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Quarenta anos depois, no mesmo 11 de agosto

Na noite de 11 de agosto de 1977, meus pais me levaram às comemorações do sesquicentenário da fundação dos cursos jurídicos no Brasil, no salão nobre da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Depois do hino nacional, muitos falaram em homenagem à data. Lembro-me apenas de Paulo Bonfim, nosso primo, a declamar belo poema e do concerto sinfônico.

Era uma festa que tinha tudo para ser formal, algo chato para um menino de oito anos. No entanto, enquanto ocorriam discursos e se tocava música clássica, os estudantes se divertiam no pátio, a beber, rir e festejar. Diante daquela animação, preferi observar os alunos pelo primeiro andar a aguardar sentado o fim da solenidade.

Qual não foi a surpresa, quando vi chegar carregado um imenso boneco do macaco King Kong. Aquilo, realmente, trouxe a todos a euforia. Alguns alunos tinham pego emprestado a escultura do macaco da frente de um cinema, que servia para a propaganda do filme recém-lançado em São Paulo.

Por óbvio que não me recordo de detalhes, mas não esqueço o quanto eu ria com as danças e brincadeiras da estudantada em volta do gigante símio. Achei aquela confusão muito divertida. Ali, eu creio, foi a primeira vez que o ambiente da São Francisco me cativou.

Porém, a noite prometia. Fomos jantar em seguida no restaurante La Casserole, no Largo do Arouche, e nos acompanhou o Professor Jose Ignácio Botelho de Mesquita. Era educação e elegância. Formal no tratar, carinhoso no olhar. Logo, simpatizei com ele, não obstante não entendesse um terço das conversas e nem imaginasse a importância daquele mestre.

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Nunca mais me afastei do Professor José Ignácio. Amigo próximo de meu pai, honrou-me até o final da vida com a amizade e com a confiança profissional. Não há como não se orgulhar de ter recebido indicações de cliente do advogado perfeito que era ele.

Aquele gênio do direito processual civil, professor de primeira qualidade, tantas vezes paraninfo, era, também, advogado por excelência. A seriedade de professor universitário refletia-se no trabalho forense. Escrevia enxuto, de modo direto. Foram suas peças judiciais – em especial, nos tribunais (agravos, apelações e embargos) – responsáveis por inspirar uma geração de advogados, dentre os quais me incluo com seu sobrinho Antonio Carlos Monteiro da Silva Filho, Marcelo Batuíra Losso Pedroso e Paula Forgioni.

Passados quarenta anos daquele jantar, devo reverenciar o Professor José Ignácio, bem assim agradecer pelos conselhos nos diversos momentos da vida acadêmica e profissional. Pessoas, como ele, de tudo faziam para a Faculdade de Direito manter a qualidade na didática, a seriedade nos concursos públicos, o ambiente de pesquisa. Queria servir à Escola, não exibir o título.

Guardo a boa memória dele e da aura única dos estudantes do Largo de São Francisco, a qual me encantou desde aquela inesquecível noite de 11 de agosto. Duas facetas diferentes e complementares de quem entende o sentido de estudar na Faculdade de Direito.

Temos, pois, de comemorar hoje, Professor.

Sobre o autor
Antonio Sérgio Altieri de Moraes Pitombo

Sócio do Moraes Pitombo Advogados, mestre e doutor em Direito Penal (USP). Pós-Doutor no Ius Gentium Coninbrigae (Univ. de Coimbra)

Informações sobre o texto

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