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HOMOSSEXUALIDADE ENTRE OS CLÁSSICOS

Violência grega à romana

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Agenda 14/01/2019 às 14:50

A pergunta que resume a pesquisa pode ser assim formulada: qual a relação entre a homofobia e a misoginia no Período Antigo, tendo em vista o falocentrismo?

INTRODUÇÃO

            O propósito deste trabalho é analisar a gênese da homofobia e os processos de transformação deste fenômeno. A historiografia, por meio da revisão bibliográfica específica, será o método usado para galgar este objetivo. Neste sentido, a pergunta central não será o que é homofobia. Evidentemente, será necessário realizar a mais prévia introdução sobre o conceito de homofobia, sem embargo, a grande discussão não se resumirá nisso. Logo, a pergunta que permeia a dita pesquisa, e que se tenta esquadrinhar, será: qual a genealogia da homofobia, ou seja, como pensar a respeito de sua origem e quais seus efeitos ao longo da história? Sendo assim, o início desta discussão coincide com o próprio início da humanidade, ou pelo menos com os mais antigos e notórios registros históricos que disponibiliza a literatura. Sobre essa questão, não obsta fazer uma ressalva, muito embora ela se evidenciaria por meio da própria continuidade da obra. Talvez pareça, a priori, um tanto quanto exagerado mencionar de forma tão enfática o período Pré-Histórico, cuja situação é de extrema longiquidade e cujas fontes permanecem ainda tão parcas. Todavia, é por meio dos registros antropológicos que se notam os mais exordiais traços de violência contra os gêneros. A propositura da discussão desse contexto histórico de ruptura entre um modelo matriarcal para o início do patriarcal, a marcar efetivamente o início da dominação masculina e do modelo heterossexual, o qual, sem dúvida, estender-se-á até à hodiernidade. Outrossim, a paralela análise do fenômeno misógino da humanidade se torna deveras apropriado, à medida que tanto a misoginia quanto a homofobia se apresentam como consequências do paradigma[1] falocêntrico. O desprezo contra o feminino, ou seja, a negação de tudo aquilo que não for estritamente masculino, viril, dominador e poderoso, enseja alvo da submissão, da repulsa e, consequentemente, da violência. Em sendo assim, o Movimento Feminista, que resultou de um processo histórico longo e doloroso, se desenvolve paralelamente ao Movimento Gay.

            A análise e comparação entre estes dois movimentos, ao longo dos milênios, é fundamental para se compreender as verdadeiras origens da homofobia. Desta feita, torna-se necessário retornar ao Período Antigo para análise das raízes da homofobia e sua relação com a misoginia. Para tanto, o presente artigo restringir-se-á, sobremodo, à cultura grega e romana. Neste sentido, não obsta ressaltar que comumente se considera a Idade Antiga como o período que se inicia com o desenvolvimento da escrita, aproximadamente no IV milênio antes da Era Cristã, até a queda do Império Romano Ocidental, durante o século V da Era Cristã. De forma prosaica, as literaturas historiográficas abordam a Antiguidade como tempo áureo da civilização grega, romana, fenícia, egípcia, hebraica e etruscos. Por questões práticas, todavia, a presente pesquisa restringir-se-á tão e somente à abordagem da antiguidade clássica, por considerar a cultura greco-romana a raiz do pensamento ocidental moderno. 

            Um interessante aspecto, quase que universal entre as civilizações antigas, é a forte presença da sexualidade na cultura. Sobretudo no que se refere à religião, ao contrário da ideia que irá se construir de divindade com o advento do monoteísmo, os deuses das culturas politeístas tinham características bastante semelhantes aos humanos quanto aos sentimentos: eles sentiam fome, dor, medo e, inclusive, prazer. Os deuses para os antigos eram uma representação da própria figura humana. A sexualidade entre as divindades era tratada de forma tão natural que os mitos eram recheados de relatos de infidelidade, incesto e, até mesmo, estupro. Inclusive não eram raros casos de relações homossexuais entre as divindades. Ademais, como será melhor discorrido, a moral sexual era tão liberal, se comparada com os recatos modernos, que inúmeras religiões faziam uso de práticas sexuais ritualísticas. Ademais, grande parte das atividades de prostituição era praticada dentro dos próprios templos. Tanto os sacerdotes, quanto os fieis, faziam uso dos serviços de prostitutas e prostitutos. Durante a antiguidade, as práticas sexuais sempre estiveram ligadas com a prática religiosa. Esta situação só irá mudar com o avanço do cristianismo, que paulatinamente modificará a concepção moral.

