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HÉLIO SCHWARTSMAN, PERDOA-LHES, PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM...

Agenda 08/07/2020 às 01:33

A intimidação à imprensa sob o Governo Bolsonaro começa a tornar-se preocupante, embora se saiba de antemão que o Supremo fulminará qualquer tentativa de restabelecimento dissimulado da censura ditatorial. A nova vítima é o colunista Hélio Schwartsman

O presidente da República cansou de defender e justificar a indiferença diante da morte de um número menor de infectados pelo coronavírus para que viva um número maior de pessoas ameaçadas de serem privadas, pela paradeira da economia, dos recursos necessários à própria sobrevivência e de suas famílias.

Ou seja, a questão era e é colocada por ele como uma mera comparação numérica: se a quarentena (por causar fome, miséria, outras doenças, etc.) vai indiretamente matar mais cidadãos do que a pandemia diretamente, então que se deixe a agricultura, comércio, indústria e serviços desenvolverem suas atividade à vontade e causarem quantas contaminações causarem. Depois, enterrem-se os mortos e os sobreviventes que sigam adiante.

Isto se chama consequencialismo: jogam-se no lixo a ética, a moral, a compaixão, etc., e se leva em conta apenas as resultantes objetivas dos atitudes (ou seja, o valor moral de um ato é determinado exclusivamente por suas consequências). 

No caso do consequencialismo tosco do Bolsonaro, podemos presumir que, se ele tiver de optar pela morte tranquila, durante o sono, de 101 pessoas ou a morte horrível, sob lancinantes torturas, de 100 pobres coitados,  salvará uma pessoa a mais e condenará uma centena a suplícios inenarráveis...

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Hélio Schwartsman fez um artigo demonstrando a monstruosidade implícita nesse posicionamento de Jair Bolsonaro de uma forma inusitada: provou que, se ele morrer de Covid-19, o ganho quantitativo de vidas será imenso, já que seu negacionismo, disseminando a confusão e servindo como exemplo que cidadãos ignorantes e influenciáveis imitam, é causa de óbitos por atacado.

Então, com uma fina ironia pela qual os tacanhos e os simplórios passam batidos, ele escreveu que estava torcendo pela morte do presidente.

E os tacanhos e os simplórios reagiram: o ministro das Comunicações, como se estivéssemos mergulhados nas trevas da Santa Inquisição, tomou o paradoxo argumentativo ao pé da letra e zurrou que torcer pela morte do presidente é um ataque à instituição presidencial (!). Será que eu ainda posso escrever que torço contra o time do presidente (que em São Paulo é o Palmeiras) sem ser investigado pela PF? 

Ato contínuo, o ministro da Justiça zurrou à Polícia Federal que investigue... nada, pois nada existe para ser investigado. O crime, se crime fosse, corporifica-se no próprio texto. Interrogar o autor para que ele declare o que pretendia com tal artigo seria digno das velhas chanchadas da Atlântida.

O que o ministro André Mendonça tem realmente de fazer é: 

— ou reconhecer que viajou na maionese e que o artigo em questão não fere lei nenhuma, nem mesmo a ditatorial Lei de Segurança Nacional do regime militar, cujo demoníaco nome está sendo invocado em vão;  

— ou processar Schwartsman, passando recibo de que não entende bulhufas nem da nossa Constituição nem de qual seja a sua função numa democracia e voluntariando-se para receber uma completa aula do STF a respeito.

Até quando, oh Catilinas, vocês continuarão abusando da nossa paciência?! 

                           (por Celso Lungaretti) 

Sobre o autor
Celso Lungaretti

Jornalista, blogueiro, escritor e veterano da resistência à ditadura militar. Ingressei na luta contra a ditadura militar ainda secundarista, aos 17 anos. Passei um ano na clandestinidade, como dirigente estadual da VPR e VAR-Palmares. Preso, sofri uma lesão permanente que me prejudicaria tanto no convívio social quanto nos desempenhos profissionais. Mesmo assim, fiz longa carreira jornalística. Hoje sou escritor, articulista e blogueiro, atuando frequentemente na defesa dos direitos humanos. Observador atento da cena política brasileira há mais de meio século, além de haver sido, aos 18 anos, o primeiro e único comandante de Inteligência de uma organização que travava a luta armada, tento dar aos leigos no assunto um quadro realista das perspectivas atuais, para dissipar um pouco das paranoias e alarmismos que tantos pesadelos lhes causam .

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

É óbvio que, atuando como jornalista desde 1973, jamais deixo passarem em branco os abusos cometidos contra colegas de profissão. Afora até agora não me conformar, embora absolvido, com as várias tardes perdidas no Fórum João Mendes por um processo sem pé nem cabeça: acusaram de pornográficos um conto (que não era meu) e um anúncio publicitário (idem). Nada a ver com a minha função de redator daquela revista.

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