é pior, com essa persistente falta de motivação, na maioria das vezes não logro um bom ritmo de estudo. À medida que passa o tempo me frustro cada vez mais pela quantidade de matéria que ainda me falta por estudar e pela sensação de que nada acontece durante todo o tempo que estou me dedicando integralmente a isso. Já provei de tudo: frequentar cursos preparatórios, elaborar resumos e esquemas, marcar livros com anotações e com diversas cores, ver aulas gravadas, rezar plegárias de intercessão, fazer promessas, tomar ritalina…, mas parece que não consigo melhoras. O grave é que já começam a rondar por minha cabeça pensamentos de abandonar meus sonhos, de desistir de meu objetivo de aprovar em um concurso público, de procurar um trabalho que me dê um retorno mais imediato, de reconhecer que não tenho talento, que sou um incompetente comparado com os que conseguem aprovar, que não tenho sorte ou que a culpa, depois de tudo, não é minha...; enfim, que definitivamente não posso mais. E tudo isso faz com que meu estado de ânimo decaia ainda mais, minha atenção se disperse, minha desesperança aumente e tenha que dar por mal aproveitada outra jornada de estudo.
Apesar de toda a vulnerabilidade e prejuízo gerados por este tipo de tormenta emocional a que todos estamos sujeitos, é muito provável que a ninguém se lhe ocorra pensar o seguinte: “Me pergunto o que poderia fazer hoje para desistir de tudo, deprimir-me um pouco mais, realçar com mais entusiasmo minhas debilidades e fraquezas, obstaculizar melhor meus esforços, impedir-me estudar e aprender, depreciar com mais intensidade minhas virtudes e amaldiçoar meus logros”. Claro que não! O que seguramente pensa é: “Apesar de tudo, faria qualquer esforço, daria qualquer coisa, para conseguir alcançar meu objetivo e realizar meus sonhos”.
Por quê? Porque é precisamente quando nossa situação vital é desfavorável, quando a realidade se resiste aos nossos desejos ou quando há uma grande incerteza sobre o como e o quando “tudo vai acabar” que mais recorremos à esperança. A tal ponto que é “com esperança” que buscamos reforçar nossa capacidade de enfrentar-nos aos obstáculos e dificuldades que nos impõe a vida e a única que tem a capacidade de permitir-nos sacar o melhor partido de uma má situação, de seguir adiante com entusiasmo e dignidade, apesar de tudo. É a sensação pessoal, inefável e intransferível de crer que existe uma possibilidade de que as coisas melhorem, de que “de algum modo, tudo acabará encaixando em algum momento em nosso caminho, em nosso futuro”, de não sabotar-nos a nós mesmos com contínuas autoavaliações negativas e dúvidas paralizantes, de sentir que ainda podemos atuar como agente ativo nos acontecimentos percebidos do mundo, não importa a sombria que possa parecer a situação no momento atual.[1]
Mas como não é ouro tudo o que brilha e nem estão perdidos todos os que vagam pelo mundo, às vezes algumas das coisas que esperamos, pensamos, sentimos e fazemos são contraproducentes. Com demasiada frequência, os conselhos que recebemos, os juízos de valor e as crenças que formulamos sobre nós mesmos para motivar-nos, de forma voluntária ou involuntária, nos transmitem uma mensagem equivocada. E dado que atuamos “como” se soubéssemos de que modo funciona nossa mente (isto é, muito melhor do que conhecemos o funcionamento de nossos celulares) e “por que” nos comportamos da forma em que o fazemos, “nos contamos contos a nós mesmos” dos que podemos ser ou não conscientes, mas que afetam sobremaneira a nossos propósitos e nossas possibilidades de torná-los realidade. Pior ainda: não somente sentimos como irrefutavelmente reais as acolhedoras ficções, fabulações e veleidades que nos inventamos a nós mesmos, senão que estas crenças autoimpostas, tomadas em conjunto, impregnam, influem e definem, de maneira profunda, quem fomos, quem somos e quem seremos.
O que quero dizer com isto é que há um inquebrantável vínculo de interdependência entre a forma como pensamos e como nos comportamos que afeta diretamente nosso estilo de vida. Como não podemos escapar de nossa perspectiva, segundo o que pensemos ou sintamos, criaremos nosso estado de ser. O que pensamos e a energia ou intensidade desses pensamentos revelam, controlam e condicionam o “como” interpretamos as circunstâncias e o significado do que nos ocorre. E é precisamente o significado que atribuímos aos acontecimentos e às condições em que nos encontramos o que nos faz sentir ansiosos, desanimados, culpáveis, fracassados, felizes, orgulhosos ou motivados no finito navegar pelas estranhas águas da vida.
