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Mindset Jurídico

Agenda 18/05/2021 às 10:05

O mindset de crescimento auxilia na transformação do profissional jurídico. Desenvolver habilidades, novos aprendizados, superação de desafios é o que esse tipo de mentalidade proporciona ao indivíduo. Como é desenvolvido o mindset do futuro profissional?

De uns anos para cá o mundo jurídico vem presenciando interferências de outras áreas do conhecimento que outrora seria pouco vislumbrado. É a área de tecnologia da informação com sua inteligência artificial, são os novos ramos do direito com a transformação da sociedade, tal como compliance, direito digital, bioética entre outros que começam a exigir do profissional do direito um conhecimento mais sistêmico e uma visão mais holística. Acompanhando essa dinâmica surge a importância de se importar para a esfera jurídica as ferramentas de gestão que até então eram relegadas ao universo administrativo, industrial ou de projetos; as chamadas metodologias ágeis.

O universo das metodologias ágeis é bastante vasto com várias ferramentas de desenvolvimento que auxiliam em sua aplicação, tais como o Kanban, PDCA. Bem sabemos que o meio jurídico é bastante formal, tradicional e resistente a mudanças em sua grande maioria. No entanto, vislumbramos uma onda de profissionais que se denominam pertencentes ao chamado de Direito 4.0. Esses profissionais são considerados pioneiros em suas áreas de atuação, pois eles conjugam o direito com outra atividade, principalmente com a informática e a tecnologia de informação. Essas pessoas conseguiram enxergar que o direito não é apenas o aprendizado de leis e processos judiciais; muito pelo contrário o mundo jurídico com as mudanças da sociedade é recheado de desafios e oportunidades. A grande questão que se coloca é estão os milhões de profissionais jurídicos antenados para essas transformações? Estão eles abertos e preparados para mudanças de paradigmas de suas profissões? Essas são questões que estão movimentando uma boa parte de profissionais jurídicos.

Todos esses questionamentos vieram à tona principalmente com o avanço e o desenvolvimento da informática, mas isso não quer dizer que somente ocorreu devido a isso. Não, muitas das mudanças que estão ocorrendo já poderiam ter acontecido, sendo que faltava um “click”, uma mudança de visão de parte desses profissionais. Esse movimento começou a ocorrer cerca de 10 anos atrás e está se intensificando atualmente. Não sei dizer o que motivou essa guinada e mudança de pensamento, mas posso afirmar que esse movimento veio para ficar e é bom que aqueles profissionais que ainda não pegaram carona nele se despertem e aproveite a oportunidade. É bem verdade que para um típico advogado, juiz, promotor ou qualquer outro profissional do direito não é tão óbvio enxergar alguma utilidade nesses movimentos e muitas vezes acreditarem que se trata de apenas um modismo que não afetará o seu dia a dia. Outros, por outro lado podem até enxergar essas novidades com certa simpatia ou entusiasmo, mas também não veem uma relação direta com suas atividades, ou acreditam que por já terem anos de estrada de que eles não se encaixam, já passaram do tempo de aprenderem coisas novas.

Essas crenças e esses comportamentos são bastante plausíveis e compreensíveis. Todo bacharel em direito se lembra do seu tempo de graduação e de como era o seu currículo. As aulas eram em sua grande maioria divididas em três grandes blocos: disciplinas introdutórias como sociologia, filosofia e uma pincelada de economia; disciplinas jurídicas propriamente ditas (direito civil, direito penal, direito empresarial); e finalmente o estágio. De forma bastante grosseira esse é o currículo base de qualquer graduação em direito. Isso quer dizer que o formando em direito foi treinado e condicionado a pensar em leis, em litígios, em ações judiciais, em concurso público.

Onde estão as oportunidades de se desenvolver uma interdisciplinaridade? Onde estão os incentivos para uma visão sistêmica, tão necessária ao profissional atual? Em minha opinião, na universidade é que não está. O aluno não é incentivado a sair da sua caixinha jurídica; a olhar para ao lado e ver como estão sendo aplicados processos administrativos e organizacionais que poderiam ser adaptados e desenvolvidos para a sua realidade.

