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Consumo x consumismo: uma análise crítica sobre o tema

Agenda 06/04/2016 às 16:04

O presente ensaio é uma tentativa do autor de esmiuçar os mecanismos que discernem consumo de consumismo. As conclusões apresentadas, mais do que conceber soluções definitivas para o problema, esforçam-se para detalhar caminhos para a abordagem do tema.

   RESUMO

Longe da pretensão de ser um artigo científico, o presente texto tem em essência características e elementos que o assemelham mais a um ensaio. É, portanto, uma tentativa do autor de esmiuçar os mecanismos que discernem consumo de consumismo, sem, no entanto, apresentar obrigação empírica de comprovação dos dados expostos. Esta abordagem fundamenta-se em exaustiva pesquisa de livros e textos diversos que tratam do assunto em pauta.  As conclusões apresentadas, mais do que conceber soluções definitivas para o problema, esforçam-se para detalhar caminhos para a abordagem do tema.

Palavras-chave: Artigo Científico; Consumo; Consumismo.

ABSTRACT

Far from claiming to be a scientific article, this text has essentially features and elements that look more like an essay. It is, therefore, an author attempt to scrutinize the mechanisms discerned consumption consumption without, however, required to provide empirical evidence of the displayed data. This approach is based on thorough research of several books and texts that deal with the subject at hand. The conclusions presented, rather than to devise lasting solutions to the problem, strive to detail ways to approach the subject.

Keywords: Scientific Article, Consumer, Consumerism.

1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Vivemos em uma sociedade de consumo. Símbolo do sucesso da economia capitalista frente a outros sistemas de governo, a crescente produção de bens e serviços tornou mais fácil a vida do homem moderno. Em contrapartida, também estimulou uma necessidade quase patológica do consumidor.
Atualmente compra-se demais. Seja de forma presencial, em uma loja física, seja por meios eletrônicos, como a internet, consome-se, com ferocidade assustadora, as novidades que inundam o mercado. Trata-se, claro, de questão cultural. Com raras exceções, na história da humanidade, os bens sempre funcionaram como manifestação concreta dos valores e da posição social de seus usuários.

A prática do consumo, por si só, assegura ao indivíduo certa identidade social. Consumir permite-nos a sensação de pertencer ao grupo, de fazer parte do todo. Não que o ato seja nocivo. Administrado de forma correta, o consumo não representa dano. É, no entanto, quando extrapola o limite do necessário que resvala para o tortuoso terreno do consumismo. Cabe aqui uma definição para este último. Consoante CORTEZ (2009): “Consumismo é o ato de consumir produtos ou serviços, muitas vezes, sem consciência”. (p. 35).

É, obviamente, uma acepção válida que ajuda a estabelecer uma noção basilar sobre o tema. Discorrer, portanto, sobre as diferenças inerentes a consumo e consumismo, mais que certa isenção de ideias pré-concebidas, requer não negligenciar os diversos estudos científicos acerca do assunto.


2 - CONSUMISMO E COMPORTAMENTO HUMANO

Existem inúmeras pesquisas bem documentadas que teorizam sobre quando o consumo torna-se consumismo. Uma delas, objeto particular de atenção para o desenvolvimento do presente trabalho, trata do tipo de papel que a propaganda e a publicidade exercem perante as pessoas, induzindo-as ao consumo mesmo que não necessitem de um produto comprado. A professora Ana Tereza Caceres Cortez, do Departamento de Geografia da UNESP, diz a respeito da questão que, “muitas vezes, as pessoas compram produtos que não tem utilidade para elas ou até mesmo coisas desnecessárias apenas por vontade de comprar”.  

Para ilustrar a gravidade do exposto, imagine o cenário hipotético de um homem que adquira um smartphone no mês de dezembro, estimulado pelo apelo natural do período. Passados alguns meses, com o lançamento de um novo modelo, considera o que possui obsoleto e torna a contrair nova despesa para comprar o mais recente. Trata-se, lógico, de um exercício ficcional que nos permite ilustrar o problema proposto. Mas, é inegável que exemplifica muito bem um comportamento típico da sociedade contemporânea.

Segundo o Dicionário Houaiss, consumismo é “ato, efeito, fato ou prática de consumir (comprar em demasia)” e “consumo ilimitado de bens duráveis, especialmente artigos supérfluos”. Em outras palavras, consumismo pode ser definido como uma compulsão para consumir, enquanto “consumo é entendido como as aquisições racionais, controladas e seletivas baseadas em fatores sociais e ambientais e no respeito pelas gerações futuras”.

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O jornalista Sílvio Ribas (formado pela PUC de Minas Gerais, citado na obra “Formação e Informação”, de Sérgio Vilas Boas) afirma que, “durante muitos anos, ensinou-se a população a gastar, mas não a poupar”. Sua colocação reforça a característica cultural da questão, ao passo que outros autores endossam essa premissa na bibliografia internacional.