Em palavras da escritora Anaïs Nin: “Las cosas, no las vemos como son; las vemos como somos”. Cada um de nós tem sua forma de interpretar a realidade; um ângulo distinto produz uma emoção ou sentimento diferente. Por isso, mais que da “lente” com que miramos a realidade, tudo parece depender da “mente” que interpreta o que se mira, do sentido que outorgamos as nossas experiências; enfim, de como representamos mentalmente e valoramos nossas experiências e nossas expectativas. Somos uma idiossincrasia com patas, e são nossos pensamentos os que em grande medida criam continuamente nosso mundo.
E porque o que se vê depende da perspectiva do observador, parece que, em tema de concurso, há dois tipos de mentalidades mais persistentes que moldam nossos sentimentos e contaminam a forma como governamos nossas atitudes e afrontamos os retos a que estamos dispostos a superar. Existem aqueles que, frente a determinados reveses da vida, colocam imediatamente em questão sua capacidade e desenvolvem um sentimento catastrofizado de amargo fracasso e passiva resignação. Outros, inclusive (ou especialmente) quando as coisas não vão bem e se sentem abrumados, se mostram dispostos a correr riscos, a enfrentar-se a retos, a confiar no esforço e a seguir trabalhando para superar os obstáculos. Enquanto estes tratam de fazer alguma coisa a respeito para solucionar seus problemas com determinação, os demais deitam a perder-se na miséria, recriam-se em sua amargura, lamentam ou ruminam os fracassos e limitam-se a tratar de reparar a autoestima buscando comparar-se com pessoas que rendem menos que eles, de culpar aos demais ou encontrar escusas que minimizem seu sofrimento.
Por que determinadas pessoas se comportam dessa maneira e por que veem a vida dessa forma? Por acaso não sabem que a capacidade de eleger e adotar uma atitude pessoal (ou outra) ante as próprias circunstâncias sempre permanece conosco, sem que nos possa arrebatá-la, e que é precisamente esta liberdade a que dá a nossos propósitos um sentido que não é algo genérico e vulgar, senão único, pessoal, específico, concreto e intransferível? Por que não entendem, como disse R. W. Emerson, que o homem tem dentro de si tudo o que necessita para governar-se, para ser dono de si mesmo? Por que lhes custa tanto aceitar que o controle pessoal é um processo criativo, um processo pelo qual construímos nossas atitudes, nossos sentimentos, nossas circunstâncias, nossos objetivos, nossas esperanças... nós mesmos? Por que pervertem deliberadamente a ideia mais bela que existe: a possibilidade concedida a cada qual de ser dono de seu destino e de melhorar sua existência?
Pois bem, uma crença distorcida capaz de gerar uma espécie de impotência aprendida, que nos impede de controlar nosso presente e a renunciar ao desejo de possibilidades futuras é uma mentalidade não somente errônea e fatalista, senão também perniciosa e que desvirtua a percepção que temos de nós mesmos. Quando isso ocorre, a resignação e o cinismo se impõem à esperança, ao otimismo e à confiança no futuro, nos abandonamos completamente e nos deixamos arrastar pela corrente do descontrole, da vulnerabilidade e da desesperança que voam com ventos perigosos.
Por certo que um realismo ou preocupação vigilante – inclusive incorrendo em algum «pessimismo defensivo» – para dar-se conta do que está sucedendo é essencial para qualquer pessoa viver plenamente todos aqueles fenômenos que têm relação com o autoconhecimento, a virtuosa habilidade para cuidar-se de si mesmo, o sentimento de satisfação pessoal e para calibrar as consequências dos próprios atos. Tem relação com a competência para atender, concentrar-se e corrigir as próprias debilidades, para afrontar os problemas reais com que nos enfrentamos, para aprender dos erros que cometemos, para reconhecer nossas próprias limitações, para superar as más experiências, assim como para equilibrar os desejos impossíveis que modelam nosso trato com um mundo exterior que nos limita e que não podemos cambiar ou controlar mediante um simples artifício de nossa vontade.
Mas se com isto não se logra culminar um processo de identificação positiva, se não se trata de entender e admitir que há determinadas coisas que fogem completamente de nosso controle (quero dizer, que a vida também é caprichosa e tem suas próprias expectativas), se não se trata de encontrar estímulo para tomar decisões ou empreender ações, todo e qualquer ensaio mental negativo é, simplesmente, inútil e depressivo.