A partir da leitura do livro de Carol Dweck, chamado “Mindset - A Nova Psicologia do Sucesso” que comecei a refletir sobre em como o mindset jurídico ainda precisar quebrar algumas correntes e paradigmas. Mindset é uma palavra inglesa que quer dizer mentalidade. Em seu livro a Carol Dweck explica aos seus leitores que após alguns estudos chegou à conclusão de que existem dois tipos de mindset que podemos cultivar na vida: mindset fixo e mindset de crescimento.

As pessoas que têm um mindset fixo acreditam que seus traços, talentos e comportamentos são fixos, imutáveis. Ou seja, a pessoa acredita que nasceu de um jeito e não pode mudar. Ela acredita que nasceu assim e será sempre assim. Já a pessoa que cultiva um mindset de crescimento acredita que a inteligência é mutável e pode ser aumentada através do esforço próprio. Ela sabe que pode se tornar mais inteligente a partir de estudo e treino. Quem tem um mindset de crescimento também acredita que pode desenvolver qualquer talento, habilidade e traço da personalidade através do esforço e trabalho duro.

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Assim, este livro nos ensina que aquele pensamento que muitos de nós sempre tivemos sobre talento, dom não é verdade. Por certo, podemos dizer que algumas pessoas possuem mais facilidade que outras para realizarem determinada atividade, mas isso não quer dizer que o outro não possa desenvolver essa habilidade. Para que tenhamos a capacidade de desenvolver qualquer tipo de habilidade é necessário que desenvolvamos o que a autora chama de mentalidade de crescimento. Isso quer dizer que precisamos ter em mente que nada cai do céu, que os nossos talentos não são inatos, pelo contrário, quer dizer que precisamos ter em mente que sempre é necessário o aprendizado, a prática, a dedicação e o esforço.

O desenvolvimento de um mindset é de extrema importância para o nosso desenvolvimento enquanto seres humanos, não somente no campo profissional como também no campo pessoal. Para desenvolvermos uma mentalidade de crescimento é de extrema importância ter em mente o processo do êxito, em outras palavras o esforço. É importante ressaltar que a autora não diz que pessoas de mentalidade fixa não possuem habilidades, que não sejam inteligentes ou que sejam burras. Mas, segundo ela, uma pessoa de mentalidade fixa é muitas das vezes insegura, então apesar de ser inteligente ela não se desafia, logo não evolui. São pessoas que preferem ficar em uma zona de conforto.

Pode parecer um pouco exagerado o que irei dizer, mas quando eu acabei de ler esse livro, enxerguei o profissional do direito de maneira geral no grupo do mindset fixo e que os desafios enfrentados no meio acadêmico não auxiliam a desenvolver habilidades outras que jurídicas. Esse é o grande diferencial desse grupo pertencente ao chamado Direito 4.0. Essas pessoas, muitas delas já estabilizadas em suas carreiras, se desafiaram e encararam novos universos, aprenderam novas formas de enxergar o mundo jurídico. Aceitaram o desafio de começarem do zero um novo aprendizado e assim fundir com o Direito a TI, a Gestão Estratégica, o Planejamento Estratégico, as famosas metodologias ágeis e daí nos termos as Lawtechs, LegalTechs, Lawgile.

Diante deste cenário onde você quer estar? Como você define o trabalho do profissional jurídico? Acredita que esse movimento veio para ficar e trazer benefício, ou não acha que o direito é imutável? As oportunidades estão postas, resta saber como cada um irá reagir diante do desafio. Continuaremos a manter o nosso mindset fixo fazendo a mesma coisa porque somos bons nisso e ignorando as mudanças ou abraçaremos esses desafios como uma oportunidade de crescimento, de desenvolvimento de novas habilidades, adotando um mindset de crescimento? O poder está em nossas mãos, depende somente de nossas atitudes.

Sobre a autora
Marina de Barros Menezes

Advogada - formada pela UNESA em 2006. MBA em Gestão de Pessoas pela UCAM (2008) Especialização em Engenharia de Produção pela UCP (2013) Especialização em Advocacia Empresarial - PUC MINAS (2018) Agilidade no Direito (2020)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Esse artigo foi escrito para fazermos uma reflexão de como está o ensino do direito nas Universidades. Como despertamos os mindset dos estudantes.

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