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O filósofo Pondé a as Religiões

Não é inteligente ignorar a importância das religiões para a humanidade

Agenda 18/12/2019 às 14:27

A fé religiosa não é nem precisa ser racional. Mas ela sempre vai representar a melhor forma de conseguir resposta, alento, explicação e sentido para a própria existência. Até o Ateísmo, em certa medida, se confunde com religião.

O FILÓSOFO PONDÉ E AS RELIGIÕES

Considere-se duas afirmações, que representam juízo de valor sobre a postura de pessoa culta, em relação às diferentes religiões existentes:

-A adesão a uma delas revela certa pobreza de espírito...

-A adesão a elas revela certa pobreza de espírito...

Ambas se concluem com uma contradição: o desprezo para com elas (por outro lado) revela uma certa pobreza de alma.

A sutileza que existe entre os conceitos filosóficos de espírito e alma, a par da beleza estética do texto construído pelo filósofo Luiz Felipe Pondé, torna o encerramento de sua coluna semanal publicada na edição impressa do Jornal Folha de São Paulo, de 16 de dezembro de 2019 (página C-8 – A revolução cultural cristã  *) digna de alguma reflexão sobre a força dos conceitos e das palavras.

A frase reproduzida em primeiro lugar é parte integram de chamada de primeira página da edição onde publicado o texto. Sabe-se que manchetes de jornal representam criação que nem sempre corresponde a fatos ou conteúdos existentes na própria edição jornalística; ela é colocada ali, em destaque na capa do jornal, para provocar no leitor o desejo da leitura, ou em uma visão puramente econômica, os títulos estão ali para vender jornal.

No entender deste escritor a primeira página da Folha, neste caso específico, não foi fiel à ideia do colunista e filósofo Pondé. Quando o editor fez publicar na primeira página o juízo de valor sobre associação de eventual pobreza de espírito a aderência a uma religião – a uma única e determinada religião, portanto – perdeu-se o significado profundo da afirmação do filósofo.

As pessoas cultas não devem ignorar a principal característica das religiões (de todas, que em profusão existem), elas sempre exigem de seus seguidores a aceitação de algumas ideias fundamentais, ou seja, sempre se exige aceitação a dogmas que fundamentam a própria religião.

Toda religião exige, como alicerce daquele edifício, uma postura de seu afiliado que se resume em um único conceito;  palavra pequena, rica de significado e insubstituível em sua função social e humana. Trata-se da .

   A fé religiosa, desde os primórdios, em todas as épocas, culturas e civilizações representa valiosa ferramenta à disposição da humanidade; a única que se mostra capaz de oferecer resposta satisfatória para a mais importante das questões que o ser racional é capaz de formular: existe sentido para a vida?

Criada pelo próprio homem para seu conforto e alento ou revelada por alguma divindade ou inteligência superior, é fato que religiões existem e evidentemente esta realidade não deve ser ignorada pelos seres que buscam algum tipo de conhecimento ou cultura.

Aderir a religiões, como forma de nelas encontrar um sentido e explicação para a vida (que, entretanto, efetivamente pode não ter explicação ou sentido algum) é a mais humana das características. A adoção de alguma fé religiosa representa a mais simples e confortável postura que o ser humano pode adotar como explicação, alento, valor e significado para a própria vida, a história e a existência de todos os seres racionais e irracionais.

O colunista daquele grande jornal, em seus textos, tem o inegável mérito de trazer conceitos de filosofia para as massas. Certamente é a busca de conhecimento profundo que move a pessoa culta e, inegavelmente culto, o filósofo acerta integralmente quando afirma que aderir a religiões é característica das pessoas comuns, pessoas normais dotadas de certa pobreza de espírito e ainda distantes da máxima sabedoria e virtude ao alcance do ser racional (o Filósofo, amante da sabedoria).

Muitos seres humanos, sentindo-se pouco mais do que arbustos pensantes, aderem a alguma fé religiosa, sempre irracional e absurda em alguns pontos, mas igualmente libertadora e eficaz em oferecer respostas para quem pretende simplesmente viver uma vida feliz e rica de significado.

Conceitos como Graça, Destino, Pecado, Plano Divino, Ressureição, Milagres e tantos outros existentes nos credos religiosos, evidentemente são irracionais, mas a adoção de uma fé religiosa, quando o ser racional verdadeira e sinceramente acredita naquilo que não pode ver ou compreender, representa comportamento humano com inegável potencial para oferecer um sentido para a vida.

Não se pode ignorar a importância das religiões para o ser humano assim como não se pode ignorar o valor da física ou da matemática para compreender e prever os acontecimentos naturais.

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O desprezo a qualquer forma de religiosidade, a defesa incondicional do ateísmo e da supremacia da racionalidade humana, como fruto de um processo evolutivo e natural, não parecem mesmo representar a mais sábia das atitudes.

Representaria tal escolha uma postura que exigiria um esforço sobre-humano de negação de sua busca por sentido para a sua própria vida e de seus semelhantes, além de difícil de fazer e sustentar, a pura e simples negação da religiosidade humana não combina com a busca metódica do conhecimento e do saber.

Acerta ainda o filósofo, quando no desfecho de seu artigo, afirma que desdenhar das religiões é atestado de fraqueza intelectual.

Se, a adesão incondicional a uma das religiões existentes representa escolha íntima e pessoal, por outro lado a compreensão da importância e significado delas (de todas e da qualquer uma delas) revela apenas o reconhecimento da natureza humana em sua busca de sentido para a vida. Por este motivo afirmou-se acima que a mudança sutil do texto do filósofo, publicada na primeira página da Folha, modificou o significado mais profundo da ideia contida em sua afirmação.

 

(*) o texto de Luiz Felipe Pondé  denominado  A revolução cultural cristã, publicado na edição impressa do jornal também pode ser acessado pelo endereço  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2019/12/a-revolucao-cultural-crista.shtml

Sobre o autor
Marco Antônio de Oliveira Camargo

Titular do Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelião de Notas do Distrito de Sousas, Comarca de Campinas - SP

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

O autor, além, Tabelião de Notas em Campinas - SP é titular de Licenciatura em Filosofia (1985 - pela FAI - SP)

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