De Crimes, Penas e Fantasias, Rio de Janeiro: LUAM, 1991, p. 67.
A lei foi publicada no Diário Oficial da União do dia 24 de agosto,
entrando em vigor 45 dias depois de oficialmente publicada, na forma do art.
74 da mesma lei.
A utilização da expressão "drogas", ao invés da anterior
"substância entorpecente", atende a uma antiga orientação da
Organização Mundial de Saúde (Rogério Sanches Cunha, "Nova Lei de
Drogas Comentada", São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p.
304).
"Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II -
prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo. § 1o Às mesmas medidas
submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas
destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto
capaz de causar dependência física ou psíquica. § 2o Para determinar se
a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à
quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à
conduta e aos antecedentes do agente. § 3o As penas previstas nos incisos
II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5
(cinco) meses. § 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos
incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo
de 10 (dez) meses. § 5o A prestação de serviços à comunidade será
cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou
assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou
privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da
prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de
drogas. § 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se
refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse
o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a: I - admoestação
verbal; II - multa. § 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque
à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde,
preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado."
"Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,
fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5
(cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - importa,
exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece,
fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de
plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade,
posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele
se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. §
2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: Pena -
detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300
(trezentos) dias-multa. § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo
de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena -
detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no
art. 28. § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as
penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão
em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa. Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar,
oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar
ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou
qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou
transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10
(dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil)
dias-multa.Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de
praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts.
33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez)
anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se
associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a
20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro
mil) dias-multa. Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo,
organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de
2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos)
dias-multa."
Observa-se que a Lei nº. 11.313/06, dando nova redação aos arts. 60 da
Lei nº. 9.099/95 e 2º. da Lei nº. 10.259/01, determina a aplicação das
regras de conexão e continência quando se tratar de infração penal de
menor potencial ofensivo e outras mais graves. Esta lei, ao menos neste
aspecto, sofre a mácula da inconstitucionalidade (formal e material). Neste
sentido, escrevemos no nosso livro "Juizados Especiais Criminais",
Salvador: Editora Juspodivm, 2006.
A respeito, conferir o nosso "Juizados Especiais Criminais",
Editora Juspodivm, Salvador, 2006.
Segundo Luiz Flávio Gomes tais condutas deixaram de ser crimes, foram,
portanto, descriminalizadas, em razão do que dispõe o art. 1º. da Lei de
Introdução ao Código Penal. Ocorreu uma abolitio criminis. Esta
matéria suscita forte divergência doutrinária, entendendo a maioria que
não houve a descriminalização. A nosso ver, sem adentrar profundamente o
tema (mesmo porque não é o objeto deste estudo), estamos com a posição
do referido penalista. Com efeito, os conceitos de crime e contravenção
são dados pela Lei de Introdução ao Código Penal que define crime como
sendo "a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a
pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente." (art. 1o. do Decreto-Lei n. 3.914/41). Como se
sabe, há dois critérios utilizados pela doutrina e pelo Direito Positivo
para distinguir o crime da contravenção: critérios substanciais (que, por
sua vez, subdividem-se em conceituais, teleológicos e éticos) e formais,
como o nosso e o Código Francês. O Código Penal da Suíça, no art. 9º..
disciplina igualmente: "sont réputées crimes les infractions
passibles de la réclusion. Sont réputées délits les infractions
passibles de l´emprisonnement comme peine la plus grave." Em
França a classificação é tripartida: crimes, delitos e contravenções
(art. 1º.). Evidentemente que mesmo os critérios formais "pressupõem
naturalmente atrás deles critérios substanciais de avaliação a
que o legislador tenha atendido para efeitos de ameaçar uma certa
infracção com esta ou aquela pena", como anota o mestre
português Eduardo Correia (Direito Criminal, Coimbra: Almedina, 1971, p.