1. Os gregos e a pedagogia pederástica

            Segundo mitologia grega, a criação do mundo teria sido uma criação titânica dos irmãos Prometeu e Epitemeu. Os dois titãs desceram à Terra com sementes mágicas que brotaram instantaneamente, transformando-se na flora; os animais foram moldados a partir da argila, tirada do solo. Mas faltava algo. Prometeu, se utilizando da mesma argila, moldou, em alusão à aparência física dos deuses, a espécie humana masculina – ainda não havia a mulher. Criados, Epitemeu encarregou-se de dar a cada animal uma característica: coragem, força, rapidez, sagacidade. Contudo, ao final do feito, se deu conta de que todas as qualidades já tinham sido usadas nos animais, e os homens haviam ficado sem nenhuma. Tomado pela grande empatia que desenvolvera pelos homens, Prometeu almejou lhes dar algo especial. Foi até o céu e pegou uma fagulha do fogo divino – até então os homens não haviam descoberto seu uso. Os deuses ficaram furiosos com a audácia de Prometeu em presentear os humanos com algo tão divino. E, como castigo, Zeus criou uma criatura à semelhança de Afrodite, com tamanha beleza e sensualidade que seria capaz de seduzir e ludibriar os homens. Batizou-lhe de Pandora e lhe entregou uma caixa, que deveria ser guardada com todo zelo e jamais ser aberta. Chegando a Terra, Pandora não se aguentou de curiosidade e abriu a misteriosa caixa. Mas, para sua surpresa, de lá saíram todos os males imagináveis e se espalharam pela Terra.

            Inicialmente, no que se refere à influência do falocentrismo no conceito de feminino, é possível notar uma formidável semelhança entre o mito da Caixa de Pandora e a Gênese de Adão e Eva, na mitologia cristã – que será analisada a posteriori. Em ambos, a mulher é tida como causa central dos problemas mundanos. A interpretação mitológica não deixa dúvidas de que a misoginia era uma característica muito marcante na cultura grega. O fato de Pandora ser criada com objetivo de ser um instrumento de vingança, por meio da ira divina, é demonstração clara do imaginário grego falocêntrico e misógino, em que a mulher é tida como figura nefasta e amaldiçoada. Essa concepção negativista irá indubitavelmente intensificar a supremacia masculina. Em última análise, pode-se dizer que o homoerotismo tenha florescido como expressão da própria repulsa ao feminino.

            O amor grego – φιλíα, philía[2] –, é muitas vezes traduzido nos poemas pela palavra amizade, assim, de início já se pode notar certa discordância com o significado moderno, tanto do vernáculo amizade, quanto do amor. Outra questão bastante complexa, e não menos paradoxal, é o sentimento amoroso do homem em relação à mulher, tendo em vista a questão da visão altamente misógina do homem grego. Ademais, o que essencia a temática do trabalho, diz respeito ao amor homossexual, um costume reconhecido e tolerado pela sociedade – inclusive, muitas vezes a conduta era preferível e, em determinadas circunstâncias, até mesmo obrigatória.

            As mulheres geralmente eram analfabetas, e a única educação que recebiam dos pais era voltada para seu futuro como esposa, ou seja, a mulher era meramente uma procriadora. Quando o marido achasse que já tinha herdeiros suficientes ele simplesmente parava com a relação sexual marital. Havia tanta desafinidade entre os cônjuges que eles dormiam em quartos separados – o que talvez não ocorresse entre as famílias menos abastadas. Dada a total falta de intimidade entre o casal, prosperou nessa época o uso de masturbadores para as mulheres. Visto que, após o casamento, as mulheres só se relacionavam socialmente com outras mulheres, é provável que a relação homossexual feminina tenha sido uma prática comum, visto que dificilmente seria descoberta e não havia qualquer risco de engravidar.

            Existem infindáveis relatos mitológicos, poesias e discursos sobre a prática da homossexualidade entre os homens. Contudo, quase não se sabe nada sobre a história das mulheres. O falocentrismo e a misoginia na Antiguidade parecem tão fortes que filósofos, poetas e pensadores nem se deram ao trabalho de deixar um relato para a posteridade. Talvez numa tentativa inconsciente de anular o passado feminino. Certamente a única referência ao lesbianismo, que não se baseia em mera conjectura histórica, se refere à grande poetisa Safo de Lesbos, cujos poemas muitas vezes eróticos exaltam a mulher e a sexualidade feminina. Cumpre-se destacar que foi sua ilha de origem, Lesbos, que deu origem ao termo lésbica[3].

Safo viveu na ilha de Lesbos e dirigia uma escola onde mulheres aprendiam música, poesia e dança. Ela se apaixonou por algumas dessas mulheres e manifestou o seu amor em poemas sensuais. Sua poesia exerceu enorme influência sobre a literatura erótica subsequente. Além disso, seus poemas trataram de questões relacionadas à vida: a maior parte dos sintomas de que os amantes têm sofrido, durante mais de vinte séculos, foi primeiramente posta em evidência por Safo. Apensar de suas preferências sexuais, ela teve marido e filha[4].

           

            Detalhes da vida de Safo constituem um grande mistério. Porém, o que importa é sua influência às mulheres de Lesbos, que, ao que parece, devem ter sentido a influência social e cultural de suas ideias. Em suma, o grande mérito de seu legado se deve não somente a sua produção lírica propriamente dita, mas, sobretudo, ao seu contexto social. Safo viveu em um conturbado período histórico, no qual as mulheres gregas sequer tinham direitos, tampouco longe de almejarem igualdade sexual: inicialmente eram propriedades do pai e, após o casamento, tornava-se obediente ao marido. O rapto e o estupro eram reflexos da fragilidade feminina, e a única saída era permanecer à submissão do marido, que bem ou mal lhe proporcionava sustento e segurança. Destarte, cogitar a existência de uma mulher letrada, inteligente e com tamanha independência indica um acontecimento formidável.