Aprender a reconhecer o que está e o que não está baixo nosso controle, portanto, é um primeiro passo para responsabilizar-nos de nosso comportamento e assumir o compromisso de que, para o bem ou para o mal (e em alguma medida), somos os autores de nossa vida. De que nossos pensamentos e sentimentos dirigem nosso comportamento e a forma que temos de sobrelevar as dificuldades; de que não é necessariamente o que realmente está ocorrendo – quer dizer, a realidade objetiva – o que influi em nossas ações e reações, senão como a percebemos: a realidade não decide, porque não ri nem chora. Como disse com demasiada propriedade John Milton: “A mente é seu próprio lugar, e em si mesma pode fazer um céu do inferno ou um inferno do céu”.
Assim que toda e qualquer ideia ou mentalidade que temos sobre nós mesmos não são mais que crenças, um estado mental psicologicamente construído. São crenças poderosas, é verdade, mas não passam de meras invenções da mente humana; e a mente, já sabemos de sobra, pode cambiar-se. Ademais, trata-se de um princípio moral universal: quanto mais poder se tem sobre alguém, maior é o dever de usá-lo com benevolência. E qual é a pessoa sobre a que temos maior poder? Nós mesmos, o que somos no presente vivido e o que seremos no futuro imaginado. Somente nós podemos eleger interpretar o mundo da forma que nos seja mais útil e produtiva; somente nós podemos fazer com que nosso presente tenha sentido e que nossos objetivos tenham prioridade. Se não o fazemos, quem o fará por nós? Se não o fazemos agora, quando o faremos?
A regra é simples: aprender a tratar-se bem a si mesmo e entender que sentir autocompaixão não é o mesmo que sentir lástima por si mesmo, senão preocupação, bons sentimentos, firmes propósitos e empenho em reduzir o impacto das situações difíceis. Nosso estado presente depende de como reconstruímos o passado, como interpretamos o presente e como construímos o futuro. Se a crença que temos de nós mesmos guia nossos atos, serve para dar significado a nossas experiências e determina o sentido e direção que damos a nossa vida (passado, presente e futuro), cambiar este tipo de mentalidade fatalista implica, na prática, reinventar a maneira como nos formulamos a nós mesmos, como atuamos no presente que nos rodeia e como elaboramos as expectativas que depositamos no futuro. Não há que olvidar que a transformação do observador altera o processo observado.
E uma boa maneira de começar a mudar é aceitar a evidência de que é praticamente inconcebível e frustrante desejar algo de todo coração, pensar, sentir e saber que existe uma oportunidade de consegui-lo, e logo não fazer nada a respeito. O decepcionante, recorda Pascal Bruckner, “no es el mundo, sino las quimeras que encorsetan nuestro espíritu”. Outra forma é procurar aprender a valorar e a sentir entusiasmo pelo que se está fazendo, de adquirir força à medida que avançamos, de desfrutar, entregar-se e formar parte do processo, independentemente de qual seja o resultado anelado. Também é importante entender que se nossas percepções e pensamentos se alteram com as emoções, resulta um equívoco contagiar o pensamento de emoções negativas. Por último, manter-se firme na busca de nossos objetivos e aceitar o fato de que o verdadeiro êxito não é produto de nenhum ato mágico ou milagroso, senão o resultado de muito, muito trabalho, diligência, perseverança, esforço, estóica resistência e entusiasmada dedicação, coisas que nascem da esperança.
Sobra dizer que isto significa reconhecer que se não estamos satisfeitos com certos aspectos de nossa vida, ou se nos encontramos constantemente atados em pensamentos e comportamentos que nos provocam frustração e desânimo, é nossa responsabilidade tomar a iniciativa para reescrever os guiões negativos que mantêm vivos estes problemas, pelo simples fato de que aquilo em que pensamos com mais frequência determina o que somos e em que nos converteremos. Porque quando uma pessoa se converte em escrava de sua própria negatividade é incapaz de assumir a propriedade de seus objetivos e de cultivar um verdadeiro sentido de autocontrole e autonomia do espírito.
Estes pequenos câmbios na forma de pensar, igual que qualquer prática virtuosa (essa força que atua ou que pode atuar, e que confere valor a um ser), se acumulam com o tempo e acabam provocando enormes diferenças. E dado que as decisões que tomamos são as diferenças que fazem diferente nossa vida, nossa decisão de cambiar a forma de ver as coisas nos ajudará a desenvolver estratégias que eliminem nossa tendência a sobrevalorar as faltas passadas, a minimizar nossas habilidades presentes e a exagerar os obstáculos e as dificuldades do futuro. Em último termo, isto é quiçá o único que nos está permitido controlar.
