A expressão "filosofia da religião" surgiu a partir do século XIX, corresponde a parte da filosofia que focaliza em examinar racionalmente as explicações religiosas.
Durante muito tempo e por muitos filósofos a questão sobre a existência ou não de Deus movimentou o pensamento humano desde a Antiguidade, perpassando por Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Nicolau de Cusa e tantos outros.
O pano de fundo histórico que serve ao debate é exatamente o desenvolvimento e ascensão do Cristianismo e sua massiva influência enquanto instituição social.
Em inúmeras ocasiões, enquanto todo o resto virava pó, a Igreja acumulou tanto riqueza material como capital político. Mesmo enquanto o Império Romano ruía e sofria os ataques dos bárbaros, a Igreja manteve-se como conciliadora e protetora da nobreza feudal.
A fé cristã para a doutrina católica era a verdade mais elevada. De sorte que qualquer ato que discordasse dos postulados da Igreja era considerado grave heresia. E, todas as investigações filosóficas e científicas partiam do pressuposto de que a verdade já tinha sido revelada pelo próprio Deus. Portanto, só restava à ciência e à filosofia realizar a comprovação racional da fé.
Entre os padres apologistas que mostravam a superioridade da fé cristã em comparação ao paganismo ou politeísmo. Padres como Orígenes, Justino e Tertuliano rejeitavam o recurso às filosofias gregas.
E, nessa época, as obras de Platão e Aristóteles estavam desaparecidas e o conhecimento que se tinha dessas passava pelo crivo de filósofos estoicos e neoplatônicos, e por essa razão, sempre apresentavam elementos místicos ou comportamentos que eram tachados pela Igreja como imorais.
A Patrística é denominação dada ao conjunto de produção intelectuais sobre a revelação cristã, a maior parte destas de autoria de padres que perceberam a necessidade de argumentação racional a fim de consolidar os preceitos cristãos entre as autoridades e o povo, seu principal expoente foi Santo Agostinho. Aliás, é do santo doutor o estabelecimento da principal diferença entre fé e a razão.
Pois é pela fé que galgamos compreender coisas inatingíveis e inalcançáveis pela razão. O que não torna fé e razão contraditórias. Mas, para o filósofo, a fé revela verdades de forma intuitiva, enquanto que as verdades são confirmadas pelo exercício racional. Assim, a alma humana só poderia conhecer a verdade das coisas se iluminada por Deus.
Já a Escolástica é denominação dada à reunião de obras filosóficas e teológicas escritas a partir do século IX e, forma reunidas para atender o projeto de organização de ensino promovido por Carlos Magno no século VIII, tal projeto ficou conhecido como a renascença carolíngia.
Nessas escolas fundadas por Carlos Magno eram ensinadas as seguintes disciplinas, submetidas à teologia, a saber: gramática, retórica, dialética (e a reunião das três era conhecida como trivium). A geometria, a aritmética, astronomia e a música (compunham quatrivium). A cultura greco-romana passou a ser divulgada e assim permitiu-se que o pensamento aristotélico pudesse ser considerado nas investigações filosóficas da época.
Basicamente o período escolástico pode ser dividido em três fases diversas, a saber: a primeira fase compreendida do século IX ao XII onde predominava a harmonia entre fé e razão; a segunda fase compreendida entre século XII a XIV quando a harmonia entre fé e razão começou a ser parcialmente obtida; a terceira fase compreendia o século XIV ao XVI quando havia a percepção das diferenças fundamentais entre a fé e a razão.
Para o notável filósofo alemão Nietzsche o cristianismo veio reforçar a moral dotada de submissão, baseada no pecado e na culpa.
Aliás, a própria existência da moral é apenas um instrumento para o enfraquecimento dos fortes. Por essa razão que a tradição ocidental é resultante do processo de enfraquecimento dos fortes, sendo tão distinta do Estado Grego que reunia pelo espírito guerreiro de seu povo e de uma religião que não o desejava domesticar, o que propiciou as condições para o surgimento da tragédia, que é a maior expressão artística dos helenos.
A propósito, Nietzsche destacou que os helenos não se referiam aos deuses como se fosse acima de si, isto é, não mantinham a relação de submissão aos entes divinos. Pois os deuses serviam de exemplo do melhor que os humanos poderiam alcançar, sendo um ideal diferente do cristianismo que mergulhou o homem num profundo lamaçal.
Destaca-se que a religião grega não tinha um livro sagrado. E, as crenças eram difundidas com uma visão não dogmática e sem autoridade que teria o direito de proteger os dogmas.
O pensamento de Kierkegaard resta inserido na crítica à filosofia da religião que fora iniciada por Hegel. Mas, o filósofo se opôs à perspectiva de que a filosofia da religião de Hegel que apontava para a redução do cristianismo a um sistema dominada pela lógica, bem como pela junção entre religião e filosofia, em que a especulação filosófica justifica e explica racionalmente a fé.
O problema da relação existente entre razão e fé é o ponto de partida da defesa da fé como paixão. Afinal, a fé é compreendida como dimensão da subjetividade. E, esta é a verdade. Apropriada na interioridade que precisa fazer sentido na vida do indivíduo.
A fé é mais alta paixão de todo homem. E, muitos podem até não alcançar. Enfim, a filosofia de Soren Kierkegaard fora elaborada através de profundo processo de autoconhecimento e, principalmente, no enfrentamento de sua própria experiência existencial, suas intuições, melancolia e angústia.