            A literatura sobre a sexualidade masculina na Grécia Antiga é bastante vasta e todas abordam a questão da homossexualidade. Contudo, é importante ressaltar que, mesmo sendo uma prática demasiadamente trivial, não existia entre os gregos um termo específico para homossexual, ou seja, não existia a figura do homem que só se relacionava com homens – o termo só será cunhado ao final da Idade Média. Entre os homens, perdurou a prática da pederastia que sempre esteve ligada ao processo pedagógico. 

Nesse processo o mais velho admira o mais jovem por suas qualidades masculinas: força, velocidade, habilidade, resistência, sabedoria e comando; e o mais jovem respeitava o mais velho por sua experiência, sabedoria e comando. O efebo era entregue a um tutor, que o transformava num cidadão grego. O tutor deveria treinar, educar e proteger o efebo. Ambos desenvolviam uma paixão mútua, mas deveriam saber dominá-la[5].

            Segundo a etimologia, o vocábulo pederastia tem como radical a expressão παιδεραστία – onde se lê paiderastía – aglutinação de παῖς, páis, e ἐράω, éros, que significam respectivamente menino e amor[6]. Assim, essa prática se evidenciava como o relacionamento, necessariamente homossexual, entre um homem adulto, chamado de εραστής, erastas; e um adolescente entre quinze e dezoito anos, denominado ερωμενος, eromenos. Geralmente o adulto era maior de vinte e cinco anos, enquanto o jovem tinha entre doze e dezoito anos. O critério etário estava mais relacionado com a questão da puberdade, uma vez que a prática não era bem vista quando o menino ainda era impúbere. Também não era comum que o jovem já tivesse tardado muito a adolescência.

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            A pederastia pedagógica ocorria nas castas superiores, o εραστής era designado pela família e tinha papel educativo enquanto tutor. A questão da sexualidade estava tão presente que, durante o processo de aprendizado, o tutor invariavelmente seduzia o ερωμενος. A prática da pedagogia grega não se resumia às temáticas teóricas, quando o educando teria seus primeiros contatos com os conhecimentos da Matemática, da Música e da Filosofia. O papel do pedagogo era também de lhe ensinar as práticas sexuais. Por esse motivo, o tutor era geralmente solteiro, e desempenhava essa atividade educativa até se casar. Por seu turno, o educando ao crescer poderia se tornar um tutor. Não obsta asseverar que, no que se refere à prática sexual propriamente dita, o εραστής sempre desempenharia um papel ativo e dominante em relação ao ερωμενος. A plausível inversão de papeis representaria uma prática absolutamente bizarra e recriminável para a cultura grega.

            Ora, sabendo que os gregos, amantes da beleza e da estética, mais do que ninguém sabiam reconhecer o que era belo e o que era digno de ser reverenciado, como era possível que um jovem se interessasse por um velho? Essa era uma questão que os próprios gregos reconheciam como paradoxal, visto que muito comumente jovens de belezas notórias se rendiam à sedução de homens muito mais velhos e feios. O próprio Platão exemplifica a relação entre Alcibíades e Sócrates como paradoxal, pois ao mesmo tempo em que o jovem era muito lindo para ser seu amante, o tutor era muito inteligente para seu educador[7].

Claramente a falada liberdade grega em relação à homossexualidade não era de modo algum tão liberal, pois também servia para manter a associação do sexo com dominação. Além disso, ao permitir a pederastia, sancionava-se o abuso sexual de meninos por homens adultos. Na Grécia Antiga, o estupro é cometido não por prazer ou procriação, mas para realizar o princípio da dominação através do sexo. Portanto, não é de admirar que os gregos tivessem obsessão por isso[8].

            Em primeiro lugar, deve-se ressalvar que nem toda relação pederástica era benéfica, pois, por mais que a homossexualidade tenha sido uma prática difundida entre os gregos, assim como hoje, muitos jovens se inclinavam mais à heterossexualidade. É claro que não existia qualquer dicotomia entre heterossexualidade ou homossexualidade entre os gregos, eles sequer tinham expressões que significassem isso – todavia, não se pode negar que as pessoas tinham suas preferências sexuais[9]. Desse modo, pode-se imaginar o tormento que esses jovens passaram ao serem obrigados a se deixar seduzir por adultos que lhe causavam asco. Sob essa ótica, a análise da prática pederástica pode ser entendida muito mais como um incentivo à violência do que propriamente um método pedagógico. Para o jovem de orientação heterossexual, a pederastia representava um estupro pelo qual ele deveria passar antes de se tornar adulto. É claro que havia os jovens que se permitiam ou se interessavam pelas investidas dos mais velhos, contudo, isso não devia ser uma regra. O problema se tornou tão sério que foi necessário criar leis que coibissem essa prática. Historicamente, esse pode ser considerado o mais arcaico vestígio do que se tornaria a lei de proteção à dignidade sexual dos menores. Sem embargo, no contexto do (da?) Grécia Antiga, como somente as famílias com propriedades tinham direitos, a lei que proibia o abuso dos jovens, na prática só tutelava contra os filhos da elite; os jovens de família menos abastadas e, principalmente, os escravos, continuaram sendo vítimas.

