Crianças exercendo cidadania no Japão
Culturas. Cada qual possui os seus valores. No Brasil, os serviços indesejados — lavar louça, esfregar chão, amamentar, passar roupa etc. — eram típicos de escravos. Mesmo após a abolição da escravatura negra, os serviços domésticos eram para pessoas "inferiores", sem qualificações.
A LCP 150/2015 (LEI COMPLEMENTAR) foi, com certeza, um avanço social [justiça] às empregadas domésticas. Antes da LCP, as empregadas domésticas tinham a certeza de muito trabalho, humilhações, desconfiança. Quando o empregador dispensava os serviços da empregada, esta sabia que sairia sem nada, apenas a roupa do corpo.
O Brasil aprendeu muito bem sobre o utilitarismo grego [Grécia Antiga]. Sócrates dizia que o trabalho era demasiadamente penoso, já que ferreiros e outros trabalhadores braçais tinham sequelas pela manipulação de ferramentas, mas a filosofia e a oratória eram verdadeiras funções enobrecedoras da alma e desenvolvimento da cidadania grega.
O trabalho braçal, então, era considerado penoso e típico de pessoas sem qualidades próprias. Somente na Idade Média, quando o Cristianismo se fortaleceu, o ato de trabalhar com ferramentas foi considerado enobrecedor. Afinal Jesus Cristo foi carpinteiro. Após a Idade Média, o trabalho (braçal) passou a ser, novamente, uma atividade de pessoas desqualificadas (analfabetas; burras por natureza; preguiçosas — já que não se "esforçaram" para alcançarem a vida acadêmica).
No Japão, alunos limpam chão e privada, sem o menor constrangimento. Nenhum genitor ou genitora saem processando o Estado, pois os filhos estão aprendendo o valor (moral) do trabalho, o civismo. Já no Brasil, pais processam os estabelecimentos educacionais por estes estarem constrangendo as crianças e os adolescentes. Interessante observar as mudanças na cultura brasileira. Antes dos shoppings, prole de classe média que trabalhasse em loja de roupas era afronta, o nome e o sobrenome deveriam ser preservados. Com o surgimento dos shoppings no Brasil, as proles das classes média e alta foram trabalhar em tais locais, pois eram locais para pessoas de "boa educação", com nome e sobrenome "conceituados", ou localidades de/para "pessoas civilizadas".
NÓS VAMOS "INVADIR" A SUA "PRAIA" (SHOPPING)
"Rolezinho", quem não se lembra? Jovens da Nova Classe Média se organizavam em shoppings. Alguns cantavam etc. A situação foi para nos Tribunais brasileiros.
Liberdade para quem?
"O direito constitucional de reunião não pode servir de subterfúgio para a prática de atos de vandalismo e tumultos em espaços públicos e privados, colocando em risco a incolumidade dos frequentadores do local e a propriedade privada do Centro Comercial". (1)
Liberdade ambulatória
"Ameaças às pessoas ou danos a patrimônio se resolvem na área criminal, não por meio de ação possessório. Falta o interesse de agir porque a ação eleita é inadequada. (...) Neste caso, a autora deve procurar a autoridade policial para prevenir e repreender eventuais delitos que possam vir a ser cometidos." (2)
No Japão não há vergonha ou percepção de "tarefa desonrada"
O que diriam e fariam essas crianças diante das greves nas Universidades brasileiras?
REFERÊNCIAS:
BBC. No Japão, alunos limpam até banheiro da escola para aprender a valorizar patrimônio. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151110_escola_japao_limpeza_et_rb
CONJUR. Escola é condenada por obrigar criança a desentupir vaso sanitário. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-set-22/escola-condenada-obrigar-crianca-desentupir-vaso-sanitario
NOTAS:
(1) — UOL NOTÍCIAS. Justiça proíbe rolezinho em shopping na zona leste de São Paulo. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/11/27/justica-proibe-rolezinho-em-s...
(2) — Migalhas. Processo que tentava impedir "rolezinho" em shopping paulista é extinto. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI216181,21048-Processo+que+tentava+impedir+rolezinho+em+shopp...