Naturalmente que entendo, dito seja de passagem, que nada resulta mais difícil que ser livre, dono e criador do próprio destino, que nada é mais embrumador que a responsabilidade que nos encadeia às consequências de nossos atos. É sempre mais fácil recorrer às evasivas, às fabulações, ao infantilismo e à vitimização, estas enfermidades de qualquer indivíduo que faz da debilidade da alma, da autocomplacência e do autoengano um eficaz mecanismo para superar a atitude de apreciar com realismo maneiras de atuar alternativas e a virtude permanente de ter que construir-se a si mesmo. O único inconveniente de uma atitude como esta é que, ao sermos produto de nossos pensamentos e sentimentos, nos convertemos em “nosso próprio demônio”. (Oscar Wilde)
Assim as coisas, enquanto não reconhecermos que somos, em um maior ou menor grau, pessoalmente responsáveis pela autoria de nossa vida, enquanto não interiorizarmos as metas e os valores que nos orientam e nos conduzem na travessia, enquanto não formos capazes de controlar o processo e de manter contínua e ativamente presente nossos objetivos em mente, enquanto não negar-nos o direito de duvidar, aí só nascerão as esporas de uma existência totalmente à deriva, dependente e escrava das circunstâncias e do sempre insensato capricho (ou conselhos) dos demais[2]. Um destino insofrível.
Depois de tudo, a vida em si não é nem bela nem feia. Depende de como se a tome cada um. O que nos afeta não são, tanto como cremos, as coisas em si mesmas, senão as opiniões que nos formamos sobre as coisas. Quero dizer, no que a estados de ânimo se refere, em muitas ocasiões sim que há fumaça sem fogo. Quem observa e experimenta o mundo não se está limitando a contemplá-lo; o está também construindo em sua cabeça. Um indivíduo será mais ou menos ditoso em função de como perceba suas circunstâncias e essa percepção é produto de uma combinação de capacidade de resistência à adversidade, de experiências cognitivas e emocionais, de atitude, de autocontrole, de soberana autarquia, de expectativas positivas, de sensibilidade ao contexto e de atenção, uma mescla de características que condicionam e configuram o modo em que percebemos o mundo e reagimos ante ele.
Como está em nossas mãos o como podemos viver nossas vidas e o como podemos eludir ou superar a carreira de obstáculos que é a existência, o sentimento pessoal de ânimo, de motivação e de entusiasmo não está na realidade que experimentamos, senão na perspectiva com que vemos (valoramos e interpretamos) as coisas que nos ocorrem. O segredo radica, pois, no pensamento e na atitude. É preciso organizar as ideias para organizar a forma de viver. Modificar o que sentimos, fazemos e finalmente somos é modificar nosso modo de pensar (W. Mischel). Pensar de outra forma é viver de outra forma. O único que falta é saber “como” pensar e atuar em consequência, porque “la acción precede a la esperanza”. (Sartre)
Recordemos – e aqui termino - que embora o próprio Dante tenha afirmado que encontrou “o original para seu inferno no mundo em que vivemos”, o “nirvana” não é outra coisa que este mesmo mundo, esta mesma realidade comum, vista desde outro ângulo (Nâgârjuna).
Ó Membro do Ministério Público da União/MPU/MPT/Brasil (Fiscal/Public Prosecutor); Doutor(Ph.D.) Filosofía Jurídica, Moral y Política/ Universidad de Barcelona/España; Postdoctorado (Postdoctoral research) Teoría Social, Ética y Economia/ Universitat Pompeu Fabra/Barcelona/España; Mestre (LL.M.) Ciências Jurídico-civilísticas/Universidade de Coimbra/Portugal; Postdoctorado (Postdoctoral research)/Center for Evolutionary Psychology da University of California/Santa Barbara/USA; Postdoctorado (Postdoctoral research)/ Faculty of Law/CAU- Christian-Albrechts-Universität zu Kiel/Schleswig-Holstein/Deutschland; Postdoctorado (Postdoctoral research) Neurociencia Cognitiva/ Universitat de les Illes Balears-UIB/España; Especialista Direito Público/UFPa./Brasil; Profesor Colaborador Honorífico (Associate Professor) e Investigador da Universitat de les Illes Balears, Cognición y Evolución Humana / Laboratório de Sistemática Humana/ Evocog. Grupo de Cognición y Evolución humana (Human Evolution and Cognition Group)/Unidad Asociada al IFISC (CSIC-UIB)/Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos/UIB/España.
Ò Artigo escrito em colaboração com Marly Fernandez: Doutora (Ph.D.) Humanidades y Ciencias Sociales/ Universitat de les Illes Balears- UIB/España; Postdoctorado (Postdoctoral research) Filogènesi de la moral y Evolució ontogènica/ Laboratório de Sistemática Humana- UIB/España; Mestre (M. Sc.) Cognición y Evolución Humana/ Universitat de les Illes Balears- UIB/España; Mestre (LL.M.) Teoría del Derecho/ Universidad de Barcelona- UB/ España; Investigadora da Universitat de les Illes Balears- UIB / Laboratório de Sistemática Humana/ Evocog. Grupo de Cognición y Evolución humana/Unidad Asociada al IFISC (CSIC-UIB)/Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos/UIB/España.
[1] A despeito do dito pelo personagem de uma novela de Nick Hornby («No me importa sufrir, lo que me mata es la esperanza»), não podemos viver sem realidade e nem sem expectativas otimistas. Nosso mundo é uma mescla de crua realidade e reconfortante esperança. Ademais, as crenças e as expectativas acerca do futuro determinam em boa medida o que ocorre no presente e contribuem a como pensa, sente e atua a pessoa. Como disse Daniel Dennett, o cérebro humano é uma “máquina de antecipação”, e “criar futuro” é o mais importante que faz: a predição constitui a verdadeira entranha da função cerebral (R. Llinás).Também deveria mencionar a ideia da falsa esperança, quer dizer, a que vai contra toda possibilidade realista, em cujo caso se considera que é uma forma não desejável de enfrentar-se a um fracasso potencial. Pessoalmente, não creio que tenha sentido esperar somente quando as possibilidades de êxito estão a nosso favor. A esperança não quer dizer que tudo vai sair bem, senão simplesmente que é possível. No prólogo ao livro de sua esposa, Seymour Epstein, o marido de Alice, dissipa com êxito esta visão negativa da esperança: “Algumas pessoas temem as ´falsas esperanças´. Toda esperança é ´falsa´ no sentido de que aquilo que se espera pode que não se materialize. No momento de ter esperança não se pode saber o resultado. Se a esperança serve para melhorar a qualidade de vida e não causa que se evite tomar uma ação de adaptação quando isso é possível, nem que se sinta ressentimento se o resultado esperado não se materializa, então obviamente é algo desejável” (R. Lazarus & B. Lazarus). Assim que a esperança é uma virtude independentemente de seus resultados; é um valor intrínseco, um fim em si mesmo, aliada da coragem e da imaginação, uma atitude positiva repleta de possibilidades e aspirações. Isto é esperança. Por essa razão se descobre mais acerca de uma pessoa quando se conhece suas esperanças que quando se conhece seus logros (A. C. Grayling).
[2] E logo estão os amigos, sempre prontos e disponíveis para aconselhar (ou seja, para levar a cabo a «mais fácil de todas as coisas» - Tales de Mileto). A questão é: Quantos amigos temos de verdade? Passando por alto a advertência do muito arisco Pío Baroja que calculava que «un amigo en la vida es mucho, dos son demasiado, tres son imposibles», Carol Dweck nos oferece uma preciosa reflexão: A sabedoria convencional diz que os verdadeiros amigos se lhes conhece em tempos de necessidade. E, naturalmente, é uma frase que tem toda sua razão de ser. Quem estará a seu lado, dia trás dia, em tempos de apuro? Nada obstante, talvez ainda seja mais difícil responder a esta outra pergunta: A quem acudirá quando lhe sucedam coisas boas? Quem se alegrará realmente de ouvir as boas notícias? Os fracassos e as desgraças não ameaçam a autoestima dos demais. Para uma pessoa saturada de amor próprio (como a maioria dos mortais) é gratificante sentir empatia por alguém necessitado. Mas são precisamente as habilidades e os êxitos alheios o que mais ataganta ou aborrece aquelas pessoas que para conservar intacta ou aumentar sua autoestima necessitam (têm que) sentir-se superiores aos demais. Como explica Susan Fiske: “Lo que no soportamos no es estar mal, es estar peor que otros. Nos hace sentir inferiores, menos seguros, menos valiosos y nos da un síndrome de bajo estatus que tiene un coste para nuestra autoestima. Se trata de una emoción que sirve para proteger la imagen que uno tiene de sí mismo. Los seres humanos nos estamos comparando continuamente, somos unas máquinas de compararnos. Y siempre deseamos pertenecer al grupo de los mejores, aunque apenas seamos mediocres. Por ello intentamos relativizar, incluso demonizar, el éxito y las habilidades de otros.”