Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

Dante Delmanto e Paulo Sérgio Leite Fernandes

Agenda 31/07/2020 às 17:29

Traços biográficos e perfis intelectuais de ilustres criminalistas, cuja atuação no Foro Criminal serve de exemplo e estímulo aos advogados.

Dante Delmanto e Paulo Sérgio Leite Fernandes(*)

I –       É honra inexcedível esta de poder falar aos advogados criminalistas, na Semana de Estudos que a Acrimesp consagrou ao vulto egrégio de Dante Delmanto.

            Serei, por força, muito breve: não só por efeito da advertência de Horácio — “esto brevis! —, mas sobretudo porque outro é o conferencista de hoje, o nosso eminente Mestre e Amigo Dr. Paulo Sérgio Leite Fernandes, que ostenta brasão da mais legítima nobreza na Advocacia Criminal.

II –     Dois pontos principais resumem os objetivos da benemérita Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo:

a)      aprimorar os cabedais de espírito dos que abraçaram a ínclita profissão da Advocacia Criminal; e

b)      exaltar a memória daqueles que, tendo-a exercido proficientemente, mereceram contados entre os seus paradigmas.

            Estes nobres ideais não arrefeceram, antes cobraram extraordinário fervor na gestão do Dr. Ademar Gomes, dedicado e talentoso Presidente da Acrimesp. Está a demonstrá-lo a iniciativa da Escola de Advocacia Criminal (que o Dr. Laércio Laurelli dirige com carinho e competência), ao promover a Semana Delmanto.

III –    É proverbial a afeição que temos os criminalistas ao nome ilustre de Dante Delmanto.

            As causas quais seriam deste sentimento profundo com que lhe cultuamos a memória?

            A primeira certamente é o dever moral a que nos obriga a própria condição humana de comunicar aos contemporâneos, e estes aos pósteros, os nomes daqueles grandes sujeitos que, no geral consenso dos doutos, passam por modelos perfeitos e acabados de sua profissão.

            E o nome de Dante Delmanto nenhum advogado pronuncia, sem que do mesmo passo lhe tremam os lábios pela indescritível emoção de estar evocando aquele que é uma das maiores glórias de nossa prestigiosa classe. Amou estremecidamente a Advocacia Criminal, com todas as potências de seu coração; serviu-a com os fulgores de sua peregrina inteligência.

            A veneranda instituição do Júri deve-lhe alguns dos mais soberbos capítulos de sua história entre nós. Para prova do alegado não havemos de mister mais que a leitura do primoroso livro Defesas que Fiz no Júri.

            Quem penetrar no recinto que outrora foi o 1º Tribunal do Júri da Capital e, hoje — bem, hoje, como cantaria o poeta: “Silêncio, Musa! Chora!” — simples museu, quem transpuser os augustos umbrais onde floresceu o Tribunal do Júri, esse poderá contemplar, no bronze eterno, o rosto plácido, os olhos fitos na linha do vasto horizonte, e a inscrição: Dante Delmanto, Príncipe dos Advogados Criminais.

IV –    Antes de vir a esta conferência do Dr. Paulo Sérgio Leite Fernandes, estive junto ao monumento que a Justiça e a Piedade mandaram edificar ao preclaro Dante Delmanto. Pousei-lhe a mão, respeitoso; afaguei-lhe mesmo a fronte, e repeti — de sorte que o ouvisse minha filha Juliana — a frase que acompanhou à sombra do túmulo o escultor francês Augusto Rodin: “Com a morte dele, todos os grandes homens parece que já morreram!”

            Ficaram-nos, porém, algumas consolações.

            Conforme a tradição escrita do povo hebreu, Jeová comprazia-se tanto da pureza das obras de seus patriarcas, que lhes dava bênção muito especial: multiplicava sua descendência como as estrelas do céu! Era o sublime galardão, com que premiava nos filhos o merecimento dos pais!

            Este foi também o estilo de Deus para com o saudoso Dante Delmanto, verdadeiro vaso de eleição: aí não está apenas o seu filho (Roberto), mas os filhos de seu filho; aqui estamos também, a fim de reverenciar-lhe a memória — numerosos como as estrelas do céu (perdoai a hipérbole!) — os seus filhos espirituais: os advogados criminalistas.

            E dentre estes, permiti vos nomeie (e sempre que puder o farei: dediquei-lhe um livro, que somente por isto se tornou precioso), permiti que proclame o nome de um advogado em tudo exemplar: o Dr. Paulo Sérgio Leite Fernandes.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

Paulo Sérgio Leite Fernandes

(“… que ostenta brasão da mais legítima nobreza na Advocacia Criminal”)

            Este companheiro fraterno, advogado culto e íntegro como os que mais o forem, acha-se intimamente ligado à Família Delmanto:

a)      foi ele quem, num doloroso transe, proferiu o comovente elogio fúnebre do querido Celso Delmanto, em página imortal, sob a epígrafe “As Canções dos Velhos Navegantes”;

b)      foi Paulo Sérgio o que, no preâmbulo do livro de Dante — Defesas que Fiz no Júri — escreveu-lhe estas palavras formais: “soube como poucos sustentar o sagrado direito ao contraditório, engrandecendo a advocacia criminal e legando aos jovens, com sua conduta, o certo exemplo a seguir”.