214). Estas definições, por se encontrarem na Lei de Introdução ao
Código Penal, evidentemente regem e são válidas para todo o sistema
jurídico–penal brasileiro, ou seja, do ponto de vista do nosso Direito
Positivo quando se quer saber o que seja crime ou contravenção, deve-se
ler o disposto no art. 1º. da Lei de Introdução ao Código Penal. O
mestre Hungria já se perguntava e ele próprio respondia: "Como se
pode, então, identificar o crime ou a contravenção, quando se trate de
ilícito penal encontradiço em legislação esparsa, isto é, não
contemplado no Código Penal (reservado aos crimes) ou na Lei das
Contravenções Penais? O critério prático adotado pelo legislador
brasileiro é o da "distinctio delictorum ex poena"
(segundo o sistema dos direitos francês e italiano): a reclusão e a
detenção são as penas privativas de liberdade correspondentes ao
crime, e a prisão simples a correspondente à contravenção,
enquanto a pena de multa não é jamais cominada isoladamente
ao crime." (Comentários ao Código Penal, Vol. I, Tomo II, Rio de
Janeiro: Forense, 4ª ed., p. 39). Por sua vez, Tourinho Filho afirma:
"Não cremos, data venia, que o art. 1º. da Lei de
Introdução ao Código Penal seja uma lex specialis. Trata-se, no
nosso entendimento, de regra elucidativa sobre o critério adotado pelo
sistema jurídico brasileiro e que tem sido preferido pelas mais avançadas
legislações." (Processo Penal, Vol. 4, São Paulo: Saraiva, 20ª.
ed., p.p. 212-213). Manoel Carlos da Costa Leite também trilha na mesma
linha, afirmando: "No Direito brasileiro, as penas cominadas separam
as duas espécies de infração. Pena de reclusão ou detenção: crime.
Pena de prisão simples ou de multa ou ambas cumulativamente: contravenção."
(Manual das Contravenções Penais, São Paulo: Saraiva, 1962, p. 03). Eis
outro ensinamento doutrinário: "Como é sabido, o Brasil adotou o
sistema dicotômico de distinção das infrações penais, ou seja,
dividem-se elas em crimes e contravenções penais. No Direito pátrio o
método diferenciador das duas categorias de infrações é o normativo e
não o ontológico, valendo dizer, não se questiona a essência da
infração ou a quantidade da sanção cominada, mas sim a espécie de
punição." (Eduardo Reale Ferrari e Christiano Jorge Santos,
"As Infrações Penais Previstas na Lei Pelé", Boletim do
Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCrim, n. 109,
dezembro/2001). Comentando sobre a teoria do fato jurídico, o Professor
Marcos Bernardes de Mello, assevera que a "distinção entre crime e
contravenção penal, espécies do ilícito criminal, é valorativa, em
razão da importância e gravidade do fato delituoso. Os fatos ilícitos de
maior relevância são classificados como crimes, reservando-se as
contravenções para os casos menos graves. Em decorrência disso, as penas
mais enérgicas (reclusão e detenção) são imputadas aos crimes, enquanto
as mais leves (prisão simples e multa) são atribuídas às contravenções."
(Teoria do Fato Jurídico -Plano da Existência), São Paulo: Saraiva, 10ª.
ed., 2000, p. 222).
Sobre delação premiada, remeto o leitor ao nosso "Direito
Processual Penal", Editora Juspodivm, Salvador, 2006.
A respeito da comunicação ao Ministério Público da prisão em
flagrante, veja-se o que escrevemos na obra acima indicada.
Sobre o assunto, indispensável a leitura da obra de Aury Lopes Jr. e
Gustavo Henrique Badaró, "Direito ao Processo Penal no Prazo
Razoável", Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. Também conferir o
excelente "O Tempo como Pena", de Ana Messuti, São Paulo: RT,
2003.
Processo Penal, Vol. I, São Paulo: Saraiva, 2000, 22ª. ed., p. 279.
Leis Antitóxicos, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 120.
Claúdia B. Moscato de Santamaría, "El Agente Encubierto",
Buenos Aires: La Ley, 2000, p. 1. Nesta excelente monografia sobre o
assunto, a autora portenha distingue claramente o agente encoberto de outras
figuras afins, como os informantes (não policiais), arrependidos
(criminosos delatores) e os agentes provocadores (policiais que instigam
outrem a praticar o delito).
Tóxicos – Comentários, Jurisprudência e Prática, Curitiba: Juruá,
2002, p. 207.
