O grande incêndio de Roma em 18 de julho de 64 é um dos mais famosos e intrigantes crimes de toda a Antiguidade Clássica. Pois na era de grande esplendor e prosperidade, quais motivações foi a força motriz para tal incêndio?
Em meio a tragédia consta a controvertida figura de Nero, o imperador que parece ser a resposta tanto para especialista de historiadores.
Renomado e reconhecido por ser tirano e autoritário, Nero ascendeu ao poder em tenra idade, aos dezessete anos, e a partir de então, conviveu com as variadas artimanhas e conspirações que rondavam o imperador.
Nero era o último imperador da dinastia julio-claudiana e o grande incêndio devastou os domínios de Roma, causando pesados prejuízos materiais e humanos, sobretudo em regiões mais populosas e antigas, tais como o Palatino e Suburra.
Grande parte dos historiadores romanos, inclusive Dion Cassius veemente acusaram Nero pelo ato, e por bons motivos que seria arruinar o centro de seu império para ter a chance de reconstruir Roma ao seu gosto ao qual chamaria de Neroni e, ainda acusar os cristãos que se encontravam em acelerada ascensão, mudando costumes antigos e convertendo e moralizando os pagãos.
Cogita-se na hipótese de que em um de seus momentos de insanidade e extravagância Nero teria de fato incendiado Roma para contemplar sua destruição do alto da torre de Mecenas, enquanto entoava o poema Toiae Halosis, composto por ele mesmo e dedicado à destruição de Troia.
Outro historiador da Antiga Roma, Tácito foi um dos raros que puseram a questionar as causas do incêndio, supondo ter sido realmente acidental, haja vista o vasto número de construções em madeira, e ainda a ocorrência de incêndios de pequeno porte eram triviais.
Os mais recentes historiadores trouxeram outros entendimentos, afirmando até que Nero nem se encontrava em Roma e, sim numa afastada região. Ademais alguns monumentos recém construídos por Nero foram literalmente destruídos pelo incêndio o que averba pela não intencionalidade da ação devastadora.
Porém, a imagem de Nero restou associada à calamidade e fim do governo de Nero ocorrera logo após golpe de Estado perpetrado por vários governadores no ano 68, quando se suicidara.
Estando isolado[1], Nero fugiu de Roma e foi ao suicídio em 9 de junho de 68, com a ajuda de seu secretário Epafrodito que o apunhalou quando um soldado romano se aproximava. O secretário o fez a pedido do próprio imperador que não queria ser capturado pela guarda romana, porém, não tinha a coragem para enfiar-lhe o punhal.
Vivia com a constante ameaça de seus opositores, sendo célebre por seus exorbitantes gastos, grandes orgias e outras tantas ações exageradas que lhe atribuíram ao imperador, um perfil no mínimo questionável.
Argumentaram alguns, que o incêndio fora fruto de sua mente perturbada e manipuladora, pois prover o embelezamento de algumas partes de
Roma que não agradavam. Para outros, a ação tenebrosa serviria para incriminar os cristãos que não se submetiam ao reconhecimento do imperador como um ente de devoção religiosa.
Enquanto as chamas prosseguiam há relatos que afirmam que Nero tocava displicentemente sua harpa, o que só consolida a falência moral de sua triste figura. Já em recente e nova versão historiográfica dá-se outra leitura que afasta a vileza do governante.
Recentes pesquisas apontam que Nero nem se encontrava por perto de Roma quando o grande incêndio aconteceu. E, que estava em Ânico, em sua residência, a aproximadamente cinquenta quilômetro de distância da capital do império.
Nero é, sem dúvida, uma das mais figuras mais polêmicas da história da humanidade, seu nome completo era Nero Claúdio Augusto Germânico, nascido na cidade de Anzio (atual Itália) em 15 de dezembro de 37 d.C.
Nos cinco primeiros anos de seu governo, Nero mostrou-se um bom administrador. Na política, usou a violência e as armas para combater e eliminar as revoltas que aconteciam em algumas províncias do império.
Em referência às expansões por meio de guerra, Nero demonstrou pouco interesse. E, empreendeu poucas incursões militares na atual região da Armênia. Suas decisões políticas e militares bem como as econômicas eram grandemente influenciadas por sua mãe Agripina, e seu tutor, Lúcio Sêneca.
Além do próprio incêndio de Roma, outro episódio colaborou para a fama de facínora[2] violento foi ocorrido em 55 d.C., quando matou o filho do ex-Imperador Cláudio. E, em 59 d.C., ordenou o assassinato de sua própria mãe Agripina.
Júlia Agripina menor era conhecida como Agripina, a jovem ou Agripinila e, depois de 50 d.C., como Júlia Augusta Agripina, foi imperatriz-consorte romana e uma das mais poderosas mulheres da dinastia júlio-claudiana, era bisneta do Imperador Augusto e, sobrinha-neta de Tibéria, irmã de Calígula, sobrinha e quarta esposa de Cláudio.
Aliás, existem circunstâncias incertas que rodeiam a morte de Agripina por conta de contradições nas fontes e pelo caráter contrário a Nero que estas apresentam.
Segundo o relato de Tácito, em 58 d.C., Nero se envolvera com a nobre Popeia Sabina. E, por entender que um divórcio de Otávia e um casamento com Popeia não seria algum politicamente factível com Agripina ainda viva, então Nero decidiu matá-la.
