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O CRIME DA LADEIRA DO SACOPÃ

Agenda 11/12/2019 às 08:19

O ARTIGO DESCREVE UM FATO QUE ENTROU PARA A HISTÓRIA DA CRIMINALIDADE.

O CRIME DA LADEIRA DO SACOPÃ

Rogério Tadeu Romano

 

Conforme a acusação apresentada, no dia 16 de abril de 1952, namorado de Marina de Andrade Costa, o tenente Alberto Jorge  Franco Bandeira, de 21 anos, decide acertar contas com o bancário Afrânio Arsênio de Lemos, dez anos mais velho, ex-namorado da moça.

Encontram-se em frente ao Iate Clube, na cidade do Rio de Janeiro, e saem no Citröen negro de Afrânio.

No banco de trás, vai um amigo deste, Walton Avancini, que ouve os dois discutirem sobre a mulher amada.

Perto do Clube dos Caiçaras, na lagoa Rodrigo de Freitas, descem do carro.

Bandeira é esbofeteado por Afrânio e reage com três tiros de revólver. Enquanto Avancini foge, Bandeira coloca o corpo de Afrânio no carro e abandona o veículo na ladeira do Sacopã.

Junto do cadáver é encontrada uma fotografia de Marina, com a dedicatória: “Ao meu forninho adorado, com todo o amor”.

Esta versão do crime, relatada por Avancini, acaba por condenar, no dia 28 de março de 1954, o tenente Bandeira a 15 anos de reclusão.  

Observe-se que Walton Avancini foi introduzido no caso pelo advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes como a principal testemunha do crime. Porém, os maus antecedentes de Avancini, bem como as várias contradições em seus depoimentos, o descredenciaram como testemunha. Tanto que ele nem sequer foi ouvido no julgamento que condenou Bandeira. Anos mais tarde, a defesa de Bandeira acusou Walton Avancini como um dos autores dos disparos que mataram o bancário Afrânio Arsênio de Lemos (o outro seria o vigilante Abedil teixeira Bastos), mas a acusação não foi a frente.

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No entanto, Bandeira jamais aceitará a acusação e o depoimento de Avancini foi contestado por muitos.

Apesar de julgado e condenado a 15 anos de prisão, a mídia o põe como inocente. Cumpriu metade da pena, sendo posto em liberdade condicional, recebendo indulto do então Presidente Juscelino Kubitschek. No final da década de 1950 e começo da seguinte, o político Tenório Cavalcanti tentou apresentar outro autor pelo Crime do Sacopã. No começo da década de 1970, Bandeira consegue uma anulação de seu julgamento, e novo júri é designado. Mas Bandeira se ausenta 3 vezes, até que ocorra a prescrição em 1973, havendo a extinção da punibilidade do acusado. Vale dizer que a legislação processual penal, à época, impedia o julgamento pelo júri popular, para crimes dolosos contra a vida, sempre que o réu não comparecesse para ser julgado.

A acusação apresentada baseou-se nos autos do inquérito aberto para apurar o crime.

Rui Dourado, inspetor de polícia, ficou encarregado da investigação.

Encarregado da investigação do Crime do Sacopã, policial experiente, Dourado nunca teve dúvida da culpa do tenente Alberto Jorge Franco Bandeira. Sem poder contar com provas técnicas para acusar Bandeira, Rui Dourado encheu o inquérito policial de provas testemunhais, especialmente das vizinhas de Bandeira e Marina, que conheciam detalhes que antecederam o crime.

Tenório Cavalcanti, ex-deputado que ficaria conhecido como o "Homem da Capa Preta" foi um dos principais defensores de Bandeira. Polêmico deputado e dono do Jornal "A Luta Democrática" sempre acreditou na inocência do tenente. Tenório investigou o caso por conta própria e denunciou que a morte do bancário teria sido encomendada por um senador da República, que queria vingar-se de Afrânio porque o bancário estaria extorquindo uma de suas filhas. No entanto, Tenório nunca provou as denúncias

O tenente Bandeira morreria em 31 de julho de 2006 sem nunca ter conseguido provar a sua inocência.

 

Sobre o autor
Rogério Tadeu Romano

Procurador Regional da República aposentado. Professor de Processo Penal e Direito Penal. Advogado.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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