Cezar Roberto Bitencourt, Manual de Direito Penal, Parte Geral, 5ª. ed.,
1999.
A propósito, e para ilustrar o texto com uma boa poesia, vejam-se estes
versos de Caetano Veloso, na canção "Milagres do Povo": "Quem
é ateu / E viu milagres como eu / Sabe que os deuses sem Deus / Não cessam
de brotar / Nem cansam de esperar / E o coração que é soberano e que é
senhor / Não cabe na escravidão / Não cabe no seu não / Não cabe em si
de tanto sim / É pura dança e sexo e glória / E paira para além da
história / Ojúobá ia lá e via / Ojuobahia / Xangô manda chamar /
Obatalá guia / Mamãe Oxum chora / Lágrimalegria / Pétala de Iemanjá /
Iansã-Oiá ia / Ojuobá ia lá e via / Ojuobahia / Obá".
Veja-se a crítica absolutamente pertinente feita por Gamil Föppel El
Hireche, no livro "Análise Criminológica das Organizações
Criminosas", Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
Crime Organizado, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2ª. ed., p.
116.
Sobre ação penal e o princípio da obrigatoriedade indicamos: Da Ação
Penal – Jorge Alberto Romeiro – Forense; Ação Penal – José Antonio
Paganella Boshi – AIDE; Ação Penal Pública – Afrânio Silva Jardim
– Forense; Ação Penal Pública – Eduardo Araújo da Silva – Atlas;
Ação Penal Condenatória – Paula Bajer Fernandes Martins da Costa –
Saraiva; Da Natureza Jurídica da Ação – Benedicto de Siqueira Ferreira
– RT; Ação Penal – Joaquim Canuto Mendes de Almeida – RT; Tratado
das Ações, Tomo 5 – Pontes de Miranda – Bookseller; Ministério
Público e Persecução Criminal – Marcellus Polastri Lima – Lumen
Juris; As condições da ação penal – Ada Pellegrini Grinover – José
Bushatsky, Editor; Justa Causa para a ação penal – Maria Theresa Rocha
de Assis Moura – Editora Revista dos Tribunais; Apontamentos e Guia
Prático sobre a Denúncia no Processo Penal – Paulo Cláudio Tovo –
Sergio Antonio Fabris Editor; Princípio da Oportunidade – Carlos Adérito
Teixeira – Almedina; e Teoria do Direito Processual Penal, de Rogério
Lauria Tucci, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.
A respeito do assunto, confira-se o nosso "Direito Processual
Penal", Salvador: Editora JusPodivm, 2006.
Afrânio Silva Jardim, "Ação Penal Pública – Princípio da
Obrigatoriedade", Rio de Janeiro: Forense, 3ª. ed., p. 46.
Sobre ação penal de iniciativa privada no Direito espanhol, conferir
"El Proceso por Delito Privado", de J. M. Martinez-Pereda,
Barcelona, Bosch, 1976.
Sobre este projeto de lei veja os nossos comentários no "Direito
Processual Penal", Salvador: Editora JusPodivm, 2006.
"Nova Lei de Tóxicos" – Revista Jurídica 295 – Maio/2002.
Elementos de Direito Processual Penal, Vol. III, Campinas, Bookseller,
1998, p. 342.
Apud Aury Lopes Jr., in Introdução Crítica ao Processo
Penal (Fundamentos da Instrumentalidade Garantista), Rio de Janeiro: Lumen
Juris Editora, 2004, p. 165.
Atente-se, tão-somente, para a Súmula 330 do Superior Tribunal de
Justiça: "É desnecessária a resposta preliminar de que trata o
artigo 514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por
inquérito policial."
O defensor exerce a chamada defesa técnica, específica, profissional ou
processual, que exige a capacidade postulatória e o conhecimento técnico.
O acusado, por sua vez, exercita ao longo do processo (quando, por exemplo,
é interrogado) a denominada autodefesa ou defesa material ou genérica.
