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Doenças psíquicas adquiridas no trabalho

Agenda 06/01/2021 às 15:10

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Resumo: O presente artigo tem o objetivo de pontuar a relação entre determinados aspectos do trabalho e o adoecimento, identificando os riscos psicossociais relacionados ao trabalho que podem levar ao estresse, revelando desta forma a importância da participação das instituições na elaboração de estratégias que busquem identificar e controlar os riscos presentes no ambiente laboral. É necessário intervenções voltadas para mudanças na estrutura organizacional e nas condições de trabalho.

Palavras-chave: Meio ambiente de trabalho. Estresse. Transtorno psicológico. Proteção legal ao trabalhador.

Introdução

O contínuo processo de mudanças tecnológicas e organizacionais, atinge de forma contundente, o mundo da produção, acarretando grandes transformações nas relações de trabalho, afetando diretamente os trabalhadores em suas rotinas laborais.

Situações geradas no ambiente de trabalho provocam uma série de problemas ao trabalhador, como estresse, ansiedade, depressão, síndrome de Burnout, exaustão emocional e tensão gerada pelo excesso de trabalho, entre outros males, o que constitui um problema para os trabalhadores, para a organização onde trabalham e para a sociedade.

As doenças psiquiátricas não são tratadas com seriedade por muitas empresas, que as enxergam apenas como uma situação emocional passageira ou como falta de disposição pessoal para o trabalho, não reconhecendo a gravidade do quadro psicológico de seus empregados e acabam por atribuir culpa à própria vítima.

As situações que podem levar o empregado a um alto nível de estresse estão frequentemente ligadas à organização do trabalho, como carga de trabalho excessiva, falta de treinamento e orientação, relação abusiva entre supervisores e subordinados e ciclos de trabalho e descanso incoerentes com os limites biológicos, o que evidentemente compromete o desempenho do trabalhador.

1. Riscos psicossociais relacionados ao trabalho que podem levar ao estresse. 

Os riscos psicossociais podem ser pontuados levando em consideração aspectos de planejamento, organização e gerenciamento do trabalho, que têm potencial para causar prejuízos físicos ou psicológicos ao trabalhador. Tais fatores consistem em interações entre o trabalho e o ambiente laboral, a satisfação no trabalho e as condições da organização e, por outro lado, as características pessoais do trabalhador, suas necessidades, sua cultura, suas experiências e sua percepção de mundo.

1.1 Cultura e Função Organizacional

Quando a organização é vista pelos trabalhadores como um ambiente precário e não como um local para a resolução de problemas e realização de tarefas, há um aumento do estresse e consequentemente o registro dos sintomas da doença são agravados. 

1.2 Papel na organização

Quando o trabalhador tem claro para si qual o seu papel dentro da organização, isto o ajuda a posicionar-se diante das situações. Mas, quando o trabalhador é solicitado a fazer uma atividade que não está de acordo com os seus valores, ou quando várias funções a serem realizadas são incompatíveis, ocorre um conflito.

Essa "ambiguidade de papéis" ocorre quando há falta de clareza sobre suas responsabilidades. Dessa forma, o ambiente de trabalho pode tornar-se fato gerador de estresse, uma vez que o trabalhador terá dificuldades em se situar nas tarefas que lhe cabem e seu desempenho consequentemente será prejudicado.

1.3 Decisão e Controle

Quando o trabalhador raramente participa da tomada de decisões e não possui controle sobre o seu trabalho, muito provavelmente essa realidade irá contribuir para o desenvolvimento de algum tipo de transtorno mental. Quanto menor a autonomia ou controle do trabalhador na organização de sua atividade, maior a probabilidade deste risco psicossocial ser evidenciado no contexto do trabalho.

1.4 Desenvolvimento de carreira

Um dos grandes indicadores para avaliar o grau de satisfação no trabalho são as questões relativas à estagnação, incerteza na carreira e o baixo salário. A expectativa no desenvolvimento de carreira pode ser uma fonte de estresse, quando o empregado sente que seu trabalho não é valorizado e que não há portas para novos projetos.

