É atribuída ao célebre filósofo grego Platão (428 a/c – 348 a/c) a frase “é melhor a ignorância absoluta ao conhecimento em mãos despreparadas”.
Nas escolas de filosofia da Grécia antiga só eram admitidos como alunos ou discípulos aqueles que cultuassem valores e princípios morais, tais como a sinceridade, a honestidade, o respeito à família, o amor ao próximo, a humildade etc. E o que Platão tem a ver com o título do nosso artigo? Tudo.
Sabe-se que o exercício do poder ou de parcela dele nas mãos de chefes despreparados, tiranos ou simplesmente idiotas conduziu o mundo a uma série de infortúnios e atrocidades; a se conferirem as ações cruéis de Átila, Napoleão, Hitler, Médici, Papa e Baby Doc, Idi Amin Dada, Stalin, Mao Tsé-Tung etc, nas diversas eras pelas quais já passou a humanidade, entre um oceano de sangue derramado e um tufão de dores e sofrimentos.
O exercício do poder (ou de parte dele) e da força exigem, para além da legítima imposição unilateral de vontade da lei, equilíbrio emocional, equidade, cultura espiritual e valores éticos intrínsecos aos seus exercentes. Não é diferente com a nobre missão de levar segurança à população. Segurança é um dos direitos humanos fundamentais, previsto como cláusula pétrea da CF de 1988 (art. 5°, caput), consistente na ocupação dos espaços pelo Poder Público, preservação da paz pública e incolumidade das pessoas, exercício da polícia judiciária, investigação criminal, tutela dos estabelecimentos prisionais e preservação do patrimônio municipal (art. 144,§§ 4º, 5º, 5ºA e 8º).
Acontece que os Municípios exercem importante atividade supletiva e colaborativa na segurança urbana, por meio das guardas civis – polícia municipal – cuja atribuição vai muito além da preservação do patrimônio e dos bens públicos municipais; alcança, em verdade, a proteção efetiva do cidadão (art. 5º, III, IV e V da Lei nº. 13.022, de 08/08/2014).
Em face da realidade de carência de recursos humanos vivida pelas polícias estaduais, notadamente pela polícia civil, desponta inadiável necessidade de ajuste de cooperação técnica e profissional entre as forças de segurança estatais (polícias civil e militar) e municipal (guarda civil), com o compartilhamento de informes criminais e fotos de criminosos procurados e pessoas desaparecidas; integração das câmeras de segurança inteligentes do município aos sistemas operacionais das polícias; delegação às guardas para cumprimento de medidas cautelares de violência doméstica; delegação às guardas, mediante curso e treinamento, de atribuição para registro de ocorrências; cessão de servidores municipais para trabalho administrativo nas delegacias e na polícia científica etc.
Para a realização dessas e outras medidas, as instituições públicas devem contar com dirigentes de reconhecido espírito de liderança e cooperação, reflexo de preceitos e dogmas assimilados e construídos em suas carreiras em prol do interesse público e não com chefetes narcisistas, despreparados, arrogantes, emburrecidos, vetustos e acovardados pela subserviência histórico-temporal e inseguros, mercê da mesquinhez com que atuam na insólita e contínua incapacidade de liderar ou de valorizar suas equipes.
Afinal de contas, como disse o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), “uma sociedade só é livre se estiver liberta de todos os tipos de medo”. E você, sente-se seguro? E que tipo de segurança deseja para sua cidade, com policiais motivados pelo espírito de liderança e cooperação ou não? Cada escolha implica uma renúncia.