            Seja como for, não há dúvidas de que a discussão sobre a sexualidade entre os gregos é bastante complexa. Sobretudo em que tange a questão da pederastia e seus muitos aspectos paradoxais. Para a cultura grega, o sexo era algo bastante presente, as práticas sexuais e o proxenetismo vinculado à própria atividade religiosa demonstram certa liberdade ao homem grego. Liberdade essa que não era vivida pelo jovem, pois não raramente deveria se submeter ao domínio sexual de um adulto. De igual modo, não havia a mesma liberdade às mulheres que, totalmente submissas, se recolhiam à clausura doméstica, destinando-se a atividade procriativa. Outrossim, para as escravas e mulheres de castas inferiores a realidade era mais nefanda, muitas tinham que se dedicar a prostituição, o que não diminuía sua submissão social em relação ao homem. Destarte, o que se pode concluir por hora, é que para a cultura grega, o que tornava o indivíduo verdadeiramente livre e digno de respeito, salvo as proporções hierárquicas das castas, era sua virilidade. Em suma, é o Falo, enquanto símbolo máximo da masculinidade, que dá poder ao grego.

2. Os romanos e o apogeu do falocentrismo

            O Império Romano surgiu aproximadamente no oitavo século antes da Era Cristã e proliferou até o quinto século depois de Cristo. Durante esses treze séculos de lutas, quase toda a Europa havia sido conquistada e anexada como extensão do Império. Nenhuma civilização ou povoado era páreo para eles. Se houve alguma civilização que enalteceu mais o culto fálico do que os gregos, esta foi a civilização romana. A necessidade de demonstrar o Falo era tão grande que inúmeros monumentos foram levantados, os imperadores romanos queriam superar uns aos outros. Indubitavelmente, nenhum povo chegou ao mesmo imaginário megalomaníaco do que os filhos de Rômulo e Rêmulo.

            Tal obsessão pelo poder e pela conquista não poderia ter influenciado menos a sexualidade dos romanos. A mulher permaneceu com seu papel de procriadora, res marital. Os filhos também pertenciam ao pai: a menina até se casar e se tornar apossada pelo marido, e o filho até se tornar adulto[10]. A homossexualidade não era inteiramente proibida, todavia, diferentemente dos gregos, ela não era obrigatória sob nenhuma hipótese, não havia qualquer fenômeno parecido com o movimento pederástico em Roma. Pelo contrário, os filhos eram educados para serem machos, ativos, poderosos e conquistadores. A despeito de não haver qualquer expressão que significasse a dicotomia entre heterossexuais e homossexuais, a sociedade romana, grosso modo, tendia à bissexualidade, pois pouco importava quem era seu parceiro, homem ou mulher, o importante era dominá-lo. Apenas com o advento do cristianismo, que a moral romana paulatinamente começa a tender à heterossexualidade. É bem possível que, graças ao fenômeno da romanização esses valores culturais tenham se expandido para muito mais além das fronteiras de Roma, sobretudo nas localidades fronteiriças.

            A homossexualidade era tão presente na cultura romana que, segundo análise de Spencer, o famoso mito de Rômulo e Remo, os gêmeos fundadores de Roma que se amamentaram numa loba, pode ser interpretado como uma história de iniciação homossexual. Segundo a mitologia, Marte, o deus da guerra, símbolo supremo do masculino que dominava o pensamento e a cultura romana, estuprou a mortal Réia Sílvia – em latim Rhea Silvia, filha de Numitor, rei da lendária cidade de Alba Longa. Ao tomar conhecimento da violência, a qual dera origem aos gêmeos Rômulo e Remo, o rei ordenou que o cesto dos bebês fossem jogados no rio Tigre. A correnteza fez o cesto parar numa margem, onde foi encontrado por uma loba, que os amamentou até que eles crescessem. O autor assevera que há inscrições e desenhos que mostram o deus Marte, cercado por jovens nus ajoelhados de frente para seu pênis. A significância de ingestão do sêmen, e sua equiparação com o leite materno, bem como as cerimônias rituais a que os meninos e jovens eram submetidos para se tornarem homens, então o ato de mamar na loba começa a tomar uma nova e maior dimensão[11].

Os romanos não tinham qualquer tradição autóctone de pederastia e, inicialmente, no tempo da República, declararam-na ilegal. Em circunstância alguma um homem romano devia se deixar penetrar, fosse qual fosse sua idade. Sodomizar um adolescente não era considerado pelos romanos parte importante do processo educativo. O importante para os Romanos era ter o poder de sodomizar tudo e todos. Dito isto, os romanos não sentiam qualquer pejo em ter relações sexuais com homens, prostitutos ou escravos, desde que fossem o parceiro ativo[12].