Ambas, juntas, compõem a ampla defesa. A propósito, veja-se a definição
de Miguel Fenech: "Se entiende por defensa genérica aquella que
lleva a cabo la propia parte por sí mediante actos constituídos por
acciones u omisiones, encaminados a hacer prosperar o a impedir que prospere
la actuación de la pretensión. No se halla regulada por el derecho con
normas cogentes, sino con la concesión de determinados derechos inspirados
en el conocimientode la naturaleza humana, mediante la prohibición del
empleo de medios coactivos, tales como el juramento – cuando se trata de
la parte acusada – y cualquier otro género de coacciones destinadas a
obtener por fuerza y contra la voluntad del sujeto una declaración de
conocimiento que ha de repercutir en contra suya". Para ele,
diferencia-se esta autodefesa da defesa técnica, por ele chamada de
específica, processual ou profissional, "que se lleva a cabo no ya
por la parte misma, sino por personas peritas que tienen como profesión el
ejercicio de esta función técnico-jurídica de defensa de las partes que
actuán en el processo penal para poner de relieve sus derechos y contribuir
con su conocimiento a la orientación y dirección en orden a la
consecusión de los fines que cada parte persigue en el proceso y, en
definitiva, facilitar los fines del mismo" (Derecho Procesal Penal,
Vol. I, 2ª. ed., Barcelona: Editorial Labor, S. A., 1952, p. 457). Sobre o
assunto, conferir o nosso "Direito Processual Penal", Forense,
2003.
Sobre a diferença entre rejeição e não-recebimento da denúncia,
remetemos o leitor a José Antonio Paganella Boschi (Ação Penal, Rio de
Janeiro: AIDE, 3ª. ed., 2002, p. 233). Tratam do assunto também Cezar
Roberto Bitencourt (Juizados Especiais Criminais, São Paulo: Saraiva, 2003,
p. 109), Marcellus Polastri Lima (Ministério Público e Persecução
Criminal, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1997, p. 235) e Eduardo Mahon
(Rejeição e Não Recebimento de Denúncia – Diferenças Fndamentais, in
www.ibccrim.com.br,
27/01/2003).
Nunca é demais lembrar a incoerência na permissibilidade de atividade
instrutória pelo Juiz em um sistema que se diz acusatório. Como se sabe,
neste sistema estão divididas claramente as três funções básicas, quais
sejam: o Ministério Público acusa, o advogado defende e o Juiz apenas
julga, em conformidade com as provas produzidas pelas partes. "Este
sistema se va imponiendo en la mayoría de los sistemas procesales. En la
práctica, ha demonstrado ser mucho más eficaz, tanto para profundizar la
investigación como para preservar las garantías procesales", como
bem acentua Alberto Binder ("Iniciación al Proceso Penal
Acusatório", Buenos Aires: Campomanes Libros, 2000, p. 43).
Apesar do posicionamento amplamente majoritário na jurisprudência,
inclusive do Supremo Tribunal Federal, entendemos que o recebimento da peça
acusatória trata-se de um ato decisório (não um mero despacho) e, como
tal, deve ser fundamentado (art. 93, IX da Constituição Federal).
Observar os arts. 366 e 367 do Código de Processo Penal.
Como medida cautelar, esta decisão deverá ser fundamentada,
demonstrando-se a sua imperiosa necessidade e o fumus commissi delicti.
Tratamos deste tema no "Direito Processual Penal", Editora
Juspodivm, Salvador, 2007.
Aliás, exatamente em virtude do bem jurídico tutelado é que se mostra
"inadmissível a punição da posse de drogas para uso pessoal, seja
pela inafetação do bem jurídico protegido (a saúde pública), seja por
sua contrariedade com um ordenamento jurídico garantidor da não
intervenção do Direito em condutas que não afetem a terceiros",
como explica Maria Lúcia Karam, em sua excelente obra "De Crimes,
Penas e Fantasias", Rio de Janeiro: LUAM, 1991. Karam complementa
afirmando com absoluta propriedade que a "aquisição ou posse de
drogas para uso pessoal, da mesma forma que a autolesão ou a tentativa de
suicídio, situa-se na esfera de privacidade de cada um, não podendo o
Direito nela intervir." (pp. 60 e 128)
Comentando a Lei de Tóxicos anterior, Vicente Greco Filho afirma
textualmente que "não se admite assistente de acusação em ações
penais pelos delitos desta lei", por entender que, no máximo,
poder-se-ia "determinar-se a figura de um prejudicado, como por
exemplo na hipótese de alguém ministrar entorpecente a um menor
inimputável", alertando que no sentido técnico não se pode
confundir prejudicado com ofendido (Tóxicos, São Paulo: Saraiva, 9ª. ed.,
1993, p. 84). Na figura típica do art. 38, por exemplo, o paciente que teve
a substância entorpecente ministrada culposamente pelo médico poderia se
habilitar como assistente do Ministério Público.
