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Empresas Familiares: um estudo de caso

Artigo que busca apresentar uma análise acerca do modelo de administração empresarial das empresas familiares, destacando suas vantagens e desvantagens, por meio do estudo de caso realizado com a empresa familiar Odonto Castro.

1 - Introdução

 Este trabalho busca evidenciar as características principais de um dos modelos de administração empresarial. Trata-se do modelo de empresa familiar. A empresa familiar tem como características hereditariedade na “passagem” de poder e traços concomitantes entre a família e a empresa em questão. Por conta disso, é considerado um modelo de administração complexo e muito estudado por pesquisadores da área.

Como forma de aprendizado, além das bibliografias estudadas, foi feito um estudo de caso com a empresa familiar Odonto Castro, que se situa na Asa Sul e em Taguatinga. Os irmãos Adriano, Alexandre e Cinthia Castro são fundadores da empresa, contribuindo cada um com prestação de serviço especializada, influenciando, também, na tomada de decisões da empresa em questão.

 

2 – Referencial teórico

2.1 – Conceitualização

Empresa familiar é, de acordo com Robert Donnelley, “uma empresa que tenha estado ligada a uma família pelo menos durante duas gerações e com ligações familiares que exerçam influência sobre as diretrizes empresariais, os interesses e os objetivos da família”. Dessa forma, o autor entende que alguns fatores devem estar presentes para que se caracterize uma empresa como familiar, sejam eles: a relação familiar na determinação da sucessão administrativa; esposas ou filhos terem assento no Conselho de Administração; os valores da empresa se confundam com os da família; as ações de um membro da família exerçam influência sobre a reputação da empresa; obrigação parental de possuir ações da empresa/atuarem na empresa; posição ocupada na família influencia na posição na empresa; membros da família devem se relacionar claramente com a empresa para determinar a própria vida profissional.

Assim sendo, é visível que, para uma empresa ser considerada familiar, não basta que ela seja mantida pela família. É preciso que exista clara conexão entre os membros da família e a empresa; o futuro dos membros da família deve estar diretamente relacionado à empresa em si; e é fundamental, principalmente, que os princípios e lideranças da empresa se confundam com os da família. Dessa forma, quando se fala de empresas familiares, é preciso atentar para aspectos administrativos que extrapolam o âmbito empresarial, invadindo também o domiciliar e “privado” dos administradores/lideres/gestores da empresa.

 

2.2 – Tipos de empresa familiar

É preciso também ressaltar que nem toda empresa familiar é igual. Elas podem se diferenciar em Tradicional, Híbrida e de Influência Familiar. As tradicionais são caracterizadas por serem fechadas, de pouca transparência, com a família detendo o domínio sobre os negócios da empresa. As híbridas costumam ser abertas, serem mais transparentes, com a família detendo o controle mas possuindo também funcionários não proprietários que integrem a gestão. As de influência familiar, por sua vez, possuem ações no mercado, mas a família mantém influência estratégica em decisões.

 

2.3 – Vantagens e Desvantagens

Poucas organizações conseguem garantir tanta união, lealdade e dedicação dos gestores de topo quanto as empresas familiares, sendo, portanto, um ponto forte deste tipo de organização. São duas forças fundamentais em que elas terão que se apoiar e que apresentam as seguintes vantagens: os laços afetivos entre as pessoas, a harmonia dos gostos e das formas de atuar geram interesses comuns entre os membros da família que trabalham na empresa. Há uma maior autoexigência e autossacrifício em prol de um objetivo comum.

Outra vantagem é que, nas empresas familiares, existe uma autoridade reconhecida e um clima de elevada confiança que evita as lutas pelo poder e as intenções menos claras, quer entre colegas de trabalho, quer entre chefes e subordinados.

Ainda, as organizações de tipo familiar são, em regra, muito marcadas pela cultura e pelos valores definidos pelo seu fundador. Para o bem e para o mal, a sua personalidade e hábitos de trabalho funcionam como um exemplo a seguir pelos restantes colaboradores. Estes sabem perfeitamente o que se espera deles e que tipo de regras e comportamentos deverão respeitar.

De um modo geral, podemos destacar as vantagens com os seguintes pontos: Interesses comuns; Confiança mútua e autoridade definida e reconhecida; Facilidade na transmissão da informação; Flexibilidade de processos; Projeto a longo prazo; Permanência da cultura e dos valores.

Por outro lado, um problema bastante discutido é o da sucessão para os familiares ou para a profissionalização da sua administração. Outros pontos relevantes se situam nos riscos do seu crescimento e desenvolvimento. Há preocupações em acompanhar a internacionalização das empresas familiares e ainda nas questões da liderança exercida ou sobre os caminhos alternativos de formação dos sucessores.

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Também se destacam as eventuais divergências de interesses entre membros da família; as questões em torno do exercício do poder, entre os membros que exercem funções de gestão e os que nela não participam; os desajustamentos entre as posições de capital e as capacidades pessoais para o exercício de funções; dificuldades em escolher os sucessores ou proceder à sucessão, na altura oportuna.

Assim, podemos destacar as desvantagens de forma genérica com os seguintes pontos: Confusão entre a propriedade da empresa e a capacidade para a gerir; Não seguir as regras do mercado quanto à gestão; Confusão entre os laços de afeto e os laços contratuais; Problemas com a sucessão; Falta de clareza nos processos; Problemas a nível familiar; Receio quanto a uma possível alienação da empresa a novos proprietários.

 

2.4 - Modelo de Gestão

Em empresas familiares, o modelo de gestão segue um padrão muito parecido entre si. A princípio, o início da empresa costuma ser determinado por um “visionário” da família, que, por sua vez, trata de disseminar o “espírito empreendedor” aos demais membros. Isso dá unidade à empresa, que passa a ser gerida com ideais muito similares durante sua existência.

