A questão central no conflito entre a Turquia e os curdos é a reivindicação desses de criar um Estado próprio numa vasta extensão territorial que inclui partes da Síria, do Iraque, do Irã, da Turquia e da Armênia. Os curdos constituem a maior população sem Estado do mundo. As estimativas demográficas variam entre 25 milhões e 40 milhões de curdos espalhados por uma área de 500 mil quilômetros quadrados. Na Turquia eles são 15 milhões e correspondem a um quarto da população local.
Os curdos formam uma população estimada entre 25 milhões e 35 milhões e habitam uma região montanhosa que se espalha pelos territórios de cinco países: Turquia, Iraque, Síria, Irã e Armênia. Eles compõem o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio, mas nunca conseguiram um país próprio.
Na luta contra o Estado Islâmico na Síria, passaram a comandar uma vasta área no país, mas agora o domínio está ameaçado pela ofensiva turca. A questão da independência curda surge nos tratados assinados após o fim da Primeira Guerra Mundial. Em 1923 é assinado pelos vencedores do conflito o Tratado de Lausanne, liderados por Reino Unido e França. Nele são desenhadas as fronteiras modernas do Oriente Médio, no que antes era o Império Otomano, sem que a população curda receba um território para si.
Desde então, os governos dos Estados constituídos se opõem à criação do Curdistão. Um dos grandes motivos é o petróleo: praticamente todas as reservas da Turquia e da Síria, bem como um quarto das reservas do Iraque, estão em terras que os curdos reivindicam para si. A etnia curda baseia sua identidade em uma língua e cultura em comum, de uma população que sempre habitou aquela região resistindo à ocupação tribal dos árabes. Embora sejam, em maioria, muçulmanos, os curdos não são identificados com uma religião específica.
Os curdos são um dos povos originários das planícies da Mesopotâmia — território compreendido entre os rios Tigre e Eufrates — e dos planaltos da região onde hoje estão o sudeste da Turquia, o nordeste da Síria, o norte do Iraque, o noroeste do Irã e o sudoeste da Armênia.
Hoje, eles formam uma comunidade unida por raça, cultura e linguagem, ainda que não tenham um dialeto padrão. Eles têm diversas religiões e credos, mas a maioria é muçulmana sunita.
Na Antiguidade, o primeiro povo a estabelecer-se na região foram os Assírios, que fundaram sua primeira capital Assur em 2 600 a.C. . Posteriormente, chegaram os Hurritas, que formaram um reino vizinho chamado de Mitani. O Antigo Império Assírio foi conquistado pelos Hurritas, mas a partir dos séculos XIV e XIII a.C., estes começaram a ser dominados e absorvidos pelos Hititas a noroeste e pelos próprios Assírios a sudeste. Por volta de 1 200 a.C., a língua hurrita havia desaparecido dos registros cuneiformes. Há alguns autores que referem a possibilidade de tanto o povo como a língua hurrita serem um dos substratos étnicos, linguísticos e culturais do atual povo curdo, pois habitavam territórios onde atualmente vivem os curdos.
Na Idade Média, para converter os curdos, os árabes utilizaram-se de todas as estratégias, inclusive o matrimônio. É sabido que a mãe do último califa omíada, Maruane I, era curda
A ideia de Estado-nação, nascida com a Revolução Francesa, ecoou no século XIX entre os curdos. Na década de 1830, o príncipe de Rawandiz lutou contra o domínio otomano, com a ideia de unificar o Curdistão. A partir daí, diversas outras revoltas curdas acontecem pelo império ao longo do século, sendo sempre sufocadas pelos turcos.
Atualmente, os curdos são cerca de 30 milhões de pessoas, na sua maioria muçulmanos sunitas, que se organizam em tribos e, em sua maior parte, falam a língua curda. Eles constituem a mais numerosa nação sem Estado no mundo. Suas maiores cidades são Erbil e Kirkuk (no Iraque) , Erzurum e Diyarbakır (na Turquia), Kermanshah e Sanandaj (no Irã) e Al-Qamishli (na Síria).
A Turquia, como se vê, tem um histórico de perseguições, não só aos curdos, mas as minorias ali instaladas.
Fundamental em termos geográficos para os curdos está o Curdistão.
O Curdistão (em curdo: Kurdistan / كوردستان Kurdistan.ogg [kurdɪˈstan]; antigo nome: Corduena), também denominado Grande Curdistão, é o nome dado a uma região histórico-cultural do Médio Oriente majoritariamente habitada pelos curdos. Com cerca de 500.000 km², compreende partes da Turquia, Irã, Síria e Iraque. Em dois destes países, o nome também refere-se a unidades administrativas internas: a província do Curdistão no Irã e a Região Autônoma Curda no Iraque.
Atendendo a interesses da Turquia, os americanos retiraram seu apoio aos curdos na região.
Sabe-se que eles foram essenciais no combate ao Estado Islâmico, grupo terrorista que se instalou na região entre a Síria e o Iraque e que pretendia criar ou recriar um califado.
O apoio dos curdos ao governo de Assad e ainda aos interesses russos e americanos na região foram fundamentais para a derrota do EI. O governo atual de Trump, de índole de direita, se revela isolacionista, e usa as tarifas, no comércio exterior, como sua principal arma. Não quer saber de confrontos bélicos.
Quem poderá apoiá-los?
Estudioso dos problemas no Oriente Médio, Guga Chacra, em sua coluna para o site do O Globo, revelou que o YPG, que é a principal organização armada curda na Síria, tende a se aproximar cada vez mais da Rússia, do Irã e de Assad, com quem já possui uma relação de neutralidade. Mas Moscou e Teerã, embora em lados opostos ao de Ancara na Guerra da Síria, agem em certa coordenação com a Turquia de Erdogan. Apenas Assad vê o líder turco como inimigo e não quer a presença turca no território sírio. Seu regime, portanto, seria o aliado dos curdos mais importante contra os turcos.
Existe ainda o temor de o Estado Islâmico se reerguer com a saída dos americanos. Embora o risco tenha aumentado, ainda haveria uma série de obstáculos. Primeiro, os curdos, Assad, Rússia, Irã e o Hezbollah lutariam contra esta organização terrorista. Em segundo lugar, os EUA facilmente poderiam realocar forças para a região se necessário. Por último, a própria Turquia não tem interesse em esta organização se fortaleça.
Como disse o site Nexo, para alguns analistas, o presidente russo, Vladimir Putin, estaria percebendo no conflito uma oportunidade de agudizar as contradições entre turcos e americanos. Os dois países são parceiros da Otan, a maior aliança militar do mundo, que defende em várias frentes interesses opostos aos interesses russos.