Atentemos, porém, para a lição de Carnelutti, segundo a qual "se
la giustizia è sicura non è rápida, se è rapida non è sicura...",
apud Tourinho Filho, Processo Penal, Vol. 03, São Paulo: Saraiva,
2001, p. 94.
A propósito, conferir o art. 7º., 5 do Pacto de São José da Costa Rica
- Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 22 de novembro de 1969 e
art. 14, 3, c do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de
Nova York, assinado em 19 de dezembro de 1966, ambos já incorporados em
nosso ordenamento jurídico, por força, respectivamente, do Decreto n.º
678 de 6 de novembro de 1992 e do Decreto n.º 592, de 6 de julho de 1992.
Mais uma vez, indicamos a obra de Aury Lopes Jr. e Gustavo Henrique Badaró,
"Direito ao Processo Penal no Prazo Razoável", Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006, além do "O Tempo como Pena", de Ana Messuti,
São Paulo: RT, 2003.
Esta audiência observará as regras da imediatidade e da concentração
dos atos processuais. Ainda não foi adotado em nosso sistema processual
penal o princípio da identidade física do Juiz, segundo o qual o
Magistrado "que presidiu a instrução deverá proferir a sentença."
(art. 132 do CPC). Por ele, o Juiz que colher a prova deve julgar o
processo, podendo, desta forma, "apreciar melhor a credibilidade dos
depoimentos; e a decisão deve ser dada enquanto essas impressões ainda
estão vivas no espírito do julgador." (Barbi, Celso Agrícola,
Comentários ao CPC, Vol. I, Rio de Janeiro: Forense, p. 327). Seria
extremamente salutar a adoção deste princípio, pois "a ausência,
no processo penal, do aludido e generoso princípio permite que o julgador
condene, com lamentável freqüência, seres humanos que desconhece."
(René Ariel Dotti, "O interrogatório à distância", Brasília:
Revista Consulex, nº. 29, p. 23).
Sobre o assunto, conferir o nosso "Direito Processual Penal",
já referido.
Mesmo porque, segundo preconiza o art. 45, "é isento de pena o
agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso
fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão,
qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento. Parágrafo único. Quando absolver o agente,
reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato
previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo,
poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para
tratamento médico adequado. Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um
terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art.
45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a
plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento. Art. 47. Na sentença condenatória, o
juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de encaminhamento do
agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com
competência específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda,
observado o disposto no art. 26 desta Lei."
"Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente
destruídas pelas autoridades de polícia judiciária, que recolherão
quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de
levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local,
asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova. § 1o
A destruição de drogas far-se-á por incineração, no prazo máximo de 30
(trinta) dias, guardando-se as amostras necessárias à preservação da
prova."
A Constituição Federal prevê o duplo grau de jurisdição, não somente
no art. 5º., LV ("ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes"), como também no seu art. 93, III ("acesso aos
tribunais de segundo grau"). Há anos, o jurista baiano Calmon de
Passos mostrava a sua preocupação com "a tendência, bem visível
entre nós, em virtude da grave crise que atinge o Judiciário, de se
restringir a admissibilidade de recursos, de modo assistemático e
simplório, em detrimento do que entendemos como garantia do devido processo
legal, incluída entre as que são asseguradas pela nossa Constituição."
