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A indispensável ambivalência

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Agenda 06/04/2017 às 23:00

[1] Hans Jonas (1903-1993) filósofo alemão. É conhecido principalmente devido à sua influente obra intitulada "O Princípio da Responsabilidade" que foi publicada em alemão em 1979 e, em inglês somente em 1984. Concentrou-se nos problemas ético-sociais criados pela tecnologia.

E, sustentou que a sobrevivência humana depende de nossos esforços para cuidar de nosso planeta e seu futuro. Formulou novo característico princípio moral supremo, in litteris: "Atuar de forma que os efeitos de suas ações sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína".

Sua obra teve o papel de catalisador do movimento ambiental na Alemanha, e em sua obra intitulada "O Fenômeno da Vida" de 1966 formou a espinha dorsal de uma escola de Bioética nos EUA. Foi profundamente influenciado por Heidegger, e tentou sintetizar a filosofia da matéria com a filosofia da mente, produzindo rico entendimento da biologia, em busca de uma natureza humana material e moral.

A biologia filosófica de Jonas tentou proporcionar uma concepção una de homem, e totalmente reconciliada com a ciência biológica contemporânea. Escreveu muito sobre o gnosticismo pelo que é igualmente conhecido, interpretando a religião como ponto de vista existencial filosófico.

[2] Questiona-se por que Hans Jonas poder ser considerado um clássico na filosofia contemporânea?

Todas as éticas clássicas: antigas, modernas e contemporâneas até o momento da publicação de "O Princípio da Responsabilidade" não lidavam diretamente com os seres futuros quanto à possibilidade de termos responsabilidades e deveres para com eles; apenas com aqueles que já existem (proximidade no tempo, embora não no espaço).

Com Jonas inicia-se uma nova perspectiva quanto aos seres futuros exigirem eticamente compromisso daqueles que os gerarão - mesmo que ainda não tenham sido gerados.

Jonas coloca, portanto, uma questão antes em aberto, qual seja: não haveríamos de nos preocupar com quem realmente ainda não existia e quiçá poderia nem vir a existir.

Contudo, Jonas assevera que não é bem assim, pois o futuro não pode ficar refém de atos irresponsáveis para aqueles que eventualmente venham a nascer tornando-o inviável para esses futuros (eventuais) seres.

Em uma abordagem tout court é basicamente isso que torna o filósofo alemão um clássico contemporâneo: o ineditismo de suas reflexões sobre os seres futuros e a nossa responsabilidade para com eles.

Em "O Princípio Responsabilidade" analisam-se as éticas clássicas e modernas e procura demonstrar-se como estas não consegue lidar com a possibilidade ou com o futuro, mas apenas com a proximidade e com o presente. A partir dessa impossibilidade dos sistemas éticos clássicos e modernos, Jonas propõe sua tese: devemos evitar arriscar a vida humana futura, ou seja, diante dos avanços inevitáveis das tecnologias devemos nos perguntar se temos o direito de arriscar a vida futura da humanidade e do planeta. Jonas conclui que não devemos, embora tenhamos o poder tecnológico e a arrogância política, porque não temos o direito de estabelecer o fim da vida humana e planetária como um princípio ético válido, justificável. A fim de evitar a circularidade em seu raciocínio, Jonas toma como exemplo concreto a atitude dos pais diante da possibilidade da vida de seus filhos, evitando colocar seu futuro como ser humano em risco apesar de o filho ou filha ser apenas uma possibilidade eventualmente não concretizável - o bebê pode não vir a nascer. Esse ponto será retomado durante toda a trajetória teórica de Jonas em suas obras posteriores.

[3] O fenômeno denominado “morte de Deus” apresenta-se como um diagnóstico da modernidade. A própria religião sobrevivente tornou-se um produto comercializado das mais diversas maneiras; como nunca, Deus fala através dos seus “porta-vozes” religiosos “vocacionados” e testa a sua fé por meio de uma generosa oferta do dízimo. Concomitantemente, fundamentalistas religiosos consideram-se defensores de uma única postura religiosa possível, inflexível, a verdadeira, segundo cada um deles.

