Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

Tecnologia, revolução e Direito

Agenda 09/03/2021 às 14:46

Sobre a revolução do ser e sua participação

 Traçamos algumas linhas sobre o poder, onde comentamos o fenômeno do poder, mormente aos seus resultados quando atinge formas não-jurídicas.

 Dentro do escopo de nossa investigação, detida no que tratamos e comentemos como a revolução do ser, em sua acepção material, do homem e seus espaços, cada vez mais conquistados com seu agir e pensar, criando a sua própria forma de expressão, derivada de sua singularidade.

 Mas hoje, vemos uma cena pitoresca: o homem refém da tecnologia. O antropoceno, que é esta grande imagem do todo construída há milênios, resta consignada em termos dependentes de algo que nem se sabe ao certo o que é. Poucos detém o conhecimento técnico e o usam como instrumento de dominação. São mistificadores e aproveitadores. Dificultam o acesso dos outros a conhecimento, pois muito lucrativo conservar as coisas assim como estão.

 A tecnologia, ou o espaço tecno-social é mais um espaço onde carece cidadania. A proteção do homem digital deve ser a mesma do homem real. Direitos, deveres e justiça dentro deste espaço multidimensional.

 As concepções de tecnologia são vistas como pobres e miseráveis (HUI), posto que fundadas em um tecnocentrismo onde o homem é rendido à técnica. Entretanto, tanto a técnica quanto o homem estão em baixo desenvolvimento.

 Impende observar que a tecnologia não transcende a natureza. O campo técnológico é mais um campo do saber que produz soluções, e não problemas.

 A questão do poder manifestado por meio da tecnologia é o mesmo problema do poder em geral: falta de participação, exclusivismo, má-fé e sobretudo, um uso indiscriminado da tecnologia pelo chamado "estado brurocrático", visando à dominação, a "vida dos outros", ou seja, vigilância permanente de tudo e de todos. Um delírio típico dos dias atuais. Baixo desenvolvimento, acentuo.

 O dominium é uma ilusão tão antiga quanto o próprio poder. A ganância e a disputa sem limites por poder tem levado a um resultado: a apolitização. Perda do interesse da pessoa por participação no processo político. A apolitização é o resultado de um processo político inflexivo e reflexivo. É um movimento político. É um não-ser o que-se-é.

 Aquela revolução do ser que está em curso passa por essa perda da política. O cidadão perde o seu status politicae para readquirí-lo depois. Ele estratégicamente retira-se do campo político por aversão até redescobrir o seu eu-político. Toma o fracasso das vivências passadas como um elixir e cria as forças necessárias a um grande salto evolutivo. Ele chegará ao auto-governo. Onde governe ele mesmo. 

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

 Novamente quero frisar que tratamos aqui da soberania do cidadão. Este de onde emana o poder, em uma dada democracia. A democracia é um marco civilizatório. Não há como seguir em frente sem ele. Ele resiste duramente, dentro de uma gramática de poder lacunosa e obscura, de pobre vocabulário e formas jurídicas.

 Urge aparelhar o cidadão de meios para a sua emancipação. E é por meio da técnica e da ciência do Direito que há uma luz no fim do túnel. A tecnologia do Direito medeia todos os campos do saber e tem uma vantagem, é uma ciência normativa. Ela é prescritiva, e não descritiva como as outras.

 Portanto, no campo dos saberes e das técnicas, o Direito e suas ciências auxiliares é, na nossa visão, o único meio legítimo de romper as amarras que a ignorância trouxe: opressão, fome, miséria e morte. Tudo por conta do baixo desenvolvimento do ser humano, que, buscando seus próprios interesses egoísticos, afastou-se do Direito.

 O poder é uma experiência ruim de ser vivida. Muito mais por quem é oprimido por ele. Essa experiência é ruim por falta de mediação dentro de uma dada sociedade.  A mediação cria suas formas jurídicas para o poder, ele se manifesta nas formas.

 Na realidade, a opressão produzida por um poder a que se deu forma, implementa apenas uma forma determinada de poder, a saber, pobre de mediação. Verdadeiramente, o poder produz. Ele produz força, ordena, determina. Ele não serve para inibir, delimitar ou aniquilar o indivíduo. mediação do poder produz um poder muito mais ativo do que um poder imediado.

 As pessoas vivenciam as coisas pressionadas a vivenciá-las como escolhas próprias graças às suas posições inferiores. A técnica atual permite posições inferiores e posições superiores. Assim, nós temos duas categorias de pessoas: os privilegiados e os não-privilegiados. Aqueles que lutam para manter os privilégios e os que querem algum privilégio. É preciso reconstruir nossa visão de mundo, onde deixe de haver categorias de homens. Onde todos sejam o que quiserem ser, desde que mantida a eticidade como valor integrativo.

 Existe o que eu poderia dizer de um campo inimaginável hoje, as possibilidades são infinitas, desde que abandonadas as posições individualistas de outrora. Hoje, é possível tecer comentários concretos sobre o auto-governo dos anarquistas. É mesmo um projeto ousado, mas que está fincado no solo rochoso da modernidade. O cidadão vivendo da maneira que quer, dentro de sua pólis. Verdadeiramente livre de tudo e de todos. Uma vida pacífica e fraterna. 

Sobre o autor
Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!