Neste mesmo trabalho, nota o eminente Mestre que "o estudo do duplo
grau como garantia constitucional desmereceu, da parte dos estudiosos, em
nosso meio, considerações maiores. Ou ele é simplesmente negado como tal
ou, embora considerado como ínsito ao sistema, fica sem fundamentação
mais acurada, em que pese ao alto saber dos que o afirmam, certamente por
força da larga admissibilidade dos recursos em nosso sistema processual,
tradicionalmente, sem esquecer sua multiplicidade." (Estudos
Jurídicos em Homenagem à Faculdade de Direito da Bahia, São Paulo:
Saraiva, 1981, p. 88). Não esqueçamos que a "adoção do duplo
grau de jurisdição deixa de ser uma escolha eminentemente técnica e
jurídica e passa a ser, num primeiro instante, uma opção política do
legislador." (Moraes, Maurício Zanoide de, Interesse e
Legitimação para Recorrer no Processo Penal Brasileiro, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000, p. 29). O duplo grau de jurisdição tem
caráter de norma materialmente constitucional, mormente porque o
Brasil ratificou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de
San José da Costa Rica) que prevê em seu art. 8º., 2, h, que todo acusado
de delito tem "direito de recorrer da sentença para juiz ou
tribunal superior", e tendo-se em vista o estatuído no § 2º., do
art. 5º., da CF/88, segundo o qual "os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte." Ratificamos, também,
o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque que
no seu art. 14, 5, estatui que "toda pessoa declarada culpada por um
delito terá o direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a
uma instância superior, em conformidade com a lei."
"Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que
delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis)
meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos)
dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho
Federal da categoria profissional a que pertença o agente." "Art.
33.(...) § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de
lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena -
detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos)
a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no
art. 28. § 4o."
Quanto à composição civil dos danos, ficaria na dependência em se
admitir ou não a figura de um ofendido em tais delitos, o que é
controverso (ver acima quando tratamos sobre a possibilidade do assistente
de acusação).
A respeito, conferir o nosso "Juizados Especiais Criminais",
Salvador: Editora Juspodivm, 2006.
"Estudos de Direito Processual Penal – Temas Atuais", São
Paulo: BH Editora, 2006.
Aliás, a ilicitude e tudo o mais; no processo penal o ônus da prova
cabe, com exclusividade, ao órgão acusatório. Neste sentido, por todos,
indicamos o livro de Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró: "Ônus da
Prova no Processo Penal", São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2003. Confira-se, igualmente, Aury Lopes Jr., in Introdução
Crítica ao Processo Penal (Fundamentos da Instrumentalidade Garantista),
Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2004, pp. 179/181.
Elementos de Direito Processual Penal, Vol. II, Campinas: Bookseller,
1998, p. 265.
Lei de Lavagem de Capitais, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
1998, p. 366.
Nova Lei de Drogas Comentada, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2006, p. 249.
Sobre a utilização do Mandado de Segurança em matéria criminal,
conferir o nosso "Direito Processual Penal", já referido.
Recursos no Processo Penal, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
3ª. ed., 2001, p. 393.
Procurador-Geral de Justiça Adjunto para Assuntos Jurídicos do Ministério Público do Estado da Bahia. Foi Assessor Especial da Procuradoria Geral de Justiça e Coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais. Ex- Procurador da Fazenda Estadual. Professor de Direito Processual Penal da Universidade Salvador - UNIFACS, na graduação e na pós-graduação (Especialização em Direito Processual Penal e Penal e Direito Público). Pós-graduado, lato sensu, pela Universidade de Salamanca/Espanha (Direito Processual Penal). Especialista em Processo pela Universidade Salvador - UNIFACS (Curso então coordenado pelo Jurista J. J. Calmon de Passos). Membro da Association Internationale de Droit Penal, da Associação Brasileira de Professores de Ciências Penais, do Instituto Brasileiro de Direito Processual e Membro fundador do Instituto Baiano de Direito Processual Penal (atualmente exercendo a função de Secretário). Associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Integrante, por quatro vezes, de bancas examinadoras de concurso público para ingresso na carreira do Ministério Público do Estado da Bahia. Professor convidado dos cursos de pós-graduação dos Cursos JusPodivm (BA), Praetorium (MG) e IELF (SP). Participante em várias obras coletivas. Palestrante em diversos eventos realizados no Brasil.
Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)
MOREIRA, Rômulo Andrade. Aspectos procedimentais da nova lei de tóxicos (Lei nº 11.343/06). Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 11, n. 1209, 23 out. 2006. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/9075. Acesso em: 24 dez. 2024.