Na outra extremidade, a ciência e a tecnologia acenam com invenções que tocam o limiar da origem da vida. Diante dos avanços tecnológicos e arraigada inflexibilidade de opiniões que desembocam na decadência dos valores morais por tanto tempo preservados, nos perguntamos: Qual parâmetro ético poderia oferecer novos horizontes para a humanidade?  Diante das novas possibilidades tecnológicas, como pensar em uma ética capaz de acenar com um horizonte convergente para um padrão mínimo de comportamento aceitável nas diversas sociedades contemporâneas, respaldadas por diversas culturas e fundamentos antropológicos?

[4] O paradigma da ciência moderna, assentado na razão, na divisão/análise e na máxima “conhecer para controlar” reduziu os problemas e suas respostas a modelos para a ação transformadora sobre a natureza e controladora da sociedade, produzindo conhecimentos disciplinares e com alto nível de especialização. Separar e reduzir têm sido máximas do paradigma moderno.

Entretanto natureza e sociedade nunca deixaram de ser complexas e o mundo atual é a expressão desta complexidade – os problemas que se nos apresentam são multidimensionais e as contradições se avolumam. O ser humano – alienado por suas próprias mãos – da natureza (que não deixa por isso de integrar) passou a ameaçá-la de forma perigosa para sua própria espécie e todas as outras. Os laços de solidariedade humana se fragilizam, desfazem e contradições irredutíveis emergem no cotidiano natural e social.

[5] Karl Mannheim (1893-1947) foi sociólogo judeu nascido na Hungria. Iniciou seus estudos de filosofia e sociologia em Budapeste participando de um grupo de estudos coordenado por Georg Lukács. Estudou também em Berlim — onde ouviu as preleções de Georg Simmel — e Paris. Em Heidelberg, onde Mannheim foi aluno do sociólogo Alfred Weber, irmão de Max Weber, tornou-se privatdozent a partir de 1920. Foi professor extraordinário de sociologia em Frankfurt a partir de 1934. Em 1935, com a ascensão do nazismo Mannheim deixou a Alemanha para tornar-se professor da London School of Economics.

O marxismo exerceu inicialmente uma forte influência sobre o pensamento de Mannheim, mas acabou abandonando-o, em parte por não acreditar que fossem necessários meios revolucionários para atingir uma sociedade melhor. Seu pensamento assemelha-se em certos aspectos aos de Hegel e Comte: acreditava que, no futuro, o homem iria superar o domínio que os processos históricos exercem sobre ele. Foi também muito influenciado pelo historicismo alemão e pelo pragmatismo inglês.

Max Weber e Karl Marx são os principais sociólogos com quem Mannheim dialoga para a construção da sua teoria sociológica a partir de Ideologia e Utopia (1929). Seu primeiro livro de grande envergadura (pois já publicara outros textos desde 1918), Ideologie und Utopia (Ideologia e utopia), de 1929, é também considerado seu mais importante escrito. Nesta obra, Mannheim afirma que todo ato de conhecimento não resulta apenas da consciência puramente teórica (lógica formal ou epistemologia positivista), mas também de inúmeros elementos de natureza não teórica, provenientes da vida social e das influências e vontades a que o indivíduo está sujeito.

Algumas influências de pensadores anteriores são importantes para os conceitos que Mannheim desenvolverá a partir desta obra.

De Nietzsche utilizará o perspectivismo, de Marx o conflito e a dominação e a sua teoria da ideologia, de Max Weber a sua tipologia para análise e o método compreensivo. Como resultado, Ideologia e Utopia é um livro que abarca desde epistemologia e metodologia, até teoria social (sociologia e política), e lança os alicerces da Wissensoziologie (Sociologia das Ideias ou Sociologia do Conhecimento), que já havia sido introduzida, de forma não tão consistente como o fez Mannheim, por Scheler e Veblen. Expande a questão dos intelectuais relativamente desvinculados de classes sociais, utilizando o termo intelligentsia cunhado por Alfred Weber, introduz uma análise do irracionalismo na política (que aprofundará em obras posteriores).

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[6] Karl Emil Maximilian Weber (1864-1920) um intelectual, jurista e economista alemão considerado também um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão também era célebre, sendo sociólogo e economista Alfred Weber.

Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi reservado para o estudo do capitalismo e do chamado processo de racionalização e desencantamento do mundo. Mas seus estudos também deram contribuição importante para a economia.

Sua obra mais famosa são os dois artigos que compõem “A ética protestante” e o “espírito do capitalismo”, com qual começou suas reflexões sobre a sociologia da religião. Weber argumentou que a religião era uma das razões não-exclusivas do porque as culturas do Ocidente e do Oriente se desenvolveram de formas diversas, e salientou a importância de algumas características específicas do protestantismo ascético, que levou ao nascimento do capitalismo, da burocracia e do estado racional e legal nos países ocidentais. Em outro trabalho importante, A política como vocação, Weber definiu o Estado como "uma entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física", uma definição que se tornou central no estudo da moderna ciência política no Ocidente.  Em suas contribuições mais conhecidas são muitas vezes referidas como a "Tese de Weber".

[7] Marc Halévy foi físico e filósofo francês, especializado em ciências da complexidade como ponto técnico fundamental de vista da perspectiva das suas aplicações na economia e previsão. É autor de mais de cinquenta livros, sobre ciência, espiritualidade e filosofia.

Escreveu sobre Cabala, taoísmo, maçonaria e, sua convergência com os pontos de vista da física moderna. A ele se deve a noção de acumulação de tempo, o tempo não passa, acumula-se, e as teorias derivas panmnésie e homéonésies para explicar o processo de autopoiese.

[8] William James (1842-1910) foi um dos fundadores da psicologia moderna e importante filósofo ligado ao pragmatismo, formado como médico. Escreveu diversas obras conceituadas sobre a então recente ciência psicologia, sendo um dos formuladores da psicologia funcional, também reconhecido como "O pai da psicologia americana".

Willian James propôs uma teoria das emoções ao mesmo tempo em que o fisiologista dinamarquês Carl Lange. Ambos trabalharam independentemente e, de acordo com esta teoria, conhecida por teoria emocional de James-Lange, os sentimentos, isto é, as sensações subjetivas das emoções são um produto do reconhecimento do cérebro cortical das demais reações fisiológicas e comportamentais desencadeadas no corpo por determinado evento ambiental (o estímulo emocional).

[9] O sistema da negação pode ser um mecanismo psicológico positivo que nos permite recusar a realidade dolorosa, cobrindo as feridas, e assim prosseguir, tendo efeito idêntico a um amortecedor psicológico. Em suma, a negação é a defesa do ego e, segundo Freud a negação é uma qualidade lógica do pensamento que só pode ter sentido no sistema pré-consciente-consciente.

[10] O caos é atualmente o único conceito que ainda admite um conceito geral, ou seja, aquele das interferências de ordens diferentes.

 Somente a eliminação do caos, no interior da noção de caos, permite o uso do caos como conceito. Só como caos determinado o caos pode entrar no discurso científico. Ainda como caos determinado, (o caos pode sofrer uma deformação conceitua) que pode resultar num determinismo novo, perdendo sua força heurística de pensamento além das ordens conhecidas, como consequência da descoberta dos atratores.

A teoria física do caos distingue, até o momento, quatro atratores diferentes: Pontos Fixos, Cyclus Limitados, Torí e os Atratores Estranhos. Atenção maior, entretanto, não deveria ser dada ao atrator em si, mas a sua estranheza e aos fenômenos caóticos que acontecem em seu entorno.

[11] Do conceito pré-socrático de sophia e, através do tratamento que lhe deram Platão e Aristóteles, se chegou, por fim, a uma concepção dicotômica. A polaridade teoria-prática é uma construção tardia no pensamento grego. Surge dentro do contexto de Platão e dos escritos provenientes da Academia. É fácil entender tal questão quando se compara o significado de sophia nos períodos arcaico e clássico da história grega.  A sabedoria arcaica se caracterizava pela universalidade do saber, pela plena união entre o fazer e o pensar.