            O comportamento sexual do romano era bastante intenso e liberal, a única ressalva era quanto à passividade. É claro que, grosso modo, era socialmente esperado que o homem se casasse e tivesse filhos, mas fora isso ele estava livre pra se envolver com escravos, prostitutos e prostitutas. Os adultos podiam inclusive se envolver com os jovens, embora esse fenômeno não guardasse nenhuma relação com qualquer recurso pedagógico. A única ressalva moral era ser ativo e dominar, ou seja, comportamentos como a impudicitia[13] assumir papel passivo – e a felatio – prática do sexo oral, eram vistos como degradantes e vergonhosos para um homem viril. Porém, era aceitável que eles pudessem ser realizados, desde que os passivos fossem escravos ou indivíduos de castas inferiores. Na prática, a conduta permanecia vergonhosa para quem praticasse, mas socialmente não era chocante. Enquanto a pederastia grega fora o objeto de amor dos gregos, os escravos passaram a servir de amante aos romanos.

            Sem embargo às normas sociais e morais, o que se observava na prática é que sempre houve os homens que se inclinavam mais ao comportamento ativo ou mais ao comportamento passivo. Inclusive, há inúmeros relatos de aristocratas e imperadores que se dedicavam preferencialmente ao sexo passivo, o que evidentemente era motivo de comentários malfadados e piadas. Uma das mais famosas obras é atribuída a Caio Suetônio, que reuniu diversos relatos da vida íntima dos principais imperadores romanos em sua obra As Vidas dos Doze Césares. Com um tom sarcástico, que lhe é peculiar, critica de forma veemente as libertinagem e luxúrias vivenciadas pelos mais poderosos homens de Roma. Segundo Suetônio, Júlio César comportava-se mais como homossexual e preferia ser passivo, sobretudo em sua relação com o Nicomedes da Bitínia. Calígora é retratado como um psicopata sexual, que abusava de crianças e até de animais. Sua diversão era desvirginar noivas em frente de seus próprios noivos, ou abusar das esposas de seus senadores, enquanto estes se embriagavam em suas festas. Por sua vez, Nero, o exibicionista imperador romano, que governou do ano 54 a 68 depois de Cristo, foi muito além dos padrões culturais. Casou-se com dois homens em cerimônia pública, possivelmente o primeiro casamento homossexual que se tem realmente registro[14]. O autor escreve sobre o primeiro casamento homossexual de Nero:

Depois de tentar castrar o garoto Esporo, no intuito de transformá-lo em uma garota, ele organizou uma cerimônia de casamento, com dote, véu de noiva e tudo mais, com a presença de toda a corte; em seguida levou-o para sua casa e tratou-o como uma esposa. Mais tarde, casou-se também com Doríforo, forçando a corte imperial a tratar suas noivas masculinas com a mesma cortesia destinada às suas três esposas, Otávia, Pompeia e Estatília[15].

           

            Não obstante a inexistência da relação pedagógica entre os adultos e jovens, não há de se negar que muitos romanos se aproveitavam da ingenuidade efêbica para tirar-lhes proveitos sexuais. Assim como entre os gregos, o estupro de menores se tornou tão frequente que passou a preocupar os governantes da época. Foi necessário, então, criar normas que criminalizassem a conduta. No ano 149 antes da Era Cristã, promulgou-se a Lex Scantiania, a qual proibia que adultos estuprassem – strupum – jovens púberes e impúberes[16]. É claro que a lei só tutelava pelos jovens livres, sobretudo os de família mais abastadas, ricos comerciantes e donos de terras, o que, de certa forma, impulsionou o comércio escravista para fins sexuais, intensificando o abuso contra crianças e jovens escravos. Outrossim, a lei romana também visou criminalizar a conduta sexual passiva dos adultos, que muitas vezes se entregassem aos próprios escravos de forma passiva, algo considerado totalmente ultrajante aos costumes e valores morais da época.

            Nas décadas seguintes à morte de Jesus Cristo o cenário romano começou a mudar. No primeiro século surgiram várias pequenas seitas cristãs, que se espalharam de forma marginal por todo império romano. Já havia cessado as perseguições antissemitas, e os cristãos representavam apenas pequenos grupos de religiosos que não preocupavam muito os governantes. Os romanos cultivavam um desprezo em relação a essas novas seitas. A partir do final do primeiro século os cristãos começaram a se separar em definitivo dos judeus, eles já eram mais numerosos e sua influência passou a ser notada. A intolerância cristã foi presente desde os mais primogênitos seguidores. Os cristãos odiavam tudo que se relacionava com o Império e a cultura romana, sobretudo a liberdade sexual e a religião pagã. Por diversas vezes, cultos romanos foram invadidos e tiveram seus símbolos religiosos vilipendiados. As perseguições aos cristãos retornaram como retaliação a sua própria violência. Destes grupos de baderneiros e saqueadores, inúmeros mártires surgiram e passaram a povoar suas lendas[17].

Ao mesmo tempo em que começava a sentir a influência do cristianismo, nos séculos II e III depois de Cristo, a sociedade romana passava por algumas transformações importantes que iriam alterar as suas atitudes para com a sexualidade. Os imperadores e grande parte da classe dirigente eram cada vez mais não-romanos e não-urbanos, pelo menos nos grandes centros metropolitanos[18].

