~~Limitar o uso do celular dos filhos resolve?
Segundo a cientista coreana Yuhyun Park, não é suficiente. A pesquisadora defende a necessidade de uma educação digital desde cedo, visando a construção de cidadãos também no ambiente virtual. Segundo ela, mais do que serem obrigados a não estar on-line durante certo período, as crianças precisam compreender os perigos deste universo particular, tanto quanto são treinadas a entender os riscos que correm na vida cotidiana.
Esse tipo de educação, segundo Park, visa tanto promover um comportamento consciente, fazendo com que as crianças não sejam propensas a participar de práticas de bullying digital, por exemplo, como também objetiva formar nelas uma consciência crítica, de forma que elas não estejam expostas a situações nocivas deste meio, como vícios em jogos, conteúdo violento, ou pornografia infantil. Afinal, como não é possível estar on-line com as crianças todo o tempo, acompanhando seus passos ou cliques, afirma a cientista, elas precisam ser treinadas a agir de forma segura e independente.
Pensar a tecnologia não só em relação às funcionalidades, mas também na sua influência sobre a nossa vida, mostra-se cada dia mais essencial, uma vez que a prática da tecnologia interativa (como desnaturalização da vida social) está progressivamente mais presente em nosso contexto.
As mudanças neste setor foram tão rápidas que os pais parecem não estar preparados para prevenir seus filhos. Por este motivo, a pesquisadora defende que este tipo de educação esteja presente nos currículos escolares. Cingapura, onde vive Yuhyun, já adotou a iniciativa. Também o diálogo em casa é defendido por ela. As crianças precisam ser alertadas dos perigos on-line, como o são dos problemas off-line. As redes sociais na faixa etária de 8 a 12 anos também são condenadas pela pesquisadora, que não vê benefício algum da prática nessa idade.
Escândalos denunciando a violação de 60 milhões de usuários do Facebook, além da incapacidade dos próprios técnicos e especialistas em informática, e juristas, em evitar a presença de Fake News – quando não são as próprias vítimas –, reforçam a necessidade premente de fazermos um debate mais sério e organizado acerca das tecnologias interativas deste milênio.
O mundo em rede trouxe soluções e problemas, e nem todos estão preparados para sua realidade. Se cientistas e técnicos são surpreendidos, o que dirá o homem médio em sua vida comum?
Sem contar que efeitos como hackers, Dark Web, Inteligência Artificial, o fenômeno antissocial do Uber-humano, a recorrência aos emoticons em substituição à linguagem escrita, elevam e agravam o descompromisso com o formal – mal compreendido como tradição – e com o direito (no sentido de bom senso), e só fazem aumentar o desconhecimento envolto na relação real/virtual.
De outro modo, pode-se indagar, se não temos educação em direitos, se somos devedores de uma “inteligência política” (como organização social complexa), ou seja, se não resolvemos muitos dos maiores problemas do “passado” (renitente), que tipo de cuidados demonstramos em direção ao futuro-presente?
É provável que não tenha havido época mais emocionante do que esta em que vivemos, com os sobressaltos de cada “nova tecnologia”, mas é preciso saber reconhecer que as dificuldades são de igual monta. Para adultos e crianças. Indistintamente. Por isso, a realidade virtual não é para curiosos, assim como a política.
Vinício Carrilho Martinez. Professor da UFSCar/ Ded.
Caroline Janjácomo. Mestranda no PPGCTS/ UFSCAR.
Vivian Guilherme. Mestranda no PPGCTS/ UFSCAR.