[12] É evidente que a techné e a phronesis não permitem chegar à verdade, porque ambas tratam com coisas que podem vir a ser de outro modo do que são. E, a episteme só o permite em relação à matemática, porque parte de premissas verdadeiras. Todas as demais áreas do conhecimento teorético são dialéticas, portanto, só podendo chegar as opiniões confiáveis. A techné, episteme e a phronesis têm sido traduzidas como ciência produtiva (ou habilidade técnica), ciência teorética (ou conhecimento científico) e na ciência prática (ou sabedoria prática), respectivamente.

Nous é a inteligência ou o pensamento estável. O ser original inicialmente emana, ou joga pra fora, o nous, que é uma imagem perfeita do Um e o arquétipo de todas as coisas existentes. É simultaneamente o ser e o pensamento, a ideia e o mundo ideal. Como imagem, o nous corresponde perfeitamente a UM, mas como derivado, é totalmente diferente. O nous é o componente mais crítico do idealismo.

[13] A Poética de Aristóteles provavelmente registrada entre os anos 335 antes de Cristo e 323 antes de Cristo, é um conjunto de anotações de aulas de Aristóteles sobre o tema da poesia e da arte em sua época, pertencentes aos seus escritos acromáticos (para serem transmitidos oralmente aos seus alunos) ou esotéricos (textos para iniciados).

Estes cadernos de anotações eram destinados às aulas do Liceu e serviam de guia para o mestre e investigador Aristóteles, anotações esquemáticas destinadas a serem desenvolvidas em suas aulas e não para serem conhecidas através da leitura. Praticamente tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acromáticas. É o primeiro escrito conhecido que procura especificamente analisar determinadas formas da arte e da literatura, também um registro limitado de como era a arte grega em seu tempo. A Poética, "não é apenas a primeira teoria do Teatro ocidental; trata-se de um livro que influenciou essa arte ao longo de sua história e que ainda ecoa".

O historiador Marvin Carlson afirma que "embora a Poética de Aristóteles seja reconhecida por sua importância crítica em toda cultura ocidental, tudo, em cada detalhe deste trabalho levanta opiniões divergentes (Carlson 1993, 16)". Constitui-se como um pensamento ou "teoria sobre a Tragédia", como o define Eudoro de Souza.

A Poética passa a ser tratada como um cânone que determinava estilos que deveriam ser seguidos ou combatidos por várias correntes estéticas. Os mais conhecidos são os de inspiração clássica: classicismos e neoclassicismos diversos usaram algumas das análises do professor grego para determinar leis obrigatórias de composição para a arte em seu tempo, como as unidades de tempo, ação e lugar.

Por outro lado, oponentes de algumas destas regras começaram a entender o pensamento do filósofo grego pela via destes leitores. Os textos teóricos de Bertolt Brecht e a teoria pós dramática, por exemplo, fundamentam seus principais argumentos estéticos não nas escritas do autor grego, mas nos cânones levantados através dos séculos por seus leitores. Assim são as criticas ao naturalismo ou ao figurativismo ou a obrigatoriedade das unidades (de tempo, de lugar e de ação) na dramaturgia.

[14] Antígona é uma tragédia grega de Sófocles, composta por volta de 442 a. C. É cronologicamente a terceira peça de uma sequência de três tratando do ciclo tebano, embora tenha sido a primeira a ser escrita. A personagem do título é Antígona, filha de Édipo e, irmã de Etéocles e Polinice.

A história tem início com a morte dos dois filhos de Édipo, Etéocles e Polinices, que se mataram mutuamente na luta pelo trono de Tebas. Com isso sobe ao poder Creonte, parente próximo da linhagem de Jocasta. Seu primeiro édito dizia respeito ao sepultamento dos irmãos Labdácidas. Ficou estipulado que o corpo de Etéocles receberia todo cerimonial devido aos mortos e aos deuses. Já Polinices teria seu corpo largado a esmo, sem o direito de ser sepultado e deixado para que as aves de rapina e os cães o dilacerassem. Creonte entendia que isso serviria de exemplo para todos os que pretendessem intentar contra o governo de Tebas.

Ao saber do édito, Antígona deixa claro que não deixará o corpo do irmão sem os ritos sagrados, mesmo que tenha que pagar com a própria vida por tal ação. Mostra-se insubmissa às leis humanas por estarem indo de encontro às leis divinas.