1.5 Interface trabalho-família

A Interconexão entre o trabalho e a família é de grande importância como risco psicossocial no trabalho, uma vez que podem entrar em conflito os papéis desempenhados em ambos os ambientes, sendo possível que o indivíduo deixe a desejar em seu lar devido a exigências no trabalho. Muitas vezes o trabalhador fica distante de seus familiares e de suas obrigações pessoais devido a jornadas longas ou atuações em mais de um emprego, tornando-se alguém irritado e estressado com as responsabilidades e exigências diárias.

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1.6 Relacionamento interpessoal no trabalho

O crescimento de uma organização não depende apenas da performance individual de cada indivíduo, mas também da interação do grupo como um todo e da comunicação efetiva entre eles. A qualidade das relações interpessoais é fator importante na hora de determinar o potencial estressor de cada um.

O conflito dentro de um grupo de trabalho é sadio quando estimula a busca de soluções para um determinado problema; contudo, caso a situação de conflito saia do controle e passe a ser pessoal, isso irá causar frustrações e insatisfação aos indivíduos.

2. Categorias de riscos psicossociais relacionadas ao conteúdo do trabalho

2.1 Ambiente e equipamento de trabalho

Sem dúvidas, as condições do ambiente laboral quando inadequadas, levam à insatisfação do trabalhador, lhes causando tensão e irritabilidade. Situações como, espaço físico pequeno, exposição a risco constante, ambiente laboral conflituoso e falta de empatia com o trabalhador, são considerados riscos psicossociais do ambiente de trabalho.

Os administradores devem prezar por um ambiente de trabalho de qualidade e sadio para os trabalhadores, uma vez que isso reflete no alcance dos objetivos das organizações. O ambiente de trabalho além de sadio deve ser bem equipado, todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.

3. O equilíbrio do meio ambiente do trabalho

O modo de produção capitalista foca apenas no lucro e enxerga o trabalhador somente pelas suas forças físicas e não como indivíduo que tem seus direitos fundamentais consagrados pela constituição. Contudo, o homem é o centro das relações sociais, e por esta razão, o trabalho tem que ser para o homem e não o homem para o trabalho.

A empregador precisa ter um olhar humanitário com seus empregados, é seu dever proporcionar um ambiente de trabalho equilibrado e sadio, uma vez que isso pode ser determinante para o surgimento ou agravamento do quadro de depressão e de outras síndromes do seu empregado, tratamentos degradantes não podem e não devem ser tolerados pela empresa. Se porventura for identificado que o empregado está enfrentando algum transtorno psicológico, é importante que o empregador se prontifique a auxiliá-lo.

Além disso, é valoroso que o empregador conscientize seus empregados por meio de palestras que versem sobre a saúde mental, é importante que todos tenham informações sobre este tema, assim como os exames médicos periódicos devem também ser criteriosos nesse aspecto, pois são essenciais para o acompanhamento da saúde física e mental do empregado.

Conclusão

Os principais fatores psicossociais geradores de estresse no meio ambiente do trabalho envolvem aspectos de planejamento, organização, gerenciamento do trabalho e a qualidade das relações humanas. Por isso, o clima organizacional de uma empresa vincula-se não somente a sua estrutura, mas também às condições de vida da coletividade do trabalho.

O empregado ao passar por situações de tratamentos degradantes no ambiente laboral pode desenvolver graves transtornos psíquicos, muitos deles definitivos, o que afeta, seu convívio familiar e social, sua autoestima pessoal e profissional. O direito não é só por um trabalho digno, neste contexto deve estar inserido também um descanso digno e lazer.

O crescimento econômico da empresa, o seu progresso técnico, o aumento da sua produtividade e a estabilidade da organização dependem além de outros fatores, do nível de saúde e bem-estar de seus trabalhadores. Por isso, é de extrema importância a participação das instituições na elaboração de estratégias para identificação dos riscos psicossociais presentes no ambiente laboral que podem desencadear o estresse ocupacional, bem como a implementação de intervenções que promovam resultados benéficos ao trabalhador, minimizando assim os efeitos desgastantes destes riscos no trabalho.

 

Sobre a autora
Estela Lopes

Advogada inscrita na OAB/PE, com atuação ética e de confiança. Minha carreira é pautada sempre com espírito de liderança, determinação e foco.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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