A teoria de Kierkegaard se compõe de três estádios a saber: estético, o ético e o religioso. Refere-se, portanto, ao percurso existencial e espiritual do indivíduo, como sendo um processo de individuação, ou ainda, ao desenvolvimento do si mesmo.
A teoria dos três estádios não é a definição de um processo linear, em que uma fase exclui a anterior, num determinismo existencial, mas, são possibilidades de experiência existencial; um modo de vida que pode ser superado por outro e, também, estar em processo de constituição.
De acordo com Cambridge Dictionary of Philosophy a epistemologia religiosa corresponde a um ramo da filosofia que investiga o status epistêmico de atitudes proposicionais sobre reivindicações religiosas.
A epistemologia reformada não é um fideísmo em si mesmo que apoia explicitamente a legitimidade da fé sem o apoio, não apenas de evidências proposicionais, mas também da razão. E, oferece uma explicação metafísica e epistemológica da garantia segundo a qual a crença em Deus pode ser garantida, mesmo que não seja apoiada por evidências, e oferece uma descrição da crença adequadamente básica em Deus é epistêmica, a par de tantas outras crenças básicas comuns sobre o mundo e outras mentes que parecem ser paradigmaticamente racionais.
A época medieval foi a mais profícua em pretensas demonstrações da existência de Deus, tal como as cinco vias de Santo Tomás de Aquino, ou o argumento ontológico de Santo Anselmo. Essas provas deixaram de ter ampla aceitação desde o século XVIII, embora ainda convençam muitas pessoas e alguns filósofos.
Os argumentos contra e a favor da existência de Deus têm sido propostos por filósofos, teólogos, cientistas e tantos outros pensadores ao longo da história da humanidade. Em termos filosóficos, tais argumentos envolvem principalmente a epistemologia e a ontologia.
E, os argumentos para a existência de Deus normalmente incluem questões metafísicas, empíricas, antropológicas, epistemológicas ou subjetivas. Os que acreditam em deus ou mais divindades são chamados de teístas e os que rejeitam são chamados de ateus.
O debate filosófico sobre a existência de Deus começou com Platão e Aristóteles que formularam argumentos que hoje podem ser classificados como cosmológicos. E, também Epicuro preocupou-se com o problema do mal através do seguinte questionamento: se Deus é onipotente, onisciente e benevolente, por que o mal existe?
A favor da existência divina também foram propostos por Santo Anselmo que foi o primeiro a formular o primeiro argumento ontológico e Tomás de Aquino veio a apresentar mais tarde suas próprias versões sobre o argumento cosmológico e a primeira via, respectivamente.
Descartes afirmou que a existência de Deus benevolente era logicamente necessária e, Immanuel Kant ainda argumentou que pode a existência de Deus ser reduzida a partir da existência do bem.
Pensadores que forneceram argumentos contra a existência de Deus incluem David Hume, Nietzsche e Bertrand Russel. Já para cultura contemporânea, a existência de Deus fora debatida por cientistas como Stephen Hawking, Richard Dawkins, John Lennox e Francis Collins, bem como pelos filósofos, incluindo Daniel Dennett, Richard Swinburne, William Lane Craig, Michael Tooley e Alvim Plantinga.
A existência de deus fora defendida por teses e argumentos distintos por São Boaventura, Duns Scoto, Descartes, Leibniz, Hegel, Newton, Karl Bath e N. Malcom. E, rejeitaram o argumento ontológico, os filósofos como Tomás de Aquino, David Hume, Immanuel Kant entre outros.
A principal crítica de Aquino foi ao propor uma definição de Deus. Posto que seja transcendente e, portanto, seria impossível para os humanos defini-lo. Em versão mais recente e sofisticada, fora proposta por Plantinga que pretende, por meio da semântica de mundo possíveis, demonstrar a existência de Deus.
Não tendo como esgotar as possibilidades de reflexão, preliminarmente cabe apontar para a complexa teia que compõe a relação da filosofia e da religião bem como sua interconexão que faz da significação da religião um tema importante no estudo da filosofia. Aliás, para se analisar adequadamente o problema de Deus e da religião deve-se seguir um paralelo composto da história e da teologia.
Referências: Não tendo como esgotar as possibilidades de reflexão, preliminarmente cabe apontar para a complexa teia que compõe a relação
da filosofia e da religião bem como sua interconexão que faz da significação da religião um tema importante no estudo da filosofia. Aliás, para se analisar adequadamente o problema de Deus e da religião deve-se seguir um paralelo composto da história e da teologia.
Refências:
PLANTINGA, Alvin (1982). The Nature of Necessity. Oxford: Oxford University Press line feed character character in |editora= at position 18
Kant, Immanuel. “The Critique of Pure Reason”, Encyclopædia Britannica, Inc, p.177-179
Guyer, Paul. “Cambridge Companion to Kant”, Cambridge University Press, p.399
Anais da Sociedade Brasileira de Filosofia, Volume 7;Volume 15. 1946. Sociedade Brasileira de Filosofia, Rio de Janeiro
Leuenberger, Hans-Dieter. História do Esoterismo Mundial. [S.l.]: Editora Pensamento. 232 páginas
Couto, Daniel. A religião: um ponto de vista filosófico. Disponível em:https://domtotal.com/noticia/1118020/2017/02/a-religiao-um-ponto-de-vista-filosofico/ Acesso em 6.10.2020