            O Cristianismo[19] [20] surge na decadência da Antiguidade como uma religião que prometia mudar com todo o paradigma vigente até então[21]. Baseado nos ensinamentos de Jesus, a essência do pensamento cristão continuou fortemente influenciada pela moralidade judaica monoteísta. Eles condenavam o politeísmo, a promiscuidade, a infidelidade do homem no casamento e quase tudo o que os romanos acreditavam ou que fazia parte de sua cultura. A vida cristã era voltada para a salvação da alma; para tanto, o corpo necessita sofrer, pagar pelos pecados mundanos. Desta forma, essa vida deveria ser marcada pelas privações da carne. O amor, a compaixão e a caridade passam a fazer parte dos baldrames da religião. Nunca, até então, tinha se falado em amar o próximo como a ti mesmo[22], os deuses romanos e gregos eram vingativos e luxuriosos. A ideia de um Deus benevolente e perfeito, capaz de perdoar o ato mais atroz, era muito estranha ao olhar do romano. O Deus cristão representava as minorias, ele amava o fraco, o pobre e o doente. Não era coincidência que inúmeros romanos foram atraídos pela curiosidade e acabaram se identificando com o culto.

Para os pais da Igreja o sexo era abominável, uma experiência da serpente, e o casamento um sistema de vida repugnante e poluído. São Paulo e vários outros pensadores cristãos deixaram as mais duradouras impressões em todas as ideias cristãs subsequentes sobre a repulsa do sexo. O casamento de José e Maria será, por um tempo, o ideal do casamento cristão, um casamento sem relações carnais. O cristianismo condenará o corpo e tudo o que se tornou matéria perecível em consequência do pecado original[23].

            Foucault resume a discrepância entre a visão antiga e medieval sobre a sexualidade dizendo que, sobre o ato sexual, o cristianismo o teria associado ao mal, ao pecado, à queda, à morte, ao passo que a Antiguidade o teria dotado de significações positivas. Já na delimitação do parceiro legítimo, o cristianismo, diferentemente do que se passava nas sociedades gregas ou romanas, só o teria aceitado no casamento monogâmico e, no interior dessa conjugalidade, lhe teria imposto o princípio de uma finalidade exclusivamente procriadora. Outrossim, em relação à desqualificação das relações entre indivíduos do mesmo sexo, o cristianismo as teria excluído com rigor, ao passo que a Grécia a teria exaltado e Roma aceitado. Destarte, entende o filósofo que a esses três pontos de oposição maior, poderiam acrescentar o alto valor moral e espiritual que o cristianismo, diferentemente da moral pagã, teria atribuído à abstinência rigorosa, à castidade permanente e à virgindade. Em suma, sobre todos esses pontos que foram considerados, durante tanto tempo, como tão importantes – natureza do ato sexual, fidelidade monogâmica, relações homossexuais, castidade –, parece que os antigos teriam sido um tanto indiferentes, e que nada disso teria atraído muito sua atenção, nem constituído para eles problemas muito agudos[24].

            A moral pagã valorizava a estética e beleza. Os homens, desde a juventude, eram impelidos para as atividades desportivas, havia um maciço culto ao corpo, sobretudo entre os gregos e romanos. Em última análise, a cultura pagã valoriza o que era físico. Não havia preocupação com a morte ou as consequências dos atos terrenos. O cristianismo irá inaugurar uma nova forma de pensar a vida, não haverá mais preocupações com qualquer coisa do mundo físico, o corpo e os bens materiais são pertences fugazes, a passagem na Terra é apenas uma provação de conduta. Com a morte, o indivíduo terá que prestar contas de tudo o que realizara enquanto vivo. Assim, a doutrina cristã pregará um total desprendimento com a carne, pois o importante é estar salvo. A vida terrena é efêmera, mas a vida após a morte é eterna, e é essa vida que o homem deve se preocupar.

            O mistério da morte sempre intrigou o homem. Por esse motivo, foram criados inúmeros mitos, na tentativa de explicar o desconhecido. Não obstante essa inquietação, com o advento do cristianismo, esses antigos dilemas receberam nova roupagem. As lendas sobre o que aconteceria após a morte passam a preocupar a mente humana nesse período. Os ensinamentos cristãos sobre os pecados da carne, a abnegação e a salvação paulatinamente passaram a influenciar as pessoas. A obsessão em salvar a alma e a preocupação com as tentações demoníacas serão cada vez mais subjetivadas, o que tornou o corpo cada vez mais desprezado. Em Coríntios, há a inscrição: “e bem quisera eu que estivésseis sem cuidado”[25]. Deus não estava preocupado com seu corpo, Ele só está preocupado com sua alma, deve-se descuidar do corpo, pois o que vale é alma. O corpo logo envelhece, morre e apodrece, a alma é imortal. É isso que quer dizer a Bíblia e foi assim que o homem cristão passou a ser influenciado a viver. A falta de higiene foi uma característica basilar que perdurou por todo medievo. Alguns religiosos levaram essa regra tão a sério que se esquivaram ao máximo de qualquer processo de higiene ou ritual que faça contato com o corpo. Em muitos mosteiros e conventos foram? proibidos os banhos e as trocas de roupas.