Ainda no primeiro episódio, Creonte é informado por um guarda de que o corpo de Polinices havia recebido uma camada de pó e com isso seu édito havia sido desrespeitado, colocando sua autoridade à prova. Ele se enfurece ainda mais quando o coro interroga-se, questionando se não teria sido obra dos próprios deuses.

Entra o primeiro estásimo, quando o coro exalta a capacidade do homem.

No segundo episódio o guarda descobre que o rebelde tratava-se de Antígona e a leva até Creonte. Trava-se então um duelo de ideias e ideais: de um lado a fé, tendo como sua defesa o cumprimento às leis dos deuses, as quais são mais antigas e, segundo ela, superiores às terrenas, e de outro lado o inquisidor, que tenta mostrar que ela agiu errado, explica seus motivos e razões, mas cada um continua impávido em suas crenças. Creonte manda também chamar Ismênia, que mesmo sem ter concordado com o ato da irmã, ainda no prólogo, confessa o crime que não cometeu. Ainda assim não recebe a admiração da irmã, a única e real transgressora. Ambas são condenadas à morte.

O segundo estásimo reflete sobre as maldições que se acumularam sobre os Labdácidas. O diálogo travado entre Creonte e seu filho Hêmon, futuro marido de Antígona, já no terceiro episódio, explicita a honradez do jovem rapaz e sua submissão às ordens paternas. Contudo, não deixa de levar argumentos concretos para a defesa de sua amada, de como o édito está sendo contestado pelo povo nas ruas, e que toda a cidade está de acordo com o feito de Antígona. Nesse ponto o autor mostra que a vaidade e o poder já tomaram conta de Creonte, que acredita ser o único a poder ordenar e governar aquele país (”E a cidade é que vai prescrever-me o que devo ordenar?” – linha 734 e “Acaso não se deve entender que o Estado é de quem manda?” – linha 738). O filho ainda tenta trazê-lo à razão na linha 745: “Não tens respeito por ele [seu soberano poder] quando calcas as honras devidas aos deuses”. A discussão se acalora a ponto de Hêmon ameaçar se matar caso o pai não revogue a condenação, mas é entendido como uma ameaça de parricídio. Então o tirano decide tornar mais cruel a pena de Antígona, aprisionando-a em uma caverna escavada na rocha, só com o alimento indispensável, para assim ter um fim lento.

O terceiro estásimo celebra Eros, deus do amor, que geralmente leva as pessoas a ignorarem o bom senso.

O quarto episódio mostra as lamentações de Antígona. Pode-se entender de um lado como sendo uma tentativa de insuflar o povo a se revoltar contra o governo tirano de Creonte, mas também uma autocomiseração, mesmo diante de falas como “sem lágrimas”, “... eu, em muito a mais perversa”. O coro, no quarto estásimo, faz comparações com outras personagens mitológicas que também foram emparedadas.

Quinto episódio: entra Tirésias, adivinho conhecido e respeitado por todos. Ele adverte Creonte do mal que irá se abater em sua vida devido à sua teimosia, e que os deuses estão enfurecidos. Ele mantém-se irredutível, mas após a partida do adivinho é convencido pelo coro a libertar Antígona e sepultar Polinices.

No quinto estásimo o coro recorre a Dionísio, patrono de Tebas, para que ele restaure a cidade. O desfecho trágico apresentado no êxodo é típico sofocliano, com diversas mortes. Mesmo tendo sepultado ele mesmo o sobrinho há muito morto, Creonte terá que viver com o peso da morte de Antígona, que já havia se matado quando ele fora buscá-la, com o suicídio de seu filho Hêmon, ao saber da morte da amada e com o suicídio da própria esposa, Eurídice, ao receber a notícia da morte do filho querido.

[15] Só sei que nada sei é uma famosa frase atribuída ao filósofo grego Sócrates que significa um reconhecimento da própria ignorância da parte do autor.