Também é importante ressaltar, como já foi dito anteriormente, que os valores da família acabam por se confundir com os da própria empresa. Isso significa que as etapas da gestão, desde o planejamento à execução, passando por metas, controles e objetivos costumam ter fundamentos bem estruturados e definidos a partir do que o próprio líder/gerente e patriarca da família define como de importância.

 

3 - Estudo de Caso: Odonto Castro

A Odonto Castro é uma empresa familiar que atua na área de Odontologia há 20 anos em Brasília, com unidades na Asa Sul e em Taguatinga.

 

3.1 – Organograma

 

A partir da imagem apresentada podemos notar que a empresa se regula por meio de 4 setores primários: Adriano Castro, Alexandre Castro, Cinthia Castro e Gerência Comum. Os primeiros três setores possuem autonomia quanto à administração financeira, de pessoal e de serviços. Já o último trata especificamente de gastos comuns, como, por exemplo, aluguel, manutenção e reposição de equipamentos, infraestrutura, etc. Ainda, cada um dos sócios se responsabiliza ao menos por uma área de especialização (Ortodontia, Ortopedia facial, Cirurgia bucomaxifacial, Odontopediatria).

 

3.2 – Modelo de Gestão

 

Trata-se de um modelo Tradicional, visto que os irmãos/sócios detém o domínio sobre os negócios da empresa, ou seja, apenas eles participam do processo de administração.

 

3.3 – Pontos de atuação

 

No âmbito espacial, a empresa conta com duas unidades, sendo uma na Asa Sul (SEPS 714/914) e outra em Taguatinga (CSA 01, lote 01).

 

4 - Conclusão

A partir do estudo dos autores e principalmente do estudo de caso, fica claro que as empresas familiares possuem vantagens e desvantagens muito bem estabelecidas dentro do mercado competitivo e moderno. Se, por um lado, elas possuem lideranças bem estabelecidas e facilidades de comunicação, por outro podem sofrer com modelos mais avançados de administração, principalmente quando relativos à concorrência com empresas de maior porte.

Esse modelo de gestão possui grande importância para a economia, principalmente por ser o modelo adotado pela imensa maioria de empresas iniciantes, gerando empregos e movimentando capital e recursos. Contudo, muitas vezes esse modelo de gestão sofre com a falta de perspectivas a longo prazo, e perdem para concorrentes maiores com modelos administrativos mais abertos.

Dessa forma, empresas familiares pequenas muitas vezes vão à falência por possuírem modelos muito fechados. Essa dificuldade pode ser sanada a partir da adoção de modelos mais abertos de administração, com a participação externa de agentes, empresários e gestores, sem que se perca a essência familiar através dos valores já anteriormente estabelecidos desde sua criação.

Podemos concluir que o modelo apresentado se aproxima da Teoria de Fayol na medida em que há foco nas atividades, todas as unidades trabalham para o mesmo objetivo e há concentração da autoridade no patamar dos sócios.

 

Bibliografia

 

CASILLAS, José Carlos; VÁZQUEZ, Adolfo; DIAZ, Carmem. Gestão da empresa familiar: conceitos, casos e soluções. São Paulo: Thomson Learning Edições, 2007. 270 p.

 

DONNELLEY, Robert G. A Empresa Familiar. Harvard Business Review, Vol no4, 1967.

 

GALLO, Miguel Angel; RIBEIRO, Vitor Sevilhano; A Gestão das Empresas Familiares; 1996; Iberconsult.

 

MARTINS, José Coelho; Empresas Familiares; 1999; GEPE.

 

ROCK, Stuart; Gerir Empresas Familiares; 1997; Edições CETOP.

 

Apêndice - Entrevista concedida por Alexandre Castro

 

1. Quais são os setores em que se divide a empresa e como se organizam?

R: A Odonto Castro é dividida em três setores propriamente ditos e individualizados. Seria praticamente três clinicas em uma só:

1- Dr Alexandre Castro

2- Cinthia Castro

3 - Adriano Castro

Cada uma tem estrutura própria regida por um "estatuto comum", mas com independência de funcionários e financeira. Algumas despesas são divididas conforme acordo.

 

2. Há relação de hierarquia entre os sócios ou o poder decisório é igual para todos?

R: Não existe hierarquia, porém minha irmã é responsável basicamente pela unidade Taguatinga enquanto meu irmão pela Asa Sul.

 

3. Existem profissionais não proprietários integrando a gestão ou é realizada apenas pelos sócios?

R: A gestão é feita apenas pelos sócios.

 

4. Quais são os pontos de atuação?

R: Asa Sul e Taguatinga.

 

5. De que forma são resolvidos os conflitos/impasses? Existe algum tipo de regulamento para alcançar consenso (como votação e critério de desempate, por exemplo)?

R: Não, apenas por conversas e reuniões.

Sobre as autoras
Juliana Moreira Moraes

Formada pela instituição de ensino UniCEUB desde 2013, com ênfase em Direito Civil, mais precisamente em Direito do Consumidor.Conciliadora do TJDFT desde 2010, tendo atuado junto aos Juizados Especiais de Brasília.Estudante de Gestão de Políticas Públicas na UnB.Possui experiência em escritório de advocacia. Relatora suplente da Junta Administrativa de Recursos de Infrações de Trânsito (JARI) do DER/DF.

Fernanda Moreira Moraes

Advogada formada pelo UniCEUB, pós-graduada em Direito Público - Direito Processual Civil pelo IMP, graduanda em Gestão de Políticas Públicas pela UnB, colaboradora na Defensoria Pública do Distrito Federal e membro da Comissão de Esporte, Cultura e Lazer da OAB/DF.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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