Os exemplos da falta de higiene como pré-requisito para a salvação da alma são muitos: o eremita Santo Abraão viveu cinquenta anos sem lavar o rosto e os pés; Silvia, virgem e mártir cristã, ficou conhecida por nunca ter se lavado, com exceção das pontas dos dedos; Santa Eufrásia se negava a lavar os pés[26].

            O descuido com o corpo, na realidade, reservava questões mais obscuras. Em primeiro lugar, o ranço do cristianismo à higiene representava uma resistência à cultura pagã. Entre os gregos e os romanos a limpeza era algo primordial, devido ao calor do Mediterrâneo – as casas das famílias mais abastadas possuíam banheiras onde se podiam descansar e se refrescar. Os romanos, inclusive, eram famosos por suas casas de banho, que frequentavam quase diariamente. Ademais, a segunda, e talvez mais importante, questão de resistência à higiene se referia ao fato de que, para os antigos, o banho estava intimamente ligado à sexualidade. Eram nos banhos públicos que os romanos continuavam as orgias. Ao passo que os homens se ocupavam com suas atividades libidinosas nos banhos públicos, nos banhos em casa, as mulheres podiam se tocar sozinhas ou juntas com suas escravas ou amigas. Era durante a higiene que se tinha maior contato com todo o corpo, o que invariavelmente estava relacionado à masturbação e ao toque íntimo. Pode-se cogitar que a grande aversão que os primeiros cristãos construíram do contato com o próprio corpo adveio da imagem de promiscuidade pagã. 

            De outra banda, como era a imagem que se tinha do feminino entre os primórdios do cristianismo? Essa questão está profundamente relacionada com a própria mitologia cristã descrita nas Escrituras. Outrora se analisou a origem do homem e da mulher sobre o prisma da mitologia grega, a qual se mostrou bastante enfática em mostrar a supremacia masculina. Esse mesmo fenômeno será percebido na imagem bíblica da gênese feminina. Tanto no mito grego quanto no cristão, cria-se primeiramente o homem – nem mesmo a matéria-prima é trocada, ambos os mitos concordam que o homem se originou do barro. A mitologia cristã, porém, diz que, enquanto Adão dormia, Deus lhe tira uma costela e dela faz uma mulher[27]. Nota-se que a simbologia da costela, enquanto objeto longo, roliço e levemente encurvado, assemelha-se ao próprio pênis, enquanto símbolo fálico de poder. É, pois, o próprio Falo de Adão que origina Eva, provando mais uma vez a superioridade do homem[28].

            Segundo o mito grego, a mulher é enviada pelos deuses enquanto vingança por eles terem sido beneficiados pelo poder do fogo. Neste caso, o fogo é retratado possivelmente como uma metáfora à consciência e inteligência superior dos homens em relação aos animais. O mito cristão toma um rumo semelhante: Adão e Eva são advertidos de que não poderão conhecer do fruto proibido. Mas a mulher, que desde Eva já se mostrava teimosa e curiosa, é tentada pela serpente e prova do fruto. Ela prova e dá ao marido; e, imediatamente, tomam consciência da vergonha, o que provoca a imediata ira de Deus. Há certa relação entre o formato da serpente e a forma fálica, porém a conotação sexual é uma interpretação quase que infantil do mito. O Deus cristão, assim como os deuses pagãos, queria manter os homens na ignorância, num estado quase que de selvajaria. A descoberta do fogo, assim como do fruto, dá ao homem possibilidade de pensar sobre si mesmo, o que, em última análise, representa poder. Ademais, do ponto de vista sexista, ambos os mitos se apresentam da mesma forma, ao passo que o grego mostra a mulher como objeto de vingança da ira divina, a cristã mostra a mulher como protagonista da traição. A Bíblia, inclusive, diz claramente a sanção divina dada à mulher: “multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” [29]

            O que deve ficar claro a respeito da sexualidade entre os gregos e romanos é a profunda aversão ao feminino. É evidente que sempre houve casais heterossexuais apaixonados, a mitologia guarda inúmeros exemplos de envolvimentos assim, talvez o mais ilustre deles seja a disputa pela mão de Helena, que desembocou na Guerra de Tróia. Contudo, em quase todos os relatos, mesmo os mais apaixonados, demonstram a fragilidade e a submissão da mulher em relação ao seu marido. Mesmo nesse exemplo, Helena é tratada como um objeto a ser disputado. Assim, o pensamento misógino é influenciado pelo culto ao Falo. Ele, ao contrário do que parece, não representa simplesmente a negação e dominação da mulher, mas de todo aspecto feminino. Seja como for, as práticas homossexuais na Antiguidade não excluem, em absoluto, a possibilidade de serem consideradas percursoras do pensamento homofóbico. Ora, mas como uma relação homossexual pode ser considerada anti-homossexual? Por mais contraditório que possa parecer, o comportamento homossexual floresceu entre os clássicos como uma vertente do pensamento misógino. Ou seja, os antigos desprezavam tanto a figura feminina que passaram a se inclinar mais para a figura masculina. Entretanto, essa inclinação era meramente uma forma de autoafirmação. Esse patológico culto fálico em detrimento da submissão feminina encontrará seu apogeu no medievalismo, quando as mulheres de fato sentirão seu lúgubre fardo.

