O TERRORISMO EM TERRAS AFRICANAS DA SAHEL
Rogério Tadeu Romano
O Sahel (do árabe ساحل, sahil, que significa "costa" ou "fronteira") é uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5 400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; e entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste.
O Sahel atravessa os seguintes países (de oeste para leste): Gâmbia, Senegal, a parte sul da Mauritânia, o centro do Mali, Burkina Faso, a parte sul da Argélia e do Níger, a parte norte da Nigéria e dos Camarões, a parte central do Chade, o sul do Sudão, o norte do Sudão do Sul e a Eritreia. Eventualmente, são incluídos também a Etiópia, o Djibouti e a Somália.
Em síntese, a faixa do continente africano conhecida como Sahel atravessa oito países: Senegal, Mauritânia, Burkina Faso, Mali, Níger, Nigéria, Camarões e Chade. Essas últimas cinco nações enfrentam situações de segurança ‘voláteis’ por conta da ação de grupos extremistas, como o Boko Haram.
Constitui uma zona de transição entre a ecozona paleoártica e a ecozona afro-tropical, ou seja, entre a aridez do Saara e a fértil da savana sudanesa (no sentido norte-sul).
Essa área de imensa biodiversidade está sendo ocupada por grupos terroristas ligados ao Jihad.
Essa área era conhecida pelo comércio de escravos, como relatou Joelza Ester Domingues(Blog Ensinar História).
O comércio de escravos era muito antigo e, nas duas margens do deserto do Saara, o escravo tinha os mesmos usos. Com a difusão do islamismo, cresceu o tráfico. O próprio Maomé era senhor de escravos, e segundo seus ensinamentos, a escravidão era um meio de incorporação do infiel. Escravos eram mandados para o Egito, o Iêmen, a Arábia, o Iraque, o golfo Pérsico, a Índia e até mesmo, a China. Em menor escala, também foram vendidos a mercadores venezianos e genoveses, e para as cidades muçulmanas da península Ibérica. Segundo Costa e Silva, africanos do Sahel eram vendidos para os canaviais aos arredores de Ceuta e, sobretudo, para ampliar a criadagem, o harém e os exércitos de reis e califas. Soldados escravos eram muito valorizados pois, sendo estrangeiros, não tinham vínculos de lealdades locais ou de linhagem. Entre os cativos, os de preço mais elevado eram os eunucos. Custavam caro, pois poucos sobreviviam à castração feita, em geral, quando eram meninos. As estimativas de sobrevivência oscilam entre 30% e 20%. Os eunucos ocupavam altos postos da administração pública e das mesquitas.
Segundo as Nações Unidas, no Sahel, um a cada sete indivíduos não tem comida e uma a cada cinco crianças não chegará aos cinco anos de idade. Pobreza e instabilidade alimentam ações de grupos terroristas.
Na Líbia, violações em meio ao conflito interno poderão ser consideradas ‘crimes de guerra’. No Saara Ocidental, crise humanitária ‘esquecida’ vai completar 40 anos em 2016, afetando milhares de famílias por gerações. Ban Ki-moon visitou a região.
Do Norte do Mali, os grupos extremistas avançaram para o Centro e o Sul do país, se expandiram para Burkina Faso e Nigéria, e agora ameaçam as nações costeiras, como Togo, Benin, Gana, Senegal e Costa do Marfim. As forças da comunidade internacional, França à frente, se mostram, hoje, incapazes de deter o avanço jihadista, que se aproveita ainda de lutas étnicas locais para reforçar suas fileiras e semear a violência. Analistas defendem o recurso à negociação para estancar o recrutamento e evitar o pior.
Conflitos, pobreza, crime organizado e extremismo coexistem nessa faixa de 5 mil km que atravessa o continente, indo do oceano Atlântico, a oeste, ao Mar Vermelho, no leste, e serve como transição entre o deserto do Saara e a savana africana.
Um fator contribui para a turbulência nessa área: um fator socioeconômico contribui para essa deterioração: na maioria dos casos, são Estados com uma renda per capita muito baixa e um crescimento explosivo da população. "É uma espécie de bomba demográfica", resumem os estudiosos. Os jovens, dentre muitos da população dessa área geográfica, são cobiça de grupos terroristas.
Os diplomatas querem analisar a situação da segurança nos países do G5, nomeadamente, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade. A situação do Mali é particularmente preocupante. No norte do país, o combate entre grupos armados voltou a ganhar força e, na região central, aumentam os ataques provocados por milícias islâmicas.
A chamada "Operação Barkhane" também teve resultados decepcionantes. Implementada a 1º de agosto de 2014, a operação militar francesa para combater o terrorismo islâmico nos países do G5 custou a vida de muitos soldados franceses. O número de terroristas capturados ou mortos é, até agora, insignificante – apenas 28, de acordo com as últimas estatísticas. A França disponibilizou 3.000 soldados para a missão, incluindo forças especiais.
A al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) está presente na área - principalmente na Argélia, no Mali, na Mauritânia e no Níger - desde 2007. O Boko Haram foi fundado em 2002 e há vários anos opera em partes da Nigéria, do Níger, do Chade e de Camarões, da mesma forma que acontece com a Al Shabaab na parte oriental, principalmente na Somália.
Muitos desses combatentes são integrantes do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) derrotados na batalha ocorrida na cidade líbia de Sirte em 2016. E agora, teme-se que os derrotados na Síria e no Iraque também busquem se estabelecer na região.
O fim do califado área, que seria sediado entre a Síria e o Iraque, levando a derrota do EI, tem levado a migração para a área da Sahel.
A ONU deve atentar para tal problema, que, certamente, tem despertado a atenção dos Estados Unidos e da União Europeia diante da importância geopolítica da área.