Alguns pensadores e filósofos contestam que Sócrates disse a frase desta maneira, mas não parece haver dúvida que o conteúdo é associado ao filósofo grego.  Existem, no entanto, pessoas que afirmam que Sócrates não proferiu esta frase, porque ela não se encontra nas obras de Platão (o seu aluno mais conhecido), que contêm os ensinamentos de Sócrates. Podemos afirmar que existe a contraposição de dois tipos de conhecimento: o conhecimento através da certeza e o conhecimento através da crença justificada. Sócrates se considerava ignorante porque não tinha certezas, afirmando também que o conhecimento absoluto ou com certeza, só existia nos deuses.

Assim, muitas vezes esta frase significa que não é possível saber algo com a certeza absoluta e não significa que Sócrates não sabia absolutamente nada.

[16] Um dos conceitos mais interessante e polêmico da lavra de Hans Jonas é a heurística do temor, que fora erroneamente traduzida do alemão como heurística do medo, conforme acentuou o filósofo Jelson Roberto de Oliveira. Trata-se de uma opção ética pelo mau prognóstico, de um antídoto contra a esperança sem sentido que pode afetar a ação humana no mundo. Em vez das probabilidades otimistas e idealistas.

Jonas propôs usar-se o medo como forma de aprendizado e fazer da projeção da possibilidade, da previsão negativa como condição para alterar a atitude do ser humano frente à natureza.

É preciso utilizar as predições e presságios apontados pelos saberes científicos modernos como forma de antecipação de condições nefastas previstas caso o ser humano não altere as suas ações, em sentido de fomentar a responsabilidade.

Trata-se de uma tomada de consciência do perigo, do risco do mal que adviria do uso perigoso do poder da técnica. Como a ameaça ambiental é geralmente imperceptível ou, pelo menos, de difícil acesso para o cidadão comum, a heurística poderia contribuir para revelar a real possibilidade do perigo e serviria de convocação. O temor, afinal, tem um tom antecipador, e é a primazia do mau prognóstico que despertaria no ser humano a responsabilidade. Jonas também fez uma crítica ao marxismo e a Kant.

[17] A expressão “niilismo consumado” foi cunhada por Nietzsche há exatamente um século e foi redefinida em meados do século vinte por Heidegger. Várias são as maneiras pelas quais esses dois filósofos o conceituaram. Vejamos algumas delas, utilizadas por Vattimo como equivalentes. Para Nietzsche o niilismo ocorre na medida em que o homem abandona o centro e se coloca em um ponto x qualquer; quando ocorre a desvalorização dos valores supremos; quando se proclama a morte de Deus; quando o mundo é convertido em fábula e se atribui à fábula a antiga dignidade metafísica do mundo verdadeiro; ou quando a experiência perde a autenticidade e se emancipa de quaisquer valores últimos. (In: CARVALHO, José Jorge. A Antropologia e o Niilismo Filosófico Contemporâneo. Disponível em: www.dan.unb.br/images/pdf/anuario_antropologico/.../anuario86_josejorge.pdf Acesso em05. 04.2017).

[18] Para Rousseau, portanto, o homem natural não pode ser reduzido a um mero animal entre outros animais, nem tampouco à sua condição empírica. Já a partir daqui, temos claramente características que também estão presentes no ideário de Kant.  Assim como notaremos em Kant, Rousseau refere-se às capacidades e às faculdades espirituais humanas, como elementos que distinguem o homem e que permitem a ele determinar-se a si mesmo, independentemente dos apelos e necessidades oriundos de sua constituição natural.  Até aqui parece não haver maiores dificuldades em compreendermos o que Rousseau quer dizer sobre a dupla constituição humana, há um tempo física e meta-física, como ele mesmo a definiu. E já aqui há também uma certa semelhança com aquela distinção que Kant mesmo irá estabelecer, a saber sensível e inteligível.

[19] Claude Lévi-Strauss (1908-2009) foi antropólogo, professor e filósofo belga. É considerado fundador da antropologia estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século XX, porém suas ideias são muito diferentes do pensamento da época em que viveu, rompe com a ideia de que índios são somente índios, não concordava com a divisão em civilizados e selvagens ou a divisão em superiores e inferiores, além do possuir um maior pensar ambientalista radical, por mais que sua teoria seja interpretada com base aos olhares de intelectuais com o pensamento marxista pós-guerra Fria do século XXI, ideias assim só apareceram a partir do final da década de 1960 com o aparecimento da contracultura marxista cultural e ambientalista radical, embora as obras de Lévi-Strauss vejam os índios do Cerrado de forma "eurocêntrica" ou "colonialista" em certo ponto.