Porém, ele não se casou com a amante até 62, o que coloca em dúvida tal entendimento.
Ademais, Suetônio revela que o marido de Popeia, Otão, não teria sido expulso por Nero, depois da morte de Agripina, tornando improvável que Popeia, já casada, estivesse pressionando para se casar.
Há historiadores modernos argumentam que a decisão de Nero de matar a mãe teria sido provocada pelas inúmeras tramoias da própria Agripina com Caio Rubélio Plauto (primo materno de segundo grau) ou com Britânico.
Alegou Tácito que Nero pensara em envenenar ou esfaquear a mãe, porém, concluiu que tais métodos eram complexos e levantariam suspeitas, e por isso, optou por concluir um barco que afundaria se utilizado. Mesmo sabendo de antemão do plano, Agripina embarcou e quase fora literalmente esmagada pelo mecanismo que faria o barco afundar, um pesado teto de chumbo que desmoronou na sala onde ela ficava no barco. Porém, um sofá a salvou, mas ainda assim, o empregado que estava no leme morreu.
E, por isso, foi a tripulação que fez o serviço, porém, Agripina habilidosa conseguira nadar até a margem. E, a amiga dela Acerrônia Pola fora atacada pelos remadores ao gritar que era Agripina na intenção de ser salva primeiro e, fora morta pelos golpes ou então se afogou.
A imperatriz-mãe fora recebida por multidão de admiradores, e as notícias logo chegaram até Nero que enviou três assassinos que, finalmente, a executou.
O relato de Suetônio, Nero estava irritado com a mãe pela insistente vigília, tanto que tentara por três vezes envenená-la, mas ela conseguira a tempo tomar os antídotos e sobreviveu.
Doutra feita, tentou matá-la com mecanismo no teto no quarto da imperatriz que ficava sobre a cama. Novamente, ao falar, pensou então no barco que afundaria quando utilizado.
Quando o barco não afundou, outros capitães de diferentes barcos colidiram com o barco para enfim afundá-lo, mas novamente, Agripina sobreviveu. Novamente, Nero providenciou-lhe a execução, mas ordenou que sua morte fosse disfarçada de suicídio.
Já o relato de Dião Cássio é diferente. Começa novamente a partir de Popeia que seria a causa do assassinato. Então, Nero arquitetou o barco cujo fundo se abriria quando estivesse em alto mar, e Agripina foi posta a bordo. Quando o fundo da embarcação se abriu, a Imperatriz-mãe caiu na água, mas conseguiu nadar até a margem.
E, por isso, Nero enviou um assassino para matá-la. Suas supostas finais palavras ao assassino quando da morte, foram: - “Ataque meu útero!”, sugerindo que desejava ver destruída primeiro, a parte de seu corpo que haveria gerado um "filho abominável".
Mas, tão logo soube da terrível fatalidade, Nero tomou as necessárias providências para aplacar os danos, na medida do possível. Contudo, vários romanos juravam ter visto servos do imperador distribuindo os focos de incêndio por toda cidade de Roma.
Em paralelo, havia a crença cristã de que o evento catastrófico do fogo e as várias destruições causadas anunciava o fim dos tempos e o repúdio à veneração ao imperador teria alimentado tais acusações sem fundamento.
Não à toa, Nero empreendera perseguia e morte a muitos cristãos que o acusavam injustamente e, igualmente desafiavam sua autoridade.
Saliente-se ainda que quando Nero fora questionado pela nobreza que não aprovavam sua atuação política pois alguns meses após ao grande incêndio, afetou algumas das moradias imperiais, como recém-construídos Domus Transitória e outras construções no Palatino. E, Nero fora alvo de terrível complô que deu fim à sua vida.
As lendas em torno da responsabilidade de Nero no incêndio podem ter surgido por várias razões. Primeiramente, ele não gostava da estética da cidade e usou a devastação causada pelo fogo como motivo para mudar a arquitetura e instituir novos códigos de construção em toda a cidade.
Nero também usou episódio para reprimir a crescente influência dos cristãos em Roma. Ele prendeu, torturou e executou centenas deles sob o pretexto de que estariam envolvidos com as causas do incêndio.
A propósito, quanto ao fracasso no combate aos incêndios no Centro-Oeste brasileiro que tudo indica que pretende atender aos anseios de expansão do agronegócio e da pecuária na região. E, ainda, seguir o neomodelo de sustentabilidade ambiental do vigente Ministério do Ambiente.
Será mais enigma intrigante que somente o tempo poderá desvendar, de qualquer forma, é preocupante o desmantelamento progressivo da organização protetora do meio ambiente brasileiro. O prejuízo é extremamente traumático para o país principalmente diante do cenário internacional.
[1] Declarado inimigo público número um pelo Senado, ele fugiu para uma propriedade no campo, onde se matou com o auxílio de seu secretário. "Qualis ariefix pereo!" (que artista estás [, Roma,] perdendo!) - foram registradas como suas últimas palavras.
[2] Afirma a tradição cristã que nesse período nefasto, Nero mandou crucificar o apóstolo Pedro e decapitar
o apóstolo Paulo. No ano seguinte, Nero matou Popeia que estava grávida com um pontapé no ventre.