CONCLUSÃO

            Durante a Antiguidade, entre os gregos, o modelo que mais se evidenciou foi a pederastia pedagógica, que consistia, na realidade, em uma dominação intelectual na qual os mais novos se deixavam possuir pelos mais velhos, em busca de proteção e conhecimento. De outra banda, entre os romanos a homossexualidade se expressava de forma ainda mais ofensiva. Dado sua necessidade imperiosa de demonstração fálica, reflexo de sua prepotência, o homem romano necessitava constantemente conquistar e demonstrar seu poder, seu Falo, seja nos homens, seja nas mulheres. Sobre a homossexualidade feminina, esta jamais foi tolerada publicamente, nem pelos gregos, nem pelos romanos.

            Sendo assim, é importante ressaltar que, ao contrário do senso comum de que o comportamento homossexual era comum na Grécia e tolerado em Roma, as dinâmicas comportamentais relativas à cultura sexual eram bastante complexas. Assim, da relação pederástica grega à libertinagem das saunas romanas, as antigas práticas homossexuais não excluem, absolutamente, a possibilidade de serem consideradas percursoras do movimento homofóbico contemporâneo. Na medida em que os clássicos desprezavam o feminino, como ficou evidente durante o desenvolvimento da pesquisa, ligavam-se mais ao masculino. Nesta lógica, o que tornava o indivíduo de fato livre e respeitável em seu grupo social era sua virilidade, assegurada pela negação do feminino.

            A diferença salutar entre o comportamento sexual dos gregos e dos romanos no que se refere à negação do feminino e a demonstração fálica da masculinidade está no contexto em que ocorria a relação homossexual. Desta feita, o jovem grego, solteiro e tutor era importante e tolerado uma conduta homossexual, visto que a passividade intelectual se confundia com a sexual, assim, a masculinidade, no intercurso da pederastia pedagógica, estava assegurada mesmo diante da relação homossexual. Por outro lado, para o romano pouco importava a idade, o gênero ou o estrato social, era viril aquele que era o ativo, aquele que penetrava, e que simbolicamente dominava seu oponente.  Sendo assim, quem lhe servia a volúpia tanto fazia ser homem, mulher ou animal; a demonstração fálica estaria assegurada pelo ato da dominação.

            Assim, seja por meio da pederastia pedagógica seja por meio do estupro romano, o exame da historiografia, desde os mais remotos vestígios, corrobora para a conclusão de que homofobia foi um fenômeno social sempre presente na humanidade. Nas mais diversas formas, o estudo cuidadoso das dinâmicas culturais evidencia que a homossexualidade, porquanto aspecto normal da sexualidade humana, jamais foi tolerada em sua plenitude. O que leva a concluir que a homossexualidade, na ordem simbólica, em seus mais diversos aspectos, se aproxima deveras do feminismo. Destarte, a prática homossexual se coloca como negação à própria heterossexualidade e, consequentemente, ao ideal de masculinidade e virilidade, a resposta homofóbica se refere, pois, a uma rejeição ao próprio feminino.

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Sobre o autor
Felipe Adaid

Advogado e consultor jurídico em Direito Penal e Direito Penal Empresarial no Said & Said Advogados Associados. Foi Diretor de Gerenciamento Habitacional da Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação e Primeiro Secretário do Conselho de Habitação do Município da Valinhos, SP. Mestre em Educação e Políticas Públicas pela PUC Campinas. Ingressou em primeiro lugar no mestrado e foi contemplado com a bolsa CAPES durante os dois anos de curso. Cursou disciplinas de pós-graduação na Unicamp. É especializando em Direito Penal, Processo Penal e Criminologia, pela PUC Campinas. Na graduação, tem 5 semestres de créditos no cursos de Psicologia, também pela PUC Campinas. Durante a graduação de Direito também foi bolsista de iniciação científica, CNPq, e foi monitor em diversas disciplinas, tanto no curso de Direito como no curso de Psicologia. Foi membro do grupo de pesquisa Direito à Educação do Programa de Pós-Graduação da PUC Campinas. É corretor de revistas científicas pedagógicas e jurídicas. É autor de 11 livros, sendo 3 ainda em fase de pré-lançamento, e organizador de outros 10 livros, além da autoria de 44 capítulos de livros publicados no Brasil, no Chile e em Portugal. É autor de mais de 100 publicações científicas, entre artigos científicos, resenhas e anais, nacionais e internacionais. Ademais, também escreve periodicamente ensaios e artigos para jornais e blogs. No âmbito acadêmico, suas principais bases teóricas são: Foucault, Lacan, Freud, Dewey e Nietzsche. Por fim, tem interesse sobre os seguintes temas: Direito, Direito Penal, Criminologia, Psicologia, Psicologia Forense, Psicanálise, Sexualidade, Educação e Filosofia.

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