Por esta razão, a publicidade vende mais que qualquer coisa que produtos, isto é, a compra deixa de ser somente um ato aquisitivo de bens pelos bens, mas, num sentido metafórico, aquilo que se compra tem também um significado simbólico, sendo o próprio ato de compra um ato social (...) (PEREIRA; VERÍSSIMO; 2004, p.21)

Fundamentada, portanto, a ideia do apelo cultural e mercadológico, compete discorrer sobre o papel desempenhado pelo consumo no comportamento humano. Para entendê-lo, observe o que diz a psicóloga Lorena Bandeira da Silva, professora da Faculdade Paulista de Tecnologia.

A sociedade é propriamente consumista, entretanto, é na sociedade hiperconsumista que se observa o desenrolar do consumo como um estilo de vida, uma nova razão de viver. Os valores tornam-se cada vez mais materialistas e o ideal da massa é consumir de forma gradual.  

A mesma autora assinala, em seu texto científico, que “o princípio básico nas relações de consumo é a sedução”. A afirmativa parece acertada, considerado o fato que mais do que um consumidor que adquira produtos, as empresas desejam, hoje, consumidores fiéis a uma marca. Adverte a pesquisadora:

Na sociedade hiperconsumista e efêmera, o homem hipermoderno não mede a viabilidade de seus desejos, adquirindo-os na mesma velocidade. Aos poucos, a felicidade obtida através de uma aquisição, se esvai, dando espaço para uma imensa insatisfação diante do seu suposto objeto de desejo e de se próprio. É o que Lipovétsky (2006) caracterizou como felicidade paradoxal.


03 – O CONSUMO SOCIALMENTE RESPONSÁVEL

É inegável o quanto é difícil estabelecer o limite entre consumo e consumismo. O desafio, como se sabe, esbarra na constatação de que a definição de necessidades básicas e supérfluas está intimamente ligada às características culturais da sociedade e do grupo ao qual pertencemos. Em outras palavras, significa dizer que o que é básico para uns pode ser supérfluo para outros, vice-versa. Considerada a dificuldade em delimitar a distinção entre ambos, adverte a advogada Daniela Vasconcellos Gomes, especialista em Direito Civil Contemporâneo pela Universidade de Caxias do Sul (UCS):

O modelo econômico adotado atualmente pelas sociedades atuais proporciona e induz a um alto padrão de consumo, que, mesmo ao alcance de poucos, é insustentável pelos danos que acarreta para o meio ambiente. Diante desse cenário, para que o desenvolvimento siga no caminho da sustentabilidade é preciso alterar os padrões de consumo.

São palavras coerentes. A educação, é evidente, possui papel fundamental na formulação de uma nova mentalidade. De modo mais específico, a educação para o consumo poderia ser definida como elemento-chave na conscientização da população. Explica CORTEZ (2009):

O consumidor pode atuar de forma subordinada aos interesses do mercado, ou pode não ser submisso às regras impostas de fora, erguendo-se como cidadão e desafiando os mandamentos do mercado. Além disso, o consumidor também pode ser crítico e optar por ser um cidadão ético, consciente e responsável, o que o leva também a novas formas de associação, de ação política, de lutas sociais e reivindicação de novos direitos.


04 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto ao longo desta dissertação, analisar a relação entre consumo e consumismo é tarefa árdua, não raro sem expectativa de uma resposta que possa ser considerada conclusiva. Há, diga-se, uma linha tênue que separa ambos, delineada pela consciência do comprador. É justo afirmar, inclusive, que não é tão simples diferenciá-los, principalmente se considerado o fato de que se assemelham em certos aspectos. Contudo, como demonstrado, apesar de difícil, trata-se de tarefa plenamente possível. Exige, antes, revisão do comportamento individual, conscientização coletiva e processo contínuo de educação. São práticas que encontram respaldo na literatura científica e que nos permitem profunda reflexão.


REFERÊNCIAS


             CORTEZ, ATC., and ORTIGOZA, SAG., orgs. Da produção ao consumo: impactos socioambientais no espaço urbano [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 146 p. ISBN 978-85-7983-007-5. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

PEREIRA, F. Costa; VERÍSSIMO, Jorge. Publicidade, o estado da arte em Portugal. Lisboa: Edições Sílabo, 2008

DA SILVA, Lorena Bandeira. Sobre o consumo e o consumismo: a consumação do vazio. Revista Logos & Existência: Revista da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencial, v. 1, n. 1, 2012. 

Lipovétsky, G. (2006). A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Lisboa: Edições 70.

GOMES, Daniela Vasconcellos. Educação para o consumo ético e sustentável. Revista eletrônica do mestrado em educação ambiental, v. 16, p. 18-31, 2006.   

Sobre o autor
Wellington Cacemiro

Advogado, jornalista e pesquisador jurídico com publicações em revistas nacionais e internacionais. Graduado em Direito pela faculdade Multivix Cachoeiro Ensino, Pesquisa e Extensão Ltda., pós-graduado em Direito Processual Penal pelo Instituto Damásio de Direito da Faculdade Ibmec-SP, pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela mesma instituição e pós-graduando em Direito Penal pelo Instituto Damásio de Direito da Faculdade Ibmec-SP.

Informações sobre o texto

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