            Por tudo isto, o nome de Dante Delmanto será entre nós eterno como a dor da saudade!

            Ouçamos, pois, nesta noite, mais uma canção do “velho navegante” Paulo Sérgio Leite Fernandes!


São Paulo, 3 de julho de 2000

            Dileto Amigo Dr. Roberto Delmanto:

            Com bem de pesar meu, tive de diferir para hoje a ocasião de agradecer-lhe, “ex imo corde”, o formoso e rico presente que me enviou: Código Penal Comentado (5a. ed.).

            Brasão de glória da Família Delmanto, essa reputada obra também o é da literatura jurídica nacional. No gênero, não tem competidor: desde que o saudoso Celso lhe deu a primitiva traça e nele infundiu a centelha de seu espírito superior, até hoje, revitalizado pelo talento, cultura e amor ao Direito, comunicados ao irmão Roberto e aos sobrinhos (Roberto e Fábio), o inestimável Código Penal Comentado é o mais completo, prático, seguro e abalizado compêndio de glosas da Lei Penal.

            A essa fonte inexaurível diariamente recorrem os profissionais do Direito de todos os quadrantes da Pátria, para aplacar sua sede de saber. Também o faço eu, evidentemente, com uma diferença: toda vez que cito em meus pobres votos um passo ou tópico do livro excelente, com que os ilustro e autorizo, permite-me a circunstância, ainda que em espírito, abraçá-lo, meu bom Amigo Roberto (e aos caríssimos filhos Roberto e Fábio).

            Na última quinta-feira (29.6), em conferência na Acrimesp discorrendo do tema Advocacia Criminal: Excelsa Profissão muito de estudo me referi a seu querido pai e à obra Defesas que Fiz no Júri, cuja leitura, como era forçoso, encareci aos ouvintes. Do imenso Dante, aos que me escutavam disse aproximadamente isto: “Quando esse titã do Júri inclinou mortalmente a fronte, os advogados de São Paulo sentiram que os deixava o último de uma geração de grandes!”

            Tenho em muito o vulto insigne de seu pai, meu prezado Roberto!

            Soube, como raríssimos, exercer a Advocacia com Arte, Ciência e Amor, e este, conforme o verso do divino Épico homônimo, “move il Sole e l’altre stelle” (Paradiso, XXXIII, 145).

            Glória eterna a seu nome!

            Aceite, meu caro Roberto (e transmita-o aos filhos ilustres), o amplexo afetuoso do amigo e admirador

Carlos Biasotti


São Paulo, 28 de julho de 2002

            Meu caro Dr. Roberto:

            Comoveu-me o Amigo com a gentil e preciosa dádiva do exemplar da última edição de o Código Penal Comentado.

            A altíssima opinião que faço da “Família Delmanto” você já a conhece: é a que se reserva unicamente àquelas individualidades que servem de lustre a seu tempo e símbolo permanente de grandeza moral às futuras gerações.

            Não discorro por metáforas, senão que reproduzo meus pensamentos, os olhos fitos em cristalina realidade.

            Foi seu querido Pai o augusto patriarca da gens Delmanto e, juntamente, o modelo indefectível do Advogado Criminalista: culto, íntegro, operoso, afável e bom. Tais predicados, que se veem somente distribuídos entre muitos indivíduos, tinha-os, reunidos em si, em grau assinalado, o legendário Dante Delmanto!

            Afirmar que em todo o Advogado digno deste nome há um pouco de seu Pai, não será arroubo de linguagem nem encarecimento retórico, mas expressão da verdade, pois todos o guardamos no coração e na alma!

            Para nossa fortuna, herdaram-lhe os filhos os talentos, as virtudes e os primores da nobreza. A duvidar alguém, é abrir essa obra — Código Penal Comentado — e logo se desenganará: dentre todas, no gênero, a melhor! Ninguém a poderia produzir sem notável domínio da Ciência de Carrara, acentuado influxo da arte literária e generoso intuito de servir àqueles que, obreiros do Direito, necessitamos de guia seguro e completo.

            É o “Código Delmanto” a carta de marear dos argonautas neófitos e veteranos que pretendam desviar-se dos magnos escolhos do mar tormentoso da Advocacia Criminal; é, por dizer tudo, aquela estrela de imensa grandeza que, das profundidades consteladas, ilumina e orienta os peregrinos em suas noites de incerteza.

            Nem um só dia passa, que me não socorra, para autorizar pobres votos, a esse inestimável livro com que o distinto Amigo e os filhos acrescentaram a glória do inolvidável Celso e consolidaram a própria, com raro mérito.

            Aceite, prezado Roberto, a expressão de meu sincero agradecimento pela oferta de tão bela e utilíssima obra.

            Abraça-o, afetuosamente, o menor dos amigos.

Carlos Biasotti


(*)            Acrimesp, 29.9.1997.

Sobre o autor
Carlos Biasotti

Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!