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O que me fez/faz ser feminista

Agenda 18/08/2015 às 22:34

Relato de como eu conheci o feminismo e o motivo pelo qual me tornei feminista.

Quando pequena, sempre convivi com o machismo, pois, meu pai é machista. Vi minha mãe ser proibida de trabalhar depois que eu nasci, vi meu pai controlar a vida dela em todos os sentidos, dizendo o que ela deveria vestir, com quem andar, aonde ir, em quem votar...

A única vantagem que eu tive é que não fui tratada pelo meu pai como uma meninina, diferente da minha mãe, que se espantava com o fato de eu não gostar de brincar de boneca nem de brincar de casinha... Eu era moleca, gostava de soltar pipa, pular muro, jogar videogame...

A vantagem que eu tive é que sou primogênita de 4 filhos, sendo a única menina. Sendo assim, meu pai sempre quis ter um filho e me tratou como tal e eu o agradeço muito por isso...

Todavia, ele me cobrava sentar com bons modos, mas, ao mesmo tempo, me colocou na aula de karatê para que eu não apanhasse mais na escola, pois, sofri bullying por tirar notas altas sem esforço e com isso eu apanhava.

Mas, fui crescendo vendo aquele controle desenfreado do meu pai sobre a minha mãe e fiz minha personalidade baseada naquele casamento. Não que eles não sejam felizes, pois, estão juntos há mais de trinta anos, mas eu não queria aquele controle sobre mim.

Sinto que nasci para ser livre, nunca pensei em ter filhos, sou uma pessoa realizada profissionalmente, advogada, em busca da magistratura e não me vejo como mãe, não quero nada que me “prenda”.

Diante do casamento dos meus pais eu decidi que nunca iria casar, pois, sempre tive personalidade forte e nunca aceitei ter uma pessoa na minha vida que me controle dizendo o que devo vestir, com quem devo andar, etc...

Meu pai sempre se baseou na bíblia, nos costumes antigos de que o homem era a cabeça do lar e a mulher deveria acompanhá-lo em todas as suas decisões; foi mais um motivo para eu não seguir a doutrina evangélica, pois, desde pequena, nunca simpatizei com o fato de a mulher estar abaixo do homem.

Sendo assim, no início da adolescência, tive contato com o livro mulheres e injustiça dos homens, da escritora e feminista Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida como Nisia Floresta e descobri o feminismo.

Mostrei o livro para minha mãe, mas ela, criada no interior de Iúna, interior do Estado de Espírito Santo, também foi acostumada a ver minha avó submissa ao meu avô e nunca estranhou o fato de ser totalmente dominada por um homem. Não deu muita importância.

Mas eu cresci com o pensamento diferente, sempre fui uma pessoa questionadora, aprendi a ler e a escrever quando tinha 4 anos de idade e nada pra mim era inquestionável e meu pai tentava me frear, mas nunca conseguiu.

Formei minha opinião e segui estudando sobre o feminismo, vendo documentários, lendo outros livros, procurando professoras na escola que tivessem tal orientação política a fim de me informar, pois, nos anos 80/90 não tínhamos a facilidade de informação como temos hoje com a internet e assim conheci e me adaptei ao feminismo.

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Confesso que, já passei por situações de ser quase violentada, ser cantada na rua e ser xingada por não ter aceitado os “elogios”, que muitas das vezes são grosseiros e os homens acham que ainda estão lhe fazendo um favor, achando você atraente.

Sendo assim, isso me deu e me dá mais motivos para me juntar às minhas queridas irmãs de luta, a reivindicar pela igualdade, principalmente de DIREITOS, que é o verdadeiro lema do feminismo.

Me parte o coração quando as pessoas me falam que o feminismo é o machismo ao contrário, mas, me consolo quando possuo inúmeros argumentos, tais como, o direito de cursar o colégio, uma faculdade, ter uma profissão: Tudo isso foi fruto da luta feminista! Se hoje a mulher tem inúmeros direitos, foi porque no passado, houve uma luta reivindicatória desses direitos e a luta continuará...

Eu disse que nunca iria me casar, mas, aos 18 anos, conheci um homem maravilhoso, estamos juntos há 15 anos, ele me entende, mesmo meu pai falando: “Tem certeza que você quer a minha filha? Ela tem o temperamento forte, difícil de domar...”. E meu esposo respondeu que não via problemas em estar comigo.

Ele apoia o movimento feminista e temos uma relação totalmente igualitária e somos muito felizes... Para ser feminista não precisa ser lésbica, como a maioria das pessoas pensam, não precisa ser mal amada, não precisa ser machista ao contrário, não precisa se voltar contra os homens, pois, há muitos deles que respeitam as mulheres.

O que me fez/faz ser feminista é essa irmandade sem igual, é não querer competir com as outras, muito pelo contrário: é fazer da luta da outra a minha luta, a sua luta! Uma luta por direitos iguais, uma luta pelo direito de ir e vir sem ser assediada, uma luta contra a violência doméstica, onde inúmeras mulheres viram apenas estatísticas, pelo direito ao comando do próprio corpo, escolhendo ou não se vai ser mãe, uma luta pela igualdade de salários, pela divisão dos afazeres domésticos, pela licença paternidade ser a mesma que a da mulher, para que o pai socialize com a criança, uma luta por mais RESPEITO!

Aprendam que o lugar da mulher é ONDE ELA QUISER! A mulher não foi feita apenas para dar prazer, procriar e ter uma vida somente dedicada ao lar. Somos mais que isso: Somos guerreiras por darmos conta de tantas coisas, e, apesar disso tudo: Muitas de nós ainda geramos vocês. Cuidem da mulher com o respeito que ela merece. Adote a ideologia feminista!

Sobre a autora
Lane Ribeiro

Advogada,amante de literatura, escritora, poeta e filósofa amadora, que consegue viajar nos próprios pensamentos.<br>

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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