Entre 1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada Universidade de São Paulo, juntamente com os professores integrantes da missão francesa, entre eles: sua mulher Dinah Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Jean Maugüé e Pierre Monbeig. Junto com Dina, Strauss também excursionou por regiões centrais do Brasil, como Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro Tristes Trópicos (1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de antropólogo nasceu nessas viagens.

Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contato com os índios, no Rio Tibagi, porém ficou decepcionado ao supor, sem muito conhecimento etnográfico, que "os índios do Tibagi (caingangues) não eram nem verdadeiros índios, nem selvagens".

[20] ‘O homem é o único animal que pode se aperfeiçoar’: talvez esta definição pudesse se prestar para resumir, se isso fosse possível, o pensamento antropológico de Rousseau e Kant. A pergunta pelo homem, isto é, a pergunta acerca de sua constituição (não somente física ou biológica, mas, sobretudo, cultural, social e espiritual entre outros aspectos), sua posição no mundo (ou sua relação com os outros seres da natureza) e sua destinação (moral) - para mencionar aqui apenas três aspectos possíveis desta pergunta extremamente abrangente, para não dizer incomensurável e, por isso mesmo, difícil de ser respondida - sempre esteve relacionada de certo modo, como elemento catalisador (explícito ou implícito), nas reflexões filosóficas desde os primórdios do pensamento ocidental. Com Rousseau e com Kant isso não foi diferente.

[21] Stuart Hall (1932-2014) foi um teórico cultural e sociólogo jamaicano que viveu e atuou no Reino Unido a partir de 1951. Esteve no Brasil em 2000 para uma série de conferências e teve traduzida a coletânea de ensaios Da diáspora — Identidades e mediações culturais (Editora UFMG, organização de Liv Sovik) e o livro “A identidade cultural na pós-modernidade” (DP&A Editora). Continuou também a ser uma voz ativa na política britânica.

Tornou-se membro da British Academy em 2005, sendo reconhecido pela Academia após uma vasta produção intelectual sobre os diversos conflitos contemporâneos nos diversos meios culturais.


[i] Eric Voegelin (1901-1985) foi filósofo, historiador e cientista político alemão radicado nos EUA. Relatou em sua obra "Reflexões Autobiográficas" induzido pela onda de interesse sobre a Revolução Russa de 1917, estudou a obra "O Capital" de Marx e foi marxista entre agosto a dezembro de 1919. Porém, durante seu curso universitário, ao estudar as disciplinas como a teoria econômica e a história da teoria econômica aprendera o que lhe parecia erradas em Marx. E chegou a afirmar que Marx cometeu grave distorção ao escrever sobre Hegel.

Para Voegelin, ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, Marx pretendia sustentar uma ideologia que lhe permitisse apoiar a violência contra seres humanos afetando indignação moral e, por isso, Voegelin considera Karl Marx um mistificador deliberado. Afirma que o charlatanismo de Marx reside também na terminante recusa de dialogar com o argumento etiológico de Aristóteles. Argumenta que, embora tenha recebido uma excelente formação filosófica, Marx sabia que o problema da etiologia na existência humana era central para uma filosofia do homem e que, se quisesse destruir a humanidade do homem fazendo dele um "homem socialista", Marx precisava repelir a todo custo o argumento etiológico.

Sobre a autora
Gisele Leite

Professora universitária há três décadas. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Pesquisadora - Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Presidente da Seccional Rio de Janeiro, ABRADE Associação Brasileira de Direito Educacional. Vinte e nove obras jurídicas publicadas. Articulistas dos sites JURID, Lex Magister. Portal Investidura, Letras Jurídicas. Membro do ABDPC Associação Brasileira do Direito Processual Civil. Pedagoga. Conselheira das Revistas de Direito Civil e Processual Civil, Trabalhista e Previdenciária, da